Depois de cogitações, rumores, discussões e apelos, Elisa Guimarães Ferreira tornou-se efectivamente na candidata do PS à Câmara do Porto. Reúne o currículo necessário para a empresa: tem experiência política e administrativa como deputada em Estraburgo e S. Bento e como Ministra do Ambiente e do Planeamento, cargos em que mostrou firmeza, convicção e conhecimento das matérias. Não é uma carreirista e, não sendo filiada no PS, não precisa de "ascender no partido". A sua candidatura foi lançada atempadamente. Não é uma populista, mas é conhecida e respeitada na cidade. Será sem dúvida uma candidata temível para Rui Rio. Ou seria.
A candidatura parecia à primeira vista ter todas as condições para triunfar, recolhendo alguma vantagem do desgaste e de alguns anticorpos dos oito anos da administração de Rio. Mas desde o início foram cometidos vários erros que podem afectar a sua credibilidade. Para começar, espalhar uma série de outdoors pela cidade inteira desde Fevereiro não parece ser de muito bom tom, tanto pelos gastos que comportam numa altura de crise financeira e económica, em que o PS deveria ser o primeiro a mostrar sobriedade, como pelas autárquicas ainda estarem longe. Dá ideia que se desvalorizam as europeias e se se dão as legislativas como dado adquirido.
Depois, e mais grave que isso, a candidatura conjunta ao Parlamento Europeu (num lugar elegível) e à CMP são um rude golpe na credibilidade que se exige a alguém que tem reais pretensões a ocupar a Câmara. Tal como acontece com Ana Gomes, para Sintra. Diz Elisa, como justificação, que se for eleita para a CMP não deixará de ocupar o lugar, desistindo do PE. Óptimo. Mas e se perder? Pelo que me disseram, recusar-se-ia a ficar como vereadora (ao contrário do que sucedeu com Francisco Assis) e regressaria a Estrasburgo, dado que o seu estatuto e o seu currículo não lhe permitiriam liderar a oposição. Não vi essas declarações, apenas mas contaram, pelo que carecem de confirmação. Mas caso sejam verdadeiras, são um golpe em qualquer mensagem de seriedade que se queira fazer passar. Além de considerar a Câmara como coisa menor se não for a presidência, a mensagem que fica é que falhada a eleição autárquica terá sempre um lugar à sua espera, e um dos mais cobiçados. Como se não bastasse, faz ver que o seu currículo pesa mais do que a intenção de servir a causa pública, não admitindo ficar na vereação. Considerará o lugar "desonroso", depois de ter sido ministra? Talvez fosse bom olhar o exemplo inverso de Francisco Assis, que ocupou o seu lugar na edilidade, ainda que sem pasta, mesmo tendo permanecido como eurodeputado.
A ser verdade, tudo isto é deprimente e só dá gasolina aos que acusam os políticos de serem "todos iguais" e de "só quererem poleiro". Semelhante atitude não cairia bem entre o eleitorado portuense. Para mais, o PS-Porto, essa farândula de mediocridades em constantes lutas pelas migalhas do poder, que representa o pior dos aparelhos partidários (como se vê pelo episódio Narciso Miranda), não deve ver com bons olhos uma independente a encabeçar a tentativa de conquista da CMP e dificilmente deixará as suas conspiraçõezinhas de lado. Provavelmente não aprenderam nada com o choque da derrota de Fernando Gomes, o melhor autarca que o Porto teve em décadas, em 2001, depois de uma campanha sobranceira em que, tal como parece acontecer agora, se considerou a câmara como mero sucedâneo de poder. E podiam ainda ir buscar outro exemplo, mais antigo, este ao PSD, quando em 1993 candidataram António Taveira à CMP. Já depois do anúncio da candidatura, o senhor tomou posse como Secretário de Estado, para poucos meses depois se auto-exonerar para concorrer às autárquicas, como toda a gente sabia que ia acontecer. Sofreu uma derrota esmagadora perante esse mesmo Fernando Gomes. Curiosamente, Taveira era marido de...Elisa Ferreira, a própria.
É espantoso como os maus exemplos mais próximos não parecem servir de emeda. Depois ainda se admiram de Rio ganhar.
4 comentários:
Só uma correcção. É verdade que o Francisco Assis não deixou de assumir a liderança da oposição na Câmara, assumindo o seu lugar como vereador. No entanto, acumulou a vereação com o cargo de eurodeputado (situação que se mantém actualmente).
Abraços
JMM
Obrigado pelo esclarecimento, caríssimo. Por acaso julgava que Assis não tinha regressado ao PE. Já está feita a rectificação. Abraços
Certo...
Gostei imenso deste post Pimentao...mt bom
PMEIRA
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