Houve muitas ausências que se lamentaram durante a pandemia. Aqui em Portugal destacaram-se os santos populares, essas festas colectivas tão queridas e democráticas, que anunciam sempre um novo Verão. Em 2021 houve uns ameaços, mas ainda não seria desta. Em 2022 regressaram, sem impedimentos. O tão desoladoramente falado "novo normal" afinal revelou-se muito parecido com o "velho normal".
O S. João, festa pagã de solstício de Verão adaptada para comemorar o profeta Baptista, que segundo os Evangelhos teria nascido seis meses antes do seu primo Jesus de Nazaré, também regressou, em especial ao Porto, onde, segundo Fernão Lopes, no século XIV já era festejado. Sabia-se que tinha havido um ou outro ano em que por causas bélicas ou de epidemias não tinha havido S. João, mas nunca dois anos seguidos. De tal forma que até a DGS, em 2020, emitiu um patético comunicado no dia 24 a pedir às pessoas que evitassem os festejos. O regresso urgia, por isso.
E regressou. Assim como os manjericos, as sardinhas, o fogo de artifício, as "cascatas", os martelinhos e a animação de rua. O tempo chuvoso da manhã ameaçava ser literalmente um balde de água fria, mas acabou por poupar os festejos. As pessoas voltaram a encher os principais espaços, sobretudo os que se encaminham para o rio. Quem andasse pelo centro da cidade podia ver os concertos "oficiais", mas eram sobretudo os bailaricos típicos que, de Nevogilde às Fontainhas, passando pelo Passeio Alegre, Massarelos e Miragaia, atraíam mais gente, tal como antigamente, com os martelos a fervilhar. Até Marcelo Rebelo de Sousa andou pela cidade, quase de uma ponta à outra. É de questionar como é que ele se terá locomovido da Sé a Nevogilde. Acima de tudo e todos, os balões a polvilhar o céu de luzes. E a noite acaba perto do rio, já com a alvorada. Para alguns puristas resistentes será mesmo na praia.
Não sei se era a noite de S. João esperada por toda a gente durante os dois últimos anos de má memória, mas o essencial estava lá. O S. João voltou com a "velha normalidade" e isso era tudo o que importava.