segunda-feira, novembro 28, 2016

Fidel 1926 - 2016


As notícias sobre a morte de Fidel são tantas e tão variadas, assim como as discussões nas redes sociais, que não haverá muito mais a dizer, pelo menos no que à sua biografia diz respeito. O essencial: um jovem cubano formado em direito comandou uma revolução que derrubou a anterior ditadura, tornou-se um ícone revolucionário (ao lado de Che Guevara e outros, como Camilo Cienfuegos), aliou-se à URSS contra os Estados Unidos, tendo-se tornado o principal escolho dos americanos, resistiu no poder mesmo com o fim da União Soviética e manteve-se à frente dos destinos da ilha durante quase cinquenta anos, retirando-se aos oitenta, tendo vivido mais dez (e, pormenor importante, tendo recebido a visita de Marcelo Rebelo de Sousa, que por acaso também estava em Berlim na altura da queda do Muro...).
 
Os cubanos da ilha e o respectivo regime choram a morte de Fidel, e dos seus apaniguados admiradores, de Maradona ao PCP, ouvem-se louvores ao "herói da libertação", ao passo que em Miami os exilados dançam e abrem garrafas de champanhe. Nada de inesperado. Já mais controversos serão os títulos de jornais que tratam Fidel como um ícone revolucionário e parecem esquecer o regime que prendeu, matou e obrigou ao exílio largos milhares de cubanos. Ou a posição do Bloco, para quem Fidel se limitou a "cometer erros"; sim, trata-se do mesmo Bloco que saiu à rua para defender Luaty Beirão, um preso como há tantos em Cuba, ou que é um feroz defensor das causas gay, tantas reprimidas por Fidel. No fundo, revela apenas a sua natureza, camuflada por roupas democráticas. Mas em Portugal, como noutros países, é comum trata-se Fidel nas palminhas: lembro-me, aquando da Cimeira Ibero-Americana no Porto, em fins dos anos noventa, de apenas uma vintena de pessoas, entre os quais amigos meus, ter ido protestar à porta da Alfândega, onde se desenrolava o encontro, com tarjas lembrando os direitos humanos censurados em Cuba. Já num comício que o "comandante" deu num armazém em Matosinhos acorreram milhares de apaniguados, embora algo desiludidos no fim com mais um dos intermináveis e soporíferos discursos com que Fidel brindava o público.
 
A grande diferença de Fidel em relação a outros ditadores, mais do que ter ele próprio derrubado uma ditadura sob o manto do guerrilheiro romântico, é que quase provocou uma guerra nuclear com a crise dos mísseis que seriam instalados na sua ilha, mesmo em frente aos Estados Unidos. A determinação de Kennedy e o acordo que posteriormente estabeleceu com Krushev provocou a ira de Fidel, mostrando assim toda a sua irresponsabilidade (ou fúria assassina?). Aparentemente, a Crise dos Mísseis de Cuba tem sido por estes dias tratado como um caso menor, apesar de na altura ter deixado o Mundo em suspenso com a possibilidade de uma guerra nuclear.
 
Apesar de todos os encómios que lhe possam dar, Fidel era um ditador anacrónico, que desapareceu agora, em paz. Que em paz possa ficar o seu país, agora que o imprevisível Donald Trump anuncia a animosidade com os laços que enfim se reestabeleceram entre a ilha e os EUA.
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sexta-feira, novembro 25, 2016

Ilustres visitas a Portugal em dias seguidos



Esta semana correu bem no que toca a concertos de pop-rock "independente": tivemos a visita, em dias seguidos, dos Pixies e dos The Cure. Os primeiros ao Coliseu do Porto, os segundos ao Pavilhão Atlântico (agora com outro nome qualquer) em Lisboa. um luxo que em tempos mais recuados daria origem a histerismos.

Como algumas reportagens dedicadas ao assunto salientaram, tanto uma como outra vivem mais do fulgor do passado do que de rasgos do presente. Mas além de serem lideradas por vocalistas carismáticos e bizarros, tiveram imensa influência nos anos 80 e 90. Os Cure do desgrenhado e maquilhado Roberto Smith, como guias do movimento gótico, embora menos soturnos do que a maioria e com capacidade para criar luminosas e magníficas músicas pop, autênticos e respeitosos dinossauros entre as bandas britânicas, dos que nunca interromperam a carreira para se voltarem a juntar anos mais tarde em tournées de "saudade". Os Pixies, é certo, fizeram-no, quando mais de dez anos de se terem separado se reuniram de novo, até hoje. O grupo de Boston, regido por Francl Black (ou Black Francis, apesar de se chamar Charles) produziram um rock poderoso e melódico ao mesmo tempo, que se não teve imediatos reflexos comerciais, ao menos influenciou outros grupos e movimentos. É espantoso pensar como os Nirvana quiseram fazer um disco que soasse à Pixies e criaram Nevermind, que vendeu muito mais do que a soma de todas as obras do grupo de Franck Black, seus inspiradores, e se tornou o ex-líbris do Grunge e Kurt Cobain em estrela rock, contra a sua vontade (sabemos no que deu). A verdade é que os nirvana já lá vão e os Pixies rodam por aí.

Estive tentado em ir ver os norte-americanos na não sei quantésima vez que vêm a Portugal em dez anos, mas uma pesada constipação dissuadiu-me. E os britânicos não mereceriam a viagem a Lisboa. Até porque felizmente já tive oportunidade de os ver, a uns e a outros, em anos seguidos e em terras do Alto Minho, em dois concertos memoráveis (se consultarem os arquivos encontrarão a descrição de cada um deles, incluindo a frustração de não ter visto a estreia dos Arcade Fire na noite dos Pixies - sim, já actuaram em Portugal NA mesma noite), com os Queens of the Stone Age pelo meio). Mas com a queda que têm por concertos e com o apreço pelo nosso país, é natural espero, que os volte a ver. Cá os espero, meus caros.

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quinta-feira, novembro 24, 2016

O DN despede-se da sua casa.

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Tal como vinha sendo anunciado desde o início do ano, o Diário de Notícias deixou mesmo a sua histórica sede na Avenida da Liberdade, em Lisboa, construída de propósito por Porfírio Pardal Monteiro para o albergar, que recebeu o Prémio Valmor e onde estava há 76 anos vindo directamente do Bairro Alto, esse antigo bastião da imprensa portuguesa, qual Fleet Street lisboeta (e a própria Fleet, coitada), onde só resiste inexpugnavelmente A Bola. O jornal com mais de 150 anos de idade vai-se transferir para umas incaracterísticas torres de betão e vidro, perto da segunda circular, um qualquer espaço moderno, asséptico e longe das ruas. O edifício, esse, será transformado em apartamentos de luxo, com a obrigação de conservar a fachada, as letras góticas anunciando o jornal e os painéis de Almada Negreiros, no átrio. Do mal o menos, fica o espaço físico da memória. Mas é mais um símbolo da imprensa e da vida urbana que deixa o centro de uma cidade reservado quase só para o turismo, a restauração e as habitações de preço superlativo. Os serviços, a actividade administrativa e económica e restante faina vão sendo empurrados para a periferia. Causa estranheza a indiferença com que o jornal teve de abandonar a sua casa. E no entanto, perante cenário idêntico, há já uns anos, houve um movimento que impediu que o edifício fosse então usado para outras funções, como testemunha Pedro Correia. Desta vez ninguém, ou quase ninguém, se mexeu, limitando-se a menear a cabeça melancolicamente.

Espero que a sede do JN, no Porto, aquele altaneiro edifício brutalista, não siga o mesmo destino em breve. A ameaça existe. Se a quiserem levar avante, terá de haver mais reacção do que com o DN. Para abandono de sedes históricas da imprensa já bastou (mais) esta.


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Desenho de Stuart Carvalhais, natural da terra da minha Mãe, do ano da inauguração do DN

terça-feira, novembro 22, 2016

O futuro presidente de França...?


Talvez a presidência de França se tenha começado a definir agora com as primárias dos Republicains, como se chama agora a ex-UMP. Quando se pensava que o candidato da direita tradicional sairia de entre Allain Juppé e Nicolas Sarkozy, eis que os eleitores voltaram a confundir as sondagens, tirando o tapete ao ex-presidente, que se ficou pelo terceiro lugar, e dando destacado triunfo ao ex-primeiro-ministro (da presidência Sarkozy) François Fillon. Agora a luta será unicamente entre Fillon e Juppé, também ele antigo primeiro-ministro. Se o primeiro representa uma direita economicamente mais liberal e socialmente mais conservadora, reunindo, na tipologia das direitas francesas, a ala liberal/orleanista e um punhado da gaullista/bonapartista, já Juppé, muito próximo de Jacques Chirac, é o lídimo representante do gaullismo que caracterizava o antigo partido RPR, que liderou, e como acontece em certos políticos de longa carreira, é maire de Bordéus há tempos ininterruptos (também Chaban-Delmas o fora) e já respondeu em tribunal por razões monetárias. Resta saber em quem vão votar as outras correntes minoritárias, como os radicais de direita, os centristas e os democratas-cristãos, sendo certo que toda a "direita republicana" se revê nos dois candidatos. E o mais provável é que o vencedor da contenda seja mesmo o próximo presidente francês. Marine LePen (que agrupa as restantes facções de direita, uma espécie de neolegitimismo e o poujadismo, tem subido gradualmente de eleição para eleição, e os recentes acontecimentos no Reino Unido e nos EUA deram-lhe ainda mais força, mas passando à segunda volta, como parece certo, conseguirá mais de metade dos votos?
 
 
 
A esquerda, enfraquecida, desacreditada e dividida entre um Partido Socialista agónico (que pode nem levar às urnas o actual presidente Hollande, tão desacreditado está), a Front de Gauche do trânsfuga Melanchon, que inclui o outrora influente PCF, e uns candidatos trotsquistas e ecologistas menores, não parece mesmo em condições de passar sequer a uma segunda volta. Assim, o próximo presidente de França seria o candidato da direita tradicional, que a avaliar pelas votações será François Fillon. Parece ser o mais lógico e o mais consentâneo com as sondagens, mas este último ano tem-se encarregue de fintar todas as previsões e toda a lógica e de desacreditar todas as intenções de voto. 
 
Certo, certo, é que estas primárias tiveram um resultado certo e muito positivo: o fim político de Nicolas Sarkozy, um dos maiores bluffs que apareceram na Europa na última década. Ver tal criatura outra vez no Eliseu seria o descalabro (apesar de Bruni), depois da sua presidência de enganos e fachada e das suspeitas graves que caíram sobre ele. A política francesa ganha assim um tudo de nada de credibilidade.
 
 

segunda-feira, novembro 14, 2016

Nos sessenta anos da atribulada Crise do Suez




É possível que os jornais estejam mais virados para assuntos da actualidade, como o orçamento de estado, a questão com os novos corpos sociais da CGD, o rescaldo das eleições presidenciais nos Estados Unidos e a a batalha por Mossul. Mas nas efemérides que constantemente aparecem, não teria sido pior se houvesse referência a uma situação internacional de enorme relevo que acabou há precisamente 60 anos: a Crise do Suez.

Em Julho de 1956, prosseguindo uma política de pan-arabismo e de exaltação nacionalista desde o golpe de estado que afastara o Rei Faruk do trono do Egipto, Gamal Abdel Nasser anunciou a nacionalização da Canal do Suez, detido e administrado por uma companhia pertencente desde a abertura daquela enorme obra de engenharia a franceses e britânicos. O direito de passagem estava garantido até em tempos de guerra e garantia a neutralidade do canal. Em 1936, em boa motivados pela invasão italiana à Etiópia, o Reino Unido e o Egipto tinham celebrado um tratado permitindo que tropas britânicas se mantivessem na área adjacente ao canal. A duração era de vinte anos, ao fim dos quais as forças britânicas aí estacionadas sairiam do Egipto, o que efectivamente aconteceu. E logo a seguir, o anúncio da nacionalização.

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A reacção do governo britânico foi de choque, apesar das desconfianças sobre Nasser, e de indignação. Eden chamou ao presidente egípcio "Mussolini do Nilo" e estabeleceu comparações entre a nacionalização do canal e a reocupação militar da região do Reno pela Alemanha, vinte anos antes, pretendendo que a opinião pública britânica visse uma repetição dos anos trinta em versão árabe. Eden era defensor da ideia do Império Britânico, mas se por um lado tinha seguidores ainda mais acirrados nesse propósito (que argumentavam que a independência da Índia seria a contrapartida da manutenção do controlo do canal), outros não queriam pensar em nova guerra, frescas que estavam as recordações da década anterior.

Em posição idêntica encontrava-se a França, que já perdera a Indochina e parte do norte de África, mantinha a custo o porto de Djibuti, no "Corno de África", e estava numa guerra com as forças independentistas da Argélia, apoiadas por Nasser. O primeiro-ministro francês, o socialista Guy Mollet, simpatizante da Inglaterra, sustentava Eden na ideia de que Nasser poderia ser um perigo semelhante a Hitler. E por razões de inimizade com o Egipto e receio de que a sua passagem fosse definitivamente interdita, também Israel via a nacionalização com o maior receio.

Realizaram-se imediatamente conferências para sentar à mesa as partes interessadas, mas por mais que os Estados Unidos tentassem resolver o diferendo pela negociação (e ao mesmo tempo atrair o Egipto, que se aproximara da URSS, para a sua esfera de influência), a intransigência não permitiu que se chegasse a qualquer acordo.

Na sequência do falhanço das negociações, altas esferas do Reino Unido, Faça e Israel reuniram-se secretamente em Sèvres para delinear um plano de reacção militar, que seria também uma prova de autoridade. Israel entraria no território egípcio sob o pretexto de combater os fedayeen que constantemente atacavam o seu território. A França e o Reino Unido exigiriam de Israel e do Egipto que recuassem numa linha de vários quilómetros do canal, contando obviamente com a recusa deste último para intervir militarmente. O plano correu como o esperado, com Israel a entrar pelo Sinai e a ocupar vários pontos estratégicos (incluindo os que no no golfo de Aqaba, à entrada para o Mar Vermelho, ameaçavam o tráfego marítimo até Eilat), mas parando antes do Suez. Ante a recusa do Egipto em recuar, em fins de Outubro forças francesas e britânicas, que tinham sido já deslocadas em grande número para as bases que o Reino Unido tinha em Chipre e Malta, bombardearam maciçamente posições egípcias, usando uma novidade para a época, os helicópteros, permitindo que tropas pára-quedistas fossem ocupando pontos importantes, apesar da forte resistência dos locais, que fecharam o Suez à navegação e o bloquearam com navios. Mas a operação militar conjunta resultou num enorme êxito, para mais com poucas baixas.

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Contudo, se militarmente as coisas corriam como previsto, no plano político os planos saíram furados. Os Estados Unidos, com eleições à porta, temiam que os aliados árabes do Egipto provocassem uma crise no abastecimento do petróleo e a consequente subida dos preços, em plena ascensão do American Way of Life. Ao mesmo tempo, a URSS intervinha na Hungria, para esmagar e tentativa de mudança de regime, e aproveitou a situação no Egipto para desviar as atenções e os protestos que se faziam sentir. Nikita Krushev ameaçou as forças intervenientes no Suez, usando até a ameaça nuclear, com a possibilidade de usar bombas atómicas contra Paris e Londres. Perante estes cenários, e perante as hesitações de França e Reino Unido, os Estados Unidos de Eisenhower conseguiram que a Assembleia Geral da ONU votasse a favor de um cessar-fogo e ameaçou com operações monetárias contra a libra esterlina. Sob pressão de todos os lados, O Reino Unido teve de assinar um cessar-fogo a 6 de Novembro, e a França não pôde fazer outra coisa senão seguir os mesmos passos, e em Dezembro as forças de intervenção eram substituídas por elementos da ONU. 

A aventura do Suez começou com o optimismo inconsciente das ex-grandes potências e terminou com a sua derrota e humilhação. De facto, tratou-se da última grande intervenção dos impérios coloniais cessantes, e uma passagem de testemunho simbólica para as novas superpotências, EUA e URSS. No Reino Unido, Eden demitiu-se, sendo substituído por MacMillan, que, pragmático ante o fim do império, inflectiria a política externa fazendo com que os britânicos se tornassem nos mais leais e duradouros aliados dos Estados Unidos. Do lado da França, seria também um prenúncio do fim definitivo do império colonial, da Vª República corporizada em De Gaulle e do afastamento dos anglo-saxónicos e no incremento da CEE, que se formaria menos de um anos depois, em Roma (como retorquiu Konrad Adenauer a Guy Mollet, "a Europa será a vossa vingança"), e onde, enquanto De Gaulle viveu, o Reino Unido não teve lugar, uma atitude que se reflectiu também no afastamento dos franceses da NATO, embora os gaullistas receassem igualmente a União Soviética.

Os Estados Unidos viram confirmado o seu estatuto de superpotência, e a URSS mais ainda, pois não só manteve a Hungria sob o seu domínio  como conseguiu fazer do Egipto um aliado próximo, tendo sido engenheiros soviéticos a projectar a Barragem de Assuão, além de fazer recuar nações como a França e o RU. 

Por outro lado,o Egipto conseguiu transformar uma derrota militar numa enorme vitória política: manteve o domínio do Suez e Nasser afirmou-se como líder árabe e do "Terceiro-Mundo". Israel, embora tivesse de recuar às fronteiras originais, obteve liberdade de passagem no canal e no Mar Vermelho e mostrou o que valia militarmente, o que reafirmaria mais tarde, na Guerra dos Seis Dias. Além disso, reforçou os laços com britânicos e franceses 

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A crise do Suez, acontecimento maior dos anos 50, definiu a Guerra Fria: confirmou as novas superpotências, demonstrou a decadência militar dos europeus, deu incremento à descolonização e definiu também as tendências do Médio Oriente para os vinte anos seguintes. Agora que se avista o pós-pós Guerra Fria e um multilateralismo imprevisível, talvez não fosse pior relembrar as lições de crises passadas e tomá-las em conta para prevenir as que possam ou estejam a surgir. Sessenta anos não é assim tanto tempo.

quarta-feira, novembro 09, 2016

Notas de umas presidenciais surpreendentes


Com poucas horas de sono, mas bastantes certezas desde que a Pensilvânia alterou o sentido de voto, acho que já posso tirar algumas conclusões destas presidenciais americanas.


Os EUA elegeram como presidente um tipo que andou anos a tentar provar em vão que Obama não era um verdadeiro americano. Era improvável mas não impossível que ganhasse, tal como o Brexit. Definitivamente, e para quem tinha dúvidas, as sondagens perderam qualquer credibilidade, sobretudo quando há candidatos mais politicamente incorrectos que original o tal voto oculto.



Agora, com esta criatura na Casa Branca (escudado por uma maioria legislativa que mesmo que não concorde com ele ser-lhe-á, pela obrigação dos factos, fiel), a conviver - até ver - com Putin, com o Reino Unido em processo de saída da UE, com uma crise que tarda em acabar no Médio Oriente e outra congelada na Ucrânia, com a China a entrar em conflito com os vizinhos do Pacífico, isto promete aquecer. Esta é a época dos Trumps, Putins, Farages, LePens, Dutertes, Grillos e Iglésias, e só essa comboio de nomes inquietantes diz tudo. Parece que são todos "contra o sistema", seja lá isso o que for. Nos anos trinta também tínhamos dois tipos de bigode e "contra o sistema" à frente dos respectivos países, além de outros compagnons de route. Os resultados são conhecidos.



Sim, Trump não vai propriamente incendiar o Capitólio, mas com todos os ovos no mesmo cesto, os "checks and balances" que sustentam a democracia americana serão menos sólidos.
Quanto a Hillary Clinton, fica com o rótulo de uma das maiores perdedoras da história dos EUA, primeiro com Obama, nas primárias democratas, agora, incrivelmente, com Donald Trump. Clinton não é menos diabolizada que o vencedor destas eleições. Mesmo não inspirando confiança nem particular simpatia, não esqueço que os mandatos em que serviu como primeira-dama e inspiradora foram dos tempos mais seguros e optimistas que o Mundo já viveu.

A única certeza que há é que Obama vai deixar saudades.

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segunda-feira, novembro 07, 2016

Objectivos cumpridos


A tal semana importante da bola de que tinha falado há dias acabou da melhor maneira: com um empate nas Antas, ao minuto 92 (o que tem o mérito de acabar com a piada relacionada com esse minuto), ou seja, mesmo no fim de um jogo em que o Benfica teve uma exibição pobrezinha e o Porto dominou totalmente na primeira parte - só não marcou aí por demérito próprio. Mesmo que na segunda parte as coisas se tenham equilibrado, era difícil adivinhar o golo do empate, que veio mesmo pela cabeça de Lisandro. Isto mesmo antes da paragem para as taças e os jogos da Selecção, e com a enfermaria do Benfica quase lotada. Para mais, esta semana recebeu como utentes Grimaldo e Fejsa, o que ajuda a explicar a exibição de hoje. Nas competições europeias cumpriram-se os mínimos, com uma vitória sobre o Dynamo de Kiev. Uma exibição q.b. para ganhar, sem ser nada de especial, com Ederson a resolver o penalty que ele próprio provocou, mas ainda assim um resultado justo, já que o Benfica mostrou mais futebol que os ucranianos. E com isso guindou-se ao primeiro lugar do grupo, antes de ir à sempre complicada Istambul, e de receber o Nápoles dos De Laurentiis. Sem o mínimo deslumbre, cumpriram-se os objectivos. Agora, é esperar que o sector mais fraco do Benfica - a enfermaria - melhore as suas exibições para que os importantes lesionados regressem definitivamente. É que a certa altura jogar com meia equipa titular pode começar a causar mossa.
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quarta-feira, novembro 02, 2016

Mais um desaparecimento no Porto


No último ano parece que se abateu uma onda negra sobre a câmara do Porto, ou mais precisamente, sobre alguns dos apoiantes e responsáveis pela eleição de Rui Moreira. Em Novembro de 2015, está quase a fazer um ano, desapareceu abruptamente Paulo Cunha e Silva, deixando uma herança riquíssima que levara apenas 3 anos a formar, mas um espaço vazio a custo ocupado pelo próprio Moreira. Em Dezembro, na véspera de Natal, desapareceu o Pidas Espregueira, com apenas 45 anos, um elemento sempre activo na campanha de Moreira, membro da assembleia de freguesia da Foz-Nevogilde-Aldoar, ainda meu primo e meu homónimo. E agora, com pouco mais idade, Manuel Sampaio Pimentel, antigo nº 2 de Moreira, vereador já dos tempos de Rui Rio, com inúmeras competências, ex-director regional da Segurança Social e figura maior do CDS local. Todos, amigos, colegas, adversários políticos, foram unânimes em considerá-lo um político combativo, com feitio difícil, até, leal, directo e sério. E com ele é já a terceira personalidade ligada ao actual executivo a deixar-nos em apenas um ano, todos ainda relativamente novos. Mais um fim de ano tristonho. Dá vontade de ir à bruxa, com tão inimagináveis tragédias, só para se obter alguma paz terrena.

terça-feira, novembro 01, 2016

Semana de bola


E à oitava jornada, o Benfica está em primeiro lugar isolado no campeonato, 5 pontos à frente do Porto e 7 do Sporting, com apenas um empate a manchar uma prova quase imaculada. Na sexta-feira, como que a comemorar a tranquilíssima re-eleição de Luís Filipe Vieira, espetaram-se três golos sem resposta ao Paços de Ferreira, com Gonçalo Guedes, Semedo e Salvio em grande, sem desprimor para os outros, antes dos adversários principais escorregarem nos respectivos zero-zero.
A vida parece que singra, mas a semana que começa é de enormes responsabilidades. A recepção ao Dynamo de Kiev na Luz não vão ser favas contadas, mas repetir o resultado de anteriores encontros não seria nada mau. Depois, no Domingo, o desafio nas Antas. O FCP anda irregular e tem pior plantel que o Benfica, mas é dos tais jogos que vale tripla, e não acredito que os portistas demonstrem qualquer apatia - basta pensar no ano passado, em que sem que nada o fizesse prever, ganharam na Luz. Por isso, um empate é bom, uma vitóia também. Mas por acaso até prefiro a igualdade: demasiado avanço pode ser prejudicial e fazer-nos crer num falso mar de rosas, apesar da prudência de Rui Vitória. Eu sei que os intervenientes não são os mesmos, mas há precisamente um ano o Sporting ganhou por 3-0 na Luz tinha sete pontos de avanço. Por isso, a semana é importante, não decisiva. Venham os jogos.