terça-feira, janeiro 31, 2017

Defender as fronteiras da good old América

 

Brigada norte-americana de bons costumes, leal ao Presidente Trump, impede a entrada nos Estados Unidos de forasteiros irlandeses de países muçulmanos (da Arábia Saudita não, também não é preciso exagerar), antes que eles conspurquem a nação com os seus hábitos e costumes religiosos odiosos, com as suas intenções malévolas e ameacem a liberdade reinante.

terça-feira, janeiro 24, 2017

O discurso de Trump


A tomada de posse de Donald Trump, mergulhada na polémica do início ao fim, e portanto fiel ao empossado, continua a fazer correr tinta, como seria de esperar. O número de populares, a forma como cumprimentou ou não cumprimentou, a ausência de artistas de primeira linha, a pobreza de vocabulário, o estilo eleitoralista e sectário, a maneira como se dirigiu aos que o rodeavam, o próprio baile que se seguiu, tudo contribuiu para intermináveis discussões que ainda se prolongam. Dois aspectos particularmente maus: o conteúdo do discurso em si e as manifestações contra. Proferiu uma miserável arenga de campanha, absolutamente divisionista, que em nada servirá para unir o país. Desfiou uma data de chavões, de frases feitas básicas e de slogans populistas, prometendo tudo e mais alguma coisa como se fosse mágico ou omnipotente. A frase que melhor resume é esta (referindo-se ao crime de rua): "this american carnage stops right here and stops right now". Até agora, não parece que o crime tenha desaparecido. E mais prometeu que se acabaria a desobediência com a polícia. Se as coisas já andavam tensas nessa matéria, é de esperar o pior (irá ordenar à polícia que massacre quem lhe desobedeça?). E o mesmo se aplica ao radicalismo islâmico, que prometeu "erradicar". E, como muito repararam, não se referiu uma única vez ao valores americanos nem aos founding fathers ou a qualquer outra figura histórica.

Eis a face de Trump, e os seus aspectos mais negativos: mais do que o ar de boss e a inspiração em alguns dos piores aspectos dos Estados Unidos, mais do que a incapacidade discursiva e o ar de gorila alaranjado, é esta convicção de que tudo pode e de que não tem de ouvir ninguém, ou pelo menos ninguém fora do seu círculo, que o torna mais perigoso. Já é o Presidente americano e já demonstra todo a sua incapacidade e falta de estaleca para o cargo. Pormenor lateral mas ilustrativo: o tipo nem sabe apertar devidamente o casaco e apresentou-se ao mundo com a gravata a esvoaçar.

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E depois o outro aspecto negativo, esse nos antípodas: as manifestações violentas de grupelhos como o Black Bloc, que para onde vão, divertem-se a partir montras e carros e a atirar objectos à polícia. Tendo em conta que em Washington quase ninguém votou em Trump, é caso para perguntar qual é a culpa das montras. Claro que não é nenhuma, mas é o pretexto mínimo para que grupos de marginais e cultores de violência urbana possam dar azo aos seus passatempos. Depois não admira que parte da população vote nos Trumps desta vida, que prometem a erradicação do crime e da violência das ruas. São alimento recíproco e pasto para disparates dos dois lados. No fundo estão todos bem uns para os outros.

segunda-feira, janeiro 16, 2017

Treze


Treze é um número aziago. O número do azar, da má fortuna, de dias temerosos que impõem receios, de crenças mais ou menos infundadas, de tradições obscuras e bruxarias imaginadas. E também é o número de anos em que eu ando nisto. Este blogue faz esta noite treze anos (não sei ao certo a que horas nasceu, mas por esta altura em que escrevo, e precisamente no quarto onde me encontro), e como tal entra na adolescência. Como se sabe, é a pior das idades. Não fiquem espantados se houver manifestações próprias da "idade do armário".
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Interrogações com resposta vaga


Há os desaparecimentos públicos e depois há os que, não sendo de notoriedades, nos são mais próximos. A grande diferença para os primeiros é que não temos um resumo da sua vida, as suas memórias ou as suas imagens ali à mão de semear. E aí temos de ser nós a ir buscá-las, a recordá-las com os outro, a comparar recordações e a trocá-las, como cromos de uma caderneta que no fundo é a biografia do que nos deixou.
As memórias privadas são mais íntimas e mais valiosas, e não apenas por causa do evidente valor de proximidade. São-no porque exigem um trabalho de busca e de rememoração que trabalho jornalístico algum, por mais bem feito e intencionado que seja, nos pode dar.

E que fazer quando o desaparecimento atinge uma pessoa na força da idade, de que se diz que tanto poderia dar ainda e que para mais marca aqueles que a rodeiam? Como é que se reage? Como é que aqueles que estão próximos podem preencher o vazio? Quando morre alguém de idade avançada fica a tristeza do momento, a enumeração das suas virtudes, a saudade. Mas nunca é exactamente visto como uma tragédia. Quando desaparece alguém mais novo, há a sensação natural de que uma missão no Mundo ficou por cumprir, e um enorme e doloroso sentimento de perda. Mesmo para quem crê e que sabe que a morte física é apenas uma passagem para algo de diferente.

O tempo apaga a dores, dizem. E se não apaga atenua-as. As recordações mais preciosas ajudam também. A seguir em frente, na vida de todos os dias. Nunca gostei muito dessa frase tecnocrática e prosaica -  "a vida continua" - mas em parte é verdade, para os que vão ficando. A vida continua amparada na passagem do tempo, nas recordações e na convivência com o(s que nos são) próximo(s). E na crença de algo superior e na sua sagrada promessa de uma existência diferente e melhor, em que mesmo os mais cépticos no fundo crêem. O resto são as interrogações naturais que esta frágil espécie se coloca desde sempre e para sempre, sem chegar a qualquer conclusão material em vida terrena, por muito que a ciência, em vão, o tente. 

quarta-feira, janeiro 11, 2017

Outros desaparecimentos


E enquanto se carpia Mário Soares, partiam também Guilherme Pinto e Daniel Serrão. A notícia maior eclipsou um pouco as suas mortes, talvez por não serem muito inesperadas. Pinto tinha justamente renunciado ao cargo de presidente da câmara de Matosinhos, que só teria efeitos a parir de Fevereiro, e não resistiu a ma doença cancerígena que já o afectava há anos. Anda conseguiu refiliar-se no PS, ele, que em 2013 tinha reconquistado a câmara com maioria absoluta e estatuto de independente, depois de uma lamentável jogada do aparelho socialista local. Conheço pessoas que lhe devem a sua (boa) situação habitacional e que certamente não o esquecerão. Um bom autarca que parte cedo demais.
Também a morte de Daniel Serrão não constituiu propriamente surpresa. Estava bastante fragilizado desde o estúpido atropelamento de que fora vítima, há dois anos. Serrão, que era de Vila Real com a minha família e vivia no Porto tal como eu, será sobretudo recordado como o grande pioneiro e divulgador da bioética em Portugal e até a nível internacional, e um exemplo de como se pode reunir harmoniosamente a ciência e a fé religiosa.

E para além disso, desapareceu também Zygmunt Bauman, um pensador que bem merece ser lido na época efémera e precária em que vivemos. E para além de Mário soares, também morreram outros dois ex-chefes de estado dos anos 80-90: Roman Herzog, antigo presidente da Alemanha, e Rafsanjani, o antigo presidente iraniano que ajudou a desanuviar a regime dos ayattolahs. Fará provavelmente falta aos sectores mais contestatários da teocracia iraniana. Para já, 2017 não deve nada a 2016.

terça-feira, janeiro 10, 2017

Mário Soares 1924 - 2017


Nunca é fácil resumir o epitáfio do político que representa o regime em que vivemos e o mais representativo do nosso país no último meio século. Mas para começar, Mário Soares é daquelas personalidades que faz parte do meu imaginário desde sempre e que não me lembro de não conhecer. Era ainda pequeno mas soletrava os políticos que conhecia e que eram na altura os mais relevantes do país: Soares (o "bochechas"), Eanes (o "rameanes"),  Balsemão (o "balsas"), o Freitas e o Cunhal. Destes cinco, três ainda estão vivos. Recordo-me ainda de outros, como Mota Pinto, mas os principais eram mesmo aqueles.

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Mário Soares era uma personagem de paixões, e que provoca ele mesmo paixões e ódios. E é, ao mesmo tempo, uma personagem atípica: foge à austeridade que caracteriza boa parte dos políticos portugueses (desde os da 1ª república e da "ética republicana", passando por Salazar, até Cunhal, Cavaco, Eanes e mesmo Passos Coelho), era um bon-vivant, um optimista, não era um mouro de trabalho nem nunca se preocupou em dar essa imagem, nunca se destacou como um aluno brilhante nem por trabalhos académicos e intelectuais, apesar de ter uma enorme bagagem literária, e teve sempre grande empatia com as massas.

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Todas essas características fazem dele uma personagem à parte na política portuguesa. A isso será sempre obrigatório juntar-lhe Maria Barroso, que esteve quase setenta anos ao seu lado, que se tornaria na Primeira Dama mais popular entre os portugueses, e cuja perda, há ano e meio, contribuiu visivelmente para o seu declínio.

Resumamos o seu percurso: filho de um ministro republicano católico, fundador do Colégio Moderno, ainda hoje pertencente à família, chegou a pertencer ao PCP, participou nas campanhas do MUD, conheceu Norton de Matos, Humberto Delgado e Jaime Cortesão, esteve preso várias vezes (casou-sena prisão, por procuração), chegou a ser deportado para S. Tomé e acabou por se estabelecer em Paris, onde conheceu inúmeras figuras internacionais ligados à Internacional socialista, como Mitterand, Willy Brandt, Felipe González e Olof Palme. Pelo meio fundou a Acção Socialista Portuguesa, que daria origem, em 1973, ao Partido Socialista. Voltou a Portugal na sequência do 25 de Abril, conseguiu tornar o PS num dos principais actores políticos do momento, e depois de algum tempo de manifestações comuns, dá-se o afastamento em relacção ao PCP, agravado com a radicalização da situação, o 11 de Março e o caso do jornal República, ligado ao PS. Realizam-se as eleições para a Assembleia Constituinte, que o PS ganha claramente, deixando o PCP e restantes satélites com resultados muito abaixo do esperado, mas nem por isso abrandando o PREC. Soares encarna a resistência na rua ao governo de Vasco Gonçalves e ao crescente domínio do PCP e dos militares esquerdistas, com grandes comícios como o da Alameda, em Lisboa, e das Antas, no Porto, que mostraram que nem todo o país pretendia uma "democracia popular", como aliás as urnas o demonstraram. Ainda em Novembro, com garantias de protecção dos Estados Unidos (onde Kissinger achava que Portugal seria a "Cuba da Europa"), Soares realiza novos comícios antes da tentativa de golpe da extrema-esquerda, sufocada pela reacção dos comandos e dos militares moderados a 25 de Novembro. com a situação normalizada, Soares assumiu o cargo de Primeiro-Ministro depois de ganhar as eleições de 1976. Com a economia de rastos e sem maioria parlamentar, teve chamar o FMI e de ensaiar várias soluções governativas, antes das iniciativas presidenciais o tirarem do governo. Seguiram-se os conflitos internos por causa da sua recusa em apoiar Eanes para novo mandato, a derrota perante a AD de Sá Carneiro, até ao regresso às vitórias em 1983, e a necessidade do acordo do bloco Central, de nova vinda do FMI e de dois anos de pesada austeridade, culminando na adesão à CEE, um dos grandes objectivos de Soares. A esse triunfo seguiu-se a derrota mais pesada, com o PS a obter apenas 20%, pouco mais que o novo PRD inspirado por Eanes, e que permitiram a Cavaco Silva e ao PSD formar o seu primeiro governo. Depois, o combate mais condenado à partida que já houve em Portugal nas últimas décadas: Soares lançou-se às presidenciais de 1986 com apenas 8% de intenções de voto, contra Freitas do Amaral, apoiado pelo CDS e PSD, que congregava toda a direita, o seu velho ex-amigo Salgado Zenha, apoiado por PCP e PRD, e Maria de Lurdes Pintassilgo, apoiada por parte da esquerda. Acabou por suplantar os dois últimos, obrigou Freitas a ir à segunda volta, obrigou Cunhal a engolir um "sapo" e a votar nele, e venceria com ligeiro avanço, transformando uma derrota certa numa vitória quase impossível. Vieram depois os dez anos presidenciais, a coabitação nem sempre fácil com Cavaco (a quem de certo modo deu a sua primeira maioria absoluta), o estilo régio combinando com à vontade nos meios populares, e uma imensa popularidade que levou a que o próprio PSD o apoiasse na reeleição onde ganhou com incríveis 70%. Acabada a presidência, Soares tornou-se um senador sempre interventivo, voltando ao combate político como cabeça de lista pelo PS ao Parlamento Europeu nas europeias de 1999, que venceria, e já mais tarde, depois de aos oitenta anos pronunciar um sonoro "basta de política", resolveu lançar-se numa inglória corrida de novo à presidência da república, aos 81 anos e contra o apoio da família e amigos, contra Cavaco Silva e o anteriormente amigo Manuel Alegre, culminando num modesto terceiro lugar. Seguiram-se anos de intervenção política, os últimos já penosos, em que verificou uma guinada à esquerda e severas contradições com o que tinha defendido em tempos. Mas a importância política de Soares tinha ficado lá atrás.

Este homem teve inúmeras qualidades, como a coragem, o optimismo, a determinação inquebrantável, o à vontade e a absoluta recusa em agradar a gregos e troianos, o apego à liberdade e a lealdade aos amigos. E também muitos defeitos, como a arrogância política e imenso sentido de superioridade (para não ir mais atrás recordo os debates com Cavaco em 2006), inabilidade executiva, desconhecimento de dossiers, desprezo pela coisa pública, com se viu com os montantes gastos na pós-presidência e na sua fundação, e...excessiva lealdade aos amigos, alguns deles de duvidosa credibilidade (Craxi, Sócrates, Andrez Perez, mesmo Mitterand). Este homem não deixou ninguém indiferente, e é talvez o político mais amado e odiado dos últimos cinquenta anos. Se por um lado teve inúmeros amigos, por outro arranjou outros tantos inimigos - Marcelo Caetano, Cunhal, Eanes (com quem faria as pazes), Cavaco, e, a mais dolorosa, Salgado Zenha, outrora um amigo inseparável e com quem nunca conseguiu reconciliar-se. O que significa que deixou uma forte marca e que era realmente um político total, em todo o sentido da palavra. Pôde-se ver agora, por um lado nas imensas cerimónias de estado, nas declarações de líderes estrangeiros e na imprensa internacional, na emoção das pessoas à passagem dos restos mortais; mas também nas redes sociais, com o seu habitual lavar de roupa suja, declarações de ódio e acusações de toda a sorte, algumas completamente absurdas - culpas totais na descolonização (coisa aliás desmentida por pessoas como D. Duarte de Bragança, que afirmou que Soares merecia ir para o Panteão Nacional, ou Ribeiro e Castro, no caso particular de Moçambique), morte de Sá Carneiro, e até uma verdadeira e feliz - o fim da revolução - e outras que provavelmente só com o tempo poderão ser validadas ou descredibilizadas.

Este homem com imensos defeitos é provavelmente o principal responsável por Portugal ser um país livre e pertencente por direito próprio à União Europeia. Mesmo por todas as questões em que discordei dele, e nos últimos anos foram quase todas, não deixarei de lhe agradecer. Se discordo dele publicamente, a ele sobretudo se deve.

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Soares entrou justamente na História de Portugal com um relevantíssimo papel. Está para a 3ª República como Afonso Costa para a 1ª e Salazar para o Estado Novo. Com uma diferença essencial, para além de outras também importantes: ganhou esse papel com o voto dos portugueses e não impondo-se a eles. Eis o que diferencia o "Bochechas" dos outros. E isso é realmente fixe.
 
Que descanse em paz.

quarta-feira, janeiro 04, 2017

Bodas de prata de uma discografia excepcional


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Já estamos em 2017, mas como o ano mal começou e não há ainda grande história, lembrei-me que 2016 tinha sido um ano de bodas de prata para uma época incrível da música pop-rock, sobretudo a do outro lado do Atlântico, e que valia a pena fazer um apanhado.

Em 1991, já há 25 anos, em que Portugal entrou assistindo ao Crime na Pensão Estrelinha, que em poucas horas revelou um par de criações fantásticas de Herman José, foram lançados uma quantidade rara de álbuns que entraram para a história do pop-rock. Começo pelos meus favoritos: Out of Time, onde se insere a hipnotizante Losing My Religion, levou os REM ao grande público, à venda de milhões de discos e a um patamar reservado aos nomes maiores do rock americano, de onde não mais sairiam (e que confirmariam um ano depois, com o muito diferente mais genial Automatic for the People).


Também os U2 fizeram aqui uma viragem na carreira, até de imagem, com o seu Achtung Baby, influenciado, como o próprio nome indica, por Berlim, um disco ligeiramente mais electrónico que os anteriores, menos "militante", ou menos espiritual, mais virado para a mediatização contemporânea, seguido de digressão sofisticada e feérica. Nem por isso deixou de vender milhões em todo o mundo.

E depois, claro, 1991 é o ano do aparecimento súbito do grunge, com os Nirvana à cabeça de um esquadrão de grupos, de Seattle e não só, que ganhou notoriedade sob o uniforme desse subgénero do rock menos polido, mais cru, sem laivos de romantismos charoposos ou metalices inconsequentes. Kurt Cobain quis fazer uma canção "à Pixies", de quem era fã, e saiu Smells Like Teen Spirit, que rebentou pelas MTV fora e levou Nevermind a um dos discos mais idolatrados, vendidos e estudados desses anos. Atrás dele vieram Ten, portentosa estreia dos Pearl Jam, que se tornaria numa das maiores bandas rock das duas décadas seguintes, Badmotorfinger, dos Soundgarden, e, mais discretamente, um disco, Gish,  de um grupo que daria muito que falar poucos anos depois: os Smashing Pumpkins. E curiosamente, os Pixies, que tanto influenciaram Kobain, também lançaram o seu Trompe leMonde, mas nem de longe nem de perto com tanto impacto comercial, ainda que tenham continuado a ser um grupo de culto.

Também nos Estados Unidos, os Metallica levaram o seu Black Album a números e a um êxito junto do público que o heavy metal até aí não tinha conhecido. Deixava de ser um nicho de mercado para passar a ser música de estádio para as grandes massas (ou que não significou necessariamente falta de qualidade, mas algumas "baladas" como Nothing Else Matters ajudaram a chegar a novos públicos).

E também o funk rock ganhou nova visibilidade com o enorme êxito que Blood Sugar Sex Magic, a opus dos Red hot Chili Peppers (até Californication), teve em todo o Mundo, não só nesse ano como nos seguintes, com os riffs mágicos das guitarra em refrões de músicas como Give It Away ou no início de Under the Bridge.

E depois, aquela que era provavelmente a banda mais popular do mundo no início da década não podia ficar de fora. Os Gun´s Roses, pois claro, lançaram não um, mas dois álbuns ao mesmo tempo, Use Your Ilusion I e II, que como não podia deixar de ser, treparam as tabelas de vendas. Aos singles, entre os quais algumas baladas longuíssimas, como November Rain e Don´t Cry , tinham videoclips com  pretensiosismo q.b.. E não faltava também um cover, Knockin on Heaven´s Door, um original de Bob Dylan que se ouvia por toda a parte no Verão de 1992. Mas os Gun´s tinham crescido em demasia, e a esse tempo seguiu-se uma travessia no deserto, com zangas entretanto sanadas (vêm actuar a Portugal daqui a meses com a composição quase original).
 
E para dominar todos os tops, cereja em cima do bolo, também Michael Jackson regressou, anos depois de Bad, com o seu Dangerous e os seus videoclips com actores da moda, e Prince lançou Diamonds and Pearls.
 
Ou seja, dos Estados Unidos não faltou quase ninguém.

No Reino Unido não houve tantos lançamentos de monta, mas também surgiram alguns destaques. Ouvia-se sobretudo o insuportável Stars, dos Simply Red, mas nesse ano apareceram os Blur, com Leisure, ainda ligeiramente shoegazing, mas já a prenunciar a britpop. E os Primal Scream lançavam Screamadelica, com o seu rock dançável ligeiramente psicadélico. Os Genesis regressaram com o bem disposto e comercialmente bem sucedido We Can´t Dance, os Dire Straits editaram On Every Street, sucessor do monstruoso êxito de guitarras que fora Brothers in Arms. E no fim do ano despedia-se Freddy Mercury, depois dos Queen terem lançado o último álbum em vida do seu vocalista, Innuendo, e ainda a tempo de ver o seu Greatest Hits editado.

E por cá? Rui Veloso lançou o Auto da Pimenta, mas Mingos e Samurais, do ano anterior, ainda ecoava e acabou por ser um dos álbuns mais vendidos de 1991. De resto, saliente-se a estreia dos Resistência, e pouco mais. O que quer dizer que, inversamente ao que aconteceu nos Estados Unidos, a discografia pop-rock portuguesa em 1991 é muito curta. A diferença de dimensão não explica tudo. Mas os anos seguintes seriam melhores.