sábado, dezembro 31, 2011

O perigo dos Indignados


Acaba o ano, e eu com tantos posts em atraso, num conjunto de indolência (como nos acusam os chineses de ser), tempo mal organizado e desinspiração. Há um post que já leva quatro meses de atraso, mas que me parece que ainda não perdeu total pertinência. quem achar que vem a destempo, pode sempre ficar-se pelo primeiro parágrafo.
O acontecimento do ano, segundo todas as opiniões abalizadas, foi o conjunto de protestos globais que se fizeram sentir e que em alguns casos derrubaram regimes políticos. Não discordo nem um pouco da escolha. Mas já fico de pé atrás quando vejo meterem no mesmo saco os manifestantes da Praça Tahir, da Tunísia, da Rússia e do Iémen, os rebeldes da Líbia e os insurgentes da Síria, juntamente com os "indignados" de Madrid, os anarquistas da Grécia, os saqueadores de Londres e os "occupy" americanos. Pretender, como ouvi hoje numa rádio pública, que "nem só no ocidente se viram manifestações a favor da liberdade e contra a opressão" é insultuoso para os que verdadeiramente não gozam de liberdade e de um ridículo impróprio de um estação minimamente radiofónica decente. Haverá com certeza algumas razões para manifestações nas cidades americanas e europeias, mas que eu saiba aí não se está sujeito a que tanques de guerra nem a cargas aéreas.

Tudo isto vem a propósito das Jornadas Mundiais da Juventude, em meados de Agosto deste ano. Compareceram em Madrid mais de um milhão e meio de pessoas, ultrapassando as expectativas dos organizadores. Não estive lá, mas do que me contaram, e do que vi por imagens televisivas, o entusiasmo era mais que muito, mesmo quando numa vigília nocturna nos arredores da capital espanhola se levantou uma enorme tempestade e ninguém arredou pé. Mas vi também as imagens das manifestações de alguns "indignados" contra o evento. Fiquei logo abismado pelos dito terem decidido, dias antes, em "conselho", manifestarem-se contra os gastos públicos da visita. Ora esses gastos foram pagos pelos próprios peregrinos e pela Igreja. Ao Estado coube pagar a segurança e a limpeza, tal como faz com os próprios "indignados" e com imensos outros eventos, e nunca aí se viram protestos públicos. Mas as dúvidas desvaneceram-se: grande parte das manifs anti-Papa eram isso mesmo, demonstrações de anti-clericalismo primário, com malta de feições torcidas pelo ódio (não é figura de estilo, nunca vi tanta gente junta de olhos esbugalhados) a gritar, até a empurrar e agredir peregrinos, com cartazes a chamar ao Papa nazi, pedófilo, fascista, etc, bandeiras anarquistas e do PCE, aos pulos cantando "io soy, pecador, pecador...", enfim, toda uma amostra do anti-catolicsmo mais primário e grotesto. Será bom lembrar que a Espanha teve fortíssimas acções e grupos anti-clericais, como a CNT anarquista, sobretudo no período antes e durante a Guerra Civil de 1936-39, em que milhares de clérigos foram mortos, mosteiros e igrejas foram saqueados e queimados e havia quem se divertisse a revolver túmulos e a espalhar os ossos. Aqueles que se manifestavam de forma tão virulenta contra as Jornadas da Juventude eram apenas os descendentes dos "rojos", provavelmente impressionados com os relatos dos seus avós da luta contra os "fachas" e o "clero reaccionário". Os gastos públicos eram um pobre pretexto para espalharem o seu fervor laicista (reparem no -ista) e o seu fanatismo anti-clerical, em claríssima contradição com as exigências anteriores de "mais democracia". Manifestações e democracia sim, desde que sejam as nossas ideias (interesses?) a vingar, parecem dizer. Quando partem de outros, lá se vai o sentimento "democrático" e "tolerante".



Outras manifestações houve em sítios por onde o Papa passou, como Berlim, onde não há grande cultura católica. Custa-me a crer que a Igreja, que apesar da sua influência e dos seus seguidores, não tem propriamente poder político, possa causar tantos pruridos e controvérsias. Os casos de pedofilia em instituições católicas, muitas vezes abafados, são graves, mas não faltam crimes semelhantes noutras circunstâncias. A Igreja tem um passado turbulento, mas actualmente não persegue nem pune civilmente ninguém, e no entanto vemos cristãos, católicos e não católicos, perseguidos em várias partes do Mundo. Pode-se imaginar que protestos como os de Berlim, ou no ano passado, em Inglaterra, tendam a surgir como reacção em culturas fortemente anti-católicas (note-se que até agora o herdeiro do trono britânico não se podia casar com alguém que seguisse o catolicismo). Mas os de Espanha desenterram velhas questões e fazem aparecer em plena luz do dia os fantasmas do anti-clericalismo espanhol mais violento.
É certo que os acontecimentos de Agosto em Espanha não trouxeram grande mossa, e foram em parte exagerados por alguma comunicação social. A diferença de número entre os peregrinos e os "indignados" anti-católicos era abissal (qualquer coisa como cinco mil para mais de um milhão e meio), e serviu para mostrar a força de atracção e mobilização da Igreja, o que talvez enerve algumas mentes com preferência pelo jacobinismo. Mas isto serviu igualmente para revelar que entre muitos "indignados" e demais manifestantes corre uma imensa intolerância, o radicalismo próprio de revoltosos e o populismo que alimenta as massas. Fazer manifestações pretensamente justas e transversais à sociedade e desviá-las para objectivos políticos untados de fanatismo (neste caso, laicista, que não é pior que os religiosos) é um risco que as sociedades actuais correm se acharem que os problemas se resolvem todos na rua. As pessoas devem lutar pelos seus direitos, mas a fronteira entre isso e o revanchismo protegido pelas massas é muitas vezes ténue. Seria bom lembrar isso cada vez que se ouvem vozes apaixonadas por este tipo de movimentos, e pior ainda, a fazer comparações patéticas, como se os regimes políticos fossem todos iguais.
Tentarei na próxima semana actualizar assuntos em atraso (mas não passados). Bom 2012 a todos, ou que não seja pior do que 2011.

Adenda (já em 2012): lembrei-me deste notável artigo de Mario Vargas Llosa, que nunca teve uma enorme simpatia pela Igreja, e que por isso mesmo me surpreendeu. Como se a Fé o tivesse tocado. Ou simplesmente visse naquele espectáculo uma imensa comunhão fraterna e alegre. no fundo, o que as JMJ eram.

sexta-feira, dezembro 30, 2011

Nem oitenta iluminações nem oito

Se há símbolo vísivel da crise que nos caiu em cima nos últimos tempos é a quase ausência de luzes de Natal das cidades. Andando por alguns centros urbanos nem notamos que estamos na quadra. O endividamento dos municípios obrigou a inúmeros cortes, e haverá corte mais fácil do que cortar em iluminação temporária? A medida é compreensível. Antes isso do que a recolha do lixo, o saneamento básico, etc. Mas não deixa de dar um sinal de tristeza e decadência para a época. Já alguém imaginou como seria suportar o Inverno sem a animação natalícia? Novembro, Dezembro, Janeiro, Fevereiro, sem Natal? Para a maioria seria insuportável.

É certo que há casos e casos. Correu a notícia de que os municípios madeirenses nem agora iam poupar nas luzes natalícias, logo lá que nem faz tanto frio. Em muitas urbes as luzes aí estão, espalhadas por ruas e avenidas, como acontece em Braga, do sempre eterno Mesquita Machado. Mas em Lisboa e Porto, e em muitas outras, vêem-se umas lâmpadas tímidas, patrocinadas pelos comerciantes, e nada mais.
Seria insensato criticar as autarquias por quererem cortar logo aqui, sabendo-se que estão apertadas num garrote financeiro complicado. Mas podiam deixar um mínimo, algumas luzes no centro. não falo, por exemplo, dos fios de luzes que transformavam a coluna da rotunda da Boavista numa quase árvore de Natal, criando um efeito surpreendente, muito menos da autêntica árvore que ergueram durante uns anos em Lisboa e Porto. É que os tempos já são tão desanimadores que bem precisamos de luzes extra e um mínimo de animação. Se não temos grandes alegria, ao menos que haja alguma camuflagem.

Por isso mesmo, a câmara de Lisboa escusava de suprimir as luzes e colocar algumas "obras" em algumas praças movimentadas, que não dizem nada a ninguém e pouco têm a ver com a época (no Marquês de Pombal há uma série de placas, supostamente "natalícias", que têm dizeres como "presentes", "Lapónia", "Pólo Norte", etc, mas nem se lembraram ao menos de colocar Belém). Já na semana passada Miguel Sousa Tavares lançou no Expresso várias invectivas contra esta "iniciativa" camarária. Com o dinheiro gasto nesse complemento "cultural", pagava alguma iluminação e sempre dava outro ar à cidade, sem disfarces patéticos. Custava muito?

sábado, dezembro 24, 2011

Natal 2011
E mais do que tudo, hoje, um Santo Natal, o melhor possível. Que dê ao menos para por uns momentos esquecermos agruras passadas e para nos prepararmos para as futuras. Também por isso esta quadra é tão importante. Conjugado com o solstício de Inverno e a passagem do ano, o nascimento de Jesus é também o sinal de renascimento e de um novo tempo.

sexta-feira, dezembro 23, 2011

Obituário recente
Os últimos dias pareceram uma página da necrologia de jornais. As notícias da morte de alguém conhecido sucederam-se
Soube-se da morte de Cesária Évora, aos sententa anos, no fim de semana. A Diva dos Pés Descalços" já se tinha retirado da vida artística por problemas de saúde, por isso a notícia não espantou assim tanto. Mas gostei de ver as homenagens que lhe fizeram, em especial no seu país. Uma espécie de emoção dançante, muito caboverdiana. A cantora de mornas, que viveu em Portugal e em França, deu grande visibilidade ao seu minúsculo país-arquipélago, mais do que qualquer outro na diáspora caboverdiana.
Outra morte que não espantou, dada a sua grave doença; Christopher Hitchens. Confesso que não tinha especial estima por um neo-ateísta militante, praticante da retórica sibilina deste "movimento", que atacou nos seus escritos Madre Teresa de Calcutá. Mas é justo reconhecer que era um espírito inteligente e corajoso, um cronista de imenso valor e um dos poucos que realmente se podia considerar "livre-pensador", sem seguir modas nem lugares-comuns.
Logo a seguir, e com os dias de atraso naturais quando morrem ditadores, o "Querido Líder" Kim Jong Il vagou o lugar para o próximo da dinastia, o mancebo Kim Jong Un. Claro que se viu uma choradeira colectiva previsível num país de paranóicos, mas fiquei sinceramente desiludido por não terem ultrapassado, nem sequer chegado perto, a histeria aquando da morte de Kim Il Sung. Aí é que se viu um magnífico espectáculo de carpideiras, num país habituado a coreografias militares igualmente espectaculares e a tentar obter bombas nucleares, enquanto parte da população tenta sobreviver à fome.
Por fim, Hável. Václav Hável. O ex-presidente checo há muito que não tinha grande saúde, em grande parte devido ao tempo que passou na prisão em tempos do regime comunista. Quando passei em Praga, em 1998, Hável passava por um dos seus inúmeros internamentos hospitalares. Ainda assim, manteve-se na presidência da república Checa até 2003. Antes disso, fora um dos mais combatentes assinaláveis combatentes pela liberdade do seu país, desde a adolescência, em que o proibiram de estudar no liceu por vir de uma família "burguesa". Começou muito novo a dedicar-se ao teatro e à dramaturgia, participou na Primavera de Praga, foi um dos principais signatários da Carta 77, considerada uma afronta pelo regime de então, e na sequência da Revolução de Veludo, em 1989, foi eleito Presidente da Checoslováquia pela assembleia nacional formada após o colapso do comunismo e reeleito em eleições populares. Acabou por ser o último Presidente daquele país e o primeira da República Checa, depois da secessão pacífica da Eslováquia. Curiosamente, aí dois dias antes da sua morte, tive uma conversa em que se recordava o episódio picaresco da sua tomada do poder, em que o único chefe de estado convidado era Mário Soares, mas que se posicionou discretamente para não melindrar outros estadistas, e em que o carro em que seguiu para a cerimónia era um Renault de matrícula portuguesa, porque Hável não queria de forma alguma ir num carro de construção russa. Ficou também célebre a amizade com músicos americanos da sua geração, como Zappa e Lou Reed.
Deixou-nos agora, devido à sua frágil saúde, mas ficou como um símbolo pelo combate pacífico contra as tiranias. E tinha o nome do santo padroeiro do povo Checo, Václav, tal como a praça central de Praga, onde Jan Palak, outro desesperado resistente ao totalitarismo, se imolou pelo fogo em desespero.

quinta-feira, dezembro 15, 2011

Delenda Aleixo!




Se há plano da Câmara do Porto com o qual estou absolutamente de acordo é com a demolição do Bairro do Aleixo, tal como ele existe neste momento. Aquele autêntico gueto onde idosos e crianças convivem diariamente com dealers e drogados injectando-se em pleno dia, onde as pessoas vivem em meia dúzia de torres de betão horríveis em que não raras vezes os elevadores estão avariados, merece ir abaixo sem mais contemplações. Se alguém que não é de lá, por inadvertência ou qualquer necessidade, tiver de entrar no bairro, deparar-se-à com barreiras de gangues fiscalizando quem entra e quem sai (já me ia acontecendo, quando certa vez quis cortar caminho num S. João). Desde as demolições de alguns bairros na zona oriental que o Aleixo piorou e tornou-se no grande supermercado de droga do Porto. A CMP pretende derrubá-las (o sonho é antigo, já Fernando Gomes queria fazer o mesmo), realojar os moradores pela cidade e fazer ali novas urbanizações de luxo.



As críticas ao projecto são precisamente as de que os terrenos, com uma excelente vista para o Douro, estarão reservadas para os mais ricos. Não é mentira. Simplesmente, o bairro é camarário e os seus ternos pertencem à municipalidade. Correspondeu a um projecto dos anos setenta de tirar pessoas da Ribeira/Barredo, à época um lugar infecto e sobrelotado, e levá-las para os campos do Ouro. Como se sabe, o encerramento naquelas torres de betão criou um antro de criminalidade, sem paz nem lei, ao passo que o centro histórico do Porto se desertificava. Agora, a câmara quer corrigir o erro, eliminando o bairro e respectivas metástases, e, com a verba angariada com a venda dos terrenos, realojar os moradores, sobretudo no centro. Não sei se tudo correrá conforme o previsto, se as pessoas se irão integrar nas novas casas, para onde irá o tráfico de droga. Muitos dos que lá viviam tinham apesar de tudo estabelecido laços comunitários em trinta anos de vivência partilhada num espaço difícil. mas, tal como o apresentam, este plano é de longe desejável a qualquer alternativa, e incomparavelmente melhor do que a situação actual.



A primeira torre vai abaixo na sexta de manhã. A quem puder, não perca o início de uma zona finalmente limpa. Delenda o velho Aleixo!

terça-feira, dezembro 13, 2011

Passou o ciclo infernal




No meio do turbilhão de notícias que nos rodeia - a inconsequente cimeira da UE, a crise da dívida eternizando-se, a resistência de Cameron, a fábrica que já não vem para Portugal - vamos ao que interessa. O Benfica encerrou um ciclo infernal de jogos com nota suficiente mais. Um empate no terreno hostil de Braga, uma vitória pela marca mínima contra o Sporting e outra igual no terreno do Marítimo (que tem a mesma pontuação que o Braga), um empate épico em Old Trafford, um triunfo magro sobre o Otelul Galati, uma vitória mínima no terreno, ou melhor, na piscina da Naval, e a eliminação para a Taça em casa do Marítimo, a única mancha neste período e a única derrota da época em todas as competições. Assim sendo, continuamos à frente do campeonato, com os mesmos pontos que o Porto de Vítor Pereira, o que não é grande espingarda. Simplesmente, o nosso calendário está agora bem mais desanuviado: de visitas complicadas temos Alvalade, daqui a meio campeonato, e vá lá, Guimarães que pode dar para tudo.

Na Taça, já se sabe: ausências, poupanças e aqueles golos que aparecem uma vez por ano puseram-nos fora do Jamor, de novo. Começa a ser tempo de lá voltar, antes que a voragem do futebol moderno remeta a final da Taça para uma destas inutilidades de betão feitas e pensar no Euro 2004. De pouco valeu a contenda na Figueira, num campo mais próprio para pólo aquático do que para futebol, em que qualquer equipa podia ganhar.


Claro que houve particular prazer em ver o Benfica ficar em primeiro lugar no seu grupo da Liga dos Campeões. Aqueles que apostaram no Manchester em primeiro e o Glorioso em segundo devem ter ido aos arames. O empate em pleno Old Trafford (onde nunca tínhamos conseguido sequer um ponto) é mais uma página dourada para juntar a outras memoráveis da história do Benfica em Inglaterra. Para mais, a equipa entrou a ganhar, marcou, insistiu e só permitiu veleidades ao adversário a partir dos vinte minutos. E quando o "Unite" carregava e dava a volta ao jogo, perdemos o nosso capitão por lesão, substituindo-o pelo inexperiente Miguel Vítor, e ainda assim soubemos juntar forças e alcançar o segundo golo (e, acrescente-se, o primeiro tento dos mancunians estava em ligeiro fora de jogo). Poder-me-ão dizer que o Basileia também lá empatou e que ganhou aos ingleses em casa. Pois sim, mas o Benfica venceu com dez no terreno dos suíços. E isso valeu o primeiro lugar.

Não é que o futebol praticado encante como em 2009/10, longe disso, mas parece-me que Jorge Jesus está mais "resultadista". Os golos escasseiam, tanto nas balizas adversárias como nas de Artur (também por causa dele). E o espectáculo tem decaído desde o início da época, como se verificou nos jogos contra o Twente. Gostaria imensamente mais de ver o Cardozo a facturar o dobro, o Gaitan a fazer mais obras de arte, o Aimar a espalhar mais magia e o Nelson Oliveira a jogar e a marcar, se possível. Mas a verdade é que o Benfica ultrapassou muitas tormentas no campeonato - com a grande vantagem de que já não tem de vir ao Porto ou a Braga - e na Liga dos Campeões é esperar quem lhe calha na rifa (se não tiver sorte, é o Milan). No fundo, estamos a jogar à Trapattoni, mas com jogadores muito melhores do que a saudosa época em que o italiano passou por cá. Prognósticos? O Benfica ganha o campeonato, por pouco, mas ganha; e acaba a carreira europeia nos quartos de final da Liga dos Campeões. A Taça da Liga dependerá dos humores dos reservas, mas até gostaria que fosse outro clube a ganhá-la, para que este troféu começasse finalmente a ser considerado minimamente importante.

segunda-feira, dezembro 12, 2011

Dos Golpes aos Capitães da Areia

Incompreensivelmente, os Golpes resolveram suspender toda a sua actividade, tal como nos é descrito num comunicado, tendo mesmo cancelado um concerto já agendado. Não sei que problemas é que interromperam a carreira da banda, que estava em clara ascensão, depois do lançamento de um disco e meio, incrementada pelo êxito de Vá lá Senhora. Certo é que cessaram actividades como conjunto e vão dedicar-se a novos projectos. Espero é que sejam bons e que a suspensão não passe disso mesmo,e não de um encerramento definitivo de actividades. Até lá, a editora Amor Fúria brinda-nos como novos sons. Descubram-se os Capitães da Areia, uma malta nova que já me tinha surpreendido no "Dia de Portugal do Rock" (espécie de festival de garagem do 10 de Junho encabeçado precisamente pelos Golpes), com as suas canções estivais e algo nostálgicas. Como esta pequena maravilha que nos chega agora, como uns quatro meses de atraso.


domingo, dezembro 11, 2011

Milagre ou ilusão?


Por vezes, os milagres humanos acontecem. Outras vezes, as ilusões prevalecem. A melhor notícia da semana é sem dúvida a da ameaça da UNESCO retirar a classificação do Douro Vinhateiro como Património da Humanidade caso a barragem na foz do Tua vá avante. Será mesmo possível? Conseguirão os responsáveis governamentais evitar mais um mamarracho de betão (que a construir-se, seria irreversível), de duvidosa utilidade e que jamais traria os empregos e o "desenvolvimento" que alguns crédulos apregoam - é ver as enormes "valias" que tais construções trouxeram à região do Barroso - além de ser de custo elevado? Poderá o sector do betão, essa indústria que monopoliza e destrói o país, levar finalmente um golpe, convencendo-se a apostar mais na reabilitação do que no construção ex novo? Será que depois do Sabor desaparecer em grande parte no sítio onde um divertido Sócrates comentava com António Mexia que só faltava o cimento, poderemos ainda ver a salvação do Tua, quiçá da sua linha férrea única no gênero, e daquele pedaço de Douro Vinhateiro? Tudo isso poupando centenas de milhões de euros, que seriam mais bem empregues na melhoria da conservação das reservas de água e no aumento da potência de produção de electricidade das actuais barragens. A salvação do Tua - e consequentemente, do douro - pode ser ainda uma ilusão, mas quem sabe se não acontece um "milagre"...

quarta-feira, dezembro 07, 2011

Sócrates e a sombra sobre o Corinthians



O Corinthians, talvez o clube mais popular de S. Paulo, que compete com o carioca Flamengo pela maior "torcida" do Brasil, sagrou-se campeão no passado domingo. Sem grande craques, mas com uma equipa unida, para a qual muito contribuíram os golos de Liedson. Na madrugada anterior morrera Sócrates, uma das grandes figuras da equipa brasileira que espantou o mundo pela beleza do seu jogo no Mundial de 1982 (já não tenho memórias disso, logo não é das "minhas" equipas favoritas) e desse mesmo Corinthians, em especial do tempo que ficou a ser conhecido por "Democracia Corinthiana". Fiquei um pouco espantado por não ouvir grandes referências entre a morte de Sócrates e a conquista do título, nem homenagens, nem minutos de silêncio, nada. Honras, só mesmo na net. A ser assim, quereriam os corinthianos não estragar a festa do título com tristes notícias? É possível, mas então ainda é mais lamentável: os clubes vivem dos seus heróis, que até escasseiam fora do desporto. O esquecimento voluntário de um ídolo é a negação da própria alma de um clube, tal como uma família ignora o desaparecimento de um dos seus entes. Mais valia que a festa fosse menos alegre e mais contida. E que se sentissem alguns momentos de silêncio sepulcral em honra ao Doutor Sócrates. Seria a melhor homenagem.


Claro que a não ser assim, fica a coincidência triste do clube alcançar um título de campeão no dia em que morre um ídolo. Um bom exemplo de como nas horas de grande alegria também podem surgir sombras, e de como aquelas, tal como as tristezas, não são totais.

segunda-feira, dezembro 05, 2011


Quando os republicanos perdem o patriotismo


A princípio ainda pensei que fosse um qualquer exagero, mas é mesmo verdade: para Mário Soares, o 5 de Outubro é (laicamente, pois claro) sagrado, "tão sagrado para os portugueses como o 25 de Abril", porque "a maior parte da população portuguesa é republicana", mas que o fim do feriado do 1 de Dezembro "não é tão grave".



A comparação com o 25 de Abril já de si é disparatada (quem é que ficou livre a 5 de Outubro de 1910?), mas um ex-chefe de estado a afirmar que o dia da independência é menos importante que datas instituidoras de regimes com forte conotação ideológica é particularmente grave. Soares coloca a sua república à frente da existência de Portugal. Afirma claramente que prefere a "república portuguesa" a Portugal. Nem nas suas ideias federalistas tinha ido tão longe. Além do mais, como pode dizer que os portugueses se identificam com a república se esta nunca teve a coragem de se auto-referendar, e ninguém liga às comemorações do 5 de Outubro?


A lamentável ideia de que o 1 de Dezembro é um "feriado monárquico" talvez tenha influenciado esse disparate. Crio-se a ideia de que o 5 de Outubro é o feriado dos republicanos. Na realidade, e dada como certa essa data como a do reconhecimento de Portugal como reino em 1143, até faria sentido que fosse objectivamente comemorado. Assim, o 1 de Dezembro assumiu-se como o dia da Independência.


Reconheça-se que os republicanos deram enfâse ao patriotismo numa certa época, que começou com as homenagens a Camões, em 1880, e tiveram continuidade depois com o Ultimatum. É verdade que mudaram as cores e os símbolos em prol da "república portuguesa", mas também não se esqueceram de dias fundamentais da História. Até agora...

Se o 1 de Dezembro é visto como um "dia de monárquicos", então isso só significa que os republicanos perderam todo o sentimento patriótico e recolhem-se agora às suas velhas "glórias". Bem sei que não são todos assim, mas Soares é um dos últimos representantes do original republicanismo. As suas declarações têm um peso que não têm as de Manuel Alegre ou Almeida Santos, por exemplo. Ao erigir o 5 de Outubro num pedestal acima do 1 de Dezembro, mostra que a Independência é coisa menor do que golpes de radicais. Cai assim o mito, outrora verdade, do "patriotismo" dos republicanos.



O dia da Independência é conotado com a monarquia? Muito bem. Devia ser geral, mas já que assim o querem, que os monárquicos desta país mostrem que são dignos do papel manter Portugal como nação independente e de não deixarem que a memória do glorioso 1 de Dezembro esmoreça.


Ideias para comprar português


Vale a pena ler a revista Pública (acompanha o jornal Público) de hoje. Descobre-se que se pode comprar inúmeros produtos portugueses que nem se imagina que haja no mercado, desde alimentação até tecnologia, livros, e outros. Cabazes de Natal cem por cento feitos em Portugal. E ainda uma reportagem na Majora, a clássica fábrica de brinquedos portuguesa, de que ainda nesta semana, e precisamente a propósito de uma conversa sobre a produção nacional, me perguntava se ainda existiria (a resposta não demorou, bastou-me passar na Via Rápida e olhar para o lado). Se puderem, leiam a revista, tirem ideias e aproveitem para dar a vossa ajuda à economia nacional, que bem precisa.

quinta-feira, dezembro 01, 2011

Não se comemora a Independência?


Estaremos a passar o último 1º de Dezembro como feriado? Grande número de pessoas desconhece a data e a sua importância, e a comunicação social também não lhe dá grande importância. quando figuras políticas de relevo a menorizam, pondo em destaque o 5 de Outubro, e quando não há comemorações oficiais, fica tudo dito. Esperemos pela confirmação - ou não - da "passagem para o Domingo". Apesar de tudo, se o Estado se voltar a lembrar de comemorar a data condignamente, será menos mau. Os conjurados que puseram em risco a vida é que muitas voltas devem dar nos túmulos.