quarta-feira, fevereiro 26, 2014

Mário Coluna


Eusébio partiu em Janeiro. Fiel à promessa que fizera à sua mãe, dona Elisa, de que cuidaria do "miúdo", Mário Coluna, o mítico capitão do Benfica e dos "Magriços" seguiu-o pouco tempo depois.


Os Monstros também morrem, mesmo os Sagrados.



terça-feira, fevereiro 25, 2014

Efeitos directos e colaterais do congresso do PSD


Dizer se o congresso do PSD gerou alguma mudança visível no partido ou no governo é tarefa difícil. Permitiu que ex-líderes aparecessem de novo na ribalta, ou melhor, no palanque, que Santana mostrasse que não se esqueceu da vida política, que Menezes não engoliu ainda a derrota nas Autárquicas e que Marcelo, num estilo coloquial e descontraído semelhante ao das suas entrevistas dominicais, se afirmasse ainda mais, embora tacitamente (e sempre negando, como mandam as regras) a sua futura candidatura presidencial. Deu até para ver Miguel Relvas regressar destacado, no que terá sido o único tiro no pé de Passos Coelho.

Decisão a sério, só uma: a designação de Paulo Rangel como cabeça de lista da "AD" às próximas europeias, e, por via do seu eficaz e incisivo discurso, desafiando António José Seguro a revelar o seu candidato, a resposta pronta, embora antes de tempo, do PS, que apresentou Francisco Assis às eleições.
Teremos dois candidatos válidos, com experiência no Parlamento Europeu, cultos, longe dos lugares-comuns político partidários, e, por coincidência, cronistas no mesmo jornal, antigos candidatos à liderança dos seus partidos contra os actuais líderes, e originários do distrito do Porto - Rangel de Gaia e Assis de Amarante. Ao menos aqui as qualidades dos políticos não podem ser postas em causa.


segunda-feira, fevereiro 24, 2014

O que se segue na Ucrânia


Afinal a Ucrânia não entrou em guerra. O descontrolo da situação e a ameaça de mais violência levaram a que as forças de segurança parassem por ali. E com a ocupação do parlamento, Ianukovitch resolveu fugir enquanto era tempo. Depois, a libertação de Yulia Timoshenko, as comemorações de vitória na praça Maidan (a Tahrir dos ucranianos), as homenagens aos mortos e a declaração de exoneração do presidente pelo parlamento. Não é uma Bósnia, mas tal como já tinha dito, assemelhou-se bastante à Roménia em 1989, com protestos em massa, inúmeros mortos provocados por atiradores do regime, a fuga do presidente de helicóptero (o meio de transporte de ditadores/estadistas de saída) e a descoberta do luxo asiático em que vivia, com casas de campo monstruosas, torneiras em ouro, frotas de carros de alta cilindrada, provas irrefutáveis de nepotismo em favor dos filhos, etc. A única coisa que difere da revolução romena é que desta vez não houve aquela parte mais sangrenta dos fuzilamentos.

Mas embora estejam eleições gerais previstas para Maio, a situação está muito, muito longe do fim. Outras partes do país não estão muito pelos ajustes. Na Crimeia, outrora dos russos, têm-se multiplicado manifestações contra a nova situação e a favor do grande vizinho. E embora o boato de que a Rússia já teria enviado tropas especiais para aquela península do Mar Negro seja pouco crível, há que não esquecer que a sua frota tem a principal base em Sebastopol, concessionada pela Ucrânia por mais trinta anos, e que certamente não vai deixar que a situação fique assim. Aliás, as últimas informações dizem-nos que Ianukovitch, depois de tentar apanhar um avião em Donetsk, teria embarcado num navio (ou seu iate ou um navio russo, não se percebe bem) nesta cidade-base naval.


Como se vê, o futuro da Ucrânia, apertada num colete de forças geopolítico, é mais incerto do que nunca. a única coisa mais ou menos pacífico é que Ianukovitch, expulso pela população que entretanto descobriu a sua "caverna de Ali babá", desprezado pelo próprio partido pela sua deserção e criticado pelos russos pela sua incompetência, não voltará certamente à cadeira presidencial

quinta-feira, fevereiro 20, 2014

Depois dos protestos, a guerra declarada


Há uns dias dedilhei um post sobre o discreto apagamento da crise ucraniana dos noticiários e jornais. Escrevi cedo demais. O conflito ressurgiu com violência inaudita, e a estas horas, o número de mortos, só os de hoje, chega aos 75, entre civis e polícias. Aquilo que eram protestos inflamados transformou-se numa pré-guerra civil, com barricadas, mortos e feridos e ocupações de edifícios governamentais por todo o país (ou melhor dizendo, pelo ocidente do país). A população de Kiev e do lado ocidental, pró-europeia e tradicionalmente desconfiada do grande vizinho russo, com activistas radicais à mistura a incendiar a situação, quer o derrube do governo e o afastamento da Rússia. Claro que o país de Putin, que pensa em restaurar a sua zona de influência no antigo espaço da URSS através de uma nova comunidade por si chefiada, nunca poderia permitir uma Ucrânia com relações especiais com a UE e a NATO. Bem lhe bastou perder as repúblicas bálticas e os antigos satélites do Pacto de Varsóvia (que exibem orgulhosamente a sua pertença àquelas duas organizações) para agora perderem também a Ucrânia, afinal o berço da Rússia, presidida por um notório pró-russo.

Entre os manifestantes há inúmeras milícias semi-armadas, militantes do partido radical Svoboda ou neonazis declarados, que queimaram edifícios governamentais e pilharam a sede do Partido das Regiões, no poder. Do lado governamental fala-se em snipers instalados nos telhados do centro de Kiev e de milícias formadas por arruaceiros e recrutadas na Crimeia, região pró-russa, onde o partido comunista local, nostálgico da URSS, defende a união com a Rússia e a Bielorrússia. Com todo esse caldo, não é difícil de imaginar que a situação só muito dificilmente se acalmará. Já houve previsões de que a Ucrânia seria "a nova Bósnia". Não é descabido. A Rússia seria neste caso a Sérvia (ainda para mais um país com quem tem fortes laços culturais), Kiev a nova Sarajevo, a parte russófona a República Sprska e a parte ocidental faria o papel de Bósnia muçulmana-croata. Com a diferença de que as dimensões seriam neste caso muitíssimo maiores e as baixas incontáveis. Além disso, estes protestos em massa e a reacção das forças policiais recordam também a violenta revolução da Roménia, em 1989.


Esperemos que nem Bósnia nem Roménia se repitam. No último século, a Europa já produziu mais horrores do que os que é capaz de assimilar. Uma guerra civil, nas fronteiras da União Europeia, teria resultados tremendos e incertos, para além das perdas de vidas. Sendo optimista, prefiro acreditar que é uma crise efémera, como a que aconteceu há uns vinte anos na Rússia, e que não durará muito mais. Podiam era aproveitar para dividir o país, como fizeram com a Alemanha, ou melhor ainda, com a Checoslováquia, e teríamos uma Ucrânia ocidental e outra oriental. Só que desta vez, e ao contrário do que aconteceu com os alemães, os respectivos habitantes até deviam aplaudir.

segunda-feira, fevereiro 17, 2014

A eutanásia, agora para crianças




Os órgãos legislativos da Bélgica aprovaram há dias a eutanásia a pessoas de qualquer idade, o que implica que uma criança pode pedir para morrer. É um pouco incompreensível como é que uma pessoa não pode casar até aos 16 anos, não pode conduzir, não pode votar, não pode fazer uma infinidade de coisas, mas já tem a possibilidade de pedir para morrer "em casos extremos". Aparentemente, os "humanistas" belgas entendem que sim, que a criança tem essa consciência e maturidade sem ser influenciado por terceiros, mesmo contra a opinião de centenas de psicólogos e pediatras do mesmo país. Agora espera-se que Philippe, Rei dos Belgas, não assine a aberrante medida, ou se o tiver de fazer, que imite o seu tio, o saudoso Rei Balduíno, e abdique temporariamente em protesto contra semelhante coisa. Seria uma barreira poderosa a esta cultura de morte que inquietantemente se vem instalando na Europa, e que não sabemos onde vai parar, sobretudo quando se sabe que há idosos ali ao lado, nos Países Baixos, que têm sido "eutanasiados" contra a sua real vontade.. Isto não é tornar uma sociedade mais "civilizada", mas sim a decadência de uma civilização.

quinta-feira, fevereiro 13, 2014

As regras são para todos, até para Capucho



As ameaças de Aguiar-Branco não foram levadas avante, mas os processos no PSD contra os militantes que se candidataram contra o partido nas últimas autárquicas, embora menos abrangentes do que se chegou a pensar, levaram à expulsão de Marco Almeida, que se candidatou como independente por Sintra, e António Capucho, que era candidato à assembleia municipal dessa autarquia. Já sei que a maioria deplora a expulsão deste último, considerando até que o processo que levou à sua saída é "estalinista". Compreende-se: para além de estar com o PSD desde os primeiros dias, Capucho é um representante da história do partido e ocupou um sem número de cargos (no governo, na AR, no Parlamento Europeu, de que chegou a ser cabeça de lista numas eleições, na câmara de Cascais). Pode dizer-se que é um dos famosos "barões" laranjas, já a resvalar para um título nobiliárquico mais elevado. Para mais, tinha razão, como se comprovou, quando se opôs à patética candidatura de Pedro Pinto a Sintra, esse autêntico pau-para-toda-a-colher do PSD, que obviamente, e como qualquer pessoa de inteligência abaixo da média podia prever, teve um resultado vergonhoso.

Mas os partidos não podem ficar sempre reféns de cálculos eleitorais convenientes: têm também de seguir as regras que estabeleceram previamente. Qualquer agremiação, clube, partido - até um país, vejam lá - que estabeleça um conjunto de normas para se reger deve cumpri-las minimamente, sem ceder a discricionariedades convenientes. Chama-se a isso domínio da Lei e do Direito, e é exactamente por tanta gente se furtar a ele e procurar subterfúgios que o chico-espertismo tem tanto sucesso em Portugal.

Além disso, Capucho é também um dos autores dos estatutos que que previam expressamente a expulsão (e não a simples suspensão) de militantes que se candidatassem em listas opostas às do partido. Ficar-lhe-ia bem seguir o que ele próprio estipulou e devolver o cartão do partido. Outros o fizeram, em situações idênticas. Guilherme Pinto, por exemplo, deixou o PS. E a propósito, não me lembro de ver tanta indignação e acusações de "estalinismo" quando o PS expulsou Narciso Miranda. As regras não são gerais e abstractas? Ou são particulares e concretas e aplicam-se consoante a "importância" do prevaricador? Nesse caso, a igualdade será uma grandessíssima treta e as regras só servem para decorar códigos e empregar juristas. Capucho podia ser um dos mais válidos militantes laranjas, Passos Coelho pode ser um medíocre Primeiro-Ministro e quem dirige o PSD actual um péssimo exemplo da política nacional. Mas que eu saiba as regras continuam iguais para todos, e devem ser cumpridas em primeiro lugar por quem as institui. A não ser que nesta república das bananas as normas sejam vãs. Quem acha que as regras só são para se cumprir quando é mais conveniente e se levantou contra a expulsão de Capucho pelas razões que ele próprio criou que não venha depois invocar, por tudo e mais alguma coisa, esse ambíguo princípio da igualdade.

terça-feira, fevereiro 11, 2014

Os problemas dos estádios já não são de agora


O bizarro adiamento do Benfica-Sporting talvez tenha permitido evitar males maiores, mas a verdade é que a queda maciça de lã de rocha, ou como se chamava aquele material que muitos pensaram inicialmente ser detritos trazidos pelo vento (e de que toda a gente fala como se fosse da vida corrente) transtornou a vida a muita gente, incluindo muitos que se deslocaram centenas de quilómetros e sobretudo o autor destas linhas, que saiu de casa de propósito em tarde de temporal para ver o dérbi.


Embaraça-me ver o grandioso estádio da Luz, que devia ser um modelo de excelência, sofrer problemas deste calibre, mesmo com o desconto da ventania que se fazia sentir em todo o país, e em particular em Lisboa, onde áquela hora atingiu os cem kms por hora. Ver pedaços de lã a voar e placas de metal a cair nas bancadas não é aceitável. De qualquer forma, parece que o jogo se realizará mesmo sem mais problemas, e quanto aos delegados da UEFA que vieram fazer inspecções para a final da Liga dos Campeõs, não me parece que escrevam um relatório muito tenebroso: afinal, a evacuação de mais de sessenta mil espectadores decorreu em poucos minutos e sem problemas, além de que em Maio, altura da final, não costuma haver ventos ciclónicos e situações climatéricas difíceis como no Domingo.


Mas críticas e remoques que se ouviram, sobretudo da parte de alguns sportinguistas ufanos da temporada que a equipa em vindo a fazer (embora só esteja presente numa competição) recordaram-me episódios de irresponsabilidade bem piores quanto a medidas de segurança. Um deles já data de há mais de vinte anos, mas muitos ainda se devem lembrar: o caso da pala de Alvalade. A cobertura datava da construção do estádios, nos anos 50, e um parecer técnico do LNEC (a mesma entidade que o Sporting queria que fizesse uma vistoria à cobertura da Luz), tendo detectado falhas estruturais, determinou a interdição daquela bancada e a remoção da pala. A secretaria de estado da Cultura, com Santana Lopes à frente, decidiu que o espaço teria de ficar suspenso até nova decisão. O sporting protestou e chamou o veterano Edgar Cardoso, um dos autores da obra, que passeando e saltando por cima da pala, afirmou que aquilo era seguríssimo e que não havia qualquer problema. Imediatamente se levantou a suspensão (em vésperas de um importante concerto rock programado para quele estádio), fizeram-se umas pequenas obras de melhoramento e não se pensou mais no caso, até à efectiva demolição do estádio, mais de dez anos depois. Só uma pessoa protestou contra o desfecho do caso: Maria José nogueira Pinto, que era Subsecretária de Estado da Cultura, e que, sentindo-se desautorizada e achando que tudo aquilo era uma insensatez, pediu a demissão.

Como se vê, a irresponsabilidade dos clubes de futebol tem antecedentes que felizmente não tiveram piores consequências. E atingem mesmo as melhores famílias, perdão, clubes.

Esperemos que o jogo não tenha problemas, e que se possível, o Benfica ganhe.


PS: ganhou e convenceu. Aquele golo do Enzo levanta qualquer estádio. Duvida-se que algum dos imberbes e amedrontados jogadores do Sporting conseguisse marcar um assim.

segunda-feira, fevereiro 10, 2014

Já se esqueceram da Ucrânia?


Por falar na Europa e na UE, dir-se-ia que depois de dias de intensa cobertura jornalística a paz voltou a reinar na Ucrânia. Então e o braço de ferro entre Ianukovitch e os amotinados comandados por Klitschko e o seu partido, apropriadamente chamado Udar ("murro")? E as barricadas, desapareceram? Já se limparam as praças de Kiev? E os edifícios públicos tomados pelos revoltosos, já foram desocupados? A Rússia e o ocidente já chegaram a acordo sobre quem vai "influenciar" mais a Ucrânia? Ou será Rússia e EUA, já que para a diplomacia americana, e a julgar por um telefonema "informal" e privado da subsecretária de estado, a UE não conta?

É mais um dos assuntos que durante dias abre os telejornais e depois volta a cair no esquecimento ou a passar para as colunas mais escondidas das secções internacionais da imprensa. E no entanto devia preocupar toda a gente. O país está na linha de fractura da zona de influência União Europeia-Rússia, que a disputam como abutres sobre a carne morta. É vítima de chantagens, aliciamentos, experiências. Os russos não vão querer largar esta presa, antiga fatia de grande importância do seu território, que perderam com o estilhaçamento da URSS por culpa do seu plano chico-esperto em criar uma república autónoma que tivesse assento na ONU, ganhando assim mais um lugar. Os Estados unidos e a UE, com a Alemanha à cabeça, pensam cercar a Rússia e ganhar ali novo posto avançado em direcção à Ásia.


É difícil tomar partido por qualquer dos blocos, mesmo que de um lado pareça estar o bloco democrático e do outro um velho império autoritário, sustentado em gás natural. A parte oeste da Ucrânia, que em tempos constava do Império Austro-Húngaro, e Kiev estão vigorosamente do lado ocidental. Mas a parte leste, a bacia do Don e a Crimeia, lideradas pelos grupos de Donetsk, preferem o apelo da Rússia. São as duas Ucrânias que se enfrentam, a ocidental e a russa agora nas ruas, completamente divididas politicamente. A ironia trágica é que as duas principais potências que a disputam, a Alemanha e a Rússia, foram precisamente as que lhe trouxeram as maiores atrocidades no último século: os soviéticos nos anos vinte e trinta, nos quais milhões morreram de fome ou massacrados, os nazis nos anos quarenta, quando impuseram a sua brutalidade no avanço da Operação Barbarossa. Os ucranianos deviam fugir deles a sete pés, mas entalados que estão, só lhes resta ver qual a facção que vencerá, se é que tudo não passa de ciclos sucessivos e rotativos, em que ora ganha uma, ora ganha outra.

sábado, fevereiro 08, 2014

Esperança em que as europeias sejam mais interessantes do que o costume


Se as autárquicas já foram interessantes e animadas, com o fim dos dinossauros, o sismo na Madeira e o protagonismo dos independentes, as próximas europeias prometem não defraudar as expectativas, o que não é difícil, dado o nível de interesse que o eleitorado tem por este tipo de eleições, convencidos que "é para votar nos tipos que vão lá para a Europa".

É verdade que os assuntos da UE interessam muito pouco ao comum dos portugueses - provavelmente também aos outros membros, excepto talvez aos do Benelux - e quem sabe, à maioria dos candidatos. Talvez por isso as eleições europeias sejam usadas mais como barómetro à popularidade do governo vigente. Geralmente, com raras excepções (1987, 2004), são-lhes desfavoráveis, embora não signifiquem necessariamente a sua total recusa (vide 2009). O Parlamento Europeu é visto como o representante mais visível da euroburocracia comunitária, ou exílio dourado como recompensa de sacrifícios partidários. Ainda para mais, os dias das eleições costumam ser feitas no início do Verão. Não admira que a abstenção seja sempre o vencedor absoluto.

É raro vermos outsiders nas Europeias. Em 2009 tivemos como novidade o Movimento Esperança Portugal, que entretanto já se extinguiu como partido, encabeçado por Laurinda Alves. Em 1987 e 1989 tinha sido Miguel Esteves Cardoso, pelo PPM, a quase conseguir ser eleito graças a uma campanha bem disposta e politicamente incorrecta (com aquele slogan Patriotas sim, pataratas não). Em 1994, Ivan Nunes infiltrou-se nas eleições com o Política XXI, que nem sequer era um partido. E de resto, nada mais, tirando a bizarra candidatura do Maestro Vitorino de Almeida pelo MDP-CDE em 1989.


É pena, porque no meio das banalidades e da competição para ver quem tira mais pontos ao partido no poder (ou, tratando-se deste, saber o quanto aguenta), não se ouvem ideias praticamente nenhumas. E nos casos supracitados houve sempre algo de inovador, de novo, ou pelo menos de mais animado entre o torpor das noites soalheiras que são por norma as campanhas das europeias.

Por isso, a campanha de Maio promete. Já se sabe que não há união da esquerda radical (que surpresa!), uma vez que o Bloco não quer nada com o Livre, provavelmente ainda agastado com Rui Tavares, o "3 D" queria juntar-se-lhes porque, não sendo um partido, não pode concorrer; e o Livre entretanto já enviou as assinaturas necessárias para o TC, mas está numa corrida contra o tempo, porque a legalização pode chegar apenas depois do fim do prazo para os partidos apresentarem as suas candidaturas. Espero sinceramente que o consigam, mesmo que o "3 D" não o apoie: Rui Tavares, partindo do princípio que será cabeça de lista, revelou-se competente em Estraburgo (até recebeu sarcasmos num comício do primeiro-ministro húngaro), e ao menos sabe-se que irão discutir assuntos relacionados com a UE.

Depois temos o Partido da Terra com Marinho Pinto a cabeça de lista. Não faço a menor ideia quais serão os temas que o ex-bastonário da Ordem dos Advogados vai abordar, até porque nunca o vi falar de problemas ambientais das questões do mundo rural.. Provavelmente converterá os seus habituais alvos em Portugal em alvos europeus. Certo é que se for a debate esperam-nos afirmações exclamativas e interrupções frequentes. Será uma boa oportunidade para testar finalmente o que vale nas urnas.

E agora até Nicolau Breyner resolveu ir a jogo. Não é a primeira incursão do actor na política, se nos recordarmos que em 1993 se candidatou a Serpa pelo CDS-PP e conseguiu a proeza de eleger dois vereadores, mesmo que nem tenha aquecido o lugar. Desta vez é o cabeça de lista de uma coligação eurocéptica, de que se sabe fazer parte o Partido da Nova Democracia (os outros serão provavelmente o PPV e o PPM, que com o PND formaram uma candidatura conjunta a Lisboa) e que fará sobretudo campanha pela saída de Portugal do Euro. Haja ao menos alguém que vem completar o nicho de eurocépticos, e sobretudo, lançar a discussão sobre a permanência no Euro. Até porque não se limitam a fazer de barómetro partidário. a questão é saber se o "Nico" estuda devidamente os dossiers sobre a matéria.
Em todo o caso, seria interessante ver num mesmo debate Nicolau Breyner, Rui Tavares e Marinho Pinto, fora outras eventuais surpresas (estou a excluir os grandes, evidentemente). Ao menos não se ficam por meias palavras e sempre podem travar alguma abstenção.

terça-feira, fevereiro 04, 2014

Philip Seymour Hoffman


Uma pessoa está uns dias afastada do Mundo, a orare e laborare, afastado das notícias, da azáfama citadina, da vida mundana e das suas mesquinhices, e quando regressa e abre o computador, depara-se com isto. Simplesmente o desaparecimento de um actor de que bem se podia dizer que era "o melhor da sua geração" (no cinema americano, em todo o caso).

 Das pequenas participações em filmes dos irmãos Cohen e Minghella ao retrato afectado de Truman Capote, que lhe valeu um Óscar de Melhor Actor, dos filmes de Paul Thomas Andersson (e não consegui ver The Master...), de quem era uma espécie de actor-fetiche, a retratos hilariantemente realistas, como o agente da CIA de Charlie Wilson´s War, e de tantos outros, mais obscuros, é difícil escolher a sua melhor interpretação. Já há muito que tinha ultrapassado (e confirmado) o estatuto de simples "promessa", mas certamente esperávamos que ainda tivesse muito para dar à Sétima Arte. Certo é que nunca se negou a interpretar os papéis mais difíceis e arriscados, que qualquer filme em que entrasse era sinónimo de dinheiro bem gasto no bilhete, e que será daqueles actores que continuarão a ser recordados daqui a cinquenta anos - desde que ainda haja cinema.