sábado, março 29, 2008

Paródia parlamentar
A proposta de casamento unilateral deixa-me com seriíssimas dúvidas, tendo em conta o elevadíssimo número de divórcios; além do mais, parece considerar o matrimónio uma relação banal, sem carácter permanente, um contrato tão impessoal como outro qualquer.
Mas pior do que isso terá sido a sessão no plenário onde se discutiram as várias propostas: o BE com queixas do tipo "roubaram-me a minha proposta fracturante"; o PS (sobretudo a sua Jota) com um "toma lá que a nossa proposta é mais fracturante que a vossa" totalmente explícito; e o CDS, pela voz do impagável Nuno Melo, com uma história pueril da Maria e do Manel e do golpe do baú.
Provavelmente ontem era de dia de paródia no hemiciclo e eu não sabia de nada. Sempre é melhor do que as cenas de pancadaria de Taiwan.

quinta-feira, março 27, 2008

O perseguido
Muito bom, o artigo que Rui Tavares escreveu ontem no Público. Desmonta peça por peça o choradinho que Pacheco Pereira decidiu fazer a propósito dos cinco anos desse rotundo fracasso mais conhecido como "guerra do Iraque", a mesma que o Presidente americano deu como terminada em Abril de 2003. Parece que aqueles que defenderam a necessidade da guerra nessa altura (e se mantêm na sua) estão a ser "perseguidos", e que é "proibido" tomar essa opinião nos dias que correm. Para além disso, diz que as razões não foram o argumento das armas de destruição maciça nem o de Sadam apoiar a Al-Qaeda, o que é absolutamente falso e só pode enganar quem estiver distraído.
Tratando-se de Pacheco Pereira, não sei se as palavras dele devam causar mais indignação ou dó. Uma pessoa com inegável independência de pensamento e capacidades intelectuais como o colunista do Público devia conservar um pouco de pudor ao afirmar tais coisas. A mim a memória não me falha, e lembro-me perfeitamente que em 2002/03, quando alguém se opunha ou colocava reservas a uma intervenção no Iraque, era não raras vezes apelidado, por vozes furiosas, de "anti-americano", "pró-terrorista", "cobarde", etc., conotado com a extrema-esquerda ou a direita cavernícola ou comparado com os pacifistas e apaziguadores "herdeiros de Chamberlain". Não era preciso deixar a discussão aquecer muito: qualquer dúvida dava logo origem a estes vitupérios.
É pena que Pacheco Pereira se esqueça disto. Infelizmente, está mais preocupado com a sua auto-vitimização ou com a "censura" de que é objecto (esta então é de morte!) do que com as razões daqueles que se opunham a tal intervenção, ou com o que se veio a revelar um gigantesco e vergonhoso logro. Prefere atirar as culpas para cima de quem avisava do que dos que erraram em toda a linha. Infelizmente, é um pecado antigo de que dificilmente se livrará. Ainda em tempos de Cavaco Silva destacou-se por ser um dos primeiros a usar a expressão "politicamente correcto" com que apelidava a comunicação social, que, segundo ele, atacava sem dó nem piedade o governo do PSD e tratava o PS nas palminhas (e que como não podia deixar de ser, era toda). A mesma estratégia, a mesma vaidade intelectual (para não falar de desonestidade), o mesmo erro. Só que as pessoas já se vão habituando e cansando. Já não caiem nesta vitimização tola e sem sentido, que tem como consequência voltar-se contra o próprio Pacheco Pereira e desacreditá-lo. Uma pena. E um desperdício.

terça-feira, março 25, 2008

Agora são os casamentos

 
Esta história dos serviços fiscais quererem agora fiscalizar toda e qualquer conta relacionada com os casamentos, do valor das prendas ao do bouquet, não me entra pela cabeça. Já se percebeu que este governo, com a maioria que possui, tem tendência a regular a vida de todos os dias de maneira abusiva e prepotente. Mas esta nova regra (ou nem tanto, atendendo às palavras do Secretário de Estado), numa altura em que qualquer passo errado do executivo é escrutinado com mil olhos por todos os colunistas, peca pela falta de oportunidade, de sentido do ridículo e de descrição. Ou então pretendem mostrar, da pior maneira, que não há fuga ao fisco possível, mesmo que isso signifique a vergonha de se perguntar aos convidados, caso não haja lista, quanto custou a prenda. Ou muito me engano ou este conjunto de regras vai trazer tanta polémica que os seus autores terão forçosamente de recuar, sob pena de verem novas manifestações de rua, mas desta vez dos noivos. Ou preferirão impor a união de facto?

domingo, março 23, 2008

Aleluia
Boa Páscoa a todos
Ir ao Barroso, a Montalegre, e mais além, com estes dias de quasi Inverno, já é temerário. Mas ir à região com melhor carne nacional numa Sexta-Feira Santa, quando se faz questão de cumprir as tradições restritivas da quadra, é completamente estúpido.
Cinemateca no Porto?
Também eu aproveito para felicitar Pedro Mexia pela recente nomeação para sub-director de Cinemateca. E já agora, para relembrar uma ideia esquecida: para quando o núcleo da nobre instituição cinéfila no Porto, na Casa das Artes? Eram uma coisa a pensar, acho eu. Caro Pedro: assim que meter mãos à obra, vá pensando no assunto. Provavelmente voltarei a escrever sobre isto.
A Lei Seca dos piercings
Não sou de todo apreciador de tatuagens e de piercings e nunca pensei em usar qualquer dessas extravagâncias tribais no meu corpo. São inestéticos, tiram qualquer beleza e a sua colocação deve ser uma hipérbole de uma ida ao dentista. Também não vou repetir o que mihares já disseram contra a patética ideia de Renato Sampaio de proibir menores de 18 anos de colocarem esses acrescentos inanes. Devia ser complicado pôr polícias a tentar procurar vestígios de tatuagens em adolescentes. Mas pior do que isso: já viram a rede clandestina de piercings e tatoos que surgiriam, ao nível de uma Lei Seca corporal? Um negócio de China, não é? E bem mais perigoso que os danos que o diligente líder do Ps - Porto pretende evitar. Qual será a próxima proposta genial deste calibre?

segunda-feira, março 17, 2008

Esperança

O Portugal dos Pequeninos aborrece-me de morte muitas vezes, pelo pessimismo quase doentio, pelo desencanto, pela fúria sem razão (ou pelas razões que só o autor conhece) que adquiriu a dado momento, o que faz com que frequentemente o deixe passar ao lado. Mas às vezes vogo por lá. E encontro preciosidades comoventes e admiráveis como esta. afinal,também por lá se encontra Esperança.

Quando Bento XVI esteve na Turquia, deslocou-se ao meio do mato para celebrar uma missa para pouco mais de centena e meia de pessoas. A Ratzinger não interessa o "número" mas antes a qualidade dos fiéis. Este Papa não é impressionável pela multidão e não concebe o seu magistério com um gigantesco e permanente "talk show". Nem tão pouco entende ser essa a missão da Igreja nos dias que correm. Os dois volumes da longa entrevista que concedeu ao jornalista alemão Peter Seewald - "O Sal da Terra" e "Deus e o Mundo" -, ainda como cardeal, explicam a Igreja do futuro Papa Bento. No texto de Vasco Pulido Valente no Público de sábado (sem link), reflecte-se sobre a vitória de Zapatero e a "consagração" de um "novo mundo", aparentemente definitivo, que "derrotou" a Igreja. Passarão por Espanha e pela Terra dezenas de Zapateros e a Igreja do Ressuscitado, erguida sobre a pedra bruta que derrotou o mundo, permanecerá. O verdadeiro cristão é aquele que não omite a Cruz na sua vida. Como o mais pequeno grão de trigo que cai no solo, morre e só assim dá fruto, também a Igreja representada por Ratzinger não vem para "rasurar" nenhuma "memória histórica" ou impor-se como uma "ideologia". Pelo contrário. O Igreja vela contra "a prepotência da ideologia e dos seus órgãos políticos", na defesa de uma "nova liberdade" que não é mais do que a "consciência da nova «substância» que nos foi dada" por aqueles que, ao longo da história do homem, com o seu martírio e com a sua morte, "renovaram o mundo" (Carta Encíclica Spe Salvi). Não são os Zapateros desta vida videirinha quem nos "salva". A esperança, o outro nome da fé, é a única resposta contra o "homem precário" que governa no mundo.

Eliade em Portugal


Mais de sessenta anos depois, o Diário Português de Mircea Eliade é enfim traduzido para a língua do país que o acolheu no início dos anos 40. Eliade era então adido cultural da embaixada romena em Portugal, e viveu em Lisboa e Cascais (na rua da Saudade, com as traseiras sobre o mar, onde aliás uma placa relembra o morador). Filósofo, antropólogo e historiador, escreveu sobre religiões, história da Roménia e antropologia filosófica. Doutorou-se com uma tese sobre a prática do Yoga, depois de uma estadia na Índia. Politicamente esteve próxima da Guarda de Ferro, um movimento anti-semita que agregava fascismo e cristianismo ortodoxo, comandado pelo famigerado Corneliu Codreanu, mas não deixou de ser um apoiante do Conducator Ion Antonescu. Por causa dessa ligação, refugiou-se em França, depois da Guerra, e nos anos 50 mudou-se para o Estados Unidos, onde alcançou a cadeira de História das Religiões na Universidade de Chicago. Tornou-se cidadão americano e morreu em 1986, na "Windy City".

 
Deixa-nos agora as suas impressões sobre Portugal (por vezes fracas), Salazar (por vezes exaltantes) e os percursos, convivências e relações que manteve por cá. E ao que parece, esta edição não passou despercebida. Se não o tivesse encontrado com surpresa na montra de uma livraria, a blogoesfera ter-me-ia certamente avisado.

quinta-feira, março 13, 2008

Primo de Rivera e Che Guevara: mitos perigosos







Há algumas semelhanças entre as fotografias dos dois homens acima representados. Não certamente pelo seu aspecto - escanhoado, penteado e aprumado, o de cima, de longas melenas, barba e boina, o de baixo. Refiro-me às fotografias em si, cinzentas e um pouco funéreas, como se tornaram as suas memórias. Mas há sobretudo parecenças no que quiseram fazer do seu exemplo e do seu legado.
- Ambos foram acérrimos defensores dos seus ideais, e combateram por isso.
- Ambos promoveram a violência para os difundir e implantar
- Ambos foram fuzilados pelos seus inimigos, sem julgamento legítimo
- Ambos foram utilizados pelos respectivos regimes ditatoriais vencedores (a Espanha franquista e Cuba e castrista) como heróis e mártires
- Ambos são idolatrados pelos seus seguidores-
- Ambos são odiados pelos adversários
Claro que há depois todo um conjunto de diferenças: Che Guevara tornou-se um ícone mundial, muito mais famoso e popular que José António Primo de Rivera, fundador da Falange, que mesmo no seu país, Espanha, é mais uma figura de culto de uma minoria do que um herói nacional, pelo facto de ser fascista. E a fotografia do Che tirada por Albert Korda, captando-lhe o olhar, deu-lhe um estatuto utópico que as imagens de José António, sempre em pose mais rígida (talvez pelo facto de ser aristocrata) e com olhar menos expressivo, nunca tiveram. Qualquer pessoa reconhece o argentino, mas poucos saberão dizer quem é o castelhano. E depois toda uma propaganda eficaz (o sonhador vs o fascista) encarregou-se de solidificar os respectivos estatutos.
Certo é que, à sua maneira, são ícones dos seus grupos políticos. Viveram e combateram com coragem e convicção. Morreram pelas suas ideias às mãos inimigas, acabando assim por chegar a "mártires". Mas são mártires, e mitos, perigosos. Se os seus ideais à partida eram justos, a forma como os espalharam foi a pior possível. A Guerra Civil de Espanha não passou de uma súmula imparável de barbáries, concluída pelos franquistas sob o lema Cara al Sol do Ausente, como chamavam a Primo de Rivera. E inúmeras inspirações guevaristas ainda hoje produzem violências injustificadas, como as célebres FARC colombianas. Sim, lutaram bravamente pelas suas ideias. Infelizmente, todos esses esforços foram provavelmente mais nefastos que benéficos e não tornaram certamente o mundo um lugar melhor para viver.
Santos Silva teve razão
Já no caso das declarações de Augusto Santos Silva em Chaves não vi nada de que discordasse, excepto talvez considerar que Salazar era fascista. O facto de se estar em vésperas de um gigantesco protesto contra o Governo não é razão para se ir gritar insultos à porta de uma reunião do partido que sustenta esse mesmo Governo. Chamar-lhes "fascistas", então, é patético, mas também já nos habituámos a que qualquer pessoa seja assim apelidado quando não concorda com saudosistas dos piquetes, apelos contra o "imperialismo" ou baladeiros de setenta.
Santos Silva disse o óbvio: a liberdade não se deve a Cunhal, mas a Soares e a outros como ele. Não reclamou exclusividade, como o acusaram, limitou-se a dividir as águas e a pôr os mitos dos "combatentes pela liberdade", que mais não eram do que admiradores do sr. Brejnev, no seu devido lugar. E se na altura era de extrema-esquerda, só prova que abriu os olhos e ganhou sensatez. Se um passado adolescente em pequenos partidos dessa área política fosse entrave a que se falasse de liberdade, quantos e quantos colunistas e fazedores de opinião não teriam de se remeter ao silêncio.

quarta-feira, março 12, 2008

Um protesto justificado

A enorme manifestação dos professores em Lisboa, no sábado, não consistiu apenas em ajuntamentos de sindicalistas para pregar o bota-abaixo: viu-se um grito de protesto como nunca essa classe de profissionais tinha mostrado. Não admira: na pior equipa ministerial que se vislumbrou nos últimos anos na educação, os professores são o bode expiatório para tantas semi-reformas e reformas adiadas, trocas de ministros, ignorância e "eduquês". Cortaram as verbas a Roberto Carneiro quando mais era necessário e tiveram de inventar mais não sei quantas alterações. Agora veio esta inefável ministra, de rosto rígido e imutável, e o seu Válter Lemos (que, recorde-se, quando era vereador da Câmara de Penamacor faltou à maioria das sessões), esse arrogante funcionário sem ponta de talento, tratar os professores ao pontapé. Não se diga que não. Não é só o novo Estatuto que o demonstra: basta relembrar os casos de violência nas escolas, gravados e publicamente revelados, e o desinteresse e menorização que a ministra lhes votou. acompanhados de um incrível "os professores não podem ter medo". Pois não: fosse a senhora ameaçada em plena aula numa Básica de um "bairro problemático" e queria ver como é que reagia.

Acresce ainda o insensato Estatuto dos Alunos, que permite aos meninos faltar às aulas à vontade, as horas extra transformadas em momentos recreativos com os professores a aturá-los, gastando energia e perdendo preciosos tempo, as alterações a meio do ano lectivo, etc.

Sobre algumas coisas ridículas que ouvi nos últimos dias, não será demais recordar que houve gente na Manif. que nunca tenha estado em nenhuma anteriormente, que raramente faz greve e que nem ao menos está sindicalizada; e que nem todos os "stôres" são comunistas, eu, aliás, nunca me lembro de no ciclo e no secundário ter tido professores dessa área política; é possível que os houvesse, mas lembro-me mais de ter sido ensinado por monárquicos ou militantes activos do CDS, por exemplo. Bem podem os defensores da ministra, que provavelmente percebem tanto do assunto como eu de cultivo de Kiwis, vir defendê-la achando que o que é preciso é "pôr os profs no seu lugar". Melhor fariam em defender que esta equipa fosse para o seu lugar: para a rua. E não era para se manifestar.

segunda-feira, março 10, 2008

Mais do mesmo
Chegado do vento gelado de Trás-os-Montes, duas notícias, uma esperada, outra mais repentina: a vitória de Zapatero sem maioria absoluta, e a subida ligeira do PP, o que prenuncia uma legislatura semelhante à dos últimos 4 anos, mas com a economia em queda; e a demissão de Camacho, por achar que não podia dar mais nada à equipa do Benfica. uma despedida digna mas que contrasta com a sua partida em 2004, vencedor e popular. O futebol definitivamente acabou, esta época. Que venha Chalana orientar a equipa, e que se prepare condignamente a próxima temporada. Esta só nos promete mais do mesmo.

sábado, março 08, 2008

Infelicidades em barda
Uma expulsão aos 9´ (deve ser record mundial), uma lesão aos 20´, um golo sofrido de forma totalmente infeliz, uma expulsão perdoada ao adversário, assim como uma bola irregularmente agarrda pelo seu guarda-redes, imensos lesionados e castigados...assim era quase impossível. O Benfica mostrou grande espírito contra a bem organizada e afortunada turma dos arredores de Madrid, mas nem isso evitou o desaire na Luz.
Com alguma sorte e raça, ainda damos um salto a Espanha e vamos dar a volta à eliminatória, mas ontem aquilo só valeu pelo golo do meio da rua de Mantorras e porque me ofereceram o bilhete. Ah, e aquela bandeira dos NN com a efígie do Cosme Damião também tinha bastante graça.

terça-feira, março 04, 2008

Eleições em Espanha


Aproximam-se as eleições para as Cortes Espanholas, como igual confronto de 2004: Zapatero x Rajoy. Devo dizer que nenhum deles é senhor das minhas simpatias. O actual Presidente do Governo, ou o "Bambi", como é conhecido, chegou ao executivo de forma totalmente inesperada, por causa da péssima gestão dos atentados terroristas de 2004 pelos Populares. Pôs então em prática a sua "agenda modernizadora", com a legalização dos casamentos e até da adopção de crianças por casais homossexuais, a simplificação do divórcio, o afrontamento à Igreja Católica, o apaziguamento e os acordos com terrositas sem remissão e a insensata Lei da Memória Histórica, que no fundo toma partido por uma das facções da Guerra civil, como no regime franquista, mas pela outra parte. Num país onde as feridas do fratricida combate de 36/39 nunca sararam totalmente, Zapatero atira gasolina para a fogueira, não sei se de propósito, se inconscientemente. A Constituição de 1977 aprovou o regime democrático sob a monarquia, no pressuposto de que os vencidos da Guerra civil não o eram mais, e de que as referências dos nacionalistas deixariam de ser as do Estado Espanhol. Por outras palavras, a Guerra só ali terminava verdadeiramente, num pacto de paz aposta pela esmagadora maioria dos espanhóis, cujo principal símbolo era a legalização do Partido Comunista. A nova Lei recentemente aprovada desrespeita o espírito da Constituição e pode trazer consequências nefastas ao complicado caldo político que se vive no país, atravessado por regionalismos extremos.

Do outro lado, Rajoy, que esteve a dois passos de ser Prsidente do Governo em 2004, por escolha pessoal de Aznar, não parece ter aprendido muito. Nestes quatro anos, o seu PP instrumentalizou muitas das manifestações de rua contra o governo e a sua política face ao terrorismo, transformando-as em comícios não-oficiais. Nunca reconheceu os erros que lhe tiraram a vitória, nomeadamente o tríptico de mentiras Prestige - Iraque - Atentados (eram da ETA, lembram-se?), conduzidas da pior forma. Se Zapatero merecia caír do seu lugar, este galego castelhanizado jamais merecia lá chegar.

Estas eleições deverão confirmar também o extremar das forças políticas presentes. À parte os dois principais partidos, o resto são movimentos regionalistas/nacionalistas, como o velho Partido Nacionalista Vasco, a CIU, o Bloco Galego e outros, da Cantábria às Canárias. O centro, herdeiro da UCD de Suarez, é irrelevante ou deixou-se engolir pelo PP; a Izquierda Unida, mistura de Bloco de Esquerda com CDU, que alberga o outrora pujante PCE, pode ficar mesmo sem representação parlamentar (Saramago já declarou que apoiava o PSOE); novidade só mesmo o novo movimento anti-nacionalista apadrinhado por Fernando Savater, cujo sucesso, dado o seu vazio ideológico, é duvidoso.

Tendo em conta que os movimentos herdeiros do franquismo, como os Carlistas e a Falange, são residuais, conclui-se que a política partidária em Espanha está totalmente bipolarizada entre os dois maiores partidos. E que as franjas mais radicais herdeiras dos ferozes antagonistas dos anos trinta foram por eles engolidos. Mais do que a conversão à moderação, pode significar o extremar de poisções entre dois blocos, coisa quw já se verifica. Os tempos de Gonzalez, em que o PSOE era um partido socialista moderado, adepto da CEE e da NATO e recusando o marxismo, ou aquele em que um deconhecido Aznar transformou a velha Aliança Popular de Fraga Iribarne num moderno partido de centro-direita, já lá vão. Não é crível que volte a haver novo confronto armado (está lá o soft power da UE), mas o antagonismo que se verifica, e em que não faltam confrontos ente anarquistas gedelhudos e falangistas de braço erguido, é tudo menos saudável, mormente agora que se espera que a economia espanhola quebre consideravelmente. O PSOE deverá novamente ganhar sem maioria, e os próximos anos serão de mais "modernização da sociedade" e paz podre. E depois? Intervirá de novo Juan Carlos I nos destinos da sua nação?
Banal

Um derby banal. Resultado (relativamente)positivo para o Benfica em alvalade, jogo disputado com raça mas nem sempre com bom futebol, casos para analisar e as eternas queixas do sporting, com não sei quantos penaltys não assinalados a favor, não sei quantas expulsões perdoadas ao Benfica e não sei quantas lamentações de serem sempre os prejudicados. Nada de novo. Fora do normal, mesmo, só o golo de Cardozo, por ser de cabeça, e o Rodrigo Tinóni, ou coisa que o valha, novo craque do ataque do Sporting, a fazer um cruzamente para golo, com Quim a ser mal batido (outra invulgaridade).

segunda-feira, março 03, 2008

Asquith e as instituições


Isso de ligações familiares tem muito que se lhe diga. Helena Bonham Carter, por exemplo, é bisneta de HH Asquith, Primeiro Ministro britânico durante oito anos, e que ocupava o cargo quando rebentou a 1ª Guerra Mundial.
O post de Pedro Mexia ajudou-me a recordar este político liberal inglês e uma máxima que deixou, e que descobri num livro que me ocupou durante o último verão. Trata-se dos Diários de Paris, do Embaixador Marcello Mathias (filho), onde relata a sua passagem pelo UNESCO entre 2001 e 2003, no seu último posto de Carreira. Não faltam considerações sobre pintura, literatura, história, alusões oportunas, o ponto da vista sobre os acontecimentos do dia-a-dia, a luta contra a doença e uns pós da vida de um diplomata perto da reforma. O livro acaba com as memórias da capital francesa no pós-guerra, quando o seu pai lá foi colocado como o primeiro embaixador português em França.
Mas a frase que me interessa é que vem ao caso. Teria Asquith dito que só havia três instituições eternas: a Câmara dos Lordes, a Academia Francesa e o Estado-Maior Prussiano. Não sei de quando data tão solene afirmação, mas é decerto anterior À 1ª Guerra Mundial.
Como se sabe, o Estado-Maior da Prússia (durante décadas uma inspiração para tantos oficiais, como Spínola) não sobreviveu muitos mais anos. Caiu em desuso depois do Grande Guerra, reemergiu como Wehrmacht sob os nazis, antes de desaparecer por completo com a própria designação Prússia e o seu território original, que numa reviravolta da história sobrou para os polacos e russos, separado do território alemão.
A Câmara dos Lordes também já teve outra importância. Perdeu de forma drástica o seu carácter hereditário e poderá também perder brevemente os seus poderes judiciais, como última instância de apelação de recursos. Ou seja, está longe da relevância que sem dúvida tinha nos tempos de Asquith.
A Academia Francesa, instituída pelo Cardeal Richelieu, permanece imutável, com uma breve interrupção durante a Revolução, mas que Bonaparte reabriu. Os seus membros, os Immortels, são vitalícios, são eleitos pelos mais velhos, ocupam cada um o seu Fauteill, devidamente numerado, e representam a nata da francofonia, em todas as áreas. Podem ser expulsos por motivos excepcionais, como o Marechal Pétain ou o integralista Chales Maurras, o que é raro acontecer. Apenas uma grande alteração nas últimas décadas: a primeira eleição de uma mulher como para a imortal galeria, no caso Marguerite Yourcenar.
O irónico disto é que a "revolucionária" França, o país menos referido quando toca a instituições centenárias, ao contrário do que acontece com a Grã-Bretanha, é que soube conservar o seu símbolo institucional mais antigo, ao passo que outros as viram desaparecer ou perder o peso e a importância tradicionais. Um caso a ser avaliado com mais atenção pelo Centro de Estudos Políticos da UCP.
Mas numa nação de tão grandes paradoxos como é o hexágono, acaba por fazer algum sentido.