terça-feira, agosto 30, 2011

O início da nova Líbia


De súbito, o regime verde da Líbia caiu como um castelo de cartas. Seis meses de guerra civil, que começou com a revolta a partir de Bengazi, prometendo sucesso rápido, seguida da resposta das forças do regime, que quase aniquilaram os rebeldes, não fosse a intervenção da NATO e a destruição do armamento pesado das tropas leais a Kadhafi. Depois, tímidos avanços dos revoltosos, de tal forma que a Líbia deixou as primeiras páginas e em breve quase nem se falava do conflito que minava a antiga colónia italiana. Até que de súbito os rebeldes fizeram notáveis avanços. Aproveitando o enfraquecimento das forças do regime e seus mercenários, minadas pelos ataques cirúrgicos vindos do ar, abriram caminho e entraram em Trípoli. O cenário verificado em Fevereiro cumpriu-se, enfim. Por terra, com o auxílio dos apelos do clero islâmico, e também por mar, em que forças vindas de outras cidades completaram o cerco, provavelmente com auxílio de meios navais da NATO. Embora houvesse alguma resistência, os pontos fulcrais, como os meios de difusão, foram prontamente tomados. Quando o aeroporto e o complexo de habitação de Kadhafi ainda resistiam, a Praça Verde, local simbólico onde o regime verde organizava as suas "manifestações" de apoio, era ocupada pelos rebeldes. Depois disso, percebia-se que o regime tinha caído. Era, e é, só uma questão de dias.

Quando apenas Sirte ergue a bandeira verde, pergunta-se onde estará Kadhafi e seus filhos, subitamente evaporados. A hipótese mais provável é que esteja acantonado em parte incerta. Duvido que tenha fugido para o estrangeiro - para o feudo do amigo Mugabe, por exemplo, ou para a Venezuela - e será mais provável que esteja em Sirte ou noutro ponto da Líbia. Ver-se-à agora se resistirá até ao fim, como prometeu, e perecerá em combate, ou se fugirá para um estado "amigo", juntamente com a sua família. Os milhões do petróleo que acumulou durante quarenta anos devem ser suficientes.

E a nova Líbia? Até agora, tem-se conseguido razoavelmente evitar pilhagens e vinganças. Com ajuda internacional e o descongelamento de contas avultadas, o país tem recursos para se reerguer. Resta conseguir formar um novo sistema político, obter acordos e consensos entre tribos, reconciliar Tripoli com Bengazi unir o país. Depois de décadas de regime "verde" personificado no coronel, será uma tarefa difícil. Mas é possível, com a representação dos vários grupos e tribos nas decisões do país. E já que se restaurou a antiga bandeira dos Senussis, porque não restaurar a monarquia dos mesmos? Tivesse Kadhafi falhado o golpe de 1969, e quem sabe o que seria a Líbia de hoje? A solução para a união da país pode e deve passar pelo regresso da dinastia e dos reis que lhe deram a independência.







Por razões de reestruturação daquele blogue, e também pela participação cada vez mais escassa(que também se repercute aqui), deixei a minha colaboração com o Estado Sentido. Como é óbvio, continuarei a acompanhá-lo, desejando-lhe as maiores felicidades e que mantenha a qualidade a que habituou os seus leitores, não deixando de fazer-lhe devidas as ligações quando julgar necessário. A partir de agora, escreverei apenas neste espaço.

terça-feira, agosto 23, 2011

Os bravos sub-20


Fui dos que pouco liguei no início. Depois, vi parte do fraquíssimo jogo com o Guatemala e temi o pior no confronto com a Argentina. Aí, teve lugar uma emocionante disputa de penaltys em que da desvantagem de dois se chegou ao triunfo sobre as Pampas. Não vi as meias contra a França, nossa velha bête noir nestas coisas, mas finalmente levámos a melhor e chegamos à final. Não quis do destino nem as forças físicas que imitássemos 1989 e 1991, mas esta Selecção de sub-20, pela qual poucos davam alguma coisa, portou-se à altura de um campeão e provavelmente merecia mais. O jogo contra o Brasil podia ter sido ganho, mas algumas falhas e o esgotamento visível nos jogadores levou ao desfecho a favor dos brasileiros. Mas as palmas que receberam à chegada a Portugal são totalmente merecidas. Agora espero que os seus clubes olhem mais para eles e que os aproveitem devidamente, ainda que com algumas rodagens pelo meio. Acima de tudo, espero que o Benfica aproveite Nélson Oliveira (cuidado, Cardozo) e Mika já este ano e não se esqueça de Roderick e Luís Martins, para que não sigam o caminho de Danilo ou Mário Rui. Fica o grande consolo de que afinal de contas o futuro da Selecção Nacional pós-Cristiano Ronaldo pode estar assegurado.

sábado, agosto 20, 2011

Let´s all meet up at the year 2011




Em meados dos anos noventa, a Britpop tomou o Mundo (ou melhor, o Reino unido, mas os autóctones confundem as duas coisas) de assalto. Entre a working class dos Oasis e a upper-middle-class do Blur, formou-se uma terceira via - numa altura em que o conceito era muito popular e levaria Blair ao poder - constituído pelos Pulp, que representavam a middle class. Embora mais antigos que os outros, os Pulp, liderados pelo desengonçado Jarvis Cocker, pouca visibilidade tinham no panorama musical, até 1994, e sobretudo, 1995/96, quando chegaram ao primeiro lugar dos tops britânicos com o seu Different Class. Desilusões amorosas de juventude, fantasias impossíveis de concretizar e aspirações de classe média, inseridas em hinos pop e seus telediscos retro como Common People e Disco 2000 (provavelmente uma das melhores canções pop de sempre) deram-lhes popularidade e fama naquela onda musical que varreu o Reino Unido. Pelo meio, Jarvis cocker aproveitou para deixar Michael Jackson malvisto em público. Depois, This is Hardcore, um álbum mais difícil, mas digno de ser descoberto (o tema título tem também um excelente videoclip e poderia ser uma banda sonora de um film noir) arrefeceu um pouco a ascensão comercial. Entrou o novo século como We Love Life, e pouco tempo depois a banda separou-se, tendo Cocker iniciado uma carreira a solo.


Mas estamos em época de reuniões de antigos grupos e de regressos esperados. Por isso, também os Pulp voltaram ao terreno este ano e mostraram-se ao público. Felizmente, quiseram fazê-lo também em Portugal, para mais em Agosto e em Paredes de Coura, não longe de onde me encontro habitualmente nesta altura. Reapareceram assim em todo o seu esplendor, no palco ao fundo do anfiteatro natural que desce até ao rio Coura (essa massa fluvial que inspira festivais de Verão, como o sabem os veteranos de Vilar de Mouros), entre algum psicadelismo luminoso e mensagens de boas-vindas. Jarvis Cocker tem mais cabelo e barba, mas agora não tira os óculos de massa por nada e conserva os mesmos gestos de dança de uma sensualidade desengonçada de desenho animado. As músicas que lhes conhecíamos desfiaram pela noite fora - é emocionante ouvir os primeiros riffs de Disco 2000 ao vivo. E quem se deu ao trabalho de ir ao Alto Minho interior não deu o tempo por perdido. O bom gosto acabar sempre por imperar. Long Life aos Pulp!

domingo, agosto 14, 2011

Razões para a barbárie


Mais de uma semana depois de começarem os motins em Londres, que se estenderam a toda a Inglaterra, limpam-se os cacos e contabilizam-se os estragos (e os mortos, que infelizmente também os houve). E fazem-se as normais dissecações da coisa: os "excluídos", a "violência policial", a "brandura policial", o "protesto dos marginais", os "cortes do governo", o "multiculturalismo", "o Cameron que estava de férias", etc.
 
Antes de mais, seria bom abandonar aquela ideia proto-marxista de ver nas causas de tudo razões meramente económicas. Quem tiver boa memória dos motins em França em finais de 2005 (despoletados por razões análogas), recordará que na altura se atirou muito as culpas para o "modelo social francês" e os seus subsídios. Uma inteligência brasileira qualquer disse que as "favelas" em França ardiam porque a França não tinha um modelo "liberal". Agora, vem a desforra, a culpar-se o "modelo neoliberal britânico". Nem um nem outro me parecem ser a razão principal, embora possam apresentar indícios de. É mais uma querela estéril entre defensores de modelos económicos diferentes, incapazes de ver mais além dos números.

O problema é, acima de todos os outros, ético, moral e civilizacional. Os motins são a expressão de um sentimento de ganância e materialismo feroz, combinados com uma nefasta sensação de impunidade. Não apenas nas ruas: é transversal à sociedade. Vai desde os usurários, financeiros sem rosto economistas de casino, suportados em abstractas bolhas económicas, a toda esta gangada niilista. Todos roubam com o sentimento de que não serão punidos.



Entre todos os artigos que encontrei, Miguel Sousa Tavares disse no Expresso uma coisa que me parece acertadíssima: que os bárbaros que semearam o pânico e a destruição na Albion são "meninos" aos quais falta não segurança social nem bens materiais, mas sim pais que os eduquem, e que "acham um desafio fantástico destruir o que têm e o que devem a outros". A ideia de que se tem direito a tudo sem os respectivos deveres, seja de que forma for, mina os alicerces de qualquer sociedade fundada no Direito, na justiça e na (legítima) propriedade privada. Fora isso, temos o caos, tão "justificado" pelos imbecis que desculpam sempre e sempre os criminosos, fazendo recair as culpas em terceiros. E mais uma vez, tal como fiz com o assassino em massa norueguês, gostava de saber como é que os pais educaram estes filhos. Bem sei que por vezes há coisas que escapam à educação, para vergonha e desgosto de tantos progenitores que se esforçaram por ensinar e educar o melhor que sabiam e podiam. Mas parece-me estranho que uma massa descontrolada, violenta e entusiasmada em fazer arder carros e assaltar lojas de tudo e mais alguma coisa (menos produtos de primeira necessidade e livros, que bens supérfluos era coisa em que não havia tempo para levar), tenha recebido toda uma educação exemplar - e por educação falo em valores, normas de comportamento e sociabilidade, etc, não mera instrução, e que tornaram célebre a Grã-Bretanha. Infelizmente, tudo isso parece estar ultrapassado, em nome do respeito cego ao "outro", e desta pós-modernidade asséptica.

Por isso, esqueçam lá a ladainha dos "excluídos", ou do desemprego juvenil (quando grande parte destes delinquentes nem idade têm para trabalhar). Os tais clubes juvenis que fecharam são importantes, mas há muito quem sobreviva sem eles. Dêem antes de mais educação às novas gerações. De contrário, teremos bárbaros a fazer o que muito bem lhes apetece, e que provocarão guerras devastadoras, já que a barbárie só se trava com força. Aí, talvez se recordem que os bárbaros fizeram cair Roma e a sua civilização.


PS: e talvez seja igualmente importante lembrar que os modelos anglo-saxónicos não são todos exemplares. Se não estivessem ocupados com problemas de outra ordem, o franceses deviam estar a gozar que nem uns perdidos, pensando no que deles disseram em 2005 do outro lado da Mancha e do Atlântico.

terça-feira, agosto 09, 2011

Benfica 2011/12


O Benfica da época 2011/12 continua a deixar-me sentimentos ambíguos e confusos. Parece-me que está claramente a melhorar, e que há mais soluções, mas continuo a desconfiar de tanta contratação e a desanimar com tão escasso número de portugueses, em tempos que já lá vão ponto de honra do clube.

A saída de Coentrão seria de evitar há uns meses, mas com tanto assédio e com a cabeça do rapaz das Caxinas em Madrid, a ida para os merengues em troca de 30 milhões de Euros não é nada má. Já a saída de Moreira é de torcer o nariz; de Nuno Gomes já falei, e vamos a ver se Carlos Martins fica ou se procura trabalho na Moscóvia. De resto, houve uma limpeza da comunidade brasileira mais ociosa que me parece satisfatória. Mas o idioma luso tem agora de rivalizar com o castelhano. Bem sei que os tempos são diferentes e que é quase impossível conservar uma equipa de qualidade só com portugueses, mas que Diabo, há limites! não se podia apostar um pouco mais na formação? É que as políticas contratuais actuais (não só do Benfica, entenda-se) vão-se repercutir, cedo ou tarde, na Selecção Nacional...

O entrosamento não se compra, vai-se fazendo com paciência. O Benfica deste ano terá de tê-la em abundância. Entretanto, despachou-se Roberto com um negócio duvidoso (eu preferia o empréstimo), mas resolveu-se o problema com um seguro Artur e um Eduardo que quer manter o seu lugar na baliza nacional, o que dada a concorrência, não será fácil. Temos também um jovem Mika, cuja qualidade desconheço. Gostaria de saber onde vão jogar Júlio César e Oblak.

Na defesa, a melhor notícia é a permanência de Luisão. Garay parece ser uma das boas contratações da época, e Jardel e Miguel Vítor são bons suplentes. Mas a saída de Coentrão parece complicada de colmatar. Capdevilla, campeão mundial no ano passado, parece ser uma excelente solução (aliás, surpreendeu-me muito), pelo menos enquanto a concorrência está verde, mas ignora-se qual a forma física actual do internacional espanhol. Mas interrogo-me se seria mesmo preciso trazer emerso, quando havia Carole e César Peixoto.

Depois, o povoado meio-campo. Outro jogador cuja vinda parece supérflua: Bruno César. Encosta Carlos Martins ao banco e precisará de tempo para adquirir rotinas. É muito promissor bem sei, mas não impede que tenha as minhas dúvidas. Outro que precisa de se ambientar e de ganhar ritmo é Enzo Perez. O seu antecessor, Salvio, também precisou, e se o reforço atingir o mesmo nível, é aposta ganha.

Como que a demonstrar que os reforços europeus precisam de menos tempo do que os sul-americanos para se integrarem e compreender o jogo, Witsel chegou, viu, e aparentemente venceu. Nolito também, e com três golos em outros tantos jogos, já é um ídolo dos adeptos. Com a manutenção de Gaitan, Saviola, Jara e do mágico Aimar, mais o regresso de Urreta (enfim!), a coisa está mais do que composta na construção de jogo e nas alas. Resta portanto o imbróglio Cardozo, que parece estar insatisfeito. O Besiktas acena com uns milhões e Hugo Almeida, mas tendo em conta a média de golos do internacional português, a troca seria certamente desfavorável para o Benfica. Nelson Oliveira e Rodrigo ainda são verdes para agarrar o lugar.

Fiquei com razoável/boa impressão nos jogos com o Trabzonspor, salvo na finalização, onde surge de novo o problema do ponta de lança. A equipa do Ponto ficou em segundo lugar, ex aqueo com o primeiro, no seu campeonato, e reforçou-se significativamente, recordemos. A única coisa que tive realmente pena foi não poder ir ver lá o Benfica, já que aquela região do Mar Negro e do antigo Império de Trebizonda era um dos meus motivos de interesse de viagem...


Contra os gunners, na Taça Eusébio, deu para ver que a equipa, com os seus titulares habituais, é fiável e até marca golos. Mas a construção continua a ser bastante superior à concretização. Confirma-se que é matéria a rever. Para já só se têm como certezas que as melhores contratações até ao momento foram Garay, Nolito e Witsel.


Veremos daqui a dias, em Barcelos, como correm as coisas.

PS: para começar, Barcelos desiludiu. Recordou-me a Póvoa do Varzim, ali perto, há dez anos, com um marcador exactamente igual, só que na altura reduzidos a nove. Falhar golos de baliza aberta dá nisto (e aquele Laionel deve entusiasmar-se à brava em jogos contra o Benfica).

quinta-feira, agosto 04, 2011

A ascensão de Seguro


Com as minhas falhas actuais, ainda nem tinha comentado a nova liderança do PS. Aliás, com os acontecimentos na Noruega, a crise económica, etc, parece que ficou para segundo plano.


Mas sim, o Partido Socialista tem um novo líder, depois da era de José Sócrates, que coincidiu quase na totalidade com o domínio do executivo. A luta entre Francisco Assis e António José Seguro prometia no início, com a não candidatura de António Costa. Mas o antigo líder da JS tinha o aparelho socialista nas mãos. Há muito aliás, que Seguro parecia conhecer os meandros do partido e as suas estruturas, como o seu ar pouco expectante e tranquilo fazia supor. Assis reuniu à sua volta algumas figuras de relevo e as distritais do Porto e de Lisboa, mas nem assim logrou aproximar-se do seu adversário. O prestígio angariado como líder parlamentar e a sua postura respeitável não só foram insuficientes como pareceram mesmo ser um obstáculo na corrida à liderança. Quando Assis resolveu pegar no assunto do clientelismo partidário e lançá-lo na praça pública, afirmando que o PS tinha-o em demasia e que dele precisava de se libertar, o tiro de canhão saiu pela culatra directamente para o pé. Dizer alto e bom som que um partido que depende do poder e de um sem fim de prebendas e de clientelas que se deve livrar deles é obviamente uma táctica suicida. Só mesmo por desespero de causa é que um político experiente como Assis pode tê-lo feito. Se as coisas não lhe estavam a correr bem, com essa atitude entregou o partido a Seguro.



Com a coincidência, recordada por todos os jornais e revistas, de que os dois maiores partidos têm agora à frente antigos líderes das respectivas jotas, para mais coincidentes no tempo, parece que a geração que era adolescente ou criança no 25 de Abril tomou enfim conta dos destinos do país. Não sei se é bom ou mau. Tenho as minhas esperanças, mas já não fico tão optimista quando vejo pessoas que cresceram chefiando um grupo de políticos juvenis mais preocupados (já nesse tempo) com eventuais cargos do que com combates ideológicos à frente dos destinos nacionais ou respectivas oposições.



Seguro deu uma razoável imagem de elemento contra a corrente neste período em que o PS era poder e o socratismo imperava. Vê-se agora que era sobretudo uma estratégica paciente mas eficaz de alcançar a liderança do PS, recolhendo os cacos deixados a 5 de Junho, que ele sabia que forçosamente teriam de ser apanhados. As frases que pronunciou com a maior cara de pau, declarando (numa declaração semi-oficial) estar aos dispor do que o partido precisasse, mal Sócrates anunciou a retirada, revelaram cristalinamente as suas intenções. Seguro estava morto por apanhar a liderança, e preparou-se bem para o efeito. Arrisca-se é a ficar demasiado tempo na oposição e a ser imolado em futuras eleições, ainda que as autárquicas de 2013 lhe possam correr bem. Mas se ganhou o aparelho partidário, a ausência de carisma e de currículo fora do partido e alguma desconfiança do público pela avidez do rapaz de Penamacor serão obstáculos difíceis de ultrapassar. A não ser que o poder um dia lhe caia no regaço, coisa que não é assim tão raro acontecer (Sócrates, Durão e Santana sabem-no bem).


E agora, poder-se-à falar no "segurismo"? O soarismo está quase acabado, o gamismo extinguiu-se há muito, o guterrismo é coisa rara, e boa parte dos seus adeptos desertaram para o socratismo. "Assismo" é coisa que não parece existir. Parece, no entanto, que o sampaismo ainda mexe, transmutado no ferrismo. Uma corrente de migrantes do antigo MES que desaguou no PS e formou uma corrente mais à esquerda, primeiro com Jorge Sampaio e depois com Ferro Rodrigues (embora Manuel Alegre não se insira nesse grupo). Disse-se que Assis era a continuidade de Sócrates, numa linha mais pragmática e menos ideológica. Tenho as minhas dúvidas, embora o encaixe nalgum guterrismo não declarado. Já Seguro, sinceramente, não o consigo rotular. Nalgum socratismo de discurso mais ponderado e suave? Decididamente, o PS é um partido complicado e dividido em inúmeras franjas. Ao menos já houve um resultado prático: os debates no Parlamento estão muito menos crispados do que no tempo de Sócrates, e os pequenos desafios ad hominem deram lugar a mais discussão política. Valha-nos isso.