Em meados dos anos noventa, a Britpop tomou o Mundo (ou melhor, o Reino unido, mas os autóctones confundem as duas coisas) de assalto. Entre a working class dos Oasis e a upper-middle-class do Blur, formou-se uma terceira via - numa altura em que o conceito era muito popular e levaria Blair ao poder - constituído pelos Pulp, que representavam a middle class. Embora mais antigos que os outros, os Pulp, liderados pelo desengonçado Jarvis Cocker, pouca visibilidade tinham no panorama musical, até 1994, e sobretudo, 1995/96, quando chegaram ao primeiro lugar dos tops britânicos com o seu Different Class. Desilusões amorosas de juventude, fantasias impossíveis de concretizar e aspirações de classe média, inseridas em hinos pop e seus telediscos retro como Common People e Disco 2000 (provavelmente uma das melhores canções pop de sempre) deram-lhes popularidade e fama naquela onda musical que varreu o Reino Unido. Pelo meio, Jarvis cocker aproveitou para deixar Michael Jackson malvisto em público. Depois, This is Hardcore, um álbum mais difícil, mas digno de ser descoberto (o tema título tem também um excelente videoclip e poderia ser uma banda sonora de um film noir) arrefeceu um pouco a ascensão comercial. Entrou o novo século como We Love Life, e pouco tempo depois a banda separou-se, tendo Cocker iniciado uma carreira a solo.
Mas estamos em época de reuniões de antigos grupos e de regressos esperados. Por isso, também os Pulp voltaram ao terreno este ano e mostraram-se ao público. Felizmente, quiseram fazê-lo também em Portugal, para mais em Agosto e em Paredes de Coura, não longe de onde me encontro habitualmente nesta altura. Reapareceram assim em todo o seu esplendor, no palco ao fundo do anfiteatro natural que desce até ao rio Coura (essa massa fluvial que inspira festivais de Verão, como o sabem os veteranos de Vilar de Mouros), entre algum psicadelismo luminoso e mensagens de boas-vindas. Jarvis Cocker tem mais cabelo e barba, mas agora não tira os óculos de massa por nada e conserva os mesmos gestos de dança de uma sensualidade desengonçada de desenho animado. As músicas que lhes conhecíamos desfiaram pela noite fora - é emocionante ouvir os primeiros riffs de Disco 2000 ao vivo. E quem se deu ao trabalho de ir ao Alto Minho interior não deu o tempo por perdido. O bom gosto acabar sempre por imperar. Long Life aos Pulp!
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