quinta-feira, agosto 31, 2017

Reencontro em Vilar de Mouros


Este é o momento de um reencontro. Os dois vultos em destaque no palco são Jim Reid, vocalista dos Jesus and Mary Chain (o seu irmão William está atrás, na guitarra), e Bobby Gillespie, líder dos Primal Scream. Os dois grupos são originários de Glasgow, surgiram em meados dos anos oitenta e marcaram a cena musical no fim dessa década e no início da seguinte (é sabido que os Mary Chain influenciaram os Pixies e mesmo os Nirvana). Mas antes de se virar para o microfone, Gillespie tocou bateria no grupo dos irmãos Reid. Há dias, em Vilar de Mouros, deu-se o feliz reencontro. Embora já tivesse sido anunciado, houve largos aplausos quando antigo baterista entrou em palco para dar início à emblemática Just Like Honey, do primeiro disco da banda, Psychocandy, onde ainda participou, e que teve um suplemento de popularidade quando Sophia Coppola se lembrou de a escolher para temo de fecho de Lost in Translation.

Pelo que percebi, Gillespie não saiu em conflito do seu antigo grupo, mas não voltou a colaborar, pelo menos desta forma tão exposta. Não encontrei sinais de outro concerto em que se tivessem voltado a juntar. O acaso, ou a vontade dos organizadores, permitiu que tocassem no mesmo dia e no mesmo local. E em Vilar de Mouros, os Jesus and Mary Chain voltaram à formação inicial dos anos oitenta, com emoção e nostalgia à mistura. Só mesmo num ambiente como o da aldeia minhota, no decano dos festivais portugueses, é que tal coisa poderia acontecer. E o público agradeceu.




A transferência de Neymar podia dar uma cena de um filme


O mês de Agosto e o defeso ficaram inevitavelmente marcados pela maior transferência futebolística da histórica, a monstruosa compra de Neymar pelo Paris Saint-Germain ao Barcelona, por astronómicos 220 milhões de euros, e que superou duplamente o anterior recorde - Pogba, comprado no ano passado pelo Manchester United por pouco mais de cem milhões de euros. Qual bola de neve, a transferência do craque brasileiro para Paris inflacionou o mercado e levou a outros negócios avultadíssimos, como a compra de Dembelé, um jovem de 20 anos muito tecnicista, por mais de cem milhões de euros pelo Barcelona, de forma a colmatar a saída de Neymar e mostrar alguma força, a tentativa de compra de Philippe Coutinho ao Liverpool por 150 milhões (que ao que tudo indica falhou) e outros negócios que aqui há uns anos seriam inimagináveis.

As somas do negócio, para muitos obsceno, podem fazer surgir algum sentimento de pudor, mas além da valor em si também causam admiração se pensarmos que o PSG pertence a um fundo do Qatar, gerido pela família que reina no pequeno mas riquíssimo estado árabe, que desde Junho enfrenta um bloqueio económico e diplomático dos seus vizinhos árabes, e que resolveu fazer um golpe mediático e publicitário para mostrar o seu poder económico e garantir alguma influência fora do Golfo Pérsico, agora que a Al-Jazeera também enfrenta sérias ameaças. é verdade que a política sempre utilizou o futebol como canal de propaganda e de influência, mas a este nível, tão transversal e internacional, não há grande memória.

Mas geostratégia à parte, o facto de ter sido o PSG a comprar um craque da bola por tão avultado montante trouxe-me à memória uma curiosidade, uma cena do filme franco-romeno "O Concerto", de 2009, que teve assinalável êxito de crítica e de bilheteira. A dada altura, para conseguir fundos para uma digressão a Paris, ao teatro Châtelet, os protagonistas, músicos russos retirados, convencem um oligarca melómano a financiar o projecto, ao que este acede na condição de o deixarem tocar na orquestra. Eis senão quando aparece a mãe do magnata, a invectivá-lo por por não aproveitar, já que ia para Paris, para comprar o PSG e levar para lá o Messi, porque o futebol é que estava a dar (não sei se é textual, mas é mais ou menos isto, e se não me engano haverá por lá uma qualquer comparação a Abramovich). 
Não sei se os príncipes qataris viram o filme, mas a verdade é que foram multimilionários árabes, e não russos, a comprar o clube parisiense, e acabou por ser Neymar, e não Messi, a trocar Barcelona pelo Parque dos Príncipes. A realidade acabou por ser um tudo de nada diferente, mas mais uma vez, a vida imitou a arte quase ao milímetro. 

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terça-feira, agosto 22, 2017

Uma conversa sobre Mosul em Moledo




É possível, numa noite de segunda-feira de nevoeiro, em Agosto, numa povoação balnear em que as pessoas estão sobretudo a pensar no dia seguinte de férias, nos viras que se tocam mais acima ou em conversas à volta da cerveja ou do whisky nocturno, levar um número apreciável de gente ouvir um testemunho de alguém que esteve nos locais mais deserdados deste Mundo - Afeganistão, Síria, RD Congo, Mosul? Absolutamente.

Gustavo Carona, anestesista no hospital Pedro Hispano de Matosinhos pertencente aos Médico sem Fronteiras, já com cinco missões em zonas particularmente difíceis, esteve recentemente em Mosul, na parte tomada ao Daesh, e parte em breve para a República Centro-Africana, deu o seu testemunho do que viu, do contacto que teve com populações atingidas por vários fogos e em situação crítica, e do que pensa sobre a guerra e as suas motivações, tanto de uns lados como de outros. A conferência (ou melhor, a tertúlia), teve lugar em Moledo, com a presença de Álvaro de Vasconcelos, conhecido especialista em assuntos internacionais e apresentado por João Pimenta (Pai do escritor destas linhas). E desenrolou-se uma conversa e um testemunho sem cinismos - uma das grandes fatalidades desta nossa era, em que tanta gente tem medo de expor sentimentos ou de dar "parte de fraca" - mas também sem lamechices ou sentimentalismos bacocos. Objectiva, clara, realista, e por vezes tocante. 

A conferência também serviu para (re)apresentar o livro que coordenou, 1001 Cartas para Mosul, e a sua venda reverte para os Médicos Sem Fronteiras (cuja história e missão também explicou) e para a Plataforma de Apoio aos Refugiados. O livro, como o título indica, é composto de mil e uma mensagens - que nos remetem para as Mil e Uma Noites, também com origem no que é o actual Iraque - em português, inglês e árabe, destinadas à população daquela desgraçada cidade, totalmente destruída e parcialmente liberta, já que os sunitas residentes têm sofrido abusos às mãos das milícias xiitas, eles próprios também vítimas da violência sunita.
De qualquer forma, prova-se que em férias também é possível haver conversas sérias, objectivas, anti-cinismos, e que atraem assistências numerosas (não se fiem na fotografia).

sábado, agosto 05, 2017

Época a abrir


Aí está, a nova época 2017-2018, a abrir com a supertaça. O ano futebolístico começa cedíssimo, mesmo tendo em conta que há Mundial em Junho. Antigamente a coisa só tinha início em meados do mês, e o campeonato começava por altura dos meus anos. Ainda me lembro dos anos em que ficava surpreendido com as ligas francesas, ou outras, começarem em princípios de Agosto. Mais uma moda estrangeira que chegou a Portugal.

É inútil escapar ao óbvio: com as vendas de Ederson, Lindelof e Semedo o plantel do Benfica está indiscutivelmente mais fraco. É verdade que a entrada de Seferovic e Krovinovic fortaleceram lá à frente, mas a defesa é um autêntico remendo. Bem podem dizer que "o que há basta para consumo interno, o pior é lá fora". Pois não, não basta. No ano passado o Benfica já não ganhou com grande folga, por isso não é este ano as coisas não serão melhores. A baliza está confiada a um veterano de grande qualidade mas que já demonstra o peso dos anos e que tem lesões frequentes, a outro veterano que nem se sabe se fica e uma promessa que voltou passado um ano e que precisava de mais algumas épocas de experiência. No centro da defesa temos um Luisão com 36 anos e que não é eterno, um Jardel de 31 que passou a época passada quase toda na enfermaria e um Lisandro que parece que tem desaprendido de jogar, fora duas muito jovens incógnitas. E se o lado esquerdo está assegurado, à direita temos um verdíssimo Pedro Pereira que parece acusar a responsabilidade e o bombeiro André Almeida, que pode tapar alguns fogos mas não dá para tudo. Ou seja, três posições a preencher, iso sem contar que as lesões no plantel são frequentes e Fesjsa nem sempre está bem (e Samaris ainda pode sair).

Falou-se na pré-época ruim do Benfica. Mas nem é isso que me preocupa. As pré-épocas pouco têm a ver com as temporadas propriamente ditas, e a comprovar recordemos uma goleada sobre o Real Madrid no tempo de Jesus, que depois deu em nada, os 5-1 sofridos do Arsenal (este ano foram 5-2) antes de mais um título, ou a pré-temporada desastrosa de André Villas-Boas quando tomou o comando do Porto...Tenho mesmo para mim, que o normal é serem inversamente proporcionais. O que preocupa mesmo são as contratações necessárias. Entre os nomes avançados, agradou-me o do holandês Cillesen e pouco mais (fala-se de um Douglas, vindo do Barcelona, que pela que mostrou pode ser  uma espécie de Okunowo, lembram-se?). Provavelmente o Benfica está à espera dos últimos dias do mercado, para aproveitar as oportunidades. Houve um ano em que entraram de enfiada, no fim do prazo, Jonas, Samaris e Júlio César, que asseguraram o título. Mas nem sempre as coisas correm como o previsto, e não se podem descurar as primeiras jornadas e o entrosamento necessário. Por isso, espero que as entradas não demorem assim tanto. E que venha o Penta, claro, e se for possível já a supertaça.

sexta-feira, agosto 04, 2017

Técnicas de combate ao turismo


Não aprecio lá muito ver hordas com o uniforme de turista tão evidente (calções, mochila de variado tipo, boné de pala e um mapa que não sabem ler nas mãos), ou a entrar de chanatas no Café Majestic. Mas não deixa de ser curioso que, praticamente no mesmo dia em que se lançam grandes debate sobre a "turistificação em excesso", as formas de restringir ou mesmo de combater o turismo (até de forma violenta), surja também a notícia de restaurantes que exploram os turistas mais incautos a preços abjectos. Afinal quem é que prejudica quem? Grande falta de sentido de oportunidade, no mínimo.