sexta-feira, abril 30, 2010

O catenaccio, esse grande definidor de resultados (seguido de "tristeza de final da UEFA)

Por muito que se critique o "autocarro" que José Mourinho colocou em frente à baliza em Barcelona, não havia outra maneira de chegar ultrapassar os culés, ainda por cima com um jogador a menos ainda na primeira parte e com uma arbitragem caseira. Só com um sólido muro de betão é que passaria, e conseguiu-o, à custa de muita concentração e alguma sorte. Estimo o feito, porque não simpatizo muito com o clube blaugrana nem com a prodigalidade de elogios que tanto lhe fazem, e ver o Nou Camp sem um pio no final tem bastante graça. E o Inter já não ia a uma destas finais desde os anos setenta, por isso é sempre bom ver emblemas novos. E não esquecer: em Barcelona podem residir o ataque mais poderoso e temeroso e o futebol actualmente mais atraente do planeta (embora o do Benfica se lhe compare), mas o Inter é que inventou o catenaccio, e sabe usá-lo sempre como mais ninguém. Mourinho apenas segue a tradição do clube, conforme atestam os mestres.


Assim, o Barcelona fica a ver a final da Champions na televisão e perde a oportunidade única de erguer a taça em pleno Santiago Bernabéu, casa dos seus rivais e inimigos de sempre. Uma desilusão em terras condais, e um alívio para os merengues.


Em compensação, e para mal do futebol, o Atlético de Madrid, com apenas duas vitórias este ano em competições europeias, vai à final da "Euroliga" com o Fulham. Para trás ficaram o Liverpool e o histórico Hamburgo, que falha também a hipótese de jogar o último jogo em casa, que palco escolhido para o confronto. Atlético de Madrid e Fulham...Que raio de final havia de estar destinada! E pensar que o Benfica podia perfeitamente estar lá. Resta-me desejar boa sorte a Simão Sabrosa.
A greve e a falsa colisão de direitos



O direito à greve é coisa que não me entra na cabeça. Falo em sentido amplo, bem entendido. Que um grupo de pessoas se manifeste por um direito que entende merecer ou contra uma situação presumivelmente injusta é coisa que percebo perfeitamente, mesmo que discorde. O que eu francamente não entendo é o direito à greve tal como está plasmado na actual Constituição. Dá-se mais direitos aos grevistas do que a quem quer trabalhar. E estes últimos podem fazê-lo por uma quantidade de razões, como a de precisar mesmo de trabalhar por atravessar uma situação económica grave, ou não concordar com os motivos da greve. Assim, a permissão constitucional a piquetes de greve é uma aberração completa, que só prejudica quem trabalha. Os "vermelhos" acabam por ter mais direitos que os "amarelos" por razões que deviam ser inversas.


E o mesmo se pode dizer de todos os que são torpedeados pelas greves na função pública. A simples proibição da CRP de não haver alternativas aos transportes públicos é não apenas uma vénia aos senhores que por qualquer razão resolveram parar as suas actividades, mas também uma quebra de compromissos para com os utentes. Um serviço público não é uma agência de empregos nem uma associação sindical: serve para desempenhar determinada tarefa considerada essencial para a fruição da população, para prosseguir uma finalidade considerada necessária, e que exige por isso determinadas atenções. Assim, se aos grevistas é permitido formar piquetes e não se pode assegurar serviços mínimos que permitam que as pessoas se desloquem para os seus locais de trabalho, quando muitas vezes não têm qualquer alternativa, o Estado penaliza quem nada tem que ver com as birras grevistas e ainda tem que aguentar por vezes com penalizações salariais. Por causa de uma pequena classe profissional, como os maquinistas da CP, centenas de milhares de pessoas vêem-se prejudicadas, quando muitas vezes não podem elas próprias "furar" o trabalho. Qual a sua legitimidade, pergunta-se? E já agora porquê a proibição a alternativas? O direito à greve da minoria sobrepõe-se ao direito ao trabalho, à remuneração e ao transporte da maioria? Não sei quais os fundamentos politico-ideológicos de tais preceitos constitucionais que ainda existam, mas bem podiam ser objecto de uma revisão constitucional futura, dada a sobreposição de direitos, que por isso mesmo, nem sequer colidem.

E não esperem os senhores dos sindicatos de transportes públicos qualquer "solidariedade" para com a "sua luta". Quem não respeita os outros não pode pedir qualquer tipo de compreensão.

quarta-feira, abril 28, 2010

Mil


Mil é um número mágico. É sinónimo de grande quantidade, de conta difícil de se fazer. A palavra "milénio" provoca temores e ansiedades - é ver a quantidade de músicas, séries e filmes que a nossa cultura pop produziu na última década, baseada talvez na profecia " de mil passarás, a dois mil não chegarás". É um número difícil de atingir, uma passagem para um estádio superior, uma espécie de dobragem do Cabo das Tormentas.
Este é o post Mil de A Ágora. Mas foram precisos seis anos e tal para isso. É um atestado de experiência, mas também de alguma irregularidade. Tenho por isso algumas dúvidas de chegar aos dois mil posts.

segunda-feira, abril 26, 2010

Antes do título nacional, o europeu

Com a vitória do Braga na Figueira por expressivos 0-4, o título nacional de futebol volta a ser adiado. O Benfica pode conquistá-lo para a semana, no Porto, ou no fim de semana seguinte, frente ao Rio Ave. Entretanto, e para compensar, o Glorioso sagrou-se campeão europeu de futsal, ao vencer o Interviú por 3-2, após prolongamento, no Pavilhão Atlântico. Não sendo o êxtase, tratando-se de futsal, a taça UEFA é ainda assim uma conquista muito agradável e um bom tónico para os próximos dias, no futebol de relva.

sábado, abril 24, 2010

Memórias do futebol trasmontano

A propósito do inédito apuramento do Desportivo de Chaves para a final da Taça de Portugal, Francisco José Viegas recorda tempos idos do clube, quando ainda não jogava na 1ª divisão e os seus adversários eram invariavelmente clubes da mesma região. Também me lembro de ouvir falar de desafios entre o Vila Real e o Desportivo, no velhinho campo do Calvário, um recinto pelado no centro da cidade ainda hoje usado para os escalões de base. Se os jogos não corriam de feição ao "Bila", qualquer condutor que apanhasse a N2, a estrada para Chaves, nem que fosse para ir para a freguesia a seguir, era invariavelmente insultado pelos passantes.


Do Chaves não me recordo dos tempos anteriores à primeira divisão. Lembro-me de alguns históricos, como Paulo Alexandre, Manuel Correia, António Jesus, Karoglan, da trupe de espanhóis, como Toniño e Baston, e dos mais recentesRicardo Chaves João Alves, esse ex-next big thing do futebol português. E das claques "Força Azul-Grenat" e "Frente Flaviense", cujo nome ainda se pode ver graffitado nos viadutos do IP-4. Já não sou do tempo dos épicos confrontos entre equipas nortenhas, e fico mesmo surpreendido ao saber que o Régua usava camisolas em losangos (um padrão que podia fazer moda, ou então influência british dos produtores ingleses de vinho do Porto), mas acho que o fim dos campos de terra, esmagados pelos relvados, é motivo para um requiem.


Hoje, o Chaves está na Honra e em real perigo de voltar à segunda B. O Vila Real vegeta nos distritais, o Régua também, e o Riopele nem equipa tem, actualmente, ainda que a fábrica se mantenha. Raúl Águas, por sinal um bom técnico, já não treina. O que é certo é que nenhuma equipa trasmontana chegou onde o Chaves chegou. E que apesar de todas as antigas rivalidades, todas as pessoas da região, de todos os clubes, se devem regozijar por esta final (e quem sabe, com algo mais). Mesmo em Vila Real.


Imagem de um Chaves-Vila Real, dos anos sessenta. Tirado daqui, onde se pode ver uma descrição mais completa, e um testemunho da rivalidade referida em cima.

terça-feira, abril 20, 2010

Pare, Escute, Olhe




O cinema documental português está de boa saúde e recomenda-se. Depois de Ruínas chegou agora às salas Pare, Escute, Olhe, de Jorge Pelicano, que realizou anteriormente outra-longa metragem, Ainda Há Pastores, entre as serranias e as ovelhas da Serra da Estrela. Mas enquanto Ruínas era estático, este tem uma dinâmica muito própria. O filme, que ganhou o prémio de melhor documentário em longa metragem no DocLisboa de 2009, volta ao interior profundo, desta vez para revelar a morte lenta da Linha do Tua, desde o fecho do troço entre Mirandela e Bragança, em 1990, as atribulações e desesperos da população e as vacuidades do discurso político e das suas promessas.

Faz-se uma cronologia desde os anos oitenta, em que o problema do fecho da linha se colocou, vê-se o habitual ardil das "suspensões nocturnas" sem aviso, ao ponto de se roubar as locomotivas. Passa-se em revista as promessas de desenvolvimento com barragens, os diálogos entre governantes e altos quadros de empresas públicas, discutindo betão, as contradições, a incúria e as tragédias ferroviárias, quando não as havia antes, os estratagemas para se diminuir o número de utentes do comboio, servindo assim de pretexto ao seu encerramento, a submissão dos representantes eleitos que se submetem aos interesses partidários em lugar de defender os locais.
Pelo meio, o testemunho de um rio, de uma paisagem única, a junção de um património humano e natural únicos, ameaçados pela albufeira de uma barragem que não dará nem empregos nem desenvolvimento à região. E vê-se um povo entre o conformismo e a revolta. Nas conversas de café (como no surreal Lucky Luck), nas viagens na automotora, ou nas reuniões com os seus representantes, o trasmontano está lá bem plasmado: rude, directo, frontal, com alguma comicidade à mistura. Personagem transversal ao filme é o Sr. Abílio, antigo funcionário da CP, que goza os dias de velhice à sombra do apeadeiro de Ribeirinha, testemunha do caminho de ferro, do rio e do que se passa pela linha fora, não se fazendo de rogado a dizer o que pensa, por gestos ou palavras.
Também a fotografia e os cenários naturais são magníficos, e há algumas cenas de antologia, como o discurso de Sócrates, falando no "desenvolvimento", quando atrás da sua imagem desfocada e rebaixada se vêm as escavadoras em movimento. contrapondo ao progresso do betão, usa-se mesmo a arma preferida dos seus apologistas: mostra-se o que se passa "lá fora", nos "países civilizados", em que o comboio é usado como meio de transporte e turístico, e faz-se a terrível comparação com o que se passa no Tua. O contraste é coisa para deixar todos os portugueses corados de vergonha.
As minhas expectativas antes de ver Pare, Escute, Olhe eram razoáveis, mas fiquei agradavelmente surpreendido com esta obra melancólica, séria e irónica, tudo ao mesmo tempo. Além de ser um autêntico serviço público e de mostrar mais uma vez a tendência dos portugueses para abandonarem o que é seu em detrimento do que é "novo". Ainda está em exibição. É bom que o apanhem. Mais difícil será apanhar um comboio da linha do Tua. Mas quem sabe...

domingo, abril 18, 2010

O Marechal




Passou há uma semana o centenário do nascimento de António de Spínola, o homem que recebeu o poder das mãos de Caetano a 25 de Abril de 1974. A sua curta carreira de chefe de estado tê-lo-à tornado mais famoso, mas não será só isso que ficará para a história. Spínola foi das últimas figuras românticas de Portugal, na sua figura de militar respeitado pelos mais próximos, de comandante militar idolatrado pelos soldados, suspeito aos olhos das cúpulas do Estado Novo, e visto como um inimigo e um alvo a abater pela deriva esquerdista do PREC. A sua vida daria um livro talvez mais empolgante do que a extensa biografia de Luís Nuno Rodrigues. Entrou ainda muito cedo para o Colégio Militar (de onde tomou a alcunha "Caco"), enveredou pela carreira das armas e chegou a ser observador da frente alemã no cerco de Leninegrado, em 1941, numa equipa de observadores integrada na Divisão Azul espanhola - se não me engano também teve funções semelhantes na Guerra Civil de Espanha. O espírito castrense devia ser algo de genético, já que a sua família paterna, da Madeira, provinha dos Spinolas de Génova, que dominaram aquela república marítima e da qual saíram notáveis vultos militares, como Ambrogio Spinola, general dos Tercios espanhóis que Velazquez imortalizou na Rendição de Breda.

Como se sabe, subiu na hierarquia militar, como oficial de cavalaria, comandou tropas em angola, durante a guerra colonial, e chegou a governador militar da Guiné. O respeito pelos militares e a popularidade que granjeou vêm daí, das suas ideias federalistas e dos seus discursos nas selvas, bem como da publicação de Portugal e o futuro, já em rota de colisão com as posições coloniais do governo de Marcelo Caetano. logo a seguir deu-se a 25 de Abril, a sua breve presidência, à frente da Junta de Salvação Nacional, e o afastamento, em ruptura com a deriva esquerdista do PREC. O que se seguiu, no exílio em Espanha e no Brasil, terá sido porventura a sua menos conseguida e popular fase, quando apoiou e chefiou o MDLP e algumas actividades bombistas, muito embora a sua ideia fosse democratizar o país. Regressou com o fim das convulsões, pela mão de Mário Soares, que o nomeou chanceler das antigas ordens militares portuguesas, adquirindo uma espécie da aura de figura tutelar, embora decorativa, do regime - recebeu por isso mesmo o bastão de Marechal.

Spínola ficará sempre como uma figura controversa, pelo seu papel como mentor do MDLP e da "Maioria Silenciosa", como presidente da Junta de Salvação Nacional e primeiro chefe de estado pós-25 de Abril, pela sua carreira militar e pelas suas ideias de fazer uma Commonwealth à portuguesa. Uns vêem-no como traidor ao Estado novo, outros ao 25 de Abril, outros como um lírico irrealista, outros ainda como um visionário e uma carismático líder. Com o passar dos anos, essas discussões tendem a esbater-se, e a figura de Spínola institucionalizou-se, tendo sido inaugurada, no dia em que faria cem anos, uma avenida em Lisboa com o seu nome (muito embora fosse mais um pretexto do centenário, porque a artéria já existia com esse nome há seis anos).

Da minha parte, e embora as suas actividades à altura do PREC fossem mais que discutíveis, tenho pena que as suas ideias para as colónias não fossem experimentadas, ou ao menos discutidas. Mas quando olho para a sua inconfundível figura não posso deixar de pensar que o posto/título de Marechal dificilmente seria melhor atribuído. Acima de tudo, e embora só nos anos oitenta tenha recebido a distinção (pela antiga condição de chefe de estado), Spínola, com o seu monóculo, o pingalim, o sobretudo militar e as luvas na mão, que tanto recordava os oficiais alemães da 1ª Guerra, era, efectivamente, O Marechal.
 

quarta-feira, abril 14, 2010

Os "termos errados" de Bava




O video já andava por aí há uns dias, mas não quis deixar também de mostrar a "portugalização dos conteúdos" de Zeinal Bava, o presidente executivo da Portugal Telecom, que está preocupado apenas com um termo errado. Se a aposta na portugalidade se exprime em semelhantes e constantes anglicismos, mais valia convidar Gordon Brown para presidir ao Instituto Camões, até porque ele arrisca-se a ficar desempregado brevemente.

segunda-feira, abril 12, 2010

Uma nação trágica

O desastre aéreo que vitimou Lev Kaczynski, a sua mulher, o estado-maior polaco, o presidente do Banco da Polónia e inúmeras figuras de relevo, entre as 98 que pereceram, é mais uma das muitas tragédias que ensombram aquele país. Desaparecida por várias vezes, retalhada pelos vizinhos, local de campos de extermínio e pogroms, planície esmagada pela invasão nazi e a contra-invasão soviética, a Polónia sempre sofreu os maiores horrores a que a humanidade se dedicou. A comitiva polaca ia homenagear as vítimas de Katyn, setenta anos após essa outra desgraça polaca, em que os soviéticos assassinaram a tiro mais de vinte mil oficiais e civis polacos. Um erro humano, alguma inadvertência e as condições climatéricas consumaram o desastre. Assim desapareceu boa parte da elite da Polónia, muito perto do local onde iam homenagear esses outras membros de outra elite, de outro tempo. Como disse o ex-presidente Knaswievski, Katyn e a sua envolvente são malditos para os polacos.


Não era admirador de Kaczynski, da sua política de caça às bruxas (em conjunto com o seu gêmeo Jaroslav), que persrguiu gente tão insuspeita como Bonislw Geremek, ele próprio desaparecido recentemente num desastre de viação, e até Walesa, e do seu eurocepticismo, olhando sempre para a Europa (sobretudo a Alemanha) e a Rússia como inimigos, embora a história a isso aconselhasse. Mas um fim assim, em tais circunstâncias e naquele lugar, não deixa de chocar pela coincidência. Como é óbvio, já surgiram as teorias de conspiração apontando para a Rússia. Não creio que os russos estivessem minimamente envolvidos nisto. Mas o contexto e os envolvidos ajudam. Os caçadores de teorias conspirativas devem esfregar as mãos de contentes. E a Polónia soma mais uma tragédia à sua história, da qual, mais do que qualquer outro país, sobejam tragédias humanas.

domingo, abril 11, 2010

A ressaca de Liverpool


No percurso brilhante do Benfica esta época, a derrota em Liverpool acabou por ser atípica. Há meio ano que o SLB não perdia um jogo, em prova alguma. E mesmo assim, a dez minutos do fim estava a um golo de se classificar. A disposição dos defesas, em que apenas Luisão estava no seu lugar, a deficiente condição física de alguns jogadores, um guarda-redes inexperiente contribuíram para o resultado. Depois, um Liverpool com absoluta necessidade de ganhar e um Fernando Torres com espaço fizeram o resto. O segundo e terceiro golo são excelentes e rapidíssimas jogadas de contra-ataque, com trabalho estudado de equipa e passes de primeira. O Benfica, que até tinha começado bem, teve uma ou outra oportunidade desperdiçada e marcou com um livre directo superiormente executado por Cardozo. Depois veio o tal lance em que Júlio César sofreu um traumatismo craniano, e um Moreira ainda frio apanhou com o golpe final do espanhol do costume. Acabou aí o jogo e a eliminatória. O Benfica sofria um desaire justo mas demasiado pesado para o que se passou em campo. Arriscou e pagou por isso.



Claro que não é por essa razão que a boa carreira europeia, que teve o auge na vitória em Marselha, será esquecida. É pena, mas não mais do que isso, embora o número seja desagradável. É bom não esquecer que só à quarta tentativa é que Rafa Benitez conseguiu não perder com o Benfica. O confronto recordou algumas páginas dos anos oitenta, em que o clube da cidade dos Beatles era então a equipa mais forte da Europa, e se defrontou com o Benfica por várias vezes, sempre levando a melhor. Mas apesar da superioridade dos ingleses, nem por isso a equipa portuguesa ficou desprestigiada ou esquecida, como testemunhou há dias o mítico Ian Rush, fenomenal avançado e símbolo do Liverpool daqueles tempos. Há quatro anos, os Reds eram campeões europeus, mas dois golos fabulosos de Simão Sabrosa e Micolli fizeram estrondo perante o público da Kop. Agora, aconteceu o inverso da medalha. A prioridade era o campeonato, como Jorge Jesus se fartou de dizer, mas é sempre pena perder assim.


Fica o amargo de boca, a convicção de uma boa campanha europeia, e a confirmação de que Saviola faz mesmo imensa falta. Facto curioso: Cardozo, com dez golos, ainda pode acabar como o melhor marcador da Euroliga deste ano.

sexta-feira, abril 09, 2010

Ruínas




Há nas salas de cinema um ou outro filme que vale a pena ver. Mas o que diz mais à nossa memória colectiva é sem dúvida Ruínas, de Manuel Mozos, vencedor do último festival Doc Lisboa 8infelizmente só em exibição no cinema King, em Lisboa, e no Teatro do Campo Alegre, no Porto). Talvez ganhasse alguma coisa se identificasse os lugares por onde passa, mas mesmo assim é precioso. Do Cemitério do Prado do Repouso até ao enorme sanatório das Penhas da Saúde, passando por estalagens abandonadas, pelo Douro e pelo restaurante panorâmico do alto de Monsanto, são os restos, outrora prestigiados, de um país que abandona as suas memórias e o seu património e troca o velho, ainda que mais interessante, pelo novo. Uma fatalidade que desde sempre percorreu este país, na sua ânsia de querer parecer moderno e igual ao que vinha "lá de fora". É o Portugal esquecido e ultrapassado, mas com traços físicos que fica para trás, ultrapassado por novos elementos passageiros, que se transformarão um dia, também eles, em ruínas.

domingo, abril 04, 2010

Páscoa

"E no primeiro dia da semana, muito de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado, e algumas outras com elas. E acharam a pedra revolvida do sepulcro. E, entrando não acharam o corpo do Senhor Jesus. E aconteceu que, estando elas muito perplexas a esse respeito, eis que pararam junto delas dois homens, com vestes resplandecentes. E, estando elas muito atemorizadas, e abaixando o rosto para o chão, eles lhes disseram: Porque buscais o vivente entre os mortos? Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos como vos falou, estando ainda na Galiléia, dizendo: Convém que o Filho do Homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e seja crucificado, e ao terceiro dia ressuscite. E lembraram-se das suas palavras.

E, voltando do sepulcro, anunciaram todas estas coisas aos onze e a todos os demais."
Mateus 24, 1 a 9.

sexta-feira, abril 02, 2010

Novo rumo laranja
As eleições para a liderança do PSD foram há já uma semana. Como não trouxeram novidades substanciais, nem sequer referi o assunto, mas não resisto a deixar umas notas.
A vitória de Pedro Passos Coelho sentia-se à légua, mesmo que a sua dimensão possa espantar. Quem tem as "bases" como ele tinha não precisa de temer grandes percalços. Quando as principais distritais, zonas de forte implantação laranja, como Viseu, Leiria ou Vila Real, e régulos partidários como Fernando Ruas ou Marco António apoiam o mesmo candidato, é certo e sabido que será este o vencedor. Mesmo que a Madeira fique de fora. Aliás, as reprimendas de Passos Coelho a Jardim deram-lhe ainda mais apoio, enquanto que algumas atitudes de Paulo Rangel, a começar na facadinha a Aguiar Branco, não caíram bem no partido, tivesse ele o "baronato" que tivesse.
Impressionou-me apenas a baixíssima percentagem de votos de José Pedro Aguiar Branco. Os apoios de Rui Rio e Agostinho Branquinho não foram suficientes para descolar de uma votação residual. Poucos viam nele um líder carismático necessário para levar o partido ao poder. Quanto a Castanheira Barros, a sua candidatura não era para levar a sério.
Fico na dúvida se Rangel saiu reforçado, com aura de alternativa ou "futuro líder", ou se pelo contrário, não acabou chamuscado, desperdiçando o capital que ganhara com a vitória nas Europeias. Pode ser que tenha ganho pelo menos notoriedade, e a sua candidatura seja uma base para voos futuros. Mas antes de mais deve permanecer em Estrasburgo, crescer como político, corrigir erros e ganhar experiência. Não será de todo negativo para ele alguns anos na sombra. Rangel precisa de aprender a conter-se e a conter os seus discursos. Será um bom político se conservar as suas ideias e o deslumbramento inicial lhe passar.
E como será o PSD passoscoelhista? Não creio que o novo rumo liberal fosse a razão de tantos apoios internos. Dificilmente se pode ver o liberalismo, mesmo o de costumes, como uma ideologia popular em Portugal. Poderá refrescar o partido e levar-lhe novas caras, mas como alternativa de governo levanta algum cepticismo. Até porque se arrisca a confundir-se com o actual PS, e Passos Coelho com um Sócrates mais simpático. Como é óbvio, as ideias liberais irão esbater-se, quando a necessidade de ganhar votos vier ao de cima (lembram-se do choque fiscal de Durão Barroso?).
Gostava também de saber o que pensa Paulo Portas disso. À parte o caso dos submarinos, o líder do CDS-PP deve achar este rumo do PSD muito interessante. Dizia um jornal há meses que Portas estava à espera da vitória interna de Passos Coelho para "partir a espinha ao PSD". Exageros à parte, poderá ver uma oportunidade de roubar votos à direita, ao eleitorado mais conservador e desconfiado da liderança laranja. Não creio que os populares se tornem no maior partido de direita. Mas se o PSD roubar suficientes votos ao PS para o suplantar, precisará mais uma vez do CDS-PP para formar governo. E desta vez o partido de Portas terá mais peso do que no tempo de Barroso.