sábado, setembro 26, 2015

Esclarecimento


Estando a meio da campanha, a uma semana das eleições, impõem-se alguns esclarecimentos. Escrevi há dias um post sobre os novos partidos que se apresentam às urnas a 4 de Outubro. Não falei sobre os que já cá estavam, por serem sobejamento conhecidos, sobretudo os que têm assento parlamentar. Mas há um de que falarei nos próximos dias: o MPT - Partido da Terra. A razão é a de que o autor deste blogue está nas listas do partido pelo círculo do Porto, e obviamente reconhece-se nos princípios básicos defendidos. Ecologia e desenvolvimento sustentável, à partida, liberalismo social, no sentido de que o estado deve ser pessoa de bem, não uma entidade burocrática e todo-poderosa que esmaga os cidadãos e lhes faz um assédio fiscal aviltante (quando não realiza penhoras injustificadas, por vezes contra a lei), e humanismo. Há várias correntes, mas encontram-se todas nestes pontos.

A maior performance eleitoral do MPT coincidiu, como se sabe, com um momento mais infausto, o da participação de Marinho "e" Pinto, que quando viu que não conseguiria o domínio total do partido, desvinculou-se imediatamente para criar o seu próprio PDR. Eurico Figueiredo, veterano destas lides e sempre pronto para novos desafios, seguiu-o, mas assim que percebeu o que seria o PDR, deixou-o para trás para ser cabeça de lista pelo Partido da Terra pelo Porto. Uma boa aquisição, em boa hora. A sua greve de fome contra uma penhora ilegal e a recusa das finanças em cumprir uma ordem judicial pretendia acima de tudo chamar a atenção contra um sistema fiscal bulímico e opaco, e teve alguma repercussão, ainda que com algumas críticas injustas, como a de Luís Osório, ao comparar o streap tease voyeurista de Joana Amaral Dias com o sacrifício de uma greve de fome de uma pessoa na casa dos setenta, com o seu idealismo e o seu voluntarismo. E ouras acções se seguirão. De resto, o MPT tem candidatos interessantes e muito activos na sociedade civil, e alguns apoios de monta, como o de Carmona Rodrigues, ex-presidente da CM e Lisboa, ou Mário Frota. Os recursos podem ser escassos, mas a vontade e os valores são grandes. Esperemos que vinguem.


segunda-feira, setembro 21, 2015

Corbyn e o isolacionismo britânico



Há inúmeras razões para se ficar espantado com a eleição de Jeremy Corbyn para a liderança do Partido Trabalhista britânico. Desde logo, porque já com Ed Miliband o partido tinha virado mais à esquerda, com os resultados que se conhecem. A anterior grande deriva esquerdista, da autoria de  Michael Foot, em 1983, teve resultados calamitosos, e grandes líderes trabalhistas, como Atlee, Wilson, e porque não dizê-lo, Blair, não eram especialmente radicais. Depois, porque várias questões mais "esquerdistas" tinham sido tomadas por novos partidos, como os Verdes, o mais radical Respect, e até o SNP da Escócia ou mesmo os liberais-democratas pré-coligação governamental. E acima de tudo porque boa parte da base em que assentava o "velho" Labour mudou completamente, como as chamadas "classes trabalhadoras", ou quase desapareceu, como a indústria mineira, da qual existem uns rudimentos saudosos.

Mas o que me espanta mais são algumas opiniões de Corbyn do que devem ser as relações internacionais do Reino Unido (que provavelmente preferiria que fosse república unida). Simpatia pelo Hamas e Hezbollah, apoios ao desaparecido Hugo Chávez, defesa do IRA, recusa em qualquer intervenção contra o chamado "Estado Islâmico", e um sentimento isolacionista eurocéptico e anti-NATO (agora já o disfarça, mas em anteriores discursos pronunciou-se tanto contra a UE como contra a NATO, com o desejo de as deixar). Nesse aspecto, o país seria efectivamente uma ilha, a não ser que planeasse algum projecto comum com a Venezuela ou outros estados com igual credibilidade. Sair da UE já traria custos económicos elevados (que opinião apoiará no referendo anunciado de 2017?). Sair da NATO, então quebraria o elo com os Estados Unidos que já dura há décadas - e que segundo McMillan e todos os que se lhe seguiram, era a melhor forma de substituir o império perdido - e com outros aliados e tornaria o Reino Unido irrelevante e à mercê de qualquer ameaça, a começar pelos territórios ultramarinos, embora o novo líder da oposição britânica pareça suficientemente lunático para considerar que as  Falklands deveriam ir para a Argentina mesmo contra parecer dos seus habitantes. Se o futuro do Labour com Corbyn já seria incerto, com estas ideias de política externa não é mesmo de crer que vá muito longe. Cameron e os Lib-Dem devem andar a correr todos os pubs para festejar a nova liderança trabalhista.

quinta-feira, setembro 17, 2015

O essencial sobre os refugiados sírios



Diminuíram um pouco esta semana, como tudo o que é meditático e tem de dar lugar a nova onda noticiosa. Mas continua a divisão a propósito dos refugiados de guerra, sobretudo sírios, e terá forçosamente de continuar. Não é apenas uma moda passageira: é a realidade a bater-nos à porta. Por isso mesmo, fico perplexo com a quantidade de campanhas anti-refugiados, misturando assuntos que nada têm a ver uns com os outros e comparações absurdas e informação descontextualizada ou simplesmente falsa. Basta andar pelas redes sociais para ver vídeos de manifestações de radicais islâmicos em cidades europeias ou de supostos refugiados a espalhar o caos, perguntas tão inteligentes como "porque é que eles não vão para a Arábia Saudita, que tem afinidades com eles?", ou "a Noruega é que é um exemplo, não constrói mesquitas enquanto a Arábia não deixar construir igrejas". O primarismo destas campanhas, bem ao estilo de grupos xenófobos, como o nosso PNR doméstico, é facilmente desmontável com uma breve leitura dos acontecimentos, como esta, ou uma pesquisa sobre a Síria. Infelizmente, parece que muita gente ainda julga que os refugiados sírios, sendo na sua maioria muçulmanos (mas não na totalidade), são todos um bando de fanáticos que pretende pôr bombas pela Europa fora, ou que os infiltrados do chamado "Estado Islâmico" são aos milhares.
 
Convinha saber que esta gente foge em grande parte devido precisamente ao "Estado Islâmico", sobretudo se são cristãos, xiitas, yazidis ou curdos de várias denominações. Noutros casos, foge da repressão da regime de Assad, dos jiadistas da frente Al-Nusra ou muito simplesmente de fogos cruzados e da destruição que assola a Síria há quatro anos. Essa parte será importante para quando surge a sacrossanta pergunta "então e os nossos? Tanta gente com privações ou sem casa e vamos ajudar os outros"? É muito louvável que se queira ajudar "os nossos", mas o problema não é certamente o mesmo: "os nossos" não têm grupos inimigos a disparar em todas as direcções, não vivem entre escombros de guerra e fogos cruzados, bombas ou fanáticos que matam todos à sua frente. Entre pobreza e guerra vai uma grande diferença.
Depois, os sírios não são todos muçulmanos. Parte significativa é cristã (são mesmo das comunidades mais antigas, com alguns falantes de aramaico bíblico) e entre os muçulmanos há inúmeras divisões. A brecha entre xiitas (alauítas, que dominam o poder e as forças armadas) e sunitas nota-se aqui particularmente, e o Irão e as monarquias do Golfo apoiam os respectivos aliados. Mas sejam muçulmanos, cristãos, drusos ou outros, o direito a serem assistidos é o mesmo.
Ah, e as comparações com a Arábia Saudita. Como se a Síria, com o regime castrador e violento que apesar de tudo tem, se lhe comparasse. Além de estar longe de ser unirreligioso, como o pais da dinastia Saud, e de serem proibidas manifestações públicas de outras religiões que não a sunita, não teve a sharia como lei de estado, nem consta que seja um hábito dos sírios, e o regime baathista sempre impôs uma laicidade sob uma cultura mais muçulmana. Não faltam igrejas, na Síria, e só mesmo por puro desconhecimento é que se considerará que a cultura entre os dois países é assim tão idêntica.
 
Por isso, quando virem campanhas sobre o perigo da islamização via sírios, é melhor desconfiar e ver as fontes. Nalguns casos, as mesmas até podem ter sido usadas, como o autor do vídeo em que se viam refugiados a recusar ajuda da cruz vermelha por causa exactamente da cruz. Até que se descobriu que o motivo nada tinha a ver com isso, mas com o facto de estarem há horas sob chuva intensa.
 
E para os que invocam "valores cristãos" para se opôr a todos os que fogem à guerra, recordo a leitura da epístola de Santiago, lido na homilia do último Domingo: "Que proveito há, meus irmãos se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Porventura essa fé pode salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso? Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma"

sexta-feira, setembro 11, 2015

Sobre migrações sírias



A propósito do "perigo de invasão islâmica" supostamente provocado pela vinda de refugiados sírios para a Europa, relembro que em tempos houve um outro grande fluxo migratório desse povo (e de vizinhos libaneses). Destino? Brasil. Instalaram-se sobretudo em S. Paulo, prosperaram, e hoje em dia constituem na sua maioria parte integrante da elite económica, social e política do Brasil. Não consta que lhes tenha dado para o terrorismo (a alguns, como o sr. Maluf, deu-lhes para a corrupção) nem para gangues de favela, e até houve sírios que inspiraram personagens de telenovelas famosas..



quarta-feira, setembro 09, 2015

Guia nada imparcial ou isento dos novos partidos para as eleições de 2015





Depois do Livre (e em certa medida do MAS, que é antes um reaparecimento da FER), temos o PDR e o também já cogitado Nós, Cidadãos, e outros, como formações políticas alternativas ao quadro existente até 2015. Vamos dar uma vista de olhos.


O Livre é a formação que demorou mais tempo a fermentar. É uma ideia com algum tempo, que Rui Tavares ia anunciando nas suas crónicas jornalísticas, desde que rompeu com o BE. Ou seja, um partido que nasceu aos poucos, pretendendo ser uma esquerda com quem o PS se pudesse coligar. Encontrado o nome, juntou-se-lhe alguns "dissidentes" mais moderados do Bloco, o grupo Manifesto, que contava com Daniel Oliveira e Ana Drago, a Renovação Comunista, um conjunto de figuras  públicas - actores, advogados como Sá Fernandes, políticos retirados como José Tengarrinha - e acrescentando o sufixo "Tempo de Avançar" e feitas umas primárias inovadoras mas estranhas (os candidatos a deputados podiam candidatar-se por três círculos diferentes), o Livre aí está, pronto a bater-se à esquerda para poder servir de eventual suporte a um governo PS. A avaliar pelas sondagens, não será fácil. Não há dúvida que é uma alternativa diferente, menos ideologizada, com menos teias de aranha, sem a presença de grupos com heranças de totalitarismos idos, mas a verdade é que o Bloco, no seu início, também apresentava uma imagem semelhante. Em todo o caso, há diferenças entre as duas formações. É importante que haja, já que o eleitor-alvo do Livre é claramente o moderado do BE ou a esquerda desiludida do PS.


O Nós, Cidadãos é um movimento que acompanhei desde a sua génese até à sua legalização, muito recente. Um grupo que partiu do Fórum da Democracia Real, dando origem a um movimento com denominação despolitizada, centrista, reclamando candidaturas de cidadãos ao parlamento, tal como acontece nas autarquias, e baseando-se em parte (como o nome e as cores o comprovam) no Ciudadanos espanhol. Tem como mentores Mendo Castro Henriques, Pedro Quartim Graça (ex-líder do MPT), Rui Rangel, Rosário Epifânio, entre outros, e apoiantes como José Cid. Tem também inúmeros seguidores nas redes sociais, embora, pelo que observei, muitos deles com ideias claramente contraditórias (apelos à abstenção, por exemplo), populistas, ou de simples conversas de café, talvez por em alguns pontos o movimento ser ainda nebuloso ou não se decidir se é europeísta ou não. A ver vamos.


O Juntos Pelo Povo nasceu e alcançou notoriedade na Madeira, conquistando a câmara de Santa Cruz nas últimas autárquicas. Diz-se um movimento nacional por causa da proibição da existência de partidos regionais, por isso as suas possibilidades fora do arquipélago são um enigma. Chegou-se a pensar que concorreria apenas na Madeira coligado com o Nós, Cidadãos.


O PURP - Partido Unido dos Reformados e Pensionistas, criado para defender esse nicho de pessoas, lembra-me outra sigla: PSN, tido no seu tempo, precisamente, como o "partido dos reformados". Chegou surpreendentemente ao parlamento, com Manuel Sérgio, e depois eclipsou-se. Com esse antecedente (até o símbolo, um sol, é igual) e a profusão de partidos que há agora, tenho sérias dúvidas que este PURP tenha grande sucesso.


Depois temos uma das candidaturas mais bizarras que tenho visto nos quarenta anos do actual regime: a coligação Agir. Começou por se chamar Juntos Podemos, uma cópia do partido de Espanha com o mesmo nome, em tudo igual, tendo como figuras de proa Joana Amaral Dias, Nuno Ramos de Almeida e Carlos Antunes (esse mesmo, o das Brigadas Revolucionárias). Mas ainda antes de ser legalizado houve uma cisão com o grupo dos precários de João Labrincha e acusações de que o movimento estava a ser sabotado pelo também recente MAS (a antiga ala esquerda do Bloco, de Gil Garcia), que enviaria militantes para votar nas assembleias do movimento. Amaral Dias e Nuno Ramos de Almeida resolveram então criar o AG!R (assim mesmo, com ponto de exclamação), mas talvez por falta de tempo para o legalizar, coligaram-se com o PTP (sim, de José Manuel Coelho e o do "ninja de Gaia), por sinal fundado por ex-militantes do PSD, ao qual se juntou não oficialmente o regionalista PDA, tido em tempos como de direita, e calcule-se, o MAS e o tal grupo dos precários - após a necessária reconciliação, imagina-se. Para além desta salada russa toda, a notoriedade não vai faltar com a já célebre capa de revista em que Amaral Dias surge nua e grávida, amparada pelo seu namorado, que provocou uma pequena tempestade mediática e desconforto dentro do próprio movimento. Duvida-se é que dê muitos votos. Segunda a própria, a gravidez de risco impede-a de fazer grande campanha eleitoral, por isso perde-se a oportunidade única de a ver em arruadas com José Coelho, até porque é pouco provável que um cocktail partidário deste tipo dure muito tempo.


E por fim, o PDR, Partido Democrático Republicano, do qual Marinho (e) Pinto é dono e senhor. A denominação lembra a de outro partido que dominou Portugal na 1ª república, cujo chefe incontestado era Afonso Costa, que tal como o ex-bastonário, era pouco dado a contraditórios e ideias com as quais não concordasse. Felizmente, Marinho (e) Pinto não domina as forças policiais. Mas além de fundar o novel partido à sua medida, depois de abandonar à pressa o Partido da Terra, pôs todo o tipo de barreiras a listas com as quais não concordava, o que levou à saída de Eurico Figueiredo e a mais uns quantos. Passou assim a dominar a formação (cujo mote é "liberdade, justiça e solidariedade") e candidatou-se por Coimbra, onde reside, garantindo que se fosse eleito abandonaria o Parlamento Europeu (que já zurziu por causa dos vencimentos dos eurodeputados, que continua a auferir). Como as sondagens não o aproximam sequer do número mínimo de votos para chegar a S. Bento, ganhou o pretexto ideal (ou chico-esperto) para permanecer em Estrasburgo. Ainda assim, e dada a notoriedade que ganhou, mesmo que tenha perdido popularidade, é provável que o PDR consiga um ou outro lugar na AR. Veremos por quanto tempo. É que se o PURP parece ser o novo PSN, o PDR assemelha-se a um neo PRD, outro partido semi-populista, constituído por trânsfugas de outras formações, com o objectivo de "moralizar a política portuguesa", e baseado em torno de uma figura com notoriedade. Sucede que o PRD tinha mais apoios e era o partido de Ramalho Eanes, na altura ainda chefe de estado, que tinha bem mais impacto e popularidade que Marinho (e) Pinto. Como sabemos, o PRD teve uma aparição estrondosa, com mais de quarenta deputados, mas esvaziou-se com o rápido passar do tempo, e meia dúzia de anos depois, já sem Eanes, perdia toda e qualquer representatividade, sendo ainda mais tarde tomado pelos nacionalistas (sim, o PNR). O efeito Marinho (e) Pinto pode muito bem ter-se esgotado nas últimas europeias.

domingo, setembro 06, 2015

Mais hipocrisias e o peso da história



Ainda reportando ao post anterior, se há coisa que me irrita profundamente é a eterna tentativa de culpabilizar ocidente por tudo quanto se mau há no mundo, como se outras civilizações fossem compostas por seres celestiais e amigáveis, onde não há maldade nem cobiça. Ao mesmo tempo, reconheça-se que o ocidente, muito embora seja motivo de inveja para outros, teve sérias responsabilidades (não equitativas entre os vários estados) nalguns dos piores problemas que o Mundo atravessa hoje.


Nesta crise de refugiados do Médio Oriente, há um país, em particular, que teve seríssimas responsabilidades e que é o primeiro a fugir delas: o Reino Unido. Em 1920, prometeu, pelo Tratado de Sèvres, um estado ao povo curdo, anulado pelo Tratado de Lausanne, de 1923, que riscou essas aspirações. No Mandato Britânico sobre a Mesopotâmia, até praticamente aos anos 40, juntaram sunitas, xiitas, assírios, curdos e outros no mesmo território que se tornaria no Iraque. Mais uma vez, a ideia de um estado do Curdistão ficou anulada. Muito mais tarde, os britânicos foram um dos esteios da invasão do Iraque de 2003, com os resultados conhecidos, e da Líbia, em 2001, e que indirectamente é uma das causas do êxodo de populações para a Europa. Verifica-se entretanto que é precisamente o Reino Unido um dos países mais renitentes e até hostis a receber refugiados, aproveitando-se talvez da sua condição semi-insular para os rechaçar, o que levou ao enorme acampamento em Calais. Depois de todas as suas responsabilidades nesta fuga em massa de África e do médio Oriente, as autoridades do pais que ergueu o maior império ultramarino de sempre, com possessões em todos os continentes, fecham-se a todos os que procuram auxílio, ao passo que os alemães, sempre tidos como os maus da fita europeus, perpetuamente recordados pelo seu papel funesto nas Guerras Mundiais, mas que não tiveram grande responsabilidade na actual situação, são os que mais lhes abrem os braços. Dá que pensar.



PS: exemplo flagrante do que escrevo no início do post é a recusa de outros países mais a Sul, sobretudo na Península Arábica, em receberem refugiados. Enquanto que no Líbano e na Jordânia esgota-se a capacidade de receber mais gente, os árabes do Golfo continuam a sua política de egoísmo extremo, ao fechar as suas fronteiras a quem foge da guerra (na qual esses mesmos estados têm evidentes responsabilidades). Se esta gente exigir algum tipo de solidariedade no futuro, para eles ou para outrém, que isto sirva de memória posterior.

quinta-feira, setembro 03, 2015

Hipocrisias e "raízes dos problemas"


No meio da vaga de refugiados de África e do médio Oriente que afluem à Europa e por ela tentam circular, nos apelos ao auxílio e nas formas de o fazer, ouço imenso falar na necessidade de atacar na raiz as causas que levaram à actual situação. Não me refiro à guerra no Iraque (que responsáveis políticos como Jerónimo de Sousa e Catarina Martins usaram à exaustão num questionário recente para falar nos refugiados, tentando tirar daí óbvios dividendos políticos), nem sobretudo à guerra na Síria, mas áquela conversa de que "se não tivessem derrubado Kadhafi não havia tanta gente a atravessar o Mediterrâneo". É verdade. O ditador líbio era um tampão à emigração subsariana e tentou usar isso como negociação e chantagem. Mas se não morriam no mar, milhares de pessoas morriam no deserto ou eram recambiados paras as terras de onde fugiam. Falar no antigo regime líbio como um bom instrumento para conter vagas migratórias não passa de outra hipocrisia bem-pensante para acalmar consciências. A diferença é que não teríamos de ver tantas imagens de miséria. Isso mesmo que a Europa esteja longe, bem longe, de ser a única que devia acolher tantos refugiados (outra hipocrisia). Pergunto-me o que farão as riquíssimas monarquias do Golfo Pérsico nestes casos.

Mas falando ainda na resolução deste problema indo às suas raízes, será este um bom exemplo de como o fazer, entre outros?