quinta-feira, abril 28, 2011

Escolheram bem o dia


Há publicações que ou sofrem de falta de oportunidade, ou então lançam provocações propositadas, disfarçando a coincidência: no Domingo de Páscoa, dia da Ressurreição, do triunfo da Vida sobre a Morte, é que a Pública decide fazer uma reportagem (com direito a capa) sobre o suicídio assistido e a "necessidade de se lançar o debate"?!? Não havia mais domingos disponíveis ou apeteceu-lhes "quebrar tabus"?

quarta-feira, abril 27, 2011

A foleirização da bancada do PS



José Lello escreveu, na sua página de Facebook, que Cavaco Silva era "um presidente foleiro". Já se sabe que deste porta-voz das mensagens (ainda mais) sujas de Sócrates não se pode esperar grande coisa, mas mesmo assim não deixa de espantar pela leviandade. Em sua defesa, Lello diz que escreveu "involuntariamente", que se soubesse que era pública diria que "o presidente devia ser mais abrangente nos seus convites"...involuntariamente, quando se publica numa página visível por milhares? Além de grosseiro, o deputado do PS faz das pessoas parvas com as suas desculpas esfarrapadas.



Cheguei a achar que possuía um certo sentido de humor quando todos os anos, no Expresso, dedicava sempre livros a determinadas personalidades que se identificassem com os seus títulos. Provavelmente limitava-se a procurar em catálogos. Mas a situação não incomoda apenas por causa de Lello, que já nos habituou às suas faltas de respeito e aos seus truquezinhos: o problema é que grande parte dos deputados dos principais grupos parlamentares não são assim tão diferentes. A grosseria e a crispação instalaram-se em S. Bento, em boa parte devido ao estilo de Sócrates, mas sem pinga de irreverência ou humor que caracterizavam gente como Francisco Sousa Tavares ou Natália Correia. Os funcionários partidários promovidos à cadeira limitam-se a espalhar ditos sem graça e sem nível. Neste particular, o PS tem dado o maior exemplo, e a sua bancada é uma sombra de antigamente. Vejam-se os principais candidatos pelo Porto: além de Lello, temos ainda o eterno bonzo Alberto Martins e o deprimente Renato Sampaio, outro yes man que mal sabe escrever e cuja ideia mais brilhante que se lhe conhece foi a proposta de proibição de piercings. Safa-se Francisco Assis e pouco mais. Apesar de tudo, ver Ferro Rodrigues e Basílio Horta naquela bancada será um oásis naquela manada de gentinha rasca, constituída por Lellos, Renatos e Telmos. E faço figas para que os outros grupos parlamentares sejam, como me parece que são, bastante melhores.



domingo, abril 24, 2011

O discípulo traído



Na Semana Santa, a notícia de que há um traidor entre um grupo que entrega o meste não podia ser mais oportuna. Mas neste caso, o Judas confunde-se com o Mestre: depois de usar o discípulo para as tarefas mais espinhosas, eis que, quando este assume a única opção possível ao abismo, acaba traído e apunhalado pelos outros - ou remetido ao silêncio.





Fernando Teixeira dos Santos decerto terá aprendido uma grande lição nos últimos dias, antes de se regressar ao seu lugar na Faculdade de Economia do Porto. Espero que o país também, e que os eleitores decidam por fim que o oportunismo puro e a falta de princípios total tenham um custo.


Boa Páscoa a todos.

sexta-feira, abril 22, 2011

A época acabou


Aguento muita coisa, mas não tudo. Desde Agosto que já tive de ver e ouvir muito. Mas esta última é demais. Bem sei que o Benfica 2010/2011 torto nasceu e por isso não podia endireitar-se. Mas uma coisa é não ganhar o campeonato; outra é ficar privado de ir ao Jamor depois de uma primeira mão com vantagem confortável. O jogo da Luz foi mau demais; os dois meses de distância entre duas mãos revelaram-se fatais. Na última semana, o Benfica perdeu Salvio e depois Gaitan, as autênticas "asas" que moviam o seu jogo. Sem eles, perde qualquer eficácia ofensiva. E quando sofreu os golos a equipa mostrou-se apática, sem ideias; quanto ao adversário, e sem desprimor para a forma em que se encontram e a capacidade de "remontada" que apresentaram, tudo lhes correu bem. Depois de terem chegado às meias finais da Taça a jogar apenas com clubes de divisões secundárias, e de jogarem com mais um durante meia hora na primeira mão, beneficiaram de um golo em fora de jogo e das ausências fatais dos argentinos do Benfica. Por isso, e apesar de reconhecer que não estivemos nada bem, também fica um sentimento de alguma injustiça pela não ida ao Jamor (e logo este ano, em que me queria estrear no Estádio Nacional, antes que "ordens superiores" o encerrem). Sim, há alturas em que nada corre bem, mesmo.



Por mim, e depois da desilusão de ontem, esta época encerra aqui. Quero lá saber da Taça da Liga e da Liga Europa, mais a hipotética "final em Dublin" (mas alguém acredita que o Benfica a possa ganhar?). A final era ontem, e não correu bem. Futebol, agora, só o externo, que o português fica para a próxima época.

quinta-feira, abril 21, 2011

Uma patética dor de cabeça


Como se já não bastassem os enganos, falsidades, meias confissões e acusações que rodeiam o actual momento político português, e que só a describilizam internacionalmente, ainda assistimos a todos os OVNIS que nela aterram e cuja surpresa inicial dá lugar a uma espécie de tragédia burlesca.

Quando Pedro Passos Coelho anunciou Fernando Nobre como cabeça de cartaz por Lisboa para as legislativas, espantei-me verdadeiramente. O discurso de Nobre contra os partidos e o "sistema" era tão radical e arreigado que parecia que faria tudo menos ligar-se a uma formação partidária. Assim, a reviravolta intelectual espantou, e o convite parecia uma manobra impensada para ganhar uma fatia dos votos que o dinamizador da AMI obtiver nas presidenciais.



Claro que grande parte das críticas que lhe lançaram a seguir faziam parte de um populismo e de uma maledicência comuns em Portugal. Ao discurso contra os "políticos" junta-se o dos "que vão atrás de um tacho". Se a política partidária precisa de alguma coisa é de gente de fora e sem vícios de aparelhismo, que refresquem os movimentos e tragam mais qualidade aos quadros. A turba que enxameia os fóruns da net e o Facebook assim não o entende, e acha que quem vai para a política é porque é "malandro" e "quer o tacho". Por norma, entendo que quem vem com a conversa dos "tachos" é porque deles tem inveja, mas por incompetência, ignorância ou total falta de preparação (até para militância partidária), não chega lá perto e responde com calúnias coletivas.


A ideia de agregar gente sem vínculo partidário é boa, mas neste caso, a opção escolhida tem-se revelado desastrosa. Além do discurso anti-partidário (outrora) recorrente e dos múltiplos apoios anteriores a figuras de diversos quadrantes políticos, Nobre tem ideias nebulosas ou vagas, que roçam a contraditoriedade e que pouco têm que ver com o PSD. Aliás, as suas declarações afirmando que desconhecia o programa do partido laranja são outra argolada tremenda.


A história da presidência da Assembleia da República é outra fábula difícil de crer. Não só seria absurdo colocar em tal cargo alguém sem qualquer experiência parlamentar, como é impossível assegurar a sua eleição. E pelas intenções reveladas pelos partidos representados, "impossível" é neste caso o termo indicado. Não sei quem teve esta brilhante lembrança, se Passos Coelho ou quem quer que fosse, mas de todos, é o maior tiro no pé. E Nobre continua a não ajudar, dizendo que renuncia ao cargo de deputado se não chegar a ser a segunda figura do estado. Provavelmente pensou que seria a oportunidade de chegar a Belém em dias de ausência de Cavaco Silva. Seria a forma mais tranquila, mas pelo meio esqueceu-se dos necessários "requisitos formais".

Agora, ouve-se António Capucho dizendo (com acerto) que reconhece o seu valor à frente da AMI, mas não a sua capacidade política. Foram talvez as declarações mais sucintamente esclarecedoras sobre o caso.

A ideia muito particular de "missionário político" de Nobre ainda vai dar muitas dores de cabeça ao PSD.


PS: em compensação, as escolhas de Carlos Abreu Amorim (desconheço as suas ligações a Viana)e de Francisco José Viegas (um duriense com vivência transmontana) pareceram-me muito felizes.

terça-feira, abril 12, 2011

12 de Abril de 1961

"Contemplo a terra. Só posso exprimir com uma palavra: júbilo".
Desventuras da política portuguesa

O fim de semana político que passou não deixa antever nada de bom. O congresso do PS não passou de uma união de forças em torno do líder, com brados guerreiros ribombando pelas estruturas da Exponor, promessas de sangue, estandartes e bandas sonoras de épicos. Dizia Daniel Oliveira, com certa piada, que cetos congressos do PCP eram um modelo de pluralismo ao lado daquele, e que só faltava aparecer um qualquer membro da família Kim Il da Coreia do Norte. E até Mário Soares reconheceu que aquilo era mais um comício do que um congresso onde se debatiam moções...


Tivemos também as infelicidades de Cavaco, ao dizer que "teria de haver alguma imaginação de Bruxelas" para encontrar "um programa interino de ajuda financeira a Portugal". Na volta, teve de ouvir a sibilina e grave resposta do comissário Ollie Rhen: "Já mostrámos muita imaginação e especialmente responsabilidade na forma como devemos superar as dificuldades económicas de Portugal. Preferia não ter um diálogo público todos os dias com os actores políticos portugueses, por quem tenho grande estima"


No meio disto tudo, o líder da oposição lembrou-se de convidar a mais incrível alternativa possível (de quem ninguém se lembraria) para encabeçar a lista do PSD por Lisboa. Por mais um punhado de votos, mas pensando num repente, com o plano em cima do joelho.


E o FMI já aí está.

sábado, abril 09, 2011

Psicadelismo na Laguna Veneta


A propósito do espectáculo The Wall live, que passou por Lisboa há dias, sem que tivesse podido ir vê-lo, perdendo assim muito provavelmente a última oportunidade de ver ao vivo o que restava dos Pink Floyd e seus shows únicos, lembrei-me de um exemplar da megalomania do supergrupo britânico.
No Verão de 1989, os Pink Floyd actuaram em Veneza, para encerrar a tourné do álbum A Momentary Lapse of Reason (aquele da capa da praia com camas a perder de vista). Não na cidade, obviamente, tendo em conta o equilíbrio da Serenissima sobre a laguna, mas num palco-barcaça entre a praça de San Marco e a Giudecca. Entretanto tinha saído Roger Waters, o artífice de The Wall, e David Gilmour, que era já o principal vocalista, liderava agora o grupo.

Naturalmente, acorreram autênticas multidões para presenciar o inédito espectáculo, que reerguia assim o esplendor cénico da cidade dos Doges, há muito que reduzida a uma peça de museu. Ao anoitecer, o psicadelisdmo e o habitual sistema de luzes da banda invadiu a laguna, e o público também. Apinhados na Piazza, nas gôndolas, nas lanchas e demais estruturas flutuantes, centenas de milhares de pessoas viram os Pink Floyd actuar sobre as águas.

O evento seria filmado e ficaria testemunhado em VHS e DVD. Todos os que o viram ficaram com uma recordação memorável. E ao show seguiu-se um enorme fogo de artifício, sobre as águas da laguna. Mas a factura seria pesada para os venezianos: o lixo acumulado no dia seguinte era imenso, alguns canais viraram autênticas latrinas, e acima de tudo a concentração de tamanha multidão teve o efeito mais temido: as estruturas da cidade afundaram-se cerca de 3 centímetros. A partir de então, nunca mais foram permitidos espectáculos tão desproporcionados na Serenissima. A megalomania dos Pink Floyd ficou assim ligada ao afundamento de Veneza e à restrição de grandes concertos.

Como já se disse, ficou o registo em video. Nunca o vi, a não ser em excertos do Youtube, mas conto assistir qualquer dia a uma transmissão.