domingo, dezembro 31, 2006

Se algo de positivo trouxe 2006 foram novos blogues. Alguns deles excelentes.
Já falei várias vezes do Amigo do Povo, mas outros surgiram, como o Corta-Fitas, o Cachimbo de Magritte, o Herdeiro de Aécio, o provocador mas divertido Franco-Atirador, e outros a quem reconheço alguns paradoxos curiosos e grandes divergências, como o Combustões.E o ano ainda me permitiu travar conhecimento com outros bloggers de áreas bem distintas, como O Corcunda. E outros haverá, mas a memória agora é que não dá para mais.
Se não trouxer mais nada de exaltante, que 2007 seja o ano da confirmação destes espaços e traga outros de igual qualidade. Um desejo não tão difícil assim de se concretizar.

Bom ano de 2007
O calamitoso fecho de 2006

O ano acaba de forma a todos os títulos trágica. Saddam acabou por fim assassinado ("execuções" são coisa para mim meros homícidios disfarçados de legalidade enviesada), mostrando que o país que ajudou a construír no meio da barbárie e da ferocidade continua tão feroz e bárbaro como antes, com uma guerra civil efectiva entre hordas comandadas por novos Madhis e Nabucodonosores. Só mesmo a alimária que desgraçadamente preside aos EUA e alguns dos seus dementes seguidores imaginam que isto é "um passo importante para a democracia noIraque". Quando alguém defende a pena de morte como forma de implantação democrática é porque não tem qualquer princípio civilizacional.

Os costumeiros atentados voltaram a sacudir Bagdad. Uma rotina para a Mesopotâmia, mas a que os espanhois não estavam já habituados e para a qual tiveram de abrir os olhos quando a ETA voltou a mostrar-se. O atentado de Barajas deve ter enterrado todo o duvidoso esquema de negociações que Zapatero e Carod Rovira incrivelmente julgavam possível. Otegui, o porta-voz oficoso dos etarras, atribuiu as culpas a Madrid. Talvez agora o governo do PSOE seconvença que não está perante meros nacionalistas com ânimos ligeiramente exaltados, mas sim com uma mistela de extremistas e mafiosos à boa maneira da Cosa Nostra.

A nossa "protecção civil" voltou a dar um exemplo de negligência e incompetência que custou a vida a meia dúzia de pescadores, perante a impotência desesperada de alguns locais na praia. Os contornos da falha serão, espera-se, apurados em inquérito, mas com certeza que não se aceitarão justificações que falem de "azares" ou "fatalidades". A culpa deve ser apurada e não pode morrer solteira. É demasiado grave que existam serviços públicos que não cumpram minimamente os seus deveres mais básicos, como não deixar morrer inutilmente os seus cidadãos. E mais penoso se torna pensar nisto quando se pensa que já houve há uns anos um filme, realizado por José Nascimento, com o explícito título de Tarde Demais, baseado em acontecimentos reais em tudo semelhantes à tragédia dos homens do Luz do Sameiro. De que terá servido, então?

Mas há regiões em que as coisas são bem piores. Na Indonésia, naufragou um ferry pelas razões de sempre: más condições de segurança e excesso de passageiros. Centenas de desparecidos no mar revolto pagaram por isso. E não é caso isolado. O Terceiro Mundo existe mesmo, e apesar de todas as evidências em contrário, Portugal não lhe pertence. E assim termina o ano.

sábado, dezembro 30, 2006

E se o Balípodo pudesse alterar o futebol?

Um dos sites de futebol que mais gosto de ver é o Balípodo. O espaço é brasileiro, o que vem confirmar a minha ideia de que os nossos gigantescos parceiros da CPLP são tão bons a escrever sobre bola como a jogá-la. Entre a crónica, a notícia e a previsão do futuro, há de tudo nas suas colunas divididas em diferentes secções, cada qual com seu assunto.
Uma dessas rubricas, chamada com propriedade "E se..." , tenta adivinhar o que aconteceria caso determinada situação seguisse outro rumo, como por exemplo, se Mourinho fosse treinar o Brasil, ou se em lugar da Liga Espanhola houvesse vários campeonatos regionais. Uma das melhores imagina como teria sido um hipotético Mundial de Clubes em 2001, seguindo-se à primeira experiência da prova que levou o Corinthians de Dida, Gamarra, Vampeta e Edilson a sagrar-se campeão mundial frente ao Vasco da Gama de Helton, Romário e Donizete. Imagine-se o Corunha comapeão mundial,frente aos brasiliros doPalmeiras, depois da queda de todos os favoritos.Vale a pena ver essa pequena ficção e muitas outras com que o Balípodo nos brinda.

sexta-feira, dezembro 29, 2006

A divisão da Somália


As fronteiras da Somália redefinem-se pela enésima vez em cem anos. Depois de ser uma colónia quadripartida entre a Itália, Inglaterra, França e Etiópia, de se ter unificado num território independente, de ter assistido ao colapso do regime de Siad Barre, à tribalização do seu poder (balcanização seria aqui um eufemismo) e a uma desastrosa intervenção da ONU, que deixou traumas bem conhecidos, contra Aidid e restantes senhores da guerra, o governo interino que tinha sido estabelecido com um pacto entre várias facções, há dois anos, acabou por ser varrido pela União dos Tribunais Islâmicos, ao que se crê com ligações ao terrorismo islamita. Os radicais islâmicos, seguidores de várias correntes como o Waabismo e o Salafismo, conseguiram entrincheirar o governo interino em Baidoa. E teriam certamente acabado com ele se a Etiópia, invocando ameaças ao seu território, não tivesse entrado em cena.

O conflito ganhou alguma dimensão religiosa (a cristã Etiópia contra os radicais islâmicos), e, como se viu pelos espectaculares avanços, a pátria de Selassié e do Prestes João mantém em bom estado o armamento cedido pela URSS. Mogadíscio caiu sem grande dificuldade, assim como boa parte do território. Agora, é o governo de Baidoa e seus apoiantes que avançam sobre os islamitas. Mas há que contar com a reacção da Eritreia. A jovem nação africana, que ajudou os actuais dirigentes etíopes a expulsar Mengistu do poder, vive agora em permanente conflito com os antigos aliados, e, por razões tácticas, auxilia os tribunais islâmicos. O Sudão, sob a presidência de al-Bashir, um dos responsáveis pela tragédia do Darfur, é outro dos apoiantes dos radicais. O Quénia posiciona-se ao lado da Etiópia.

A Norte, a Somalilândia, antiga colónia britânica que há já largos anos declarou a independência, apesar de não ser reconhecida pela comunidade internacional, tem conseguido manter a estabilidade e uma certa paz, com o seu governo misto, semi-democrático e com representação dos clãs. Assim o deixem no seu canto.

Um caldo étnico, religioso, territorial e cultural que promete não parar por aqui, num dos países mais martirizados de África, verdadeiro símbolo do estado anárquico sem rei nem roque. O seu futuro depende dos resultados dos combates em curso e da entrada em cena (ou não) dos diversos actores regionais, além da impotente União Africana, sediada precisamente na Etiópia. Veremos se é desta que a Somália consegue transformar-se em qualquer coisa que lembre um país digno desse nome.

PS: as origens da Somália e dos seus conflitos são mais facilmente percebidas neste post do Herdeiro de Aécio

domingo, dezembro 24, 2006

Uma comemoração intemporal

Chegamos por fim à véspera do dia que tão vilipendiado tem sido, mesmo aqui na vizinha Espanha. Com argumentos incompreensíveis e em grande parte falsos, algumas entidades, públicas e privadas, escondem o carácter fundamental e primevo da celebração: o Nascimento de Cristo. Parece que o nome do Salvador incomoda pessoas de "outras crenças", embora ninguém se tenha lembrado de perguntar isso às mesmas; que o Natal é uma mera comemoração do solstício de Inverno; e que símbolos com algum carácter religioso ofendem são potencialmente ofensivos.

Olhando bem para estes casos, não direi que há uma guerra generalizada contra o Natal, mas tão somente umas cabecinhas, que, por extraordinário acaso das coisas, têm alguns cargos de direcção, e que camuflam assim um ódio ao cristianismo e às religiões no seu todo, ou uma enviesada ideia de modernidade. Felizmente, as reacções a esta imbecilidade pré-instituída não se fizeram sentir, vindas de políticos, opinion-makers, ou representantes das "outras crenças", cientes igualmente que este presumido paternalismo de que gozariam com tais interdições não passa de um atestado de menoridade, que dispensam.

Estou convencido que actos como estes não vieram para ficar, mas apenas para nos atazanar durante uns anos, antes de serem deitados no caixote do lixo das modas estéreis. A força das
tradições intemporais comumente celebradas (e ainda mais se trouxerem uma mensagem de paz e concórdia) é muito mais forte do que todas as inibições que alguns pretendem impingir. E o Natal continuará a ser celebrado per secula seculorum, com mais ou menos formas de comemoração, pratos de consoada ou consumismo.

Um Santo Natal para todos

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Vocabulário dispensável

Se se reparar bem em grande parte dos discursos políticos actuais (como o da discussão da AR de hoje), notar-se-à que muitos dos predicados utilizados - posso falar em predicados ou a TLEBS já está em vigor - são constantemente comidos. Sim, comidos. Querem exemplos? "O Governo ´tá a executar políticas de rigor"; "o Partido ´teve em peso com o candidato X"; "O Eng. Sócrates ´tá a tomar medidas necessárias/demagógicas".
Percebem? Alguns erros coloquiais, tão banalizados nas conversas do dia-a-dia, são utilizados pela classe política de forma descuidada e constante, como se estivessem a falar com o colega do lado e não numa tribuna para o país. Falo dos políticos porque são os que têm mais responsabilidades na condução do estado, e porque são figuras públicas e notórias, mas podia-me socorrer de outros exemplos existentes na sociedade, como a economia ou as artes.

Parece-me particularmente infeliz este descuido com o uso da língua fora do âmbito privado. Se se quer passar uma imagem de algum rigor, convinha estar atento a estas corruptelas orais. Eu sei que a língua está sujeita a evoluções e mudanças, por muito que nos custe. Mas em alguns casos isso pode não trazer qualquer melhoria. Imagine-se o "teve" como pretérito perfeito de dois verbos diferentes, ter e estar. Ou então este último transformado em verbo "tar". Ou ainda o verbo "perar". É que talvez não fosse pior começar a distinguir evoluções linguísticos e de fala dos meros atentados ou fortes vícios, causados por por simples facilitismo.

E na mesma linha, veja-se essa imbecil campanha feita pela BCP (cujo rosa das infinitas agências bancárias em cada esquina já não se suporta), com Bruno Nogueira a perguntar a uns supostos "jovens" se "kerem voar". Assim mesmo.

Não sei porque carga de água é que não põem "queres" em lugar do Kapa. Ou os senhores da campanha não sabem escrever senão ao telemóvel, ou então acham que todos os "jovens" a quem se dirigem são mentecaptos e só sabem ler assim. Bela imagem que a ubíqua instituição do Dr. Paulo Teixeira Pinto tem das novas gerações e das suas pontencialidades.

terça-feira, dezembro 19, 2006

A queda do império e o "sacrifício total"


Mobilização das tropas indianas

Passam agora 45 anos desde o fim do Estado Português da Índia. Em Dezembro de 1961, a União Indiana, sob Nehru, com forças que ascendiam aos 50000 homens, e inúmeros meios aéreos e navais, atacou os enclaves lusos. O lado português era defendido por pouco mais de 3000 efectivos, sem força aérea, com parcas lanchas de guerra, que cedo viram as sua comunicações destruídas por bombardeamentos indianos. A resistência era impossível e suicida.
Salazar sabia muito bem disso. Mas imbuído de sentimentos de "honra", a milhares de quilómetros de distância, pediu o "sacrifício total" aos soldados portugueses, para"prestar serviço ao futuro da Nação". "Vitoriosos ou mortos", pedia o velho abutre, que jamais respirou o ar de qualquer colónia, quase não saía do rectângulo, e não proporcionou melhores meios de defesa a quem tinha essa missão. Apenas pedia para remeterem as relíquias de são Francisco Xavier para a metrópole, que essas sim, urgia proteger.
Como é sabido, Vassalo e Silva não esteve virado para martírios inúteis nem tragédias euripedianas, e acabou mesmo por se render, a 19 de Dezembro, impedindo um banho de sangue. Pagou com isso a carreira, que só seria reabilitada em 1974, e a liberdade, com uma estadia de alguns meses nas prisões indianas, juntamente com os seus homens.
Assim acabou, quatrocentos anos volvidos, o império erguido pelos Gamas, Albuquerques e Castros, vitimado pelos ventos da descolonização mundial, pela supremacia das forças indianas e por uma política ultramarina isolacionista e desastrosa. Tão desastrosa que levaria ao avolumar da penosa Guerra do Ultramar, suportada por toda uma geração, e pelos cofres do Estado, e que teria como consequência, anos mais tarde, o derrube do próprio regime pelas suas Forças Armadas.

(Para mais informações, este site é um bom início)

Rendição oficial dos militares portugueses

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Oh, raio!

Há imenso tempo que tenho aqui nos drafts a descrição de uma passagem por Génova, feita no Verão do ano passado. Só que o suplemento Fugas, do Público, antecipou-se, e pior do que isso, com um relato muito próximo do meu, tanto no percurso efectuado como nos elementos observados. Ah, mas isto não fica sem troco. Em breve lanço a minha resposta, desastradamente atrasada por causa das notas sobre outras cidades visitadas na mesma viagem, que não estão devidamente postas em ordem. Revisitar o Verão do Mediterrâneo no Inverno: ora aqui está uma ideia susceptível de provocar melancolia à mistura com boas recordações.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Mais uma dádiva do YouTube



Os Placebo são uma banda com os seus momentos altos e baixos, outrora alojados nas lantejoulas e na androginia do Glam Rock do início da carreira e na idolatria por David bowie, prosseguindo depois numa fase rock + electrónica. Surgiram provocando estranheza e desconfiança e ascenderam ao estatuto de banda respeitável, com vendas de milhões de discos e concertos esgotados em todas as cidades. Chegaram inclusivamente a participar no filme Velvet Goldmine, ao lado de Christian Bale e Ewan McGreggor, fazendo praticamente deles próprios, só que com nome diferente.
Também tiveram êxito no formato DVD. Um deles mostra o concerto que realizaram em Paris, em 2003, com um Brian Molko bastante fluente na língua gaulesa, acabando em apoteose a cantar Where is my Mind, dos Pixies, em dueto com o próprio Frank Black, ao seu melhor estilo rocker, de blusão de couro, óculos escuros, crâneo rapado e a eterna barriga proeminente.
Podem ver aqui a a interpretação global da música. E agradeça-se, uma vez mais, a quem se lembrou de inventar o YouTube.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Morto o bicho, morta a peçonha


Morreu enfim Augusto Pinochet, de forma natural, coisa a que muitos dos seus compatriotas não tiveram direito durante a sua presidência. Restam-nos aqueles a quem ele não deixa saudades, e que não resistiram a comemorar o seu fim; e os outros que ainda acreditam que Pinochet salvou o Chile da hecatombe, que aprovaram as matanças no estádio de Santiago e que ainda acham que o general deixou o poder "voluntariamente" (isto é, depois de perder um referendo e já sem o apoio de sempre dos EUA) e deixou um pais "próspero" (para se aferir melhor tal "prosperidade", criada pelos Chicago boys, é favor ler isto), sem pelo caminho desviar nada. Entre estes, conta-se a Srª Thatcher e alguns "liberais" pouco esclarecidos, que divinizam o ditador. Sem dúvida um exmplo magnífico do liberalismo que estes senhores pretendem para o mundo. Deus tenha piedade não só da alma do ex-ditador, se ele se tiver arrependido, mas igualmente da sanidade mental destes pobres de espírito.

Stroessner também morreu este ano. Fidel não parece ter muito mais tempo de duração. Os tempos estão maus para ditadores sul-americanos.

sábado, dezembro 09, 2006

O guarda-chuva desconhecido


Entre as várias expressões lisboetas a que não me habituo, há uma - para além da questão Fino - Imperial, que serviria perfeitamente de traço de divisão do país, bem mais eficaz que a imaginária linha de Rio Maior, no PREC - que se adequa perfeitamente ao tempo que faz: o uso de "chapéu de chuva". Para mim, são efectivamente chapéus de material variável, desde que impermeáveis, que se usam na cabeça para proteger da chuva. Em Lisboa (e noutras regiões próximas, cujo limite desconheço), são aquilo que vulgarmente conheço por guarda-chuva. Como farão os cultores do"chapéu"para se distinguir? E porque não usam o prefixo guarda seguido do hífen? Outros usam umbrella ou parapluie. Porque não há de haver uma palavra própria que classifique o objecto (sem recurso à famigerada TLEBS) por si mesmo sem ambiguidades inúteis? Pensem nisso, que me poupavam muito latim.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Desaire

Há exactamente um ano, afastávamos o Manchester United das competições europeias e seguíamos para os oitavos. Ontem, os ingleses desforraram-se e passaram eles à fase de eliminatórias. Do mal o menos, sempre ficámos na UEFA. Mas além de nos terem ganho os dois jogos, ainda se encarregaram de perder naqueles em que precisávamos que triunfassem. Gente vingativa.
No jogo de ontem, safou-se o míssil de Nelson e algumas excelentes jogadas de Simão. A defesa estava totalmente desorganizada, e o jogo de cabela foi uma lástima. E, claro, o livre concretizado segundos antes do intervalo deitou tudo a perder. Estava mesmo a prever que aquilo ia acontecer. É sempre nestes momentos que sofremos golos.
Diga-se que a nossa missão era quase impossível perante um United em grande momento de forma e a precisar igualmente de ganhar. Trocaria de bom grado a vitória em alvalade por uma ontem. Agora que esta fase acabou, constata-se que duas tradições se mantêm: uma, é a do Benfica nunca fazer bons resultados em Old Trafford. Outra, é a de marcar grandes golos em solo inglês. Foram quatro no último ano e meio (e ainda podíamos recuar áquele grande jogo contra o Arsenal). Para os apreciadores do futebol espectáculo acima de tudo já não é coisa pouca.

domingo, dezembro 03, 2006

Dois dias de atraso


Há datas que não se esquecem. Porém, mais vale tarde do que nunca.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Links

Uma colheita especial, por Domingos Miguel, no Noite Americana, em especial esta parte:

"não é preciso ser um génio, para perceber que um tipo que faz o primeiro Alien, Blade Runner, Black Rain (grande filme, já agora), Thelma and Louise, Gladiator e Black Hawk Down, só para dar alguns exemplos, não está propriamente preocupado com a consistência."

O Caso Richards, no Estado Civil, ou quando em momentos de irracionalidade e raiva o nosso racismo vem à superfície. Mesmo que pensemos sempre que "não sou racista". Só que geralmente há sempre um "mas" depois dessa afirmação.
Craignotbond*

Já que falamos de cinema, é preciso que se diga que o último James Bond, Casino Royale, tem muito do que se pede a um filme da série: uma história escrita (inspirada) por Ian Fleming, acção sem fim, hoteis glamourosos, Bond-girls a sério (está de parabéns quem se lembrou de Eva Green), roupas com estilo, países ensolarados e até o regresso dos Aston Martin, depois de anos e anos de insípidos BMWs. Só falta mesmo uma coisinha fundamental: James Bond. No lugar dele, estava lamentavelmente um tipo com ar de bruto, ou de boxer recém retirado, que já andara por Munich e Caminho para a Perdição, com os mesmos modos de carcereiro da Torre de Londres no período isabelino.



*Escusam de procurar o site, que está desactivado há já uns tempos

segunda-feira, novembro 27, 2006

Cartaz de mestres

Dá ideia actual de que este ano chegaram a Portugal as mais recentes obras de quase todos os grandes mestres do cinema anglo-saxónico. Confirmemos: Woody Allen chegou no início do ano com Match Point e está aí a reaparecer com Scoop. Scorsese traz-nos Departed. O seu vencedor nos óscares do ano passado, Clint Eastwood, virá com Flags of Our Fathers e a sua correspondente japonesa, Iwo Jima. Minghella também não tardará, creio, com novo filme (na pior das hipóteses em 2007); Ridley Scott traz-nos uma comédia romântica com o taciturno Russel Crowe; o recentemente desaparecido Robert Altman deixou como legado A Prairie Home Companion; Coppola não filmou obra nova, e em compensação enviou-nos a filha mais a sua Maria Antonieta versão New Wave. Almodôvar conseguiu Volver em grande, e trouxe por arrasto Penélope Cruz e outras conhecidas. Stephen Frears chega daqui a dias revelando o lado humano da Rainha; Spielberg passou por aqui no início do ano com Munique, assim como James Ivory e a sua Condessa Russa. Brian De Palma trouxe-nos finalmente o aguardado (mas algo mórbido) The Black Dahlia. Shyamalan revelou-nos a sua fábula aquática, A Senhora das Águas, envolvendo narfas próprias dos sonhos mais belos, cães do inferno e águias celestes. Pena que O Código Da Vinci tenha sido entregue ao progenitor da narfa, mas há coisas piores no mundo. Ou que Wolfgang Petersen e Richard Dreyfuss tenham regressado com filmes-catástrofe.

E ainda tivemos Terence Malick, com The New World, e Michael Mann, recriando Miami Vice no Século XXI. Além de alguns bons valores do chamado "cinema independente". Paris viu-se homenageada em pelo menos dois filmes, e romain Duris sobe cada vez mais. E com alguma sorte, ainda vamos poder ver muito em breve a nova opus de Soderbergh, The Good German, com o seu amigo George Clooney (outro que não esteve parado) e a encantador Cate Blanchett na Berlim do pós-guerra, no que promete vir a ser um clássico moderno. Temos e tivemos todas as razões para não nos queixarmos da safra anual.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Don Duarte a a Democracia

Sobre o lançamento do livro de Mendo Castro Henriques, Dom Duarte e a Democracia, houve vários testemunhos, que se pautaram não apenas pela crítica ao conteúdo, mas sobretudo à estranheza ou à satisfação de se ver Manuel Alegre como convidado para a apresentação da obra, em Lisboa, no Espaço Chiado (no Porto a missão coube a Paulo Teixeira Pinto, assumidamente monárquico). Alguns podem ser vistos num post do Combustões. Corroboro, obviamente, a opinião de Miguel Castelo Branco. Já sabia que Alegre tinha um certo respeito pela ideia da monarquia, por tradição paterna, conquanto se declare sempre republicano e tenha sido candidato às últimas presidenciais. Mas o facto do autor do preâmbulo da CRP admitir um referendo sobre o regime não deixa de ter a sua importância, marca uma posição, e talvez seja uma porta aberta para a revogação do iníquo Artigo 288º - b. Que outros sigam os seus passos e percam os precnceitos herdados do 5 de outubro.
Ah, e o livro vale a pena, como biografia e como esclarecimento de algumas ideias preconcebidas.

quinta-feira, novembro 23, 2006

RIP

Ferenc Puskas
O Major Galopante, líder da melhor equipa de futebol de todos os tempos, a magnífica selecção húngara dos anos 50, que teve de fugir do seu país com a invasão soviética. No Real Madrid causou terror entre as defesas adversárias, mas nem o seu hat-trick impediu o Benfica de ser bi-campeão europeu. Um imortal da bola, daqueles que seguramente não serão esquecidos.

Sotomayor Cardia
Do antigo ministro da educação foram inúmeros os blogues que se pronunciaram. Pouco conhecia dele. A imagem mais visível é a do seu inesperado anúncio a uma candidatura presidencial, em 1994. Mas deixou caír a intenção e não se tornou a falar do caso.

Marcus Wolff
O nome mais conhecido da STASI, a famigerada polícia política da RDA, mais esguia e eficiente do que o próprio KGB. Deste certamente não se esquecerá John LeCarré.

Milton Friedman
Um dos ídolos do liberalismo económico, a par de Hayeck, guru dos Chicago Boys, antigo Prémio Nobel da Economia e muitíssimo influente nos anos oitenta. Muitos adeptos das suas teorias económicas certamente ficarão com um certo sentimento de orfandade. Curiosamente, morre apenas seis meses depois de um dos seus grandes adversários, Galbraight. Semelhante coincidência envolvendo pensadores opostos deu-se em 2002, quando desapareceram Rawls e Nozick.

Jack Palance
ficou conhecido pelos seus papeis de duro, de vilão de inúmeros westerns. Ganhou um Óscar pela sua participação em A vida, o amor e...as vacas, no qual, curiosamente, morria a meio. Quanto lhe entregaram a estatueta, não se coibiu de fazer umas flexões para mostrar a sua forma. Também a BD a proveitou a sua fama como mau da fita, quando Morris nele se inspirou para compôr Phil Defer, um dos inúmeros inimigos de Lucky Luke.

Robert Altman.
Ainda há 15 dias tinha visto a última obra deste realizador, Prairie Home Companion, sem imginar que ele sobreviveria tão pouco tempo. Deixou um bom par de filmes e um sem número de personagens, interpretados por uma legião de estrelas, que foram um testemunho precioso da América e da incrível diversidade dos seus habitantes( e não só, como em Prêt-à-Porter e Gosford Park).

Actualizado: Mário Cesariny de Vasconcelos; durante tanto tempo deixei de ouvir falar do pintor e poeta surrealista que julgava que tinha morrido antes. Desinquietei-me quando soube que estavam a fazer um documentário sobre ele, com a sua própria colaboração. Por pouco tempo.

Philippe Noiret: outro que dificlmente esqueceremos, pelas Grandes Bouffes deste mundo e pelos "italianos" Cinema Paraíso e O Carteiro de Pablo Neruda.

sábado, novembro 18, 2006

Haverá plágios inevitáveis?


Sigo com particular atenção os artigos dessa personagem maior das colunas opinativas portuguesas que é o Miguel Sousa Tavares. Aprecio sobretudo os artigos mais generalistas ou políticos, que durante muito tempo acompanharam o Público e agora continuam no Expresso, apesar das muitas discordâncias. O mesmo não posso dizer dos seus escritos na Bola, em que são muito poucos os momentos em que lhe concedo razão. Este é um bom exemplo do radicalismo portista que por vezes lhe atravessa a mente, como a vitimização sem bases, o mau ganhar ou a mania de atirar para os outros os seus próprios pecados (já para não falar das suas mirabolantes criações normativas, como a dos jogadores portistas, tipo Andersson, serem uns génios e umas pobres vítimas, e por isso merecerem protecção especial dos "caceteiros" ou "jogadores banais", que é como ele apelida o Katsouranis; Paulinho Santos e André devem-se esfumar das suas memórias, sem dúvida).
Também conheço a sua singular carreira literária. Li as suas impressões políticas em Um nómada no Oásis e Anos perdidos; os percursos de Sul-Viagens e esse gênero sem categoria fixa, talvez a do conto, a que pertence Não te deixarei morrer, David Crockett; e a sua opus magnum, Equador, best seller prestes a ser adaptado a televisão (uma boa ideia, estranhamente vinda da TVI, já que a obra se presta ao formato). Não li os seus livros infantis e estou à espera do seu novo romance, que ao que parece, envolverá zeppelins. E fui fiel assinante da Grande Reportagem durante dez anos, até a revista adquirir o formato semanal que levou ao seu desaparecimento.
O recente caso do suposto plágio de um romance inglês que teria originado Equador não tem ponta por que se lhe pegue. As provas são próprias de chicos-espertos que não souberam fazer o seu trabalho devidamente, ou então não puderam pela razão natural das coisas. Acredito sem qualquer dúvida que Sousa Tavares ocupou-se naquele tempo todo do seu romance e em pouco mais.
O problema é que pode haver expressões, passagens, descrições, sensações lidas que fiquem no inconsciente e se revelem no momento em que se pega na caneta para redigir algo que, pensa-se na altura, é original e único. Por vezes não é. Olhando agora para os escaparates das livrarias, vêm-se as novidades, entre romances, (auto)biografias, ensaios,experiências vividas, etc. Os dois primeiros gêneros estão claramente na moda. Claro que a quantidade, que é muita, não significa um aumento percentual de qualidade, embora haja mais possibilidades de se encontrarem bons livros. Biografias são incalculáveis, de personalidades mais ou menos relevantes, de toda a vida ou parte dela. Os romances históricos, então, não param de saír do prelo: há-os de todas as épocas e situações, envolvidos em particulares situações temporais e suas circunstâncias. O Código DaVinci deu um valente empurrão a este tipo de literatura, que anto pode ser lida no aeroporto como pode ocupar umas boas noites de sono. hoje em dia, basta fazer uma pesquisa com algum aprumo a certo acontecimento e à sua época, delinear a narrativa e as personagens (de preferência juntar-lhe um toque "místico") e conseguir editar a resultado. Graças a esse boom, vivemos atafulhados em romances históricos, ou ensaios variados, que por vezes vêm a dar no mesmo.
É por isso que com tanta historieta, tanta aventura envolvida em acontecimentos reais, tanto novo autor a surgir, tanta publicidade e tantos novos locais onde comprar livros (e não me digam que não, entre supermercados, livrarias e feiras dos ditos), o mais provável é que se retenha uma ou outra coisa que se viu algures e que depois não se recorde. E ainda a velha história de haver pensamentos coincidentes, que muitas vezes se repetem em pessoas diversas. A pessoa não pode conhecer tudo quanto se edita. Sabe-se lá se alguma boa alma não está a editar o seu primeiro romance ficcionado, e descobe subitamente com horror que a sua ideia já estava imprimida num qualquer opus de esquina de um autor do outro lado do mundo. Com a avassaladora porção de literatura light/histórica/esotérica que hoje domina as prateleiras, e seus responsáveis, não é de espantar que novas acusações de plágio se repitam. E com as hipóteses de sacar dinheiro que estes processos às vezes proporcionam, tornam-se um filão ainda mais apetecível

quinta-feira, novembro 16, 2006

Sadismo

Na sala de espera do dentista, a televisão estava acesa no canal Hollywood. Estava a dar O Silêncio dos Inocentes. Convenhamos que as opções do consultório são assim um bocadinho para o sádico. Ou quanto muito para o inconveniente. Não tivesse visto à saída e daria para desconfiar. Felizmente para quem estava a seguir, sempre se podia distraír com alguns números da revista NS e as simpáticas raparigas da capa.

terça-feira, novembro 14, 2006

Tão liberais que eles são

"Chile, Índia e China, são alguns dos exemplos de países que, por tomarem a decisão de ampliar cada vez a liberdade em suas economias, desfrutam de maiores e crescentes taxas de desenvolvimento a cada ano.
Temos o Brasil hoje em direção oposta aos ideais liberais e nas mãos de políticos incompetentes e desonestos.(...) temos novamente o Lula dos escândalos, que acoberta “movimentos sociais” que colocam em risco a liberdade e a propriedade privada"


Este é o texto que uma colunista brasileira chamada Marília Bertoluci escreveu na Causa Liberal antes da segunda volta das eleições brasileiras. Como se vê, para alguns "liberais", a China é um modelo preferível ao Brasil. E também se verifica que a liberdade, para esta senhora, se resume à sua vertente económica. Nada de novo. Era só para confirmar.

domingo, novembro 12, 2006

Links

No Franco Atirador, um interessante desfile de Joly Rogers, dos mais diversos estilos e formas (mas não cores, está claro), revelando as influências Stevensonianas que percorrem esse blog.

Surgiu o Apatia Geral, uma espécie de fotocópia light do Blasfémias, mas com menos imaginação. Parece que todas as ideias foram retiradas aos seus mentores (inclinação política e económica, clubismo, autores, e compare-se o nome e subtítulo do blog com o "combate à bovinidade" dos blasfemos originais). Por certo uma filial não muito bem disfarçada, para espalhar o "combate político".

"Rui Rio, o que gosta de carros, mudou as placas com os nomes das ruas da Invicta. Foi o seu maior gesto, encher as esquinas com placas verdes", no 5dias, um blog que merece ser visto, porquanto esteja politicamente identificado numa área bem precisa. É a minha oportunidade para falar de um mero assunto local muitas vezes adiado: uma das grandes obras de Rui Rio foi a alteração das placas toponímicas da cidade. Melhoras? Poucas. As placas verdes não são mais visíveis do que as suas antecessoras de letras negras sobre fundo branco. E na minha rua a substituição deixou-me particularmente aborrecido. A placa que a sinalizava era muito maior do que qualquer outra da cidade; era visível, elegante e altaneira. Só que não sei por que carga de água, tiraram-na e puseram no seu lugar uma das tais tabuletas, que se confunde com o verde da relva em que assenta. A massificação de tabuletas dessa cor, sem critério nem atenção ao caso concreto, também deve ter custado uns dinheiros à câmara, para mau serviço de sinalização e menos fundos pecuniários em coisas para as quais seriam bem mais úteis.

sábado, novembro 11, 2006

O fascismo britânico













Um comício da BUP; o seu líder, Oswald Mosley, com o Duce.

Pois é. Apesar dos mais anglófonos relegarem sempre o fascismo para o "Continente"(com notória influência em Alberto João Jardim) , recusando liminarmente que a Velha Albion tivesse sido influenciada pelo ar de tempo, a verdade é que também lá a moda pegou. Não me refiro às simpatias temporárias de Churchill e outros políticos pela ascensão de Mussolini, mas sim a verdadeiros movimentos inspirados directamente no fascismo italiano, onde pontificava o British Union of Fascists(BUP), de Sir Oswald Mosley, antigo Conservador e Trabalhista desiludido. Além de toda a doutrina, não faltavam as indispensáveis camisas negras e os grandes comícios.

O partido teve um grande crescimento até à Segunda Guerra Mundial, altura em que, fazendo campanha pela paz, Mosley e outros companheiros de luta foram presos, e o seu partido acabou por se dissolver. O líder fascista regressaria depois com ideias federalistas para a Europa, que pretendia transformar em nação única, e com um novo partido, recauchutado do anterior (tinha até o mesmo símbolo, o "flash and circle"), o National Party of Europe, com ligeiros resquícios actuais. Mas ideias de Mosley ficaram com ele e com poucos admiradores. Eram fundamentalmente produto do seu tempo, da efervescência política e ideológica dos anos trinta, e não sobreviveram à derrota do fascismo na 2ª Guerra.
Já agora, atente-se no aproveitamento que a BD e a ficção científica de animação, como alguns super-heróis, fizeram do símbolo dos fascistas britânicos, o "flash and circle". Casos da soberba aventura de Blake and Mortimer"A Marca Amarela", ou de Flash Gordon. E muitos outros.




Olmert: mortes de palestinos foram causadas por erro técnico

Parece que desta vez, ao contrário do que alguns quiseram fazer querer, as causas das mortes de 18 palestinianos não foram os "escudos humanos" nem um "ataque cirúrgico com danos colaterais", nem "odireito de Israel a defender-se". Foram "erros técnicos". Voluntários ou involuntários é coisa que se descobrirá. Já é positivo que o governo de Olmert tenha reconhecido o facto e oferecido ajuda. Mas o mal está feito, as vítimas estão contadas, o ódio de novo espalhado, e as suas consequências serão provavelmente demasiado gravosas para que se pense em tréguas milagrosas.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Ora aí está


O Benfica é (reconhecido oficialmente hoje pelo Guiness) o maior do clube do Mundo em sócios. A parte dos sócios não será propriamente uma notícia inesperada. Mais cedo ou mais tarde sabia-se que isso iria acontecer. O que me intriga mais é a primeira parte da notícia. Mas então isso é novidade para alguém?

quinta-feira, novembro 09, 2006

Estranhas reacções (e o anti-europeísmo da moda)

Entretanto, há já algumas reacções curiosas. A de João Miranda, por exemplo, antes de saber da demissão de Rumsfeld, mostrando porque é que a derrota dos Republicanos nada tinha que ver com Iraque nem sequer com Bush (Schwarzenegger, sendo Republicano, não parece ser da mesma opinião). E a de Henrique Raposo, tentando disfarçar um pesado aborrecimento com os resultados eleitorais, despejando um par de sentimentos do mais puro e sintético anti-europeísmo, comparando as virtudes americanas com os pecados da "decadente" Europa. Comparações facilmente desmontáveis, como a do "líder neo-fascista com 18% de votos", ou do "presidente que se mantém no poder para fugir a condenações". É só pôr parte da classe política americana ao lado, sobretudo a que perdeu hoje, para avaliarmos as suas "virtudes". Ou relembrarmos que problemas raciais são coisa que não falta nos EUA. E que certas restrições à liberdade, como as provenientes de certos fundamentalistas dos costumes, provêm precisamente do Novo Mundo. Que deste lado a pena de morte não é bem vista. Ah, e não esquecer também a indecorosa perseguição a Clinton pelas suas escapadelas extra-conjugais. Não me lembro de ver tal degradação moral na Europa.
Quanto a sentir-se melhor entre habitantes do Cabo Horn ao Alasca, é com ele. Conheci muitos nativos da lado de lá do oceano com quem me dei muito bem. Por mim, gosto muito de ser europeu e é entre eles que me sinto bem, particularmente com os do Sul. Se o Henrique experimentasse com uma menor dose de preconceito, talvez até conseguisse. Mas se se sente tão pouco à vontade, porque é que ainda vive nesta terra que detesta e não se muda para as Américas? Ninguém o impede, e sempre se aumentava a auto-estima de que esta terra tanto precisa.

PS: reparei entretanto noutra coisa: Henrique Raposo diz que "parecemos (ele também, portanto) aqueles aristocratas do filme da Coppola". Olhando para a galeria, não unicamente a dos espelhos, acho que não sou minimamente parecido com eles. Ainda por cima, os anglófilos/americanófilos lamentam sempre a sorte dessas tais aristocratas. Acho piada é que quando querem dar exemplos destes, recorrem sempre a franceses. Depois falam no anti- americanismo a torto e a direito.
condenações de grau diferente

A condenação à morte de Saddam, sendo já esperada, não pode deixar de ser criticada por todos os que se opõem à pena capital e que pensam que a privação da vida não é uma solução justa, mas meramente vingativa. Claro que desse grupo não faz parte o sempre inenarrável W. Bush, que reagiu à notícia com a esclarecedora frase "é uma grande conquista para o Iraque". Como é óbvio, quem se baseia unicamente no coldre e na Bíblia para daí construír as suas únicas concepções do mundo, ou que acredita que Jesus era um filósofo, só se podia congratular com esta sentença. Provavelmente tentando esquecer que o réu era um fiel aliado da Administração da qual o seu pai era Vice-Presidente (para depois se tornar em inimigo directo, em 90).
É claro que depois do dia de hoje, o Presidente americano terá muito mais com que se preocupar. A derrota no Congresso para os Democratas acabou por ser mais expressiva do que o imaginado, mesmo com a agressiva campanha republicana. Também em governadores estaduais houve subidas pelo partido do burro. O Senado está por um fio, e se também o perder, o bloco conservador americano averbará um fracasso em toda a linha, mais visível ainda por uma afluência às urnas maior do que a esperada.
Com este desaire, uma cabeça já rolou: a do ignóbil Rumsfeld, arquitecto da invasão do Iraque, responsável político por Guantánamo, Abu Grahib e outras situações semelhantes. Já vai atrasado. Desde que se soube das torturas nas prisões iraquianas que a decência teria obrigado este homem a ir para a rua. Algum dia tinha que ser. A atoleiro do Iraque acabou por ser a razão maior que o condenou a saír. Sempre é melhor que a do homem cuja mão apertou nos anos noventa.

terça-feira, novembro 07, 2006

A polémica das seringas

Tem toda a razão este texto de Filipe Nunes Vicente no Mar Salgado. Até ao momento em que se começou a falar de troca de seringas na prisão, não se comentava o assunto nem se propunham soluções. Agora que estes novos métodos para impedir a expansão de doenças infecto-contagiosas vão ser aplicados, só se ouvem exclamações como "afinal parece que há droga nas prisões", ou "não se deve estimular o consumo, e sim impedi-lo" . Mas que há consumo nas prisões já se sabe há que tempos! Uma prisão não é um jardim infantil, é um local de suposta regeneração ou de isolamento daqueles que desobedecem às regras da sociedade, onde a droga corre, como uma escapatória imaginária às grades, onde há violência, homossexualidade imposta, presos com mais status que outros, suicídios. E só agora é que se apercebem disso? Parece até que é uma revelação do Apocalipse. E que medidas alternativas haverá? Existirão algumas, com certeza, mas até conseguirem ser implementadas mais vale aliviar o drama prisonal. Por isso, concordo totalmente com a troca de seringas nas prisões. Diminuír flagelos como a SIDA e outras doenças parece-me um bom princípio, e os bons exemplos vêm-se como de costume em países onde estes métodos são já correntes.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Império


Depois do jogo estreei-me no imponente Café (e antigo cinema) Império. O espaço agradou-me, como já esperava, até por ser imenso e eclético, muito embora faltassem os bilhares que me disseram terem existido ali. Só é estranho que tenha lá ido pela primeira vez DEPOIS do estabelecimento fechar.

PS: falando em cafés, há dias vi num álbum imagens da Brasileira do Rossio, já extinta. Há também a do Chiado, a do Porto, em Sá da Bandeira, a de Braga, e houve até há poucos anos a de Coimbra, no correr da Ferreira Borges. Agora até abriram uma no centro comercial por baixo do Campo Pequeno, obviamente mais escondida e artificializada, e decorada a neons. Akguém tem ideia se havia ou há outras Brasileiras por esse país fora?
Benfica 3 - Celtic 0

Até correu benzinho. Lá despachámos os simpaticos célticos por 3 secos, a resposta ao descalabro de Glasgow. Mas fiquei com a impressão de que com mais um bocadinho de vontade e menos perdas de bola podiámos ter ido mais longe. Daqui para a frente é uma guerra sem quartel. Até ao próximo jogo, continuarei a pensar como pudemos perder com estes tipos por números tão volumosos.

segunda-feira, outubro 30, 2006

Se não é o "eduquês", é outra coisa qualquer

Parece que as notícias sobre a supressão das férias de Natal, Páscoa e Carnaval aos professores pelo Ministério da Educação não eram afinal verdadeiras. Ainda bem. Só faltava mais essa para considerar as entidades governamentais dessa área uns perfeitos irresponsáveis, por muito que alguns gostem de gabar a "autoridade" e a "coragem" da Ministra que acha que os professores não podem ter medo de jovens delinquentes que os ameaçam nas aulas. E que geralmente confundem esta classe profissional com os seus ineptos e irrealistas sindicatos.
Infelizmente, muitas outras medidas sem sentido parecem estar a tomar corpo. Uma opinião lúcida e informada sobre o assunto é a de António Barreto, no seu artigo do Público de hoje, sobretudo sobre ideia peregrina das aulas de oito horas diárias. É precisamente o que eu penso sobre o assunto

sábado, outubro 28, 2006

Eleições
De novo sobre o Benfica, e deixando para trás a antevisão de um jogo inquinado à partida, realizaram-se discretamente eleições para os orgão sociais do Benfica. Luís Filipe Vieira venceu de novo, com espantosos 96%. Provavelmente teremos mais do mesmo, o que nem é mau, tendo em conta o retorno aos triunfos desportivos, ao saneamento financeiro das dívidas do clube (e da SAD), à concretização de novas infra-estruturas, como o centro de estágio, e ao autêntico resurgimento das modalidades amadoras, fora outras coisas (duplicação do número de sócios, acordos para patrocínios, etc). Mas a grande novidade, a par do regresso de Manuel Vilarinho para Presidente da AG, no lugar de Tinoco de Faria, é a ausência de listas concorrentes e de alternativas aos corpos vigentes. Uma situação inédita e constrangedora, num clube que sempre se caracterizou pelo pluralismo, pela escolha democrática e pelo debate (por vezes bastante exaltado, como se sabe), antes de todos os outros. Um dos traços identificadores mais importantes do Benfica fica assim interrompido por falta de comparência de quem tinha uma palavra a dizer sobre o que não correu bem nos últimos anos. A pesar do bom trabalho realizado, eram bom que a legitimidade desta direcção, com a sua maioria digna de um Al Hassad (ou pior, de um Pinto da Costa), não tivesse a aparência de ser absoluta, o que poderá dar tentações a vieira de ser ainda mais autoritário e de dizer aquelas grandiloquências que só ele. A rever absolutamente. Pense-se nisso nas próximas eleições.
PS: como temia, o Benfica perdeu o jogo do municipal de Contumil. No último minuto, com um golo caído do céu, e quando procurava o tento da vitória, perante um público quase 100% adverso. Protestam os portistas contra a lesão de Andersson, originada por uma falta de Katsouranis (que daria amarelo). Para quem apoiou a expulsão de Micolli, é um bom exemplo de humor negro. E nem é preciso falar das lesões de Rui Costa e Karagounis. O desfecho do jogo só prova que a velha máxima "a sorte protege os audazes" tem excepções visíveis. E nem é a "estrelinha de campeão", que só aparece a quem por ela procura e nem a quem consegue ganhar sem saber ler nem escrever.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Resultados calculados

Depois da benesses concedidas ao Porto em Avalade, como o inexplicável perdão a Paulo Assunção, e das tropelias de Carlos Xistra na Luz, com um belo trabalho impedindo o Benfica de marcar mais golos na Luz e atirando Micolli para fora do jogo nas antas, confirma-se que o caso do Apito Dourado está definitivamente morto e enterrado e que a compra de resultados, ou pelo menos de árbitros, está aí, de volta e mais descarada do que nunca. Nem vale a pena ter esperanças de repetir a brilhante vitória do ano passado. Mais vale que quem está por trás desta tramoia encomende já as faixas. Assim como assim, já nem disfarçam.

sábado, outubro 21, 2006

Justiça e esquecimento no Nobel da literatura

Também sobre o valor estritamente literário do prémio se podem fazer inúmeras considerações. Na lista de galardoados há uma imensidão de figuras que provavelmente só ficaram para a posteridade por causa do galardão, mas que são desconhecidos na maioria dos países. E depois há o contraste com a quantidade de autores que mereceriam indiscutivelmente constar do quadro.
No Corta-Fitas falou-se bastante do assunto nos últimos dias. Aqui fica uma lista de alguns indicutíveis que ganharam o prémio, à qual eu acrescentaria Pasternak, Sartre (nenhum deles o recebeu, o primeiro porque não o deixaram, o segundo porque não quis, sob inúmeros pretextos), Cela, Octavio Paz e Gide. Segue-se outra dos esquecidos pela Academia, o que faz pensar quais os critérios das escolhas. Também aqui, acrescentaria mais alguns, como Duras, Fitzgerald, Kundera ou Vargas Llosa, sendo que estes dois ainda podem lá chegar. E também mais alguns artistas da língua portuguesa. Bem sei que Pessoa era em vida um desconhecido, e que a literatura brasileira e PALOP só tarde desabrocharam internacionalmente. Mas um Torga, uma Agustina, um Vergílio Ferreira, um Amado, um Guimarães Rosa, um Melo Neto, até um Lobo Antunes, não desmereceriam menos que Saramago. E mesmo sabendo-se que a Academia é nórdica, não deveriam ficar atrás dos dinamarqueses, que só à sua conta conseguiram três laureados.
As razões do Nobel

A atribuição do Nobel da literatura a Orhan Pamuk não surpreendeu excessivamente. O escritor turco estava já na lista de candidatos, pelo que não houve reacções de escândalo ou euforia. Como quase só ouvi falar dele na última semana, não posso deixar aqui uma opinião crítica sobre a sua obra, que tem merecido rasgados elogios, ou a justiça do prémio. Outros havia, mais sonantes, mas se ganhou este é porque o júri tinha justificadas razões.

O que já me incomoda mais são as colagens políticas que inevitavelmente fazem sempre aos vencedores ou candidatos, ou porque uma determinada causa se cola a um deles, ou porque o comité do Nobel está "politicamente comprometido" (normalmente é acusado de ser "politicamente correcto"), ou ainda porque os adeptos dos que não ganham ficam irados pelas razões extra-literárias dos seus escolhidos não são tidas em conta.

Caso paradigmático é o do ano passado. Muitos atiraram-se à escolha de Harold Pinter pelas suas preferências pró-comunistas e anti-americanas (que o dramaturgo inglês tratou de confirmar num violento discurso por audiovisual, na cerimónia de entrega do prémio), vendo aí um inequívoco compromisso dos votantes escandinavos com as ideias defendidas pelo laureado. A ser esse o caso, seria de um facciosismo e de uma irresponsabilidade atrozes. Simplesmente, alguns desses críticos também estavam contra a escolha, não por discordarem da obra em si (muitas vezes nem sequer a conheciam, como muitos dos que se atiraram a Pinter), mas exactamente porque o vencedor ostentava uma conotação política adversa da sua. Caiem todas as eventuais razões de indignação e fica apenas a mesquinhez e a hipocrisia, muitas vezes cobertas com um véu de ignorância sobre o mérito do prémio.

Neste caso, dá ideia que a Academia premiou o escritor um pouco por causa da sua luta contra o abafamento do genocídio arménio e da repressão contra os curdos que vigentes na Turquia. São causas nobres, sem dúvida, que merecem o maior apoio. Só que o Nobel da Literatura devia estar reservado para os grandes trabalhadores da escrita e da língua, para os que escrevem deleitando, em prosa e poesia, para os que revelam sensações, angústias, emoções, estados de alma ou de espírito, para os que criam novos estilos e novas linguagens, para os que legam à humanidade as suas obras inspiradas pelo génio e pelo engenho. Nobeis para boas causas serão os outros, nomeadamente os da Medicina e da Paz (muitíssimo bem entregue, o deste ano, esperando que vingue ainda mais), pelas quais foram aliás criados. Por isso não posso concordar com entusiastas desta escolha pelas razões que apresentam, como José Manuel Fernandes, que disse no Público que "A Academia desta vez acertou". Talvez tenha acertado, mas não certamente por essas razões.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Na casa de Bernarda Alba, 70 anos depois.

Aparte todo o registo trágico-cómico-melancólico de Volver, o último filme de Almodôvar (e o primeiro em muitos anos com Penélope Cruz), houve um pormenor que me chamou a atenção. Na altura em que a irmã de Raimunda (a personagem de Cruz) chega à casa da tia morta na véspera, depara-se, ao fugir do suposto fantasma da mãe,e vai dar por engano ao pátio onde estavam os homens, macambúzios, falando baixo com um copo na mão. Num compartimento mais acima, as mulheres carpiam-se, trazendo à baila recordações e abanando-se vigorosamente com leques. Toda esta acção se passa numa aldeia fictícia da Mancha, entre uma paisagem árida e ventosa, onde se destacam campos de ventoinhas eólicas.

E lembrei-me dela pelo seguinte: os mesmíssimos elementos aparecem por esta ordem na peça teatral de Garcia Lorca A Casa de Bernarda Alba (onde cheguei a entrar como figurante nos meus tempos de liceu), salvo que aqui a cena passa-se na Andaluzia, mais sul. Mas a estrita divisão homens-no-pátio/mulheres-dentro -de-casa-abanando-se-com-o-leque está lá, numa divisão sexista, arreigada. E a obra data de 1935, pouco antes do assassinato do poeta e dramaturgo espanhol. Já o filme passa-se na actualidade. Acaba por ser uma homenagem involuntária de Almodôvar a Lorca. E revela como é espantoso que certos hábitos permaneçam em algumas regiões que parece que pararam no tempo. E que, pese a tragédia e o clima de inflexibilidade extrema que paira sobre a peça de Lorca, muitas tradições de velar os mortos conservam um respeito e uma austeridade imutáveis, não deixando ainda assim de olhar a morte com certa naturalidade. Será uma manifestação de obsoletismo arcaico, mas não deixa de ter uma dignidade que impõe respeito.
PS: pensando bem, estava-me a esquecer de alçguns velórios onde estive presente. O costume dos homens ficarem cá fora e as mulheres a carpir-se lá dentro também existe em Portugal, embora menos nas grandes cidades.

quinta-feira, outubro 19, 2006

No Barroso

Abraçando os concelhos de Boticas e Montalegre, com 1279 metros de altura no ponto mais alto, fica a Serra do Barroso, já uma antecâmara da Peneda-Gerês. De Boticas começa-se a subir, passa-se por Carvalhelhos e chega-se à aldeia de Alturas do Barroso, perdida lá no alto. Uns centos de metros adiante ficam os "Cornos das Alturas", dois cabeços com vestígios castrejos no seu cocuruto e que lembram os chifres do gado desta região, aquele mesmo que nos proporciona combates violentos entre os seus machos, além da carne de primeira ordem. A paisagem é pedregosa, a vegetação predominantemente rasteira; mais abaixo abundam os lameiros e os bosques de abetos, que no Inverno, com neve, revelarão seguramente uma paisagem autenticamente natalícia.
Depois dos Cornos desce-se até à zona das grandes barragens. A maior de todas está lá em baixo, a do Alto Rabagão, ou Pisões, que em Portugal só é ultrapassada em área e capacidade pelo Alqueva. A vista daquela quantidade de água, de um azul profundo, neste Verão, é um enorme contraste com as penedias que se erguem atrás, envoltas no tojo. Um cenário de beleza selvagem mas serena, de autenticidade transmontana, em que se se pode ouvir perfeitamente os zumbidos dos insectos, tão escasso é o tráfego por aqui.

Os Cornos das Alturas, Barroso, Agosto de 2006.

Depois do Alto Rabagão seguem-se mais barragens, Montalegre, com o seu castelo roqueiro, Pitões das Júnias, Tourém, Espanha. Um itinerário que será igualmente objecto de umas breves notas, quando um dia o percorrer.

Barragem do Alto Rabagão, Agosto de 2006.

Sobre esta região, ver também este post do Abrupto (há reamente uma eólica juntos aos dois cotos, provavelmente para alimentar a aldeia), este blogue, e mais estes dois.
Desconsolo

Demasiada gente à frente, distracções a meio campo e falta de rins para travar os adversários em corrida de lebre deram no que deram em Glasgow, onde um resultado volumoso e mentiroso tira quase todas as esperanças do Benfica seguir em frente. Depois da soberba goleada em Leiria, frente ao FCPorto-b, esperavam-se mais arrancadas de Micolli e passes de Nuno Gomes, mas só ficaram as intenções e bolas ao lado. Assim são as "vitórias morais", com os inevitáveis chutos à barra (e não nas redes interiores), mas infelizmente não dão pontos. Nem euros.

terça-feira, outubro 17, 2006

Pequeno calendário das festividades que passaram
Em Setembro, por confusão de datas, falhei a festa da Senhora da Pena, em Mouçós, Vila Real, embora estivesse a poucos quilómetros. O interesse do evento era o de os andores terem uma dimensão anormalmente elevada, tanto que este ano concorriam para o Guiness com um de 22 metros de altura, sustentado por 50 almas.
Não estive nessa festa nem na Srª da Almudena, às portas de Vila Real, e muito menos na famosa romaria dos Remédios, em Lamego, no mesma fim de semana. A época estival é abundantíssima em festas populares em honra do Santo ou da Santa y, ou de Nosso Senhor de Qualquer Boa Aventurança. São as descendentes directas dos cultos sazonais pagãos, de recordações milenares. quem viaje por Trás-os-Montes nessa estação, por exemplo, vê cartazes alusivos em todos os concelhos e freguesias, e o mesmo se passa noutras regiões.
Este ano, no Minho, depois do Santo António de Famalicão (que apanhou com uma tromba de água) e do S. João em Braga, havia festas dia-sim dia-não: as de Cerveira; as Gualterianas de Guimarães; a Stª Rita, em Caminha; as de Valença; as de Paredes de Coura (logo antes do festival); a Senhora da Agonia, em Viana; Senhora das Dores, em Monção, apesar da mais conhecida ser a da Coca, no Dia do Corpo de Deus; o S. Bartolomeu, em Ponte da Barca e povoações do concelho de Esposende; e ainda a Senhora dos Navegantes, em Âncora; e, para finalizar, as Feiras Novas de Ponte de Lima, que fecham a saison de festas. E não esquecer os novos gêneros que estão a surgir por toda a parte: as feiras medievais, uma categoria de eventos que serve de filão renovado a muitos concelhos e que prometem concorrer com as tradicionais festividades. Ou complementá-las. Seja como for, ainda é cedo para avaliá-las, mesmo porque até ao momento só se destacaram as de Santa Maria da Feira. A confirmação pode vir no próximo Verão, que este ano, só resta mesmo o de São Martinho.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Um filme conveniente

Já deve estar em poucos cinemas, mas a verdade é que Uma Verdade Inconveniente é uma agradável surpresa. Pedagógico, bem explicado, divertido e muito eficaz, afastando dúvidas prementes. E Al Gore é, imagine-se, um bom actor para o filme em questão. Totalmente aconselhável a cépticos e negacionistas de um dos maiores, se não mesmo o maior, problemas do nosso tempo.

sexta-feira, outubro 13, 2006

A retirada do Pai Guerra
Nos anos que passei na faculdade conheci inúmeros professores, alguns dos quais já com alguma notoriedade, e outros que viriam a alcancá-la. Havia porém uma figura que marcava toda a vida académica, alguém que parecia omnipresente, que estava umbilicalmente ligado áquela instituição.
Francisco Carvalho Guerra, o "Pai Guerra", projectou e criou a Universidade Católica no Porto, desde as exíguas instalações da Torre da Marca até aos dois modernos pólos hoje existentes. Lembro-me particularmente de uma assembleia geral de estudantes a pedir a demissão do reitor da UCP na altura, Isidro Alves, que pretendia afastá-lo do seu cargo. E de uma manifestação por ocasião de uma visita de D. Ximenes Belo com o mesmo intuito. Mas Carvalho Guerra permaneceu no lugar, ostentando o mesmo ar bonacheirão e paternal, e o infindável entusiasmo contido. Até ontem, dia em que se despediu entre um coro de emoções e elogios de todos os quadrantes, a acabar no Cardeal Patriarca. Imaginar o "Pai Guerra" na reforma é coisa de difícil hábito e que requer esforço mental sobre-humano.
Continuação

Parece que depois do meu último post se multiplicaram as declarações em sentido parecido em diversos blogues. No Público de hoje, Pacheco Pereira escreve um interessante artigo sobre o mesmo assunto, e sobre o semi-paradoxo do preconceito de querer colocar Salazar na lista vir precisamente do "respeitinho" tão inculcado pelo Estado Novo (só é pena que recorra ao seu tão querido e exausto "politicamente correcto", mas aqui até é aplicável).
Entretanto já actualizaram " lista de sugestões" de forma mais consensual, ou pelo menos mais sensata. Além de Salazar, incluíram igualmente Marcello Caetano. E Pedro Hispano, outro nome imprescindível, que se não me engano, não constava lá há dias. Ainda assim há falhas: puseram lá dois Eduardos, Gajeiro e Souto Moura, que eram escusados, e esqueceram-se do Lourenço. E D. João IV continua de fora. Vá-se lá entender...

terça-feira, outubro 10, 2006

E o cardeal D. Henrique, não lhe arranjam um lugar?
Eu já desconfiava. Anda agora a ser anunciado um concurso promovido pela RTP para saber quem foram "os maiores portugueses", à imagem do que fizeram outros países (com resultados surpreendentes e discutíveis, diga-se desde já). Anúncios em barda circulam pela TV pública, com pregões de mercado e discussões de café, lançando para o ar nomes das mais diversas personalidades. Num desses reclames, lembrei-me como teria graça alguém mencionar o nome de Salazar. Não é que sinta particular afeição ao vetusto ditador da pachorrenta Santa Comba, nem ao seu regime corporativista, repressivo e rural. Mas faz-me alguma espécie como é que em plena UE, e com a democracia consolidada, ainda que com falhas graves, o simples nome do professor de finanças continue a provocar mais histeria que o de Belzebu. Devem ser raríssimas as recordações onomásticas- só conheço uma ruela com as palavras "Oliveira Salazar" em Santo Tirso, e talvez as haja igualmente na sua terra natal.
Também não sou daqueles que falam constante e incessantemente da "ditadura cultural da esquerda" ou de "vivermos sob um regime socialista", como é próprio de direitistas mais radicais. Mas às vezes até apetece. É que dando uma vista de olhos às dezenas de "sugestões" que o site nos dá, e mesmo tendo em conta que a escolha da personalidade é "livre", não consigo encontrar o nome de antónio de Oliveira Salazar, pelo meio. Goste-se ou não, trata-se de um estadista que esteve mais de três décadas no poder, que caracterizou uma época, um regime, uma Constituição, e que teve os seus aspectos positivos, como o controlo das finanças públicas. Em contrapartida, aparecem-nos lá figurões com idêntica concepção da liberdade, mas menos influentes, como Afonso Costa, Vasco Gonçalves ou Otelo Saiva de Carvalho, e ainda figuras pouco mais que irrelevantes, uma Catarina Eufémia, Manuel dos Santos, e ainda aqueles que, merecendo fazer parte desta lista como prémio pelo seu trabalho em diversas áreas, não estão à altura de serem considerados "o maior português" (casos de Cesariny, Manoel de Oliveira, Joaquim Agostinho, Siza Vieira, etc).
O meu voto? Camões, Pessoa, Nun Álvares, D. Henrique, D. Afonso I...talvez o autor dos Lusíadas, a quem todas as homenagens são justas. Mas noto agora outra grave falha: então não é que na parte relativa aos reis metem-me D. João V, D. Carlos e D. Maria II e esquecem-se do Restaurador? Como é possível terem posto de parte D. João IV? E ainda acrescentaram o demente D. Sebastião, que de relevante só nos deixou um mito e uma esperança brumosa (além do seu tio-avô, o vetusto e cardinalício D. Henrique, como rei).
Isto é que é "Serviço Público"? O tanas!

quinta-feira, outubro 05, 2006

Entretanto, na Áustria
Na Áustria, os socialistas do SPO voltaram a ganhar as eleições, superando o OVP, que estava no poder. Como não obtiveram maioria, tiveram, à imagem da srª Merkel, de fazer uma "Grande Coligação" com os conservadores. A direita mais quezilenta e xenófoba, que obteve votações elevadas, a isso os obriga. Com mais esta imitação dos vizinhos germânicos (mas não inédita, note-se) e os largos votos obtidos pelos herdeiros de Jorg Haider, sabe-se lá se não aparecerão alguns "germanistas", correspondentes lá do sítio aos nossos iberistas, a exigir novo Anschluss. Felizmente, a economia austríaca não está assim tão má (e não é graças a Hayek), a Alemanha não anda para aí virada - ainda bem que existe a UE - e o primeiro-ministro cessante Wolfgang Schüssel não é, apesar de tudo, nenhum Engelbert Dolfuss (uma espécie de Salazar austríaco, mas com menos sorte).
Nos próximos dias vou dar uma volta a zonas, como a Beira Baixa que lamentavelmente ainda não conheço. Bom fim de semana prolongado a todos os que o puderem aproveitar, e boas comemorações do feriado que assinala a fundação do Reino de Portugal.

terça-feira, outubro 03, 2006

Espanha?

Outra conversa da semana passada, resultante da tal sondagem do Sol, que dizia haver 28% de portugueses que queriam ser espanhois. Normalmente, há dois tipos de iberistas: os que vivem no interior profundo, e se sentem abandonados pelas autoridades centrais, e em geral pelo resto do país, e aqueles que por causa da nossa emperrada economia e baixo crescimento, à vista das Zaras, dos Seats e de Penélope Cruz, lamentam-se da sua sorte e clamam ardentemente por Espanha. Se os primeiros têm a sua dignidade, os segundos são de uma precipitação mesquinha e néscia coberta por argumentos inexplicáveis, como os do Arquitecto Saraiva (isto deve andar tudo ligado), que diz que "estamos a atravessar a maior crise da nossa história". Seria bom que alguém fizesse aos senhores iberistas a seguinte pergunta: teriam a mesma vontade de se juntar ao país vizinho se vivessem em 1936?

segunda-feira, outubro 02, 2006

It ´s not the economics, stupid
A semana blogoesférica ficou alvoroçada com o anúncio de que Pedro Arroja iria colaborar regularmente com o Blasfémias. Já tinha ouvido uns tímidos elogios ao economista radicado no Porto, mas a ideia que tinha dele vinha de uma entrevista que deu à saudosa Grande Reportagem, que conservo algures, em Maio ou Junho de 1994 (inclino-me para a segunda hipótese, já que a capa era sobre o Dia D), feita por Fernanda Câncio, que em boa hora a disponibilizou na íntegra.
Recordava-me sobretudo da passagem em que ele defendia que os votos deviam poder ser vendidos, e "não deitados fora", e que "os pobrezinhos sairiam beneficiados". Ou da defesa de um partido nortenho encabeçado por...Pinto da Costa(!!!). Se já tinha ficado altamente deagradado com as ideias do senhor, ainda mais fiquei ao reler a entrevista, nas opiniões sobre a escravatura ("Eu não quero dizer que a escravatura era aceitável, mas não foi má para os negros em termos económicos"), a pena de morte ("O que se concluiu é que por cada pessoa executada na cadeira eléctrica havia sete crimes que deixavam de ser cometidos. Então o que é que é desumano?"), apresentando conclusões contrárias à maioria dos estudos, que provam que o crime é mais elevado exactamente devido à pena de morte. E não só: ao longo da conversa, Arroja debita uma falta de ética, um apego aos números sobre qualquer outra realidade, uma asséptica ideia do mundo ("O que é que é sagrado para si?" "Nada. Nada."), e aquela crença fanática, e simultaneamente determinista, científica, de que a pura economia de mercado sem qualquer intervenção estadual é infalível, e que o mercado prevalece sobre qualquer forma de política e forma de governo, inquinando inclusivamente a escolha democrática feita pelos cidadãos. O neoliberalismo em pleno estado de pureza, escarrapachado, cristalino.
Alguns chamarão a isto de "liberdade". Eu recuso-me a confundir esta dogmática economicista com o primeiro valor da trilogia francesa, que aliás Arroja não deve apreciar. A Liberdade não pode caír na anarquia moral, na dissolução dos valores de uma sociedade, e mais ainda, de uma civilização, que nos é proposta pelos neoliberais de laboratório. Podem os blasfemos considerá-lo "um dos mais importantes defensores da Liberdade que Portugal conheceu nas últimas décadas". Tenho, como aqui já disse, respeito e apreço pelo blogue em questão, do qual aliás conheço vários elementos, embora a maior parte das vezes discorde deles. Por isso lamento que venham com proclamações bombásticas que roçam a idolatria do referido economista, e que acabam por caír no ridículo. Não serei, certamente, assíduo leitor dos futuros escritos do Dr. Arroja. Perdoem-me, mas o megafone ultraliberal acaba por tirar a paciência a um santo.
PS: o maradona deixa aqui a sua própria visão da coisa. Ó Carlos, essa de ser comparado a um Quindim não devia passar impune.

sexta-feira, setembro 29, 2006

O resultado de pôr a mão própria em obra alheia
A decisão de cancelar a ópera Idomeneo de Mozart é a todos os títulos lamentável. Não há que ter contemplações: não é o facto de haver ameaças abstractas de alguns bárbaros que justificam tal vergonha. As medidas de segurança existem por algum motivo. O temor de ofender os crentes islâmicos não colhe, e desrespeita o cristianismo e o budismo, por razões idênticas.
Simplesmente, como bem notou Luís Aguiar Santos, o único deus que entra na ópera é Neptuno e a sua cabeça não é exibida no fim. Eu nem conhecia esta obra, confesso, mas pela lógica dá para perceber: seria uma enormíssima impiedade surgir a cabeça cortada de Jesus num espectáculo do Séc. XVIII, em pleno Sacro Império Romano-Germânico. Buda não era muito divulgado naquele tempo, e mesmo Maomé não aparece aqui, apesar das memórias do cerco à capital do Império pelo otomanos, cem anos antes (Neptuno era imortal, devido à sua condição divina).
Quer dizer: primeiro desvirtuam a obra original, e depois queixam-se das ameaças às alterações. Grande coerência. Grande coragem.

quarta-feira, setembro 27, 2006

Chatice!

O Benfica anda em maré de maus resultados. Depois do balde de água fria (para mim literalmente, porque tinha acabado de fugir da chuva) em forma de golo pacense já nos descontos, depois de um jogo controlado e duas bolas na barra, tinha agora de vir esta maldita derrota com o Manchester United. Viu-se uma primeira parte aceitável, mas depois do velocíssimo contra-ataque que culminou no golode Saha, a equipa, inexplicavelmente, retraiu-se, perdeu forças, deixou de pressionar. O meu medo do nulo final era mais optimista do que pensava. E os jogadores tiveram uma atitude contrária à do ano passado, quando foram para cima em busca da passagem aos oitavos. Resta-nos vencer os confrontos com os católicos de Glasgow, contra os dinamarqueses, e, quem sabe, obter as migalhas na última jornada aos ingleses, que por certo já terão tranquilamente alcançado o 1º lugar, depois da humilhação do ano passado. A coisa não está fácil.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Bizantinices e fanatismos

Dez dias depois da primeiras notícias, a conferência de Bento XVI em Ratisbona continua a dar que falar. Por falta de ocasião, não tinha ainda podido postar sobre o assunto. Durante estes dias, tenho lido as mais diversas considerações sobre a famosa passagem do diálogo entre o imperador bizantino Manuel II Paleólogo e "um persa culto". Desde a "irresponsabilidade do Papa em proferir afirmações incendiárias", ao "notável discurso sobre a Fé e a Razão", isso, claro, nas sociedades de raiz cristã. Da parte de alguns clérigos e militantes do fanatismo islâmico ouviram-se imprecações, protestos, e coisas tão extraordinárias como "o Papa deve responder em tribunal", ou "deve pedir desculpas de joelhos perante um representante xiita". É óbvio que as reacções destes últimos devem ser tomadas como delírio próprio de mentes medievas (no nosso calendário, evidentemente) e ignorantes. Já os discursos menos inflamados mas carregados de auto-vitimização de alguns líderes espirituais, bem como novas ameaças terroristas, são factor de preocupação.
Lendo bem o texto, e percebendo o seu sentido, não posso deixar de pensar que só a má-fé ou a precipitação tenham atiçado toda uma polémica absolutamente desnecessária. O discurso, mesmo se baseado nessa passagem, poderia ser uma enorme alavanca para um debate filosófico e teológico, até (sobretudo) com interlocutores muçulmanos, e para uma nova compreensão das religiões e das relações entre elas.
Não o quiseram os acontecimentos posteriores nem a comunicação social, que se apressou a divulgar o discurso com base na passagem que incluiu observações menos simpáticas para Maomé. Uma discussão intelectual perdeu-se assim, por culpa de imprensa ávida de escândalo e de sangue, e de uma matilha de fundamentalistas que não merece o menor respeito. Os líderes das principais comunidades muçulmanas europeias, inicialmente desconfiados, deram-se por satisfeitos com as explicações do Papa, até o maníaco do Irão achou que tinha havido uma "interpretação errada", e pelo menos na Europa não se assistiu a histerismos invocando Alá (excepto em Londres, onde se encontra a comunidade mais radical, a par da de Hamburgo). O "choque de civilizações" continua adiado, para grande pena dos Salafitas e dos valentões que do lado ocidental continuam com a habitual postura de "segurem-me que eu vou-me a eles".
Como é óbvio, Bento XVI esteve bem em explicar o seu ponto de vista para não deixar margem para dúvidas, e em não desculpar-se, não havendo de quê. Mas, como sucessor de Pedro e autoridade máxima da Igreja Católica, deve também ter algum senso e agir com diplomacia. Penso que a sua intenção não era outra, ao contrário do que disse Miguel Sousa Tavares no Expresso, num registo demasiado anti-religioso para o meu gosto - se a cultura muçulmana mostrou coisas admiráveis, há coisa de mil anos, não é menos verdade que, citando Vasco Pulido Valente, "não produziu nada de remotamente comparável com o cristianismo". Mas não me refiro ao suposto bom-senso em relação ao "mundo muçulmano": simplesmente, e nisto poucos repararam, o Papa, a dois meses de uma viagem à Turquia, lembrou-se justamente de citar, na parte mais dura do discurso, o antepenúltimo Imperador bizantino, pai de Constantino, derradeiro soberano da cidade dos Bósforo, morto aquando da sua tomada pelos...turcos. Para um país tão susceptível quando se fala do massacre dos arménios, a ideia não terá sido brilhante. Manuel II Paleólogo já sofria a imparável ameaça otomana, que terminaria com a Idade Média em Maio de 1453. Acresce que a queda de Constantinopla deveu-se também muito ao declínio do Império desde o ataque e pilhagem pelos cruzados, convocados por Roma em 1204, e à insignificante ajuda que os católicos deram no momento em que o crescente estava às portas da cidade. Alguns, como os genoveses, aproveitaram-se mesmo para obter vantagens comerciais dos turcos. Daí a desconfiança e hostilidade com que a Igreja do Oriente nos trata até hoje, ainda que com boa dose de injustiça e inflexibilidade.
Uma questão por demais complexa, como são todas as que envolvem Fé e religião. E se não forem acompanhadas de razão, mais ainda...

quinta-feira, setembro 21, 2006

Fechos e intervalos

O melhor blog de futebol, o Terceiro Anel, encerrou actividades por manifesto défice de manutenção. É o fim anunciado do melhor blog português de futebol.

Menos radicais foram o Estado Civil e o Franco Atirador, que resolveram fazer uma pausa.

domingo, setembro 17, 2006

O Sol não nasce para todos
O Sol, novo e badaladíssimo semanário, saíu do prelo depois de semanas de apostas e expectativas, ainda mais empoladas com o fim de O Independente. Pela minha parte, digo desde já que foram goradas. Dá ideia que o luminoso título emprestou uma conotação muito light ao jornal, reforçada com a presença de Margarida Rebelo Pinto e afins.
A "entrevista" de Maria Filomena Mónica vale como curiosidade e chalaça jornalística, mas deveria ficar no fim, e jamais na segunda página do jornal. José António Saraiva, com o novo "Política a sério", persiste no seu estilo paragráfico, embora no essencial concorde com o que escreve sobre a saída de serviços do interior e da contribuição para a desertificação. Marcelo faz meramente uma antevisão da sua dissertação dominical na RTP. E os Portas não trazem muito de novo: Miguel, à esquerda, traça, de forma mais subtil as ideias bloquistas sobre o conflito do Líbano. Paulo, à direita, faz uma "crítica" ao novo filme de Sophia Coppola, Marie Antoinette, mais política que cinéfila, onde demonstra algum do anti-francesismo hoje tão em voga ("...aquela cabecinha de Robespierre que há em metade dos franceses..."), revela desconhecer a popularidade de que a realizadora goza em França e ainda tem espaço para eros históricos (Maria Teresa, não obteve o trono do Sacro-Império por "casamento", mas porque sucedeu ao seu pai, o imperador Carlos VI, que era o "nosso" candidato a Rei de Espanha na guerra de sucessão do país vizinho, e que chegou a ser coroadao como tal graças à tomada de Madrid pelo Marquês das Minas).
O estilo do jornal é, como disse, muito light, muito "engraçadinho" e pretensamente provocatório, como as picadas ao Expresso logo na capa ("este jornal não faz promoções" - veremos até quando). O mito de não houver patrocinadores grados é afinal desmentido, com a história das respectivas vidas a meio. O manifesto é paupérrimo, desfiando uma série de adjectivos positivos, para caracterizar a publicação, e seus desvios, ou vícios, que nunca, jamais, em tempo algum, o jornal adoptará. Em suma, um jornal perfeito. Ou melhor dizendo, que se leva demasiado a sério, à imagem do seu director.
Conclusão: apesar de tudo, vou continuar a comprar o Expresso, que para além dos DVDs, está realmente melhor.

sábado, setembro 16, 2006

Desfazendo tabus do futebol

Sobre o jogo do Benfica em Copenhaga, não vale a pena falar. Um pontinho conquistado num jogo medíocre, contra uma equipa que ainda não demonstrou se é realmente um outsider ou se vale mais do que se pensa. Dos outros, além dos desempenhos portugueses, reparei nalgumas goleadas, como a do Steaua no estádio dos vizinhos de Kiev. Mas reparei igualmente,no dia seguinte, ao consultar algumas fichas de jogos, nalguns nomes da equipa ucraniana do Shaktior Donetsk: um jogador chama-se Olexei Gay; e ainda há outro, romeno, chamado Marica. Bem sei que os apelidos hoje em dia pouco significam, mas acredito que estes possam provocar alguma perplexidade, ou, quanto muito, desconfiança, a António Oliveira e à sua teoria do "futebol macho".

quarta-feira, setembro 13, 2006

Esta noite, em Copenhaga
O jogo de hoje é importantíssimo para o Benfica. Não somente por ser a estreia deste ano nas competições europeias, nem pelo adversário ser teoricamente o mais fraco do grupo, o que obriga a um bom resultado para evitar futuros apuros. Servirá sobretudo para tentar dar a volta ao desastre total que se viveu no Bessa, no último fim-de-semana, e que já desfalcou a equipa para a próxima jornada. É imperioso que haja alma, concentração e alguma garra. E talento, para compensar as ausências de Rui Costa, Miccoli e a falta de ritmo de Simão. Convinha que Fernando Santos mostrasse enfim que é mesmo um grande benfiquista. Marcar e ganhar, é o que é preciso. E também não esquecer que o adversário dinamarquês não é apenas "alto, louro e tosco", que eliminou o Ajax da prova e que conta nas suas fileiras com o talentoso Gronkjaer e o jogador que, de entre todos os que estiveram no último Mundial, ostentava o nome mais divertido: o ganês Razak Pimpong.
Ps: para os que afirmam que "a imprensa é toda benfiquista", convido-os a comparar o título do Público sobre a derrota com o Boavista ("Benfica goleado no Bessa") com a do Liverpool, que encaixou o mesmo resultado("Liverpool quase goleado pelo Everton"). E há mais, muito mais.
Banalizações

Começo a concordar com aqueles que dizem que a memória do 11 de Setembro está a ficar banalizado. Com a enxurrada de documentários, filmes, telefilmes, entrevistas, debates, alguns Pró, outros Contra, teorias da conspiração e demais programação avulsa, em qualquer tipo de comunicação social, receio que isto se esteja realmente a banalizar. E no entanto não merecia. Quem nos manda viver num mundo com excesso de informação?

sexta-feira, setembro 08, 2006

Os responsáveis

No suplemento Local (Norte)do Público de segunda-feira, vinha em destaque um artigo sobre os desacatos provocados por adolescentes em Moledo, nos últimos dias de Agosto. Como testemunha in loco de algumas réstias dessa situações, confirmo a descrição do artigo. A "miudagem" que cirandava pela povoação à noite, de copos e cigarros (legais ou não) na mão, nem sempre tinha propósitos pacíficos. O mínimo pretexto ou discussão servia para os pôr num estado de tensão ou de conflito pouco recomendável.
Claro que, como frisava o jornal, não se tratava exactamente de malta dos bairros, de resto pouco frequente naquela zona não urbana, mas sim de filhos de veraneantes, quantas vezes de classe média alta, a quem os pais, para não se aborrecerem, davam rédea solta e dinheiro para a mão. Os resultados, como desacatos frequentes que obrigaram mesmo a chamar a polícia, ou uma imensa barulheira dividida entre batuques e vozes altas, ficaram à vista
Melhor exemplo para mostrar as consequências da demissão das famílias na educação dos filhos é impossível. Eis uma boa temática a ser estudada por Maria Filomena Mónica. Fazendo o que bem lhes apetece com os meios necessários, julgando-se "rebeldes" e donos de si, tornam-se pequenos delinquentes. Actos próprios de quem julga que o mundo é seu, mas a quem falta valores para o poder julgar e compreender. Não se trata de "rebeldia" contra qualquer "sistema" ou qualquer imposição forçada ou mais castradora: é apenas a satisfação dos humores do momento, de qualquer maneira, sem sombra de racionalidade. Obviamente, um insulto a qualquer "rebelde" que se preze e que tenha uma causa mínima. Como não acredito em rebeldias sem causa, e como acho que a história da irreverência juvenil tem os seus limites, embora seja natural e até desejável nos seus meandros normais, quase que desejava o regresso de alguns castigos corporais para pôr algum travão a esta malta. Como apesar de tudo vivo no nosso tempo, apenas gostava que alguns paizinhos assumissem algumas responsabilidades e dessem às proles alguma educação a sério, ao invés de lhes darem notas. É que marginais por marginais, sempre prefiro a rapaziada dos bairros camarários, com bastantes mais problemas sociais e económicos que determinados meninos irresponsáveis.

quinta-feira, setembro 07, 2006

Mirandela na estrada

Em Mirandela organizou-se uma marcha lenta pelo IP-4 como forma de protesto pela anunciada saída da maternidade do concelho. Embora duvide da eficácia da iniciativa,e crendo que não ficaria muitocontente se tivesse de viajar nesse troço ás mesmas horas, estou totalmente de acordo com os mirandelenses. É certo que ministros, directores de jornais e "fazedores de opinião" acham que "é impossível ter todos os serviços ao virar da esquina". É verdade. Mas acredito que os que invocam esse argumento não vivam propriamente numa região com falta de estruturas básicas, como vias de comunicação decentes, hospitais, ou mesmo uma adequada oferta cultural. Aposto que 99% não residem a mais de trinta quilómetros do litoral.

Mirandela não é Barcelos, nem Santo Tirso, nem Oliveira de Azemeis. Não é exactamente um fim do mundo, mas as pessoas não têm a possibilidade de chegar à maternidade mais próxima num quarto de hora. Até porque Bragança é o único distrito continental que não tem um metro de auto-estrada. Parece que há mesmo a ideia (criminosa e desprovida de sentido) de encerrar o que resta da linha do Tua. Imagine-se ainda como será para as populações de Freixo de Espada à Cinta ou de Vimioso, ainda com piores acessos. Quando se fala na interioridade do país, melhor seria não vir com o "impossível ter os serviços à porta". Há quem não os tenha num raio de dezenas de kilómetros.
Mão Direita do Diabo



Sim, também é possível ver o ambiente dos film noir e dos romances policiais da Colecção Vampiro (ou mesmo da sua antepassada, a colecção Escaravelho de Ouro, da qual herdei alguns exemplares) escrito em português e por portugueses. É claramente o caso de Mão Direita do Diabo, de Dennis McShade, pseudónimo de Diniz Machado, com o seu anti-herói Peter Maynard, seco e rude, mas culto, a sua dreamgirl, as suas ligações aos sindicatos do crime, os seus comparsas ítalo-americanos, a sua úlcera, que o impede de tocar em álcool, tudo numa aura negra, cómica, gangsteriana. Para apreciadores do gênero, por muito que alguns o considerem "menor". Bem haja o Público e a Colecção 9 mm.

terça-feira, setembro 05, 2006

Sobre o Indy

Não houve quem, nos jornais ou nos blogues, se escusasse a deixar a sua declaração desentimentos ao Independente (é escusado fazer o link). Deixo então o meu modesto contributo para o epitáfio ficar completo.
Lembro-me ainda do primeiro número do jornal e da imensa publicidade que lhe fizeram, que conseguiu esgotar a primeira edição. Como era muito novo e a política era para mim um terreno obscuro onde se moviam seres engravatados, só me lembro de ver anunciado um cantor negro de jazz.

O perfil do jornal, graças à dupla MEC/Paulo Portas, era o de um libelo anti-cavaquista, que o rodeava pela direita, muito embora se inspirasse no esquerdista Liberation, com um estilo mordaz, frontal e agressivo, que tanto desenterrava casos reais como estampava histórias de veracidade mais que duvidosa.
Lembro-me particularmente da primeira metade dos anos 90, os do grupo do Altis, que criou o PP de Manuel Monteiro. Uma geração de jornalistas, agora mais convencional, formou-se exactamente no semanário de sexta-feira. O apogeu do jornal data dessa época, que coincidiu precisamente com os ataques mais acirrados ao cavaquismo. Alguns deles eram claramente injustos e mesmo infames. Lembro-me da perseguição que fizeram a Macário Correia, em que inclusivamente colocaram uma fotografia dos seus pais com aspecto, em parte forjado, de campónios. Miguel Esteves Cardoso veio aliás mais tarde pedir desculpa por esse exagero. O suplemento Indy não era menos irreverente (lembram-se da BD do major Alverquinha?), com críticas sardónicas de MEC, e outras um pouco mais sérias dos diferentes colaboradores.

O restante percurso do jornal é sabido. Portas trocou o jornalismo e as mangas de camisa pela política e pelos fatos de corte clássico; Esteves Cardoso saíu com outros projectos e regressou durante algum tempo, já sem o vigor do início. O projecto semi-ideológico do Independente começou a esgotar-se. Nos últimos anos, verificou-se uma tentativa desesperada de voltar aos "velhos tempos", mas já era tarde, e as ideias estavam longe de ser frescas e originais. Embora pudesse surpreender inicialmente, constata-se que o fecho do jornal era afinal uma inevitabilidade que ninguém se tinha lembrado de prever.

Com o fim de uma era no jornalismo luso, fica assim um espaço em branco à direita, tal como em todas as outras vertentes, a começar pelos partidos. O Semanário é uma irrelevância, o Diabo só mesmo para nacionalistas trauliteiros, o Expresso não tem suficiente carga ideológica, mantendo-se próximo do PSD (olha a redundância!). Está-se à espera do Sol para saber o que sai dali, mas calcula-se que seja um veículo para publicitar os pensamentos e as vaidades de José António Saraiva (e do omnipresente e enjoativo Marcelo Rebelo de Sousa). Talvez a legítima herdeira do Independente seja mesmo, num estilo menos irreverente e ácido, mais professoral e aprofundado, a revista Atlântico.