terça-feira, outubro 10, 2006

E o cardeal D. Henrique, não lhe arranjam um lugar?
Eu já desconfiava. Anda agora a ser anunciado um concurso promovido pela RTP para saber quem foram "os maiores portugueses", à imagem do que fizeram outros países (com resultados surpreendentes e discutíveis, diga-se desde já). Anúncios em barda circulam pela TV pública, com pregões de mercado e discussões de café, lançando para o ar nomes das mais diversas personalidades. Num desses reclames, lembrei-me como teria graça alguém mencionar o nome de Salazar. Não é que sinta particular afeição ao vetusto ditador da pachorrenta Santa Comba, nem ao seu regime corporativista, repressivo e rural. Mas faz-me alguma espécie como é que em plena UE, e com a democracia consolidada, ainda que com falhas graves, o simples nome do professor de finanças continue a provocar mais histeria que o de Belzebu. Devem ser raríssimas as recordações onomásticas- só conheço uma ruela com as palavras "Oliveira Salazar" em Santo Tirso, e talvez as haja igualmente na sua terra natal.
Também não sou daqueles que falam constante e incessantemente da "ditadura cultural da esquerda" ou de "vivermos sob um regime socialista", como é próprio de direitistas mais radicais. Mas às vezes até apetece. É que dando uma vista de olhos às dezenas de "sugestões" que o site nos dá, e mesmo tendo em conta que a escolha da personalidade é "livre", não consigo encontrar o nome de antónio de Oliveira Salazar, pelo meio. Goste-se ou não, trata-se de um estadista que esteve mais de três décadas no poder, que caracterizou uma época, um regime, uma Constituição, e que teve os seus aspectos positivos, como o controlo das finanças públicas. Em contrapartida, aparecem-nos lá figurões com idêntica concepção da liberdade, mas menos influentes, como Afonso Costa, Vasco Gonçalves ou Otelo Saiva de Carvalho, e ainda figuras pouco mais que irrelevantes, uma Catarina Eufémia, Manuel dos Santos, e ainda aqueles que, merecendo fazer parte desta lista como prémio pelo seu trabalho em diversas áreas, não estão à altura de serem considerados "o maior português" (casos de Cesariny, Manoel de Oliveira, Joaquim Agostinho, Siza Vieira, etc).
O meu voto? Camões, Pessoa, Nun Álvares, D. Henrique, D. Afonso I...talvez o autor dos Lusíadas, a quem todas as homenagens são justas. Mas noto agora outra grave falha: então não é que na parte relativa aos reis metem-me D. João V, D. Carlos e D. Maria II e esquecem-se do Restaurador? Como é possível terem posto de parte D. João IV? E ainda acrescentaram o demente D. Sebastião, que de relevante só nos deixou um mito e uma esperança brumosa (além do seu tio-avô, o vetusto e cardinalício D. Henrique, como rei).
Isto é que é "Serviço Público"? O tanas!

3 comentários:

Anônimo disse...

Concordo. Isto das "importâncias" não pode ser exclusivamente subjectivista - há factos objectivos incontornáveis. Outra coisa diferente é o gosto pessoal de cada um.
Abraço,
jmm

Anônimo disse...

Afinal, caro Pimenta, está lá o Salazar! Ora vê melhor.

jmm

João Pedro disse...

Sim, mas ontem não estava. Devem tê-lo posto entretanto, provavelmente porque alguma mente mais esclarecida lhes chamou a atenção.Ou então, leram esta posta.