Vocabulário dispensável
Se se reparar bem em grande parte dos discursos políticos actuais (como o da discussão da AR de hoje), notar-se-à que muitos dos predicados utilizados - posso falar em predicados ou a TLEBS já está em vigor - são constantemente comidos. Sim, comidos. Querem exemplos? "O Governo ´tá a executar políticas de rigor"; "o Partido ´teve em peso com o candidato X"; "O Eng. Sócrates ´tá a tomar medidas necessárias/demagógicas".
Percebem? Alguns erros coloquiais, tão banalizados nas conversas do dia-a-dia, são utilizados pela classe política de forma descuidada e constante, como se estivessem a falar com o colega do lado e não numa tribuna para o país. Falo dos políticos porque são os que têm mais responsabilidades na condução do estado, e porque são figuras públicas e notórias, mas podia-me socorrer de outros exemplos existentes na sociedade, como a economia ou as artes.
Parece-me particularmente infeliz este descuido com o uso da língua fora do âmbito privado. Se se quer passar uma imagem de algum rigor, convinha estar atento a estas corruptelas orais. Eu sei que a língua está sujeita a evoluções e mudanças, por muito que nos custe. Mas em alguns casos isso pode não trazer qualquer melhoria. Imagine-se o "teve" como pretérito perfeito de dois verbos diferentes, ter e estar. Ou então este último transformado em verbo "tar". Ou ainda o verbo "perar". É que talvez não fosse pior começar a distinguir evoluções linguísticos e de fala dos meros atentados ou fortes vícios, causados por por simples facilitismo.
E na mesma linha, veja-se essa imbecil campanha feita pela BCP (cujo rosa das infinitas agências bancárias em cada esquina já não se suporta), com Bruno Nogueira a perguntar a uns supostos "jovens" se "kerem voar". Assim mesmo.
Não sei porque carga de água é que não põem "queres" em lugar do Kapa. Ou os senhores da campanha não sabem escrever senão ao telemóvel, ou então acham que todos os "jovens" a quem se dirigem são mentecaptos e só sabem ler assim. Bela imagem que a ubíqua instituição do Dr. Paulo Teixeira Pinto tem das novas gerações e das suas pontencialidades.
sexta-feira, dezembro 22, 2006
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