Novo rumo laranja
As eleições para a liderança do PSD foram há já uma semana. Como não trouxeram novidades substanciais, nem sequer referi o assunto, mas não resisto a deixar umas notas.
A vitória de Pedro Passos Coelho sentia-se à légua, mesmo que a sua dimensão possa espantar. Quem tem as "bases" como ele tinha não precisa de temer grandes percalços. Quando as principais distritais, zonas de forte implantação laranja, como Viseu, Leiria ou Vila Real, e régulos partidários como Fernando Ruas ou Marco António apoiam o mesmo candidato, é certo e sabido que será este o vencedor. Mesmo que a Madeira fique de fora. Aliás, as reprimendas de Passos Coelho a Jardim deram-lhe ainda mais apoio, enquanto que algumas atitudes de Paulo Rangel, a começar na facadinha a Aguiar Branco, não caíram bem no partido, tivesse ele o "baronato" que tivesse.
Impressionou-me apenas a baixíssima percentagem de votos de José Pedro Aguiar Branco. Os apoios de Rui Rio e Agostinho Branquinho não foram suficientes para descolar de uma votação residual. Poucos viam nele um líder carismático necessário para levar o partido ao poder. Quanto a Castanheira Barros, a sua candidatura não era para levar a sério.
Fico na dúvida se Rangel saiu reforçado, com aura de alternativa ou "futuro líder", ou se pelo contrário, não acabou chamuscado, desperdiçando o capital que ganhara com a vitória nas Europeias. Pode ser que tenha ganho pelo menos notoriedade, e a sua candidatura seja uma base para voos futuros. Mas antes de mais deve permanecer em Estrasburgo, crescer como político, corrigir erros e ganhar experiência. Não será de todo negativo para ele alguns anos na sombra. Rangel precisa de aprender a conter-se e a conter os seus discursos. Será um bom político se conservar as suas ideias e o deslumbramento inicial lhe passar.
E como será o PSD passoscoelhista? Não creio que o novo rumo liberal fosse a razão de tantos apoios internos. Dificilmente se pode ver o liberalismo, mesmo o de costumes, como uma ideologia popular em Portugal. Poderá refrescar o partido e levar-lhe novas caras, mas como alternativa de governo levanta algum cepticismo. Até porque se arrisca a confundir-se com o actual PS, e Passos Coelho com um Sócrates mais simpático. Como é óbvio, as ideias liberais irão esbater-se, quando a necessidade de ganhar votos vier ao de cima (lembram-se do choque fiscal de Durão Barroso?).
Gostava também de saber o que pensa Paulo Portas disso. À parte o caso dos submarinos, o líder do CDS-PP deve achar este rumo do PSD muito interessante. Dizia um jornal há meses que Portas estava à espera da vitória interna de Passos Coelho para "partir a espinha ao PSD". Exageros à parte, poderá ver uma oportunidade de roubar votos à direita, ao eleitorado mais conservador e desconfiado da liderança laranja. Não creio que os populares se tornem no maior partido de direita. Mas se o PSD roubar suficientes votos ao PS para o suplantar, precisará mais uma vez do CDS-PP para formar governo. E desta vez o partido de Portas terá mais peso do que no tempo de Barroso.
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