O mês de Agosto e o defeso ficaram inevitavelmente marcados pela maior transferência futebolística da histórica, a monstruosa compra de Neymar pelo Paris Saint-Germain ao Barcelona, por astronómicos 220 milhões de euros, e que superou duplamente o anterior recorde - Pogba, comprado no ano passado pelo Manchester United por pouco mais de cem milhões de euros. Qual bola de neve, a transferência do craque brasileiro para Paris inflacionou o mercado e levou a outros negócios avultadíssimos, como a compra de Dembelé, um jovem de 20 anos muito tecnicista, por mais de cem milhões de euros pelo Barcelona, de forma a colmatar a saída de Neymar e mostrar alguma força, a tentativa de compra de Philippe Coutinho ao Liverpool por 150 milhões (que ao que tudo indica falhou) e outros negócios que aqui há uns anos seriam inimagináveis.
As somas do negócio, para muitos obsceno, podem fazer surgir algum sentimento de pudor, mas além da valor em si também causam admiração se pensarmos que o PSG pertence a um fundo do Qatar, gerido pela família que reina no pequeno mas riquíssimo estado árabe, que desde Junho enfrenta um bloqueio económico e diplomático dos seus vizinhos árabes, e que resolveu fazer um golpe mediático e publicitário para mostrar o seu poder económico e garantir alguma influência fora do Golfo Pérsico, agora que a Al-Jazeera também enfrenta sérias ameaças. é verdade que a política sempre utilizou o futebol como canal de propaganda e de influência, mas a este nível, tão transversal e internacional, não há grande memória.
Mas geostratégia à parte, o facto de ter sido o PSG a comprar um craque da bola por tão avultado montante trouxe-me à memória uma curiosidade, uma cena do filme franco-romeno "O Concerto", de 2009, que teve assinalável êxito de crítica e de bilheteira. A dada altura, para conseguir fundos para uma digressão a Paris, ao teatro Châtelet, os protagonistas, músicos russos retirados, convencem um oligarca melómano a financiar o projecto, ao que este acede na condição de o deixarem tocar na orquestra. Eis senão quando aparece a mãe do magnata, a invectivá-lo por por não aproveitar, já que ia para Paris, para comprar o PSG e levar para lá o Messi, porque o futebol é que estava a dar (não sei se é textual, mas é mais ou menos isto, e se não me engano haverá por lá uma qualquer comparação a Abramovich).
Não sei se os príncipes qataris viram o filme, mas a verdade é que foram multimilionários árabes, e não russos, a comprar o clube parisiense, e acabou por ser Neymar, e não Messi, a trocar Barcelona pelo Parque dos Príncipes. A realidade acabou por ser um tudo de nada diferente, mas mais uma vez, a vida imitou a arte quase ao milímetro.
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