segunda-feira, maio 31, 2004

E continua o toque de finados dos blogs de referência. Aconteceu agora ao Dicionário do Diabo, de Pedro Mexia, que passa a estar disponível em versão colectânea, juntamente com os posts da Coluna Infame; é facilmente encontrado em qualquer Feira do Livro por esse Portugal fora.
Mas não é causa para desespero: termos sempre notícias de Mexia na GR ou até em situações em que ele esteja, eventualmente, fora do mundo. Para não falar nas eventualidades, é claro.

Sim, eu sei, não há como lhe escapar: o FC Porto ganhou a final da Champions ao Mónaco,marcou três golos, atingiu o céu, mostrou-se a todo o mundo e a festa redobrou, embora aqui tenham tido a generosa contribuição de numerosos adeptos de outros clubes. Eu próprio não deixei de apreciar a vitória, embora ao princípio tenha julgado que me ia ser indiferente. Acabou por não ser, até porque estava em companhia de amigos portistas moderados, que mereciam o maior apoio.
A isto sucedeu a natural euforia, um pouco por todo o país, e a chuva de elogios ao Porto. O problema é que nestas situações aparece sempre gente que desconhece o fair-play, as regras de cortesia e desportivismo, etc, e que começa logo com expressões do tipo "curvem-se perante nós", "curem-se da azia", e outros vocábulos irreproduzíveis num blog civilizado como este (ou pelo menos, que o tenta ser). Ouvi isto tanto pessoalmente como na blogoesfera. Por essa razão, e por estar farto de ver em diversas publicações loas ao FCP,como lampião que se preze, tratarei de pôr as coisas nos devidos lugares. Os amigos portistas que me desculpem, mas isto é sobretudo dedicado àqueles de quem falei anteriormente.

Apesar de estar neste momento bastante acima (desportivamente falando) do que o SLB, não considero de forma alguma que o Porto seja maior, coisa que muitos tentam agora defender, mas que não tem o menor cabimento. É certo que têm mais títulos internacionais; mas o Benfica tem mais títulos nacionais (agora até tem o dobro das Taças de Portugal), mais finais europeias (sete só da Taça dos Campeões, o que nos dá o duvidoso título de campeão das finais perdidas), melhor ranking internacional desde sempre, muitos mais adeptos (uma condição inegável)e, mais uma vez, o maior estádio. Além disso, o Porto faz gala de representar "uma cidade e uma região"; absolutamente legítimo; mas em compensação o Benfica representa todo um país. Eis a condição de maior totalmente justificada. O que não significa que seja o melhor, qualidade que atribuo ao Porto sem a menor hesitação.
Há tempos vi um ranking em que eram apontados os dez maiores clubes da Europa, baseados nas vitórias e finais onde já tinham estado. Correspondia exactamente aos dez Gloriosos Europeus, tal como os tinha pensado, a saber: SLB, Real Madrid, Barça, Inter, Juventus, Milan,Manchester, Liverpool, Ajax e Bayern. Para lá da situação actual, das decepções que tenham constituído este ano ou de outras deficiências, todos estes clubes marcaram uma época (Benfica, década de 60, ou Liverpool, fins dos 70)ou introduziram novidades no futebol então jogado (Ajax, como futebol total,ou Inter, cattenacio). Daí o galardão que se lhes atribui.
Aquém disso estão diversos clubes grandes mas que não cabem na classificação anterior, nos quais se encontra o Porto ao lado de outros respeitáveis nomes como o Borrusia Dortmund, Marselha, PSV, Feyeenord, Celtic, Anderlecht ou Valência, com presenças notórias mas fugazes na Europa do futebol. Atrás virá ainda outro grupo, onde está o Sporting, enquadrado pelo Rangers, Parma, Galatasaray, Dínamo de Kiev ou Lazio de Roma.
Por isso, o SLB, pertencendo à nata da nata dos clubes europeus,tem forçosamente de voltar à ribalta rapidamente. O seu lugar natural é lá. A mística e a glória assim o exigem.Em Agosto outra oportunidade de voltar à Champions se abre; há que aproveitá-la, qualquer que seja o adversário. E ir o mais longe possível.

Acredito mesmo que o SLB volte a conquistar a Taça dos Campeões (lamento, mas este é o seu verdadeiro nome). Num futuro não muito distante. Em pleno Estádio de Saint Denis, Paris, perante o AC Milan, com quem temos velhas contas a ajustar. Depois de eliminar Inter, Manchester e PSV. Perante um coro de dezenas de milhares de portugueses de vermelho carregado. O título que nos foge há mais de quarenta anos, desde a maldição de Bella Guttmann, e que tão ardorosamente merecemos. Porque não me esqueço daquele momento decisivo em que o guarda-redes do PSV defendeu o penalti de Veloso. Podia até ser um miúdo que não gostava muito de futebol na altura, mas essa ferida na alma clubística conservou-se sempre. E só cicatrizará com o regresso ao maior nível do SLB ás grandes vitórias que o caracterizaram e dele fizeram o que é.
Quem quiser pode pensar que isto é um post escrito por um adepto fanático do clube em questão. Não me interessa. Olhando para o SLB, e lembrando.me por exemplo dos 120.000 apoiantes que chegou a ter num só jogo aclamando-o até à exaustão, não posso deixar de dizer que é o MAIOR! E atenção que digo isto com toda a racionalidade que se pode exigir quando se fala da bola e em particular do clube amado.

Mais uma vez escrevi um post extremamente longo sobre futebol. É perfeitamente natural. Afinal de contas, o país inteiro anda a ser impregnado, coberto por uma imensa onda de futebol, a levar uma injecção de bola que pode provocar overdoses. Se é que já não provocou. Perante tudo o que se vê nos media, nos cartazes de campanha para as europeias ou que se ouve nos cafés, de que é que se há de falar mais? Ah, pois, no Rock in Rio. Sinceramente, aguardo com mais expectativa pelo SuperRock. E até por Vilar de Mouros.

E depois, há um assunto que também provoca grande excitação no país e no continente: as eleições europeias. Pena é que o grosso das pessoas se lembre mais depressa do dia de inauguração do Euro do que da data das eleições. Que por acaso é no dia a seguir.
Mas falando da campanha, parece que Paulo Portas resoveu ditar piadas algo descabidas sobre Sousa Franco, entrecortadas por gargalhadinhas irritantes. Além de injusto, é ridículo. Alguém podia avisá-lo que é Ministro de Estado. Mas depois dos louvores do chefe de governo ao "boss" da Madeira, é de esperar o pior.

terça-feira, maio 25, 2004

Regresso depois de um fim de semana sossegado a nível pessoal pondo em dia o sono e a leitura de periódicos. Perdi por isso os momentos em directo do enlace real entre D. Filipe de Bourbon e D. Letizia (acabei por não ir pessoalmente ao casamento, pretextando "trabalho inadiável", mas os príncipes entenderam). Claro que isso não teve a menor importância, já que todas as estações de televisão se encarregaram de repetir até à exaustão cada um das passos dados pela família real e convidados (Marichalar não está manifestamente recuperado: ninguém no seu perfeito juízo usa uma gravata com um verde berrante daqueles), desde a saída do Palácio Real até ao regresso ao mesmo, com os habituais acenos à multidão. Madrid estava impecável, apesar de fustigada pela chuva que afastou muitos mirones, inclusivamente a meia-dúzia de republicanos que se manifestava da forma possível.Jorge Sampaio teve um tratamento absolutamente VIP.Os Duques de Bragança, como sempre, também compareceram.
Ora o faustoso evento serviu para relançar as velhas discussões Monarquia vs República, e em especial os gastos que se fazem na 1ª aquando de ocasiões como estas. Frases como "gastam-se milhões na boda, ao invés de se investir no que é importante, só para as televisões" fizeram-se ouvir incessantemente nos dias que antecederam o enlace.
Quem se dê ao trabalho de pensar por 5 minutos depressa chegará à conclusão de que não só este acontecimento teve uma importância política e mediática à escala global, aliás como tudo hoje, como o facto das ditas televisões (dezenas de estações)estarem lá, os gastos terem tido a devida compensação pecuniária.A importância política é tão somente esta: é em acontecimentos como estes que criam laços de amizade e confiança entre inúmeros líderes, tanto que em dado momento da narração se cometou que o facto do presidente Toledo, do Peru, ter usado um pretexto irrisório para a sua falta de comparência poderia arrefecer as relações entre a pátria dos Incas e o seu antigo colonizador.
Outros houve que se referiram à "piroseira" ou histerismo do evento. Pela minha parte, apercebi-me que tanto os nubentes como demais convidados exprimiam apenas tímidos sinais de nervosismo, sem qualquer ponta de histeria; a piroseira, bem, talvez o vestido da Duquesa de Alba (uma Grande de Espanha!), porque não era aquele o tipo de gente onde se costumam encontrar grandes rasgos de "pinderiquice". Ambos os adjectivos podiam ser atribuidos, isso sim, à vaga de cobertura mediática que cobriu o casamento. Mas jamais aos seus intervenientes directos.
Resta só desejar as maiores felicidades ao casal, à vinda dos respectivos herdeiros e à eterna continuidade da Monarquia no país vizinho...com a pequena esperança de que algo semelhante aconteça aqui.

Na última semana o governo parece ter sido acometido de loucura. Primeiro tivemos as vénias os cânticos de louvor à Madeira de Jardim, seguidos de acusações de "falta de democracia nos Açores".Depois da obscura demissão do ex-ministro Theias, substituído pelo regressado Arlindo Cunha (mas será que o PSD não arranja um único nome de jeito para esta pasta?), seguiu-se o mui interessante Congresso de Oliveira de Azemeis, em que as moções principais foram aprovadas por unanimidade. Ou seja, o encontro não serviu para absolutamente nada, a não ser para se ficar de boca aberta com mais uma pérola do Primeiro-Ministro. Então não é que Durão Barroso responsabilizou qualquer falha de segurança que eventualmente aconteça durante o Euro-2004, em virtude da greve dos SEF, ao PCP? O octogenário movimento leninista está pois de parabéns: desde 1975 que não metia medo a ninguém,e afinal o PM teme as investidas de Carvalhas e Cª. Quase trinta anos depois, o PC é de novo uma ameaça. Surreal, no mínimo.

quarta-feira, maio 19, 2004

...E ao fim de três longas semanas A Ágora voltou enfim. Não porque tivesse havido um qualquer hiato pré-estival, atendendo ao tempo que faz, mas porque o célebre vírus Sasser atacou por estas paragens e a sua remoção não foi propriamente fácil. Enfim, parece que a desinfecção surtiu efeito. Esperemos que nos tempos mais próximos não haja surpresas de maior no mesmo sentido.

E neste regresso a primeira coisa a referir é incontestavelmente
a vitória do SLB na Taça de Portugal, oito anos depois. Num jogo duro e de resultado imprevisível até ao fim, a vitória acabou por sorrir à equipa que, não tendo jogado melhor nem possuído a bola mais tempo, mais acreditou e, claro, mais golos marcou. Mas para além do jogo em si, o Benfica acabou por ser um justíssimo vencedor.Porque não celebrou vitória antecipadamente, ao contrário de Pinto da Costa ( a quem no dia anterior só lhe faltou dizer que queria ver Lisboa a arder). Nem, caso tivesse perdido, atiraria as culpas para cima do árbitro, sabendo-se como Camacho é. E porque depois de perder dois atletas num ano, um deles na véspera, uma alegria destas era o mínimo que se podia pedir.
Ficou-nos pois mais uma final do Jamor, talvez a última. E a 24ª Taça do SLB (tantas quantas Sporting e Porto juntos). Empunhada pelos dois capitães. E a lembrança de Feher e Baião. E as faixas da claque do Benfica, desejando boa sorte ao Porto contra o Mónaco, num registo de fair-play inédito. Fair-play que Mourinho não teve quando lhe era exigido, apontando baterias ao árbitro num rosário de acusações, cada uma mais patética que a outra.Mas neste plano esteve bem acompanhado: o Blasfémias desfiou uma das mais incríveis e facciosas reacções que já tive oportunidade de ver, com coisas do tipo "Lucílio Baptista jogou muito bem de vermelho", ou "a equipa do Porto é boa de mais para jogar no meio de um pinhal (!)", ou ainda "a equipa do Benfica é um amontoado de jogadores caceteiros". Não é apenas mau perder: é também deselegância, má-criação e hipocrisia, sobretudo no que toca aos "caceteiros". Alguém dirá que se trata de um blog "de referência"? Não me parece. Para mim não é, com certeza.
Também Sousa Tavares não aceitou bem a derrota, embora tenha usado uma forma um pouco mais polida para o fazer. Mas nas entrelinhas nota-se a imensa raiva pela derrota com que não contava, certamente, pelas desculpas que dá. E o querer desculpar à força toda os obscuros negócios entre a Câmara do Porto ao tempo de Nuno Cardoso e o FCP é de bradar aos céus. Que pena que alguém que noutras área é por vezes tão lúcido e clarividente use aqui os mais incongruentes argumentos para justificar o injustificável. Ora veja-se...
Enfim, alguns mais ressabiados disseram que apenas tínhamos ganho "migalhas". Mas se assim é, porque terão ficado tão raivosos?
Mais importante do que isso foi a festa que se viveu nessa noite. E que se estendeu pelos Aliados dentro, onde eu próprio tive a oportunidade de testemunhar a euforia vermelha que invadiu a Baixa Portuense. Assim como o resto do país, de Norte a Sul. É bem melhor ver comemorações festivas em diversos lugares do que apenas num só. É também pelo apoio massivo e alegre de todo um país que se vêem os grandes clubes...

Peço desculpa pelo excessivo tom futebolístico do post, mas urgia. Em compensação, não falarei hoje da Selecção, cujos escolhidos foram anunciados hoje por Scolari. Os melhores possíveis, espera-se.

Podia fazer uma qualquer referência ao Iraque, ás sinistras práticas que ao que parece permaneceram nas prisões, e à completa falta de vergonha de Rumsfeld (e de Bush)por não se demitir, o que prova que os EUA, actualmente, não são um país minimamente civilizado, já que até em Portugal o responsável político por tais aberrações seria de pronto exonerado; podia também falar da política racista e de cariz autoritária de Israel, que continua placidamente a destruir casas de palestinianos como se de construções na areia se tratassem, ao mesmo tempo que pululam os colonatos ilegais; ou de mais um sinistro assassínio ás mãos de outra incontável agremiação terrorista islâmica, desta vez do próprio líder do governo provisório iraquiano.
Mas tudo isso é, a cada dia que passa, mais banal. E de cada vez que se ouve mais um evento do género, boceja-se. É lamentável, mas verdadeiro.

...Como lamentável é também a erosão cada vez mais acentuada da costa portuguesa. Já me tinha referido em anteriores posts a um exemplo concreto, o de Moledo. E certamente voltarei à carga.

A ausência durante semanas provoca disto:o desnorte perante as alterações que o blogger sofreu.
Penso que por hoje é tudo. A hora já é tardia. Boa noite.