quinta-feira, novembro 29, 2012

Ironias catalãs


A discussão sobre as eleições catalãs e o possível referendo ao estatuto da Catalunha, catapultada pela enorme manifestação de Setembro em Barcelona, é dos assuntos internacionais mais badalados da actualidade. Barcelona reclama aquilo a que acha que tem direito, ao retorno dos impostos que paga e a soluções fiscais mais vantajosas. Como não conseguiu isso, partiu para a ideia de secessão pura e simples, sem sequer passar pela de federação, aliás sugerida pelo PSOE.
 
Nesta pretensão não faltam paradoxos para originar mais discussões. No Delito de Opinião aponta-se para uma questão curiosa: tirando a Escócia, que já tem referendo marcado para 2014 para decidir se quer ser um reino independente ou não, todos os territórios europeus - excepto aqueles estados-fantoche da Rússia no Cáucaso - que acenam com o problema do separatismo são por norma regiões prósperas. A Catalunha, tal como o país basco, é obviamente um deles, e as razões que apontam são, como se disse acima, económicas e fiscais, argumentando que não querem pagar o resto do país "que não trabalha". Tem a sua graça olhar para tantos entusiastas dessa hipotética independência e depois ouvi-los a vociferar contra os países do Norte da Europa, em especial a Alemanha, esses "arrogantes", "egoístas",  "nazis", "agiotas", pelas razões inversas.

A Catalunha terá com certeza as suas razões de queixa de Madrid. É natural que quem é contribuinte líquido a certa altura se aborreça com a situação. Mas vir fazer-se de vítima em todas as dimensões já se torna enjoativo. Ouço a malta da Catalunha queixar-se do centralismo de Madrid e da submissão que a capital espanhola exigirá, e a tomar como referência um condado do século XI. Ora que eu saiba uniram-se pacificamente a Aragão, que por sua vez se juntou também pacificamente a Castela. E já não estamos nos tempos de Olivares, Filipe V ou Franco, esses sim, centralistas e autoritários. Os catalães podem falar a sua língua, apoiar o seu "mes que un club" (esperemos que para a semana não tenham grandes razões para o fazer), trepar aos seus castellers e demais práticas culturais e votar nos seus partidos autonómicos, alguns dos quais republicanos, sem qualquer problema. Ou seja, todas as razões que poderiam justificar uma eventual independência são vazias de sentido. Para mais, caso esse absurdo acontecesse, veríamos um dos estados mais centralistas da Europa, com Barcelona a sugar o resto e a mandar sem oposição, visto que não há outra cidade de dimensão minimamente grande para se lhe opôr (tirando as subúrbios, a maior cidade é Tarragona, com um décimo da população da capital catalã). E ainda há outra pequena ironia: o principal partido catalã, a CiU, é da mesma família ideológica do PP, provavelmente a formação que menos apoia a secessão...e que está no poder em Madrid.

E depois, as facilidades que pensam que encontrariam ao virar da esquina são pura ilusão. Só para reentrar na UE, caso quisessem, teriam de passar por novas etapas de adesão. e o que fariam aos que não quisessem ser catalães? Davam-lhes um visto de trabalho para emigrantes? Problemas de sobra, sobretudo para quem os quer criar, que não deixa de ser justo. A Espanha permanece periclitante, e com ela a Europa.


 

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