segunda-feira, outubro 07, 2013

Aguiar-Branco, o McCarthy do PSD


Os pedidos de ajustes de contas no PSD depois da derrota (e particularmente das humilhações) das autárquicas revelam-nos o que de pior há  na política partidária. E de quem à partida não imaginaríamos. Enquanto Passos Coelho e Marco António assobiam para o ar para mudar de assunto, Aguiar-Branco pede sangue e atira-se aos antigos compagnons de route com uma fúria raivosa que não se lhe conhecia. Para o Ministro da Defesa, há que punir «"aqueles que estiveram na sombra a apoiar os adversários do partido”, numa alusão a Rui Rio, e os que “escreveram artigos contra a lei de limitação de mandatos”, numa indirecta a Paulo Rangel», além de que "censurou Rui Rio, Paulo Rangel e Valente de Oliveira por não terem apoiado Luís Filipe Menezes no Porto, que registou a maior derrota do PSD desde 1976". Ou seja, o actual titular da defesa (e ex-candidato à presidência da assembleia municipal do Porto) vai atrás não apenas dos que estiveram noutras candidaturas que concorreram com o PSD, mas também de supostas conspirações "na sombra" e ainda daqueles que expressaram uma posição jurídica própria (e com moral para isso). Se no primeiro casos ainda se aceita, mesmo que revele uma notória falta de pluralismo, no outro mostra uma sanha persecutória, e acima de tudo uma total intolerância com "delitos de opinião" jurídicos. Recordo que é um ex-Ministro da Justiça, que já teve importantes responsabilidades na Ordem dos Advogados, que tem este comportamento digno do Senador McCarthy (para não dizer pidesco), ou soviético, como o acusaram.
 
Ainda podia admitir que se tratasse de uma reacção à rasteira que Rangel lhe pregou nas anteriores eleições à liderança do PSD, mesmo que da pior forma (punir por uma divergência jurídica) e reveladora de um imenso rancor. Mas o cúmulo da deslealdade é atirar-se desta forma a Rui Rio, que sempre esteve ao seu lado, e que inclusivamente foi a única figura de primeiro plano do partido a não o abandonar na dita eleição para a liderança laranja. É difícil imaginar  um comportamento mais viperino. Não poupa, pelo caminho, Valente de Oliveira (que deve estar preocupadíssimo com o assunto), e calculo que diga o mesmo de Miguel Veiga, o homem com quem estagiou e que o levou para a política.
 
 
Mas porque é que o habitualmente pacato Aguiar-Branco se revela de repente mais passista que Passos? A única explicação é a de que está a ver o futuro do Governo (e do PSD) negro, e não quer deixar de assegurar o seu lugar como deputado, se possível como cabeça de lista no Porto. Mas esta sanha contra os "traidores" e quem pense pela sua cabeça, mais própria do PC ou de um grupúsculo extremista do que de um partido democrático e supostamente pluralista, mostra bem o desvario do ministro da Defesa, aliás a revelar-se absolutamente medíocre, com a questão da privatização às três pancadas do estaleiros de Viana e a absurda ideia de juntar o Colégio Militar ao Instituto de Odivelas, acabando na prática com esta instituição de séculos. Revelada a nulidade política que é, sem o menor peso eleitoral, restará a Aguiar-Branco um lugar nos bancos traseiros do Parlamento, murmurando "apoiados" e pouco mais.

2 comentários:

Antonio disse...

Excelente, acresecentaria apenas, nos bancos de trás a tratar dos negócios.

PM disse...

Brilhante Pimentão