quarta-feira, setembro 17, 2014

São João d´Arga








Já ouvia falar há muito tempo, tinham-me dito que era das mais genuínas e tradicionais festividades do Minho, sabia de  documentários feitos de propósito e só não consegui ir antes por manifesta impossibilidade.


No meio da serra e das aldeias que lhe dão o nome (e no entanto tão perto do mar), encravado lá em baixo entre os montes, num ermo, fica o Mosteiro de São João de Arga. Todos os anos, a 28 e 29 de Agosto, vindos de inúmeros pontos da região, afluem lá milhares de pessoas numa romaria concorridíssima, a pé, de mota ou de automóvel (que por causa da estreiteza das estradas podem ficar encravados em plena via). Os estradões que descem para o mosteiro, desertos durante o resto do ano, transformam-se numa feira, onde se vende desde roupas até as habituais farturas, cachorros, bifanas, etc. E na noite de 28 para 29, o recinto do mosteiro enche-se de bandas de música, desgarradas, rusgas, tocadores de concertinas e castanholas e rodas de danças minhotas.



Os "quartéis" laterais à capela, que em tempos acolheram peregrinos e permitiram acções tendentes à "fertilidade", transformam-se em tascas onde se vendem, além da inevitável cerveja, especialidades da região, em especial o hidromel, aquela mesma bebida alcoólica tão popular nas terras nórdicas durante a Idade Média. Acompanha com porco no espeto e o afamado cabrito à Serra d ´Arga, que se assam fora do recinto, além dos mais corriqueiros cachorros e bifanas. E lá dentro, as concertinas, as danças e as voltas à capela, para cumprir promessas, o que implica uma esmola ao santo e outra ao diabo. O sagrado mistura-se com o profano, mas só aí até às 4 da manhã, altura em que se deixam os peregrinos descansar - já não nos quarteis, mas em tendas - e se prepara tudo para a procissão do dia seguinte. E às nove da manhã lá parte o cortejo, em que os participantes desfilam com trajes da região. A festa profana prossegue de tarde, com menos animação, já a caminhar para o fim. Antes que acabe tudo e o mosteiro de S. João de Arga volte à habitual tranquilidade, que salvo grupos de excursionistas, só voltará a ser quebrada no próximo ano, nas mesmas datas. 

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