sexta-feira, janeiro 29, 2016

Presidenciais - rescaldo dos outros



Depois de Marcelo, fica aqui uma pequena resenha sobre os outros candidatos.

Sampaio da Nóvoa teve um resultado mediano. Fraco por nem chegar a fazer cócegas a Marcelo e por não ser nada de especial com os apoios recebidos (três ex-presidentes, como repetiu vezes sem conta, e o grosso do PS), e ao mesmo tempo forte pela sua escassa notoriedade fora dos círculos académicos até há pouco tempo e pela imagem construída à pressa, mas que ainda assim lhe valeu ser o principal candidato da esquerda e o melhor colocado para ir a uma hipotética segunda volta. O que fará Nóvoa fora da universidade só ele o saberá dizer. Mas se tem ambições políticas, deverá evitar a tentação de fazer dele os votos que recebeu, como Manuel Alegre com o "seu milhão" há dez anos, e já agora, de dar alguma substância ao discurso.

Maria de Belém, um erro de casting desde o início, teve o tombo destas eleições. Um resultado vergonhoso, dados os apoios e as expectativas, quando se pensou que ficaria em segundo, e todas as sondagens lhe davam mais de 10%, no mínimo dos mínimos. A morte súbita de Almeida Santos, dois dias depois de a apoiar publicamente, era um mau prenúncio para o episódio lamentável do pedido de fiscalização das subvenções vitalícias, em que esteve envolvida e de que se defendeu da pior forma possível. O comício quase vazio de Lisboa fazia antever isso mesmo. Com uma enorme dívida de campanha por nem sequer ter chegado aos 5% (pior, por exemplo, do que os do CDS do "táxi"), a derrota de Belém marca os mais que prováveis fim da sua carreira política e afastamento dos "venerandos" do partido, como Alegre, Alberto Martins ou Vera Jardim (sem falar em Almeida Santos), além de um golpe para o sector segurista, que apoiou timidamente Belém, enfraquecido mas não desaparecido.

Marisa Matias repetiu o bom resultado do Bloco de Outubro. Apesar da habitual volatilidade dos seus votos, os bloquistas consolidaram-se como terceira força política, pressionam mais o PS e ganharam a habitual batalha pela "esquerda da esquerda" ao PCP. Mas os números devem-se antes de mais à personalidade combativa e empática de Marisa e ao morno ou nenhum entusiasmo com as candidaturas de Nóvoa e Belém.

Edgar Silva, o escolhido do comité, com a campanha mais partidarizada de todas, teve o pior resultado de sempre dos comunistas nestas eleições. Um candidato simpático mas politicamente fraco e pouco conhecido fora da Madeira só não teve números piores graças aos votos do arquipélago, onde o PC é pouco mais que residual. Apesar do eufemismo dos"objectivos não alcançados", a cara e os desabafos de Jerónimo mostraram bem o desastre desta candidatura, ainda por cima a mais dispendiosa de todas, com uma campanha tão igual às habituais do PC que só faltava mesmo o símbolo partidário. Escassos votos, comparação vergonhosa com o Bloco, Marcelo a ganhar à primeira: um pesadelo para o velho PCP, que só não piorou porque ficaram à frente do Tino de Rans. Mas não será avisado afirmar que o declínio dos comunistas é irreversível e que perderam o lugar definitivamente para o Bloco. Em Portugal, como se sabe, o PC tem muitas vidas.

Tino de Rans, o "independente" com melhor votação. Ficou pouco atrás de Belém e de Edgar Silva. Animado, simplório, brincalhão, verdadeiro, muitos  - sobretudo entre Valongo e Penafiel - se reconheceram nele. Antes de reduzir o homem ao palhaço que não é, convinha estudar melhor os eleitores antes de orçamentos excessivos para campanhas "à americana". Fará alguma coisa com mais este balão de notoriedade?

Paulo Morais teve uma votação ao nível do que as sondagens revelavam. O discurso da corrupção fica sempre bem, mas isolado torna-se excessivo e cansativo. Veremos que meios é que vai utilizar para a sua campanha, sendo que se arrisca a ficar com uma imagem demasiado moralona.

Henrique Neto teve provavelmente o resultado mais injusto de todos. Os escassos 0,8% foram de menos para uma candidatura respeitável (a primeira a ser lançada, aliás), com algumas ideias e um pensamento estratégico, com uma interessante lista de apoiantes e que não dependia de partidos nem de apoios financeiros obscuros. Vítima provavelmente de votos úteis, espera-se que perto dos oitenta anos, Neto continue a intervir, e já agora, a servir de modelo para outros empresários.

Jorge Sequeira ganhou a liguilha dos últimos a Cândido Ferreira. Apesar de tudo, o psicólogo optimista de Braga mereceu mais que o irritante e enfatuado médico de Leiria, ou de Cantanhede (fiquei sem perceber), que lançava acusações sobre todos em cada dia e que se ufanava de ser o único candidato que tratava António Costa "por tu". Serviu-lhe de muito.

E sinceramente, acho que não se podem tirar muitas mais conclusões políticas sobre estas eleições, excepto a de que António Costa continua a perder (já é a terceira seguida como secretário-geral do PS) sem que isso lhe faça grande mossa. Mas convinha para seu próprio bem não ganhar o hábito).


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