Não sei porquê tanta preocupação com o mais que provável governo de Giorgia Meloni em Itália: é mais que sabido que nenhum executivo italiano chega sequer aos dois anos, a não ser que haja uma improvável "Marcha sobre Roma". Além do mais, o que também não ajuda à estabilidade, a coligação vencedora tem três egos gigantes a comandá-la - Meloni, Salvini e Berlusconi - e o de Meloni nem parecer ser o maior.
terça-feira, setembro 27, 2022
Por Itália
quinta-feira, setembro 22, 2022
A importância da homenagem
Tenho visto alguns remoques a tudo o que rodeou as exéquias da Rainha, com o argumento de que o Mundo está a atravessar momentos difíceis, com o pós-pandemia, a guerra na Ucrânia, a ameaça nuclear, a seca, a inflação crescente, as ameaças de recessão, etc, e que era preciso dar mais atenção a tudo isso do que às homenagens a Isabel II.
Eu entendo exactamente o contrário. É precisamente a beleza estética das homenagens, incluindo formalismos que nem imaginávamos, o sentimento de unidade na tristeza, a tradição como ligação entre o passado e o presente e o exemplo de dever, discrição e de supra-politiquice que permitem enfrentar todos esses problemas com esperança e firmeza - e sim, esquecê-los por umas horas. E tratando-se de Isabel II, peguemos em duas imagens, no início e no fim da sua missão: uma em que conduzia ambulâncias durante a II Guerra, e outra, a mensagem no início da pandemia, em que rematava com o "We will meet again". Só esses dois exemplos, nos tempos sombrios que corremos, justificariam toda a homenagem.
sábado, setembro 10, 2022
Ausência de referências e outras considerações
Às vezes imaginava uma situação caricata, em que uma pessoa morta há umas décadas, aí nos anos 70 ou 80, voltaria à vida e eu teria de lhe explicar tudo o que mudou no mundo desde então, como o fim do confronto Leste-Oeste, por exemplo (se bem que pareça menos longe, hoje em dia), a emergência dos países asiáticos, com a China à cabeça ou o advento da net e das novas formas de comunicação. Para me ajudar, teria de me socorrer de algumas referências ainda existentes. A que me vinha logo à cabeça era a Rainha Isabel II. Diria algo como "tudo mudou menos uma coisa: a Rainha permanece no trono" (ou como o Pedro Correia já aqui afirmou várias vezes, "viu passar todas as modas; só ela nunca passou de moda"). A seguir seria Fidel Castro, que também já lá vai, e outros de quem não me recordo agora.
Agora que a Rainha nos deixou, que referências haveria para uma pessoa de há 40/50 anos? Quem poderia dizer que está no seu lugar? Não me ocorre ninguém. Como se em pouco tempo o Mundo tivesse mudado muito mais depressa do que seria suposto. É mais um dos sinais a indicar-nos que os tempos mudaram mesmo e, sem referências, personalidades ou instituições-âncora, estão mais incertos do que nunca.
E aproveito para rectificar uma ideia que tenho visto a espalhar-se no último dia. Nos muitos e merecidos encómios a Isabel II, já li por diversas vezes que tinha acabado o reinado mais longo de sempre. Também pensei, aquando do jubileu, que iria bater o recorde. Eram só mais dois anos. Mas não. Isabel II ultrapassou a Rainha Vitória e é a Rainha, no sentido estritamente feminino do termo, com o reinado mais longo de sempre. Mas o monarca que detém o galardão continua a pertencer ao outro lado da mancha e dificilmente será "destronado", perdoem-me o trocadilho fácil. Neste aspecto, o (rei) Sol continuará mesmo a brilhar.