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sábado, outubro 03, 2015

Nacionalismos com pouca base histórica



Na sequência das eleições regionais/referendários na Catalunha, que deixaram as reivindicações independentistas em banho-maria, recordo que com tantas pulsões secessionistas por essa Europa fora, as de Espanha são exactamente casos que não correspondem a antigos estados, ou então são casos perdidos no primeiro milénio da nossa Era.


O Condado da Catalunha é uma reminiscência dos fins do primeiro milénio, resultante da Marca Hispânica, e que se integrou no Reino de Aragão, que por sua vez se uniria a Castela e Leão na sequência do casamento entre Fernando e Isabel, formando a moderna Espanha. Revoltou-se por diversas vezes contra os impostos e as condições de Madrid, em 1640, quando pela primeira vez se falou numa "república catalã", na Guerra da Sucessão de Espanha, em que apoiou a Casa de Áustria contra Filipe de Anjou (que venceria, instalando os Bourbons no trono), e nas duas breves repúblicas espanholas. Sempre teve pulsões autonomistas e separatistas, mas as breves concretizações duraram muito pouco, não sendo mais que realidades efémeras e falhadas.


O Reino da Galiza é mais um nome honorífico e identitário do que a memória de um real estado. Há quem atribue esse nome ao Reino Suevo, sediado em Braga, e ao reino que se desenvolveu a partir das Astúrias. Na realidade, e embora se possa dar esse nome ao reino dos suevos, o antigo território do Noroeste peninsular é mais conhecido pelo nome do povo que o habitou. Quando ao que surgiu no Séc. VIII, a designação comum é Reino das Astúrias, que depois evoluiu para o Reino de Leão. Numa ou noutra ocasião, ressurgiu o Reino da Galiza, sobretudo como divisão feita pelo soberano entre os príncipes para evitar guerras internas, numa época em que a concepção de estado era bastante diferente da de hoje e era sobretudo o território de um Senhor. A Galiza, apesar de uma forte identidade cultural, acompanhou efectivamente a construção de Espanha, como parte do Reino de Leão, que em 1230 se uniu a Castela, e que nos séculos XV e XVI complementaria as uniões com a junção, por casamento, a Aragão, e a conquista de Granada e da Navarra.


E o País Vasco é o nome que se dá actualmente às províncias Vascongadas, que sempre foram castelhanas, mas que com a expansão da língua basca criaram, com outros elementos culturais, uma identidade própria. Mas a única antiga entidade estatal da região chama-se Navarra, e apesar de muitos bascos a considerarem como parte integrante do Euskadi e de haver falantes de basco na região, a grande maioria dos navarros não é adepta da solução independentista basca. Recorde-se que durante a Guerra Civil de Espanha, a Navarra era um dos bastiões dos nacionalistas, com as suas aguerridas tropas de requetés carlistas, inimigos mortais dos autonomistas bascos.

 (Mapa da Península Ibérica em meados/fins do Séc. XV).

É curioso verificar que estas pulsões separatistas tem mais incidência em Espanha do que noutras partes da Europa. Mas a Escócia também reclama a separação do restante Reino Unido, e há um ano a independência esteve quase a ganhar o referendo. Mas a Escócia era efectivamente um reino independente, que entre algumas anexações pela Inglaterra, só se lhe uniu definitivamente (e por vontade própria) em inícios do Século XVIII. Ou seja, a legitimidade história para obter a independência é muito maior do que a de qualquer região de Espanha. E se há outras regiões com pulsões separatistas sem grande base em antigos estados, casos da "Padânia", da Córsega ou do Ulster, outros há que foram estados reais , duradouros e poderosos, como Veneza, a Baviera,  e a Flandres. curiosamente, nunca ouvi falar de movimentos independentistas numa região que chegou a ser, durante a maior parte da Idade Média, um dos estados feudais mais importantes da Europa Ocidental: a Borgonha.