sexta-feira, abril 23, 2004

A entrevista de Omar Bakri à Pública da semana passada provocou ondas de fúria, preocupação, e até ironia, como se viu pelos divertidos posts que o Barnabé dedicou ao assunto. O caso não é para menos: aqui estava um teórico do terror, que, de forma plácida e sucinta proferiu palavras de um absoluto desprezo pela vida humana, pelo menos a dos "infiéis"; tudo isto enquanto intercaladamente afirmava não desrespeitar a lei inglesa vigente, nem ter cometido nenhum crime, podendo por isso desfiar todos estes horrores em liberdade. Uma liberdade que em diferentes casos subtrairia a outros que não ele.
Mas o realce dogmático de que "a vida dos não-muçulmanos não tem valor algum", ou "este será o século do terror", ou ainda "queremos converter o mundo inteiro ao islamismo" mostra-nos até que ponto este tipo de gente está determinado a prosseguir, ou seja, a atacar qualquer "infiel", a matar o maior número de gente possível ("não há inocentes ou não-inocentes", afirmou), a proclamar o primado da violência. Uma mente destas, suando Waahabismo por todos os lados, não pode deixar de inquietar o comum dos mortais. E revelar-nos um pouco o que podem ser os próximos anos.
O medo e a psicose deste terrorismo do submundo, de rostos duvidosos e que fala árabe, sucede ao do "Equilíbrio do Terror" da Guerra Fria, que por sua vez substituiu os relativos ao fascismo e às guerras mundiais. Somente que agora os autores do terror se encontram subtilmente imiscuídos no cosmopolitismo das sociedades ocidentais desempenhando honestas profissões e mantendo na maior parte dos casos um trato simpático e discreto. É essa máscara que faz com que passem anos de duplicidade, até que um dia são chamados para desempenhar a sua parte na "Djeehad". Uns são impedidos a tempo. Outros não...

Não partilho contudo do pessimismo de algumas pessoas da nossa praça, que temem um mundo islamizado por tais criaturas a médio prazo, com a bandeira do Islão a flutuar em Downing Street, como exprimiu Bakri. Porque tal mudança ocorreria utilizando o terror e a violência consciente, mais com o intuito de destruir que de conquistar. E tal estratégia nunca surtiu efeito, porque, de Átila a Hitler, o terror sempre acabou por instalar a repulsa generalizada e voltar-se contra os seus criadores. Tal como as messiânicas ideias de dominar o Mundo (embora seja possível influenciá-lo, como os EUA), ainda que de forma contida e inteligente, a exemplo de Alexandre, O Grande. A diversidade da Terra é tão vasta, apesar de um certo tipo de globalização pretender moldá-la de forma unitária, que jamais uma corrente de opinião, ideologia, doutrina ou afim conseguirá dominá-la, para mais usando a intimidação e a chantagem; porque se o medo existe no ser humano, a coragem coexiste com aquele. E a rejeição global do fanatismo muçulmano, tal como começa a surgir em diversos países islâmicos, em especial no seu instigador, o Irão, levará a que as organizações que o defendem impludam qualquer dia. Em que nova ameaça surgirá, sem dúvida, noutras formas...
Mas até esse dia, a Al-Qaeda e Cª continuarão a incomodar, e muito, o resto do Mundo. Da mesma forma dissimulada, cobarde e mortífera, sob os mais variados pretextos. Sobretudo se continuarem as políticas suicidas como a praticada no Iraque, um problema sem ponta por que se lhe pegue, ou pelo actual governo de Israel (bem pior do que o Apartheid, se me é permitido). E só a coragem, a política racional, a compreensão do porquê do fascínio que incute a jovens islamistas e a utilização sábia e inteligente dos serviços secretos poderá vencê-la o mais depressa possível. Sem o que, indubitavelmente, será mais difícil e demorado extirpá-la. De uma vez por todas.

Começa a ser um hábito falar aqui do Dicionário do Diabo, mas estas fotografias da mulher de Salman Rushdie justificam-no. Pedro Mexia, em relação a imagens femininas, tem acertado no vinte. Para além disso, num post mais abaixo intitulado "Ariston", não só é hilariante como ainda menciona uma palavra que já julgava desaparecida do vocabulário português : "Trangalhadanças".

Um aviso sério: se algum dia alguém tiver de ir à Trofa, por favor, não volte ao Porto pela estrada da Maia (a nacional, não a auto), a não ser que queira perder umas quatro horinhas nos arredores suburbano-bucólicos da Invicta.

Por falar nisso, o Porto lá ganhou o campeonato, como se esperava, embora não me apetecesse nada que fosse ontem, uma vez que sobre mim tombou a obrigação de defender o Benfica perante uma boa quinzena de portistas; uma missão inglória, como se suspeita, em que todos os argumentos serviram (embora do lado de lá da barricada tivesse ouvido pérolas do tipo "O Deco é melhor que o Figo", ou "o Deco é tão português como o Eusébio" - sem comentários), sobretudo agora que o Porto tem a Liga dos Campeões ao seu alcance, já que é provável passarem na Corunha, perante um Depor desfalcado. Resta saber, a título de grande curiosidade, se a maldição de Bella "nem em cem anos uma equipa portuguesa voltará a ser bicampeã da Europa" Gutman se tornará a cumprir, como aconteceu ao Benfica. A ver vamos...
Mas não é por isso que o SLB perde a sua enorme legião de fãs; ora veja-se aqui, no ponto 70, até onde vai a sua popularidade.

Ainda falando na bola, a operação Apito Dourado começou a investigar os meandros do futebol por baixo, pelo modesto mas de má memória Gondomar, e promete não ficar por aqui. Miguel Sousa Tavares, que tantas vezes critica a impunidade em Portugal, atirou-se fortemente contra esta investigação, sob o pretexto de ser "a imprensa lisboeta (o DN e o Público são só de Lisboa? Julgava que eram de nível nacional) a querer incriminar Pinto da Costa Sousa Cintra". Não é preciso muito para se chegar à conclusão de que se se tratasse apenas do nome de Sousa Cintra, provavelmente as palavras de MST seriam de sentido inverso. Mas se não já não é apenas a casa do vizinho...

Uma oportuna metáfora do capitalismo em diferentes paragens pode ser encontrada aqui. Veja-se o exemplo de Portugal : acerta no vinte. Fantástico. Ou como diria Rui Baptista, have fun.

Enfim...é 25 de Abril. Passam trinta anos desde a histórica data dos cravos. Mais um. Passado tanto tempo, apenas uma certeza: apesar de tudo, valeu a pena.
E já agora, louvem-se as engenhosas maneiras que o Barnabé arranjou para comemorar o dia, através de cartazes da época e de textos enviados pelos seus leitores. Bem lembrado, sem dúvida.
E amanhã, recomeça a semana. Espera-se que com mais sol.

sexta-feira, abril 16, 2004

Posts Lentos

...e ao fim de uma semana regressei para actualizar A Ágora.

Infelizmente a situação interna não melhorou muito nestes sete dias. O Iraque continua a ser o inferno na Terra, apesar de Bush continuar empenhado na sua "libertação" e "democratização", para não falar da repressão das "facções minoritárias que não representam o povo iraquiano, apoiante da coligação". Para isso, tratou de matar uns seiscentos iraquianos, metade dos quais mulheres e crianças, que como é óbvio, são dos inimigos mais perigosos.
Por muito que se fique repugnado e horrorizado com as imagens dos corpos calcinados dos quatro norte-americanos assassinados na semana passada, a ideia das forças ocupantes (sim, o termo é este) de disparar sobre tudo o que mexa faz-nos pensar que é pior a emenda que o soneto. Mostra claramente a gritante falta de estratégia da coligação para impôr seja que regime fôr no Iraque, de legitimidade aliás duvidosa. As imagens utópicas dos iraquianos recebendo os soldados com bandeirinhas americanas e atirando-lhes flores são de um ridículo atroz quando em contraste com a duríssima realidade: uma população insegura cada vez mais descontente com as forças ocupantes, um exército de radicais que se avoluma a cada dia que passa, a morte e a barbárie à solta por toda Mesopotâmia, o terrorismo a fervilhar e a preparar, quem sabe, novos atentados contra o resto do Mundo, e umas tropas de ocupação que em lugar de defender os locais reagem a golpes de míssil e de canhão. Eis um cenário digno da Divina Comédia.
Agora, quando um exército estrangeiro, baseado em factos falsos e manipulados, sem que tenha sido atacado anteriormente, sem a menor legitimidade ou justificação à luz do Direito Internacional, invade um país, e ás contestações dos indígenas responde provocando centenas de mortos e feridos, atacando além do mais templos religiosos, que se poderá esperar destes? Que sejam compreensivos? Só mesmo alguém demasiado ingénuo ou com uma má-fé visceral poderá afirmar isso. Mas o que é certo é que esses não faltam, baseados em sondagens que dizem que "72% dos iraquianos consideram que a situação é melhor do que no tempo de Saddam". Como se fosse possível fazer um estudo minimamente credível no diabólico caos que por lá se espalhou...
Enfim, nem tudo é assim tão mau. A verdade é que na Páscoa não houve atentados terroristas. Os japoneses feitos reféns e ameaçados de morte horrenda foram postos em liberdade (embora um italiano tenha sido assassinado por mais um grupo de bandoleiros). E a mensagem de Bin Laden, propondo tréguas à Europa, pode bem ser um sinal de fraqueza e de vulnerabilidade, talvez para ganhar tempo. Sobretudo, há que não lho dar.

A Praia aparece parte do texto de Pedro Mexia da GR da semana passada, ácerca da noite e dos encantos (a propósito, aquela imagem colectivo-feminina que ele pôs no "Dicionário..." é de extremo bom gosto). Devo dizer que me revejo em muito da tal descrição, já que adquiri igualmente o hábito de estar mais activo à noite nos primeiros anos da faculdade. Não que seja um noctívago no sentido de me deslocar hebdomadariamente pela discoteca ou bar da moda, mas antes por apreciar especialmente estas horas do dia (!), em que a inspiração, a vervee o entusiasmo chegam com mais fluidez. Os meus posts, por exemplo, são quase 100% nocturnos (apesar da hora em baixo assim não o indicar). Estive mesmo vai - não vai para apelidar de "Blog Nocturno" isto que os prezados leitores têm pela frente, mas felizmente uma qualquer hora tardia sussurou-me "A Ágora".
Pudesse eu escolher as horas do meu próprio trabalho e não me deitaria senão ao nascer do dia, já que este é o cenário mais belo e majestoso que um ser pode exigir. Assim não o quer o destino actual, que me vai obrigar a deitar não tarda nada, obrigado que sou a levantar-me a uma hora pouco católica. Quem sabe um dia consiga ser um escritor famoso, ou um DJ, ou um guarda-nocturno, ou qualquer profissão que me permita estar acordado de noite. Tudo para ver a ascensão de mais um dia radioso, antes das horas em que o bulício amaina e as estrelas reaparecem.

Se o vinho é alegria e o campo representa a paz, então uma ou várias vinhas representarão a junção entre estes dois elementos, e bem assim um cenário idílico. Deve ser por isso que a visão de uma região vinhateira me dá uma tão grande sensação de paz e reconciliação com a vida. Ainda que numa altura longe das vindimas, como na Páscoa. E se o tempo estiver soalheiro, nem se fala. A vista de vinhedos, pomares e montanhas de tom doce e macio é a mais conciliadora que conheço. Pudesse toda a humanidade usufruír de tanto. Embora haja os que preferem os cenários tropicais.
Mas bom mesmo é poder estar só num terraço, gozando o sol primaveril da tarde, com um bom livro nas mãos, campos e pinhais à esquerda, latadas e vinhas à frente, pomares e choupos à direita, e, atrás destes, o suave perfil da serra a subir lentamente, formando o Parque Natural. Tudo acompanhado pelo canto dos pássaros e pelo zumbido dos insectos.
Se tivesse possibilidade, passava deste modo o resto da semana. Mas a Páscoa acabou, e a realidade citadina obrigou-me a esquecer o bucolismo. O pior é que não conseguiu. Malditos sejam o regresso ao trabalho e a nostalgia!

quinta-feira, abril 08, 2004

Posts céleres

Aquele anúncio que agora anda para aí, do apaixonado impetuoso que corre para oferecer a flor à menina dos seus olhos, e que se vê suplantado pelo descontraído rival que se antecipa com uma MMS, é um símbolo de como o moderno materialismo suplanta por vezes o Amor. A moral do anúncio é de que os MMS conseguem o mesmo efeito por vias mais céleres. Mas o que custa é ver a presumível "derrota" do que correu mais, e, pior do que isso, a indiferença da menina ao seu esforço perante a superioridade tecnológica do rival. Ela prefere a imagem de uma flor digitalizada a poder tocar, sentir ou arrancar as pétalas à autêntica. Um sinal dos tempos? Ou a absoluta veia comercial e mercantilista de alguns, que lhes tolda toda e qualquer emoção ou sentimento mais arrebatador?
De uma forma ou de outra, estou do lado do tipo que corre. E espero que na continuação, a menina atire o telemóvel ao ar e se abrace apaixonadamente ao velocista e à sua flor autêntica.

Não olho para as notícias "de última hora" do Iraque que anunciam novos mortos, novos atentados ou novos ataques com grande espanto. Qualquer barbaridade vinda daquele território parece-me normal. É duro e insano, mas é mesmo assim. Bush dizia há um ano que o Mundo estava mais seguro. Não sei qual a sua medida de segurança. Mas na minha perspectiva, e suponho que na de qualquer pessoa com dois dedos de testa, este Mundo está um lugar bem pior para se viver. Onde quer que se vá e se esteja. Se esta Administração Americana precisava de mais provas de inépcia e embrutecimento, elas estão dadas.

Mas como é tempo de Páscoa, retiro-me para o Portugal semi-profundo. Mais posts só para a semana. E este ano, ao menos, o tempo parece querer dar algumas tréguas. Aproveitê-mo-lo, pois. Boa Páscoa a todos!

segunda-feira, abril 05, 2004

Lamentavelmente, esqueci-me de referir nos últimos posts a morte do genial Peter Ustinov. Sempre que o via em mais um filme, ou em alguma acção pela UNICEF, uma das coisas que mais me ocorria era que o ex-Nero, Poirot, assaltante de jóias ("uma profissão" que me atrairia no plano concreto se tivesse alma de larápio e alguma coragem romanesca), etc, ainda durasse um bom par de anos. Ficou até onde o tempo lhe permitiu. Numa pacata casa junto a um lago suíço. Paz à sua alma. E eterna audiência aos seus filmes.

Para que tais esquecimentos não se repitam desde já, aproveito a adenda da Janela Para o Rio, que se lembrou dos aniversários dos desaparecimentos de Kurt Cobain e Martin Luther King.
Do primeiro apenas penso: dez anos? Já? Então já se passou uma década desde que, à porta dos Convívios, envergando a minha camisa aos quadrados desfraldada (um tipo de vestuário tipicamente "Anos 90", que ainda uso), ouvi de outros teenagers cabisbaixos a notícia do tiro de carabina que iniciou a queda do Grunge? Deus meu! Se não me engano, daqui a dias comemorar-se-á igualmente o adeus de Senna. Lembram-se? Já lá vão dez anos. E já então Schumacker se afirmava nos circuitos, ao mesmo tempo que se protestava contra as provas globais, ganhando-se assim o epíteto de "Geração Rasca".
Quanto a Luther King, só tenho a dizer que outros activistas como ele fazem uma falta danada a este mundo feroz e amedrontado no qual vivemos. Não haverá uns quantos? É que Mandela já tem certa idade, e Xanana merece algum sossego.

Ontem foram mortos uns quantos elementos terroristas em Leganés, arredores de Madrid. Se fiquei preocupado quando morreu o sheik Yassin, por razões proporcionais pensei agora : "menos cinco fanáticos". É que desta vez até foram os próprios a imolar-se. Pena que não haja mais a matar-se tranquilamente, sem aborrecer o próximo. E mais pena ainda a morte do pobre polícia espanhol, de 41 anos e pai de filhos, em consequência da explosão. Esses sim, são verdadeiros mártires da preservação da nossa liberdade e segurança.


O Porto perdeu, Aleluias sejam dadas (sobretudo em tempo pascal)! Embora isso em nada altere o inexorável caminho rumo a revalidação do título, esta é mais uma época em os recordes detidos pelo SLB não vão ser alcançados - 52 jogos sem perder e uma época inteira sem derrotas. É por coisas assim que alguns clubes serão sempre gloriosos, diga-se o que se disser. Ou melhor, determinado clube é sempre O Glorioso.


Recebi alguns mails, presumivelmente de outros bloggers, que por razões que desconheço não consegui abrir. Por isso peço encarecidamente que, se possível, não me enviem ficheiros agarrados; escrevam directamente as vossas mensagens. Eu sei que custa, mas é a única hipótese. Por isso, as minhas desculpas por esse incómodo.