domingo, fevereiro 27, 2005

Delgado por ele próprio (mas com alguma razão)

Também Luís Delgado veio esta semana dizer, em defesa do "Pedro", o contrário do que andou três anos a apregoar: que Durão Barroso tinha sido mau primeiro-ministro, que não tinha cumprido as suas promessas, nomeadamente a do choque fiscal, e que por fim tinha abandonado o país depois da promessa de não o fazer. É certo que dos comentários de Delgado pode-se esperar tudo, mas normalmente o seu facciosismo tem certa coerência. Desta vez resolveu renegar tudo aquilo que tinha sido o seu cavalo de batalha nas meses que antecederam a chegada de Santana Lopes ao poder.

Mas incoerente ou não, reconheça-se que tem a sua razão. Durão poucas promessas cumpriu, recorreu ao discurso da tanga ao mesmo tempo que disfarçava a falta de cumprimento da sua promessa de um governo de estrelas, não aplicou nenhuma das medidas a que se propunha, não conseguiu controlar o défice, mas tão somente disfarçá-lo, e por fim teve a edificante conduta que se sabe: depois de uma estrondosa derrota nas europeias (uma "banhada", segundo Marcelo Rebelo de Sousa), e de dizer que tinha "percebido a mensagem do povo português", Durão tansmutou-se em Barroso e abalou para a Comissão Europeia. Para o seu lugar impôs, sem admitir novas eleições nem pedir a opinião a ninguém, alguém que sabia não ter as menores qualidades para o cargo (nem tinha sido eleito deputado nessa legislatura), quando a sucessão só deveria ser feita na pessoa do seu número dois, ou seja, Ferreira Leite. Fala-se em irresponsabilidade e fuga para a frente. Fala-se em vingança pessoal, para queimar um adversário de longa data. Se se trata deste último caso, então é ainda mais grave; Barroso terá andando a brincar com o futuro do país por meras razões pessoais (e de sentimentos que são tudo menos nobres). De qualquer forma, o Presidente da Comissão, que sofreu grandes dificuldades para formar a sua equipa e a quem uma revista alemã recentemente chamou "Sr. Banalidades" não terá vida fácil quando regressar ao país. A memória pode ser curta, mas há actos que pela sua leviandade dificilmente se esquecem.

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