segunda-feira, outubro 31, 2005

Ventos de esperança da Alemanha

Que a Alemanha mudou bastante após a reunificação é um dado assente. Que nos últimos tempos tenha necessariamente de mudar é outro. Que isso caiba à estranha "grande coligação", em vias de a governar, é outro ponto óbvio (há dúvidas é no sentido). Só que ultimamente as conversas sobre os teutões não primam pela positiva nem pela grandeza.

No centro da ex-Berlim Leste, a dois passos da porta de Brandemburgo e da catedral prussiana, nas margens do rio Spree, existe um edifício moderno, fechado e espelhado em tons laranja com graffitis à mistura. Não prima pela estética, como se imagina, mas aí funcionou, durante mais de dez anos, o parlamento da ex-RDA. Depois da reunificação fechou-se o mamarracho por causa das grandes quantidades de amianto lá contidas (quem sabe se a morte cancerígena de Honecker não se terá devido a isso), até há bem pouco tempo. Ao que parece, as autoridades competentes querem destruí-lo, apesar de alguns saudosistas que pretendem mantê-lo devido ao seu interesse histórico e arquitectónico (por aí não devem ir longe). Convém que se esclareça que o edifício está situado na preciso local onde se erguia outrora o Stadtschloss, o palácio onde os kaisers alemães residiam na capital, danificado durante a guerra e acabado de demolir pelo regime comunista. E é precisamente uma réplica de tal palácio que se quer reconstruir no ponto de origem. A polémica está lançada, como se esperava, porque embora o duvidoso edifício laranja possa ser muito útil como centro de congressos ou de outros eventos (poupando uns bons milhões de euros), arquitectonicamente falando o Stadtschloss é muitíssimo mais belo e bate-o aos pontos. Em princípio, será esta a solução a prevalecer, mas muita água (e tinta) vai ainda correr no Spree até à concretização do que quer que seja.




Mas o que me motivou a escrever este post é outro assunto. Hoje, 30 de Outubro, algo mudou realmente no skyline de uma das mais ilustres e esplendorosas urbes alemãs. E com um significado simbólico muito grande.
O bombardeamento de Dresden é um dos episódios mais conhecidos da recta final da Segunda Guerra, e uma das grandes manchas dos exércitos aliados. A "Florença do Elba" ficou reduzida quase toda ela a escombros em Fevereiro de 1945, e tardou em reerguer-se. Mas conseguiu, mesmo no tempo da RDA, voltar a mostrar os palácios legados pelos reis polacos, como o Zwinger, o seu friso com os duques da Saxónia, no palácio Sachsen, a Ópera, e o imponente "Balcão da Europa". A jóia da coroa, porém, a sumptuosa catedral barroca Frauenkirche, da qual só restava um torreão lateral, continuou em escombros durante cinquenta anos. Até que nos anos 90 recomeçou, lentamente, a sua quase total reconstrução.



No Verão de 1998 passei por Dresden, vindo de Berlim. Apesar do ar de limpeza e do despertar da cidade ainda havia diversas ruínas, provavelmente desde a guerra. Subsistiam também muitos aspectos ligados à RDA, alguns deles conciliadores, como os Trabant (não deixei de tirar umas fotos a uns quantos), ainda que se estivesse claramente a viver uma nova era, mais próspera e exaltante. Pude admirar as obras de reconstrução da Frauenkirche. Embora em fotografia não pareça, é uma obra colossal e majestosa. Mesmo entre tapumes e andaimes (com ar muito mais seguro do que os que se vêm por cá), espantou-me a dimensão e a imponência que se adivinhava por trás.
Até hoje. Porque os alemães, particularmente os de Dresden, puderam ver de novo aberta a sua querida igreja, sessenta anos depois da sua queda. Já há muito que se podia observar o resultado final, mas só hoje é que as suas portas se voltaram a escancarar. Um perfeito exemplo para ilustrar a máxima de Lampedusa : "é preciso que algo mude para que tudo fique na mesma". Neste caso, o centro de Dresden ficou na mesma, como era antes de Fevereiro de 45. A Florença do Elba recuperou o seu esplendor e exorcizou em definitivo todos os fantasmas da guerra. Um bom motivo para lá voltar, um dia destes. Afinal, da Alemanha actual também chegam boas novas.




PS: li hoje nos jornais que a grande fatia das doações veio de Inglaterra, com o beneplácito do Duque de Kent, e de famílias de antigos prisioneiros de guerra aliados. Um excelente exemplo de reconciliação e concórdia, que ajuda a sarar definitivamente as feridas da guerra.
Aproveito para dizer que depois de ter passado por lá não soube mais notícias dos avanços das obras até ao Euro-2004; isso porque vi durante o campeonato de futebol um alemão com camisola do Dínamo de Dresden (a vender bandeiras da Grécia!) e não resisti a perguntar-lhe em que ponto é que ia a reconstrução; ele ficou vivamente surpreendido por encontrar portugueses a par das obras da catedral e interessados no seu avanço, e respondeu-me que este ano estaria pronta. E tinha razão.

quarta-feira, outubro 26, 2005

Notas do dia
Num jogo difícil lá conseguimos ultrapassar o Leixões, equipa aguerrida apoiada pela claque "Mafia Vermelha", mas que a meu ver usou e abusou do anti-jogo. O capitão Simão encarregou-se da passagem da eliminatória, fazendo o que melhor sabe: marcar golos, por sinal espectaculares, fazendo justiça ao resultado. O do Leixões também é bem metido, mas os de Simão são qualquer coisa...hesito em escolher o melhor, talvez o segundo. O público, esse, acorreu em massa. Apesar do vermelho ser a cor comum, hesito em dizer que talvez o Benfica estivesse um pouco mais representado, apesar da barulheira dos matosinhenses.


Há neste momento vários filmes franceses nos ecrãs lusos. O que chama mais a atenção é provavelmente "Les Poupées Russes" (que no Verão, em França, já tinha sido visto por dois milhões de espectadores, segundo anunciavam), a sequela de "A Residência Espanhola", aquele filme de Erasmus que teve tanto sucesso e onde o mundo descobriu Romain Duris. Mas duvido que seja melhor que "Anthonny Zimmer", um thriller bem estruturado, com a habitual mistura entre falsários, polícias locais e tipos de Leste. Um tipo normal apanhado numa maquinação secreta, uma irresistível femme fatale (e logo Sophie Marceau), de nome Chiara (está visto que as Chiaras são indubitavelmente irresistíveis), uma troca de identidades, tudo entre TGVs, modernas vivendas camufladas no maquis, salas herméticas próprias para interrogatórios e o glamour da Côte d´Azur (há cenas passadas nos hoteis Carlton, em Cannes, e Negresco, bem como na Promenade des Anglais, em Nice). Tudo até às revelações (ou não) finais da trama, incluindo a da personagem que dá nome ao filme. Muito aconselhável, apesar de não estar em muitas salas. Se puderem, não o percam.

segunda-feira, outubro 24, 2005

A questão que se (me) impõe

Quando um portuense visita a capital, e vice-versa, já sabe que quando chegar a ocasião de pedir um "fino" terá de trocar o termo por "imperial". Não tem nada que saber. O problema coloca-se noutras latitudes, nomeadamente em terras equidistantes de tripeiros e alfacinhas.
Em Coimbra, por exemplo, o que usar? O pedido não deve ser raro na cidade dos estudantes, que não são propriamente indiferentes à beberagem (e agora com a Latada ainda menos). Mas já ouvi perguntar de duas formas: alguém pediu um fino, e perante o olhar de dúvida da menina que servia, alterou o pedido para "uma cerveja", ao que a dita moçoila acedeu, respondendo "uma Imperial, não é?". Pouco depois, numa tabela de bebidas num local de culto para a estudantada, já vinha o nosso Fino, e até em diferentes tamanhos. Ainda pensei que fosse a expressão "vinho fino", que se usa em Coimbra com o diminutivo fino, mas não, era mesmo a cerveja. Mais confuso se fica. Afinal, que expressão se usa em Coimbra? Serão ambas aceitáveis e oficiais, dado a quantidade de pessoas/estudantes que lá aflui? Ou andarão os beirões a enganar o resto do país enquanto procuram uma fórmula intermédia? Impõe-se uma resposta clara antes que se instale o caos (ou pelo menos um ligeiro qui pro quo à volta de copos).

segunda-feira, outubro 17, 2005

Para lembrar e relembrar



O jogo de ontem (que fui acompanhando sem ver, e do qual perdi o segundo golo) é sem dúvida histórico: pela matança do borrego de 14 anos e que vinha crescendo a cada nova época (com estagnação já no ano passado); pela passagem de testemunho de César Brito para Nuno Gomes, com os mesmos dois golos, ambos marcados com poucos minutos de intervalo, na segunda parte, na baliza do mesmo lado e até perante o mesmo guarda-redes (bonita idade, Vítor, mas com poucos motivos para comemorar); por marcar novo triunfo de Ronald Koeman, que também já marcou a Baía, sobre o seu patrício do "futebol de ataque"; e por simbolizar enfim a ideia de que os tempos negros do Benfica, neste campeonato e não só, ficaram para trás, e tão cedo aqueles terríveis onze anos não se voltarão a repetir. Mesmo que o SLB não seja campeão, mesmo que a Liga dos campeões não corra lá muito bem, certo é que temos mesmo equipa, com união e espírito de sacrifício, e ao que parece temos também um treinador competente e conhecedor do ofício, ao contrário do que chegou a parecer.

Claro que a equipa contrária, em especial a sua deplorável defesa, deram uma ajuda preciosa. Mas as lesões de Miccoli e a má forma de Karagounis também foram problemas acrescidos. Por isso se pode dizer que o triunfo no reduto do adversário é inteiramente merecido, graças a uma defesa sólida, um guarda-redes seguro, um meio-campo operário e um ataque desiquilibrador e oportunista. E bonitos os gestos do matador Nuno (sete golos em sete jogos!), tanto o de relembrar que era o campeão nacional que ali jogava como a dedicar os golos à antiga glória José Torres, vítima de uma doença degenerativa.



Agradecimentos ao sl-benfica.com pelas fotos, sobretudo a Isabel Cutileiro

PS: estava a folhear um jornal de 13 de Setembro e reparei em algumas das frases daquela secção que mostra o que se disse no dia anterior, noutras publicações. Por exemplo: "o Benfica está outra vez em crise" ou "Koeman está a seguir por caminhos já antes trilhados na Luz por Manuel José e Jupp Heynkes". Passou-se apenas um mês. Faz-me lembrar o PS depois das autárquicas. Parece que para além dos ciclos políticos, também os futebolísticos se estão a encurtar.

sexta-feira, outubro 14, 2005

Jornais, declarações e substituições

Se há jornais que estão em franca decadência, ou que desiludem se comparados com o que eram na altura do seu surgimento, o Independente é seguramente um deles. Já se sabia que de independente tem muito pouco, ainda que assumido o espaço político em que se move. Mas pedir a Luís Filipe Meneses que fosse o opinion-maker do destaque do jornal, a dois dias das autárquicas, é um bocadinho demais. Se se acrescentar que este senhor é um autarca com ambições distritais/nacionais e provavelmente a figura política mais incoerente do PSD, então estamos conversados. É que na sua coluna (link indisponível, creio), o autarca do lado de lá prevê a total hecatombe do PS, com derrotas esmagadoras no distrito do Porto (que só ocorreram em Felgueiras), a perda de câmaras de Braga, Vila do Conde, (onde ganhou com maioria) etc, além de outras previsões que, pese a pesada derrota socialista do passado domingo, ficaram bastante aquém dos seus augúrios. Mas do sr.presidente da margem sul pouco mais haveria a esperar.
Pior do que isso só a conversa da sua directora, Inês Serra Lopes, que extrordinariamente declarou que "os casos de Gondomar e Felgueiras são diferentes de Oeiras, porque são bastante mais pequenos que o concelho onde Isaltino ganhou"; isso perante o ar impávido e sereno dos parceiros de mesa. Extraordinariamente porque a senhora sem dúvida ignora que Felgueiras é um dos concelhos mais industriais do distrito do Porto, e, pior do que isso, que Gondomar fica às portas da Invicta, tem mais de 150.000 habitantes e uma área muito extensa, ao contrário da exígua Oeiras. Claro que são concelhos entre o suburbano e o rural, mas daí a serem pequenos vai um passo que a despreocupada e pouco esclarecida directora do Indy certamente não dará.

E já que falamos em jornais, apercebi-me de que as críticas cinematográficas do Público se suavizaram de forma notória. A razão é simples. Saíu Kathleen Gomes e entrou Jorge Mourinha. Pessoalmente não era um adepto do seu estilo, das suas críticas amargas a tudo quanto era um pouco mais "comercial", das suas bolas pretas, só ocasionalmente trocadas por um punhado de estrelas a uma intelectualidade qualquer do novo cinema do Kazaquistão, enfim dos seus ataques sibilinos e ríspidos a 90% da produção cinematográfica e musical - embora não fosse razão para insultar.
Assim, o ingresso do ex-jornalista do Blitz não só enriquece o diário e demais suplementos - leia-se "Y" - como lhe dá um estilo mais leve, menos carregado, mas nem por isso menos profundo. É uma boa notícia saber que o terei como objecto de leitura no comboio de Sexta-Feira.

terça-feira, outubro 11, 2005

Rescaldo

Vitórias. Derrotas. Declarações mais ou menso grandiloquentes. Conquistas. Surpresas. Os ingredientes de umas quaisquer eleições autárquicas.

Leituras nacionais: o PSD é o principal vencedor, mantendo e reforçando a supremacia autárquica obtida em 2001, e engolindo o CDS. Marques Mendes sai também reforçado, apesar das perdas de algumas câmaras importantes e do igual reforço de alguns rivais, como Menezes.
O PS tem uma derrota em toda a linha, talvez a maior de que há memória a nível local, no mesmo ano em que obtém o seu maior triunfo de sempre. É pouco crível que o governo vá mudar o que quer que seja, dado o carácter local do evento (não se vota no excelso presidente da junta de freguesia de Mouçós para castigar as políticas socráticas). Mas de qualquer maneira, é uma derrota para o seu líder, Sócrates, e talvez marque o fim de uma era: a de Jorge Coelho como líder do aparelho PS.
CDU: outro grande vencedor. Inesperadamente, a coligação vermelha e verde (grande eufemismo) não só trava a contínua sangria de cãmaras que se verificava há já alguns anos como ganha novo fulgor, ao tomar o antigo feudo da marinha Grande, Peniche, alguns concelhos alentejanos e principalmente quase toda a margem sul do Tejo, o que lhes permitiu reconquistar a liderança da Junta Metropolitana de Lisboa. Se não fossem autárquicas, diria que é o efeito Jerónimo...
CDS-PP: as coligações com o PSD permitiram disfarçar o inabalável facto de que a nível local já não representam quase nada. Resiste o fiel e imutável bastião de Ponte de Lima, mas é tudo. O Marco caiu, o domínio que chegaram a ter em Aveiro desapareceu, e não lograram conquistar alguns concelhos que lhes dariam novo alento, como Mirandela. Ribeiro e Castro tem todo um trabalho de reorganização e aproximação local à sua espera.
BE: a estagnação. O Bloco mostra que é definitivamente um movimento urbano de protesto, não um partido para governar ou administrar o que quer que seja. E no Porto nem isso lhes valeu.
O resto dos partidos: irrelevantes, como sempre. Nem os irmãos Câmara Pereira conseguiram o que quer que fosse para aquilo a que eles chamam "PPM". curioso é verificar que um partido que julgava extinto, o PSN, ainda se apresentou a uma autarquia, já não sei qual.

Quanto às minhas escolhas pessoais para os resultados...bem...

O melhor: as derrotas de Ferreira Torres, Carrilho e José Raúl dos Santos (Ourique). As vitórias de Moita Flores, Manuel Moreira (Marco), Fernando Seara e Daniel Campelo, em Ponte de Lima.


O pior: derrotas de Alberto Souto em Aveiro (por causa de uma conjugação de votos entre PSD e CDS) e Maria José Azevedo em Valongo; as vitórias de Valentim, Fátima Felgueiras e Isaltino; a continuidade de Mário de Almeida (Vila do Conde), Mesquita Machado (Braga) , Manuel Martins (Vila Real) , Jaime Soares (Poiares) e Isabel Damasceno, em Leiria, a maioria absoluta de Rui Rio no Porto (preparem-se para a terraplanagem da Avenida dos Aliados), e, claro, o pleno de Alberto João nas onze câmaras da Madeira, com todas as inaugurações, intimidações e imensos fundos de campanha.

Pior discurso: ex aequo os de Fátima Felgueiras, Valentim (espanta como é que não lhe deu uma apoplexia), MM Carrilho (patético) e Rui Rio, num estilo demagógico e arrogante que não prenuncia nada de bom.
A maior alegria da noite: ver Ferreira Torres e as suas palavras ressabiadas contra "a comunicação social e a Mota-Engil", justificando "que tinha pena pelos amarantinos", enquanto Armindo Abreu festejava radiante entre um mar de gente aliviada.
Teria pena dos amarantinos, sim, se esse símbolo do pior que o poder local criou chegasse à presidência da "Princesa do Tâmega"; e ver o amigo dos empreiteiros atirar-se ás empresas de construção civil é grotesco e caricato, ao mesmo tempo. É provavelmente o fim da carreira do indivíduo, já que o ex-governador-civil do Porto, Manuel Moreira, conquistou o Marco de Canaveses e derrubou definitivamente o domínio avelinista.

A Manuel Moreira (até pela difícil herança) e sobretudo a Armindo Abreu envio aquele abraço e o desejo de felicidades nas respectivas autarquias.

sexta-feira, outubro 07, 2005

Autárquicas

São já daqui a poucos dias, as minhas eleições favoritas. Favoritas não apenas pelo teor das questões locais, que sempre me interessaram, principalmente as ligadas ao urbanismo (a construção de uma cidade é qualquer coisa de fascinante), mas pelas centenas de actos eleitorais e respectivas campanhas, que, pela boçalidade aliada à capacidade de imaginação e de improviso tão genuinamente português, são as mais divertidas que temos. Pena é que se realizem em Outubro, e não em Dezembro, como era regra, já próximas da quadra natalícia (o que propiciava novas e bizarras situações). De qualquer forma, para se ter uma ideia de conjunto, basta ver os vários blogues especialmente feitos para mostrar os melhores outdoors. Esses grandes apelos ao voto eram uma raridade apenas existentes nas grandes cidades hámeia dúzia de anos; hoje, a mais recôndtia freguesia não os dispensa, demonstrando que o tradicional cartaz colado na parede não passa de uma raridade e de uma recordação.
O que marca desde já este acto eleitoral são as famosas e muito mediáticas campanhas dos arguidos Valentim, Isaltino, Fátima Felgueiras e Avelino - este último talvez o caso mais chocante. Todos gostaríamos de os ver derrotados, como é óbvio. O problema é que os que restam são exactamente a maioria votante nos respectivos concelhos, pelo que a questão de os derrotar se transforma num bico de obra. Assim, se só um deles perder (preferência para Avelino), já não é mau.
Outro ponto que devia ficar resolvido era o dos dinossauros, tanto a nível pessoal como partidário. Pessoal, por causa dos que se eternizam no cago desde os anos 7o, casos de Narciso Miranda (que finalmente se retira), Mesquita Machado, ou jaime Soares, de Vila Nova de Poiares, que ocupa a cadeira desde 25 de Abril...de 1974. Partidário porque há agrupamentos que dominam as respectivas câmaras desde os primeiros escrutínios mesmo que pontualmente alterem o cabeça de lista (Vila Real, Vila do Conde, Viseu, a maioria das câmaras da Madeira, etc). Por minha vontade, todos estes municípios mudavam de cor no dia 9. Resta saber qual a vontade de mudança dos autóctones.
Não posso falar de muitas candidaturas, porque francamente não conheço bem os problemas e as "soluções" dadas pelos candidatos; tenho uma vaga ideia do que prometem para Lisboa, por exemplo, além dos patéticos debates Carrilho/Carmona, ou do que se passa em Vila Real e Matosinhos, mas pouco mais. As minhas eleições são no Porto.

Rui Rio, o vencedor surpresa de 2001, recandidata-se agora como favorito à vitória. Escudado numa imagem de candidato impoluto e anti-grupos de interesses, esta empalideceu com a surpreendente saída de Paulo Morais das listas para a CMP (e as suas posteriores declarações). Tem a seu favor a imagem de gestor austero, das tentativas de reabilitação dos bairros sociais e da desertificada zona histórica, e de ter concluído algumas obras paradas, como os arranjos da praça Carlos Alberto ou o Túnel de Ceuta - imbróglio não terminado. Contra si tem o nulo investimento na cultura, algumas quezílias inúteis e escusadas, um subtil e leve populismo e uma certa arrogância e sobranceria no tratamento de determinadas questões sociais (por exemplo, ainda não se percebeu se há menos arrumadores ou não).
Francisco Assis, ao contrário do que disseram, não pode ser considerado à partida um perdedor: presidente da câmara de Amarante aos 24 anos, líder do grupo parlamentar do PS aos 32, tendo tido a proeza de derrubar a todo-poderosa distrital socialista do Porto, de Narciso Miranda e de enfrentar populares irados em Felgueiras, não goza contudo de grande carisma nem é uma figura com forte ligação à cidade. Cultiva um certo afastamento do aparelho partidário e goza de credibilidade, tendo o apoio dos agentes culturais e de todos os outros que em geral se queixam de Rio; não especifica contudo qual vai ser a sua política de urbanismo, de atração do investimento (um dos seus cavalos de batalha) ou da "devolução ao Porto da importância que merece".
Rui Sá é uma espécie de "one-man-show" da CDU, tal como era Ilda Figueiredo, e como a agora eurodeputada consegue transmitir uma certa imagem de trabalho e competência. Tendo muitas vezes suportado a maioria na Câmara, não consegue afastar uma certa ambiguidade, além da importância que dá ao confronto directo com o BE. O seu trabalho de safra parece, no entanto, ser reconhecido.
Pelo bloco de Esquerda recandidata-se João Teixeira Lopes, sociólogo (como 70% dos bloquistas) e deputado. Tem algumas hipóteses de chegar a vereador, aposta na cultura e aos assuntos sociais, sobretudo no que toca às ilhas e bairros camarários (o tema mais batido da campanha), mas as suas ideias parecem algo vazias e minimalistas. A excessiva confrontação com as outras candidaturas também não o favorece.
Por último, o estimado advogado João Garrett candidata-se pela Nova Democracia/PPM, mas a sua candidatura parece ter passado ao lado dos eleitores, não se conhecendo os seus projectos nem a sua equipa por falta de informação. O cartaz , enigmático e populista, também não ajuda nada à festa, como se pode ver:



Cortesia do Fumaças

Resta-nos assim esperar pelas confirmações e surpresas de Domingo, que a televisão exaustivamente nos revelará, para não falar nos habituais paineis de entendidos, representantes partidários e jornalistas. O zapping será constante, como sempre. Mas até lá, nas poucas horas que nos restam, ainda temos os últimos cartuchos de um conjunto de centenas de campanhas que vale a pena acompanhar (aqui, por exemplo), sem que faltem os eternos bombos, bandeiras, slogans e comícios jantares/almoços, consoante a hora. A política portuguesa vive inevitavelmente de gastronomia e fanfarra, o que dá outra piada à coisa. E, sinceramente, já não podemos passar sem isso.

sábado, outubro 01, 2005

Inglório



É óbvio que fiquei fulo com a derrota em Manchester. Perder a cinco minutos do fim depois de um jogo tão equilibrado é doloroso e dá aquela famosa sensação da morte na praia. Provavelmente haveria uma sensação de menor frustração se a derrota tivesse sido por outros números. Mas depois desta exibição exige-se mais ao Benfica e pricipalmente a Koeman. Não vale a pena repetir as mesmas críticas e dizer que devia ter tirado o elemento nulo em campo (Beto, cujo lugar não é decididamente nas alas) e conservado Miccoli, para não "convidar a equipa contrária a atacar". Agora há que olhar em frente, com outra confiança, para preparar os próximos embates no campeonato e os restantes jogos europeus. Com alguma sorte, ainda nos desforramos da equipa do sr. Glazer quando vierem à Luz, com ou sem Rooney, Keane e companhia.

De qualquer forma, antes a nossa derrota que os três a dois que tanto Porto como Sporting sofreram em casa por parte de adversários modestos e tecnicamente inferiores. Um problema para os nossos rivais irem reflectindo seriamente.
O Vitória de Guimarães, nosso próximo adversário, está de parabéns pelo triunfo obtido na Polónia. O outro Vitória, o sadino, saíu de cabeça erguida do confronto com a Doria, o famoso segundo clube de Génova (daqui a uns dias explico-lhes porquê). Sem avançados, o Braga caíu na armadilha do golo sofrido em casa perante o velho Estrela Vermelha. E assim se findou a jornada portuguesa na UEFA, sem grandes motivos para rir, excepto em Guimarães.

Como prémio de consolação, deixo-lhes esta imagem de A Praia e o respectivo post do Ivan Nunes. Não é novidade nenhuma que o Benfica tem adeptos em todo o mundo, mas é sempre reconfortante encontrar mais um.