sexta-feira, outubro 07, 2005

Autárquicas

São já daqui a poucos dias, as minhas eleições favoritas. Favoritas não apenas pelo teor das questões locais, que sempre me interessaram, principalmente as ligadas ao urbanismo (a construção de uma cidade é qualquer coisa de fascinante), mas pelas centenas de actos eleitorais e respectivas campanhas, que, pela boçalidade aliada à capacidade de imaginação e de improviso tão genuinamente português, são as mais divertidas que temos. Pena é que se realizem em Outubro, e não em Dezembro, como era regra, já próximas da quadra natalícia (o que propiciava novas e bizarras situações). De qualquer forma, para se ter uma ideia de conjunto, basta ver os vários blogues especialmente feitos para mostrar os melhores outdoors. Esses grandes apelos ao voto eram uma raridade apenas existentes nas grandes cidades hámeia dúzia de anos; hoje, a mais recôndtia freguesia não os dispensa, demonstrando que o tradicional cartaz colado na parede não passa de uma raridade e de uma recordação.
O que marca desde já este acto eleitoral são as famosas e muito mediáticas campanhas dos arguidos Valentim, Isaltino, Fátima Felgueiras e Avelino - este último talvez o caso mais chocante. Todos gostaríamos de os ver derrotados, como é óbvio. O problema é que os que restam são exactamente a maioria votante nos respectivos concelhos, pelo que a questão de os derrotar se transforma num bico de obra. Assim, se só um deles perder (preferência para Avelino), já não é mau.
Outro ponto que devia ficar resolvido era o dos dinossauros, tanto a nível pessoal como partidário. Pessoal, por causa dos que se eternizam no cago desde os anos 7o, casos de Narciso Miranda (que finalmente se retira), Mesquita Machado, ou jaime Soares, de Vila Nova de Poiares, que ocupa a cadeira desde 25 de Abril...de 1974. Partidário porque há agrupamentos que dominam as respectivas câmaras desde os primeiros escrutínios mesmo que pontualmente alterem o cabeça de lista (Vila Real, Vila do Conde, Viseu, a maioria das câmaras da Madeira, etc). Por minha vontade, todos estes municípios mudavam de cor no dia 9. Resta saber qual a vontade de mudança dos autóctones.
Não posso falar de muitas candidaturas, porque francamente não conheço bem os problemas e as "soluções" dadas pelos candidatos; tenho uma vaga ideia do que prometem para Lisboa, por exemplo, além dos patéticos debates Carrilho/Carmona, ou do que se passa em Vila Real e Matosinhos, mas pouco mais. As minhas eleições são no Porto.

Rui Rio, o vencedor surpresa de 2001, recandidata-se agora como favorito à vitória. Escudado numa imagem de candidato impoluto e anti-grupos de interesses, esta empalideceu com a surpreendente saída de Paulo Morais das listas para a CMP (e as suas posteriores declarações). Tem a seu favor a imagem de gestor austero, das tentativas de reabilitação dos bairros sociais e da desertificada zona histórica, e de ter concluído algumas obras paradas, como os arranjos da praça Carlos Alberto ou o Túnel de Ceuta - imbróglio não terminado. Contra si tem o nulo investimento na cultura, algumas quezílias inúteis e escusadas, um subtil e leve populismo e uma certa arrogância e sobranceria no tratamento de determinadas questões sociais (por exemplo, ainda não se percebeu se há menos arrumadores ou não).
Francisco Assis, ao contrário do que disseram, não pode ser considerado à partida um perdedor: presidente da câmara de Amarante aos 24 anos, líder do grupo parlamentar do PS aos 32, tendo tido a proeza de derrubar a todo-poderosa distrital socialista do Porto, de Narciso Miranda e de enfrentar populares irados em Felgueiras, não goza contudo de grande carisma nem é uma figura com forte ligação à cidade. Cultiva um certo afastamento do aparelho partidário e goza de credibilidade, tendo o apoio dos agentes culturais e de todos os outros que em geral se queixam de Rio; não especifica contudo qual vai ser a sua política de urbanismo, de atração do investimento (um dos seus cavalos de batalha) ou da "devolução ao Porto da importância que merece".
Rui Sá é uma espécie de "one-man-show" da CDU, tal como era Ilda Figueiredo, e como a agora eurodeputada consegue transmitir uma certa imagem de trabalho e competência. Tendo muitas vezes suportado a maioria na Câmara, não consegue afastar uma certa ambiguidade, além da importância que dá ao confronto directo com o BE. O seu trabalho de safra parece, no entanto, ser reconhecido.
Pelo bloco de Esquerda recandidata-se João Teixeira Lopes, sociólogo (como 70% dos bloquistas) e deputado. Tem algumas hipóteses de chegar a vereador, aposta na cultura e aos assuntos sociais, sobretudo no que toca às ilhas e bairros camarários (o tema mais batido da campanha), mas as suas ideias parecem algo vazias e minimalistas. A excessiva confrontação com as outras candidaturas também não o favorece.
Por último, o estimado advogado João Garrett candidata-se pela Nova Democracia/PPM, mas a sua candidatura parece ter passado ao lado dos eleitores, não se conhecendo os seus projectos nem a sua equipa por falta de informação. O cartaz , enigmático e populista, também não ajuda nada à festa, como se pode ver:



Cortesia do Fumaças

Resta-nos assim esperar pelas confirmações e surpresas de Domingo, que a televisão exaustivamente nos revelará, para não falar nos habituais paineis de entendidos, representantes partidários e jornalistas. O zapping será constante, como sempre. Mas até lá, nas poucas horas que nos restam, ainda temos os últimos cartuchos de um conjunto de centenas de campanhas que vale a pena acompanhar (aqui, por exemplo), sem que faltem os eternos bombos, bandeiras, slogans e comícios jantares/almoços, consoante a hora. A política portuguesa vive inevitavelmente de gastronomia e fanfarra, o que dá outra piada à coisa. E, sinceramente, já não podemos passar sem isso.

2 comentários:

mfc disse...

Vais ver que os arguidos vão ser todos eleitos à excepção do doido Ferreira Torres.
Que povinho este!

João Pedro disse...

Se essa criatura perdesse já não me dava por insatisfeito de todo.