Flags of our Fathers, última obra de Clint Eastwood, não poderá ser rotulado de "obra-prima". No mesmo sentido vão as nomeações de óscares, que se viraram preferencialmente para o aguardado "Letters from Iwo Jima". Mas dificilmente outro realizador conseguiria tocar numa batalha tão sangrenta e tão decisiva como Eastwood, não se deixando enredar nem em triunfalismos patrióticos (e aí está o seu filme japonês para o provar), de que um exemplo eloquente será Pearl Harbor, nem em miserabilismos pacifistas, com sentimentos de culpa inculcadas em todas as células. O que se vê é o sangrento episódio, do qual o público da altura só reteve a foto em questão, as angústias próprias da frente de combate, um legítimo sentimento de patriotismo à vista do estandarte. E os sobreviventes do acto simbólico, transportados por toda a América, num cortejo triunfal que não desejavam, sendo heróis sem o sentirem. As consequências foram amargas: não passando de cobaias para a angariação de fundos e para exortar a nação, depressa foram esquecidos por quem os tinha posto no topo do mundo - ou do rochedo de esferovite que surge logo no início, no meio de uma multidão eufórica.
O filme, claro está, aconselha-se, por tudo isto e não só: os diversos flashes não cortam a sequência narrativa, o elenco (de desconhecidos, à parte Ryan Philippe e Barry Pepper) é muito aceitável, e a fotografia é belíssima. A primeira parte lembra muito O Resgate do Soldado Ryan, ou não fosse Spielberg o produtor.
Mas é curioso reparar que a simbologia da imagem não é assim tão original. Já havia imagens semelhantes em diferentes contextos. É que a fotografia da bandeira de Iwo Jima lembra-me muito a imagem do Padrão de Santo Agostinho a ser erguido pelos homens de Diogo Cão na foz do Zaire. Acredito que os norte-americanos não tivessem qualquer ideia de fazer uma cópia inspirada no padrão, mas o que é certo é que já muito antes tínhamos colocado as nossas armas nacionais em territórios inóspitos. As semelhanças são mais que evidentes, mas entre os dois acontecimentos há quatro séculos e meio de intervalo.
(Não conheço o autor do quadro; agradecia a quem puder esclarecer-me)
Um comentário:
Não o posso esclarecer quanto à autoria do quadro do Padrão de Diogo Cão mas quero felicitá-lo quanto à felicidade da analogia.
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