Quando vi nas bancas a notícia de que Paulo Rangel avançaria para a liderança do PSD fiquei sem saber o que pensar. Sendo certa a anunciada candidatura de José Pedro Aguiar Branco, a posição de Rangel não faz o menor sentido. É sabido que o líder do grupo parlamentar laranja não desistiu antecipadamente em favor do euro-deputado. Sendo os dois do mesmo grupo interno do partido, com ideias semelhantes (embora de estilos muito diferentes), conhecendo-se há muito, e tendo mesmo Rangel sido Secretário de Estado de Aguiar Branco quando este era Ministro da Justiça no breve governo de Santana Lopes, que razões haverá para este avanço?
Parece que Rangel ultrapassou o estigma de "novo turco" no PSD. A prestação como líder parlamentar e a exaltante vitória nas Europeias catapultaram-no para um lugar de destaque no partido e no panorama político nacional. Embalado pela popularidade ganha em tão pouco tempo, e provavelmente com algum deslumbre, Rangel resolveu avançar, ao contrário do que dissera há tempos, argumentando com a alteração de circunstâncias, que o terá levado a dar esse passo. A meu ver, um pouco maior do que a perna.
Parece-me, antes de mais, que esta candidatura à revelia de Aguiar Branco não faz justiça ao líder parlamentar do PSD. Sabemos como em política quem quer chegar ao topo tem por vezes de remover "obstáculos", mesmo com alguns empurrões ou golpezinhos. Ainda assim, não esperava esta atitude vinda de Rangel ao seu antigo Ministro. Para quem quer ser um exemplo ético para o país, não é um bom começo de caminhada. Depois, a razão supracitada de pertencer à mesma família política e ao mesmo círculo (onde também cabe Rui Rio, por exemplo) deixa adivinhar que dividirão os apoios dos que à partida votariam numa única candidatura. Pedro Passos Coelho deve achar todo este processo muito interessante.
Depois, claro, o facto de Rangel ser um militante recente joga contra ele e será com certeza usado pelos adversários. O bom desempenho como líder parlamentar (a que pode juntar o célebre discurso do 25 de Abril de 2007) deu-lhe também reconhecimento, mas Aguiar Branco também o é, tem cumprido o papel com descrição mas competência, e o facto de só avançar depois de resolvida a discussão do OE dá-lhe credibilidade. O efeito das Europeias e a mediatização daí decorrente deram alento a Rangel, mas o certo é que a derrota nas Legislativas desinchou um pouco o balão de entusiasmo.
Como o tenho como pessoa de visão, não acredito que avance completamente às cegas. Lembro-me de o ouvir referir o exemplo dos políticos franceses, como Miterrand, que iam aos vários actos eleitorais, coleccionando derrotas sobre derrotas, até por fim chegarem ao lugar pretendido. É possível que seja essa a ideia de Paulo Rangel: apresentar-se a sufrágio, não ganhar, mas ir reunindo experiência a apoios, até ver chegada a sua hora. Pode ser. Em todo o caso, corre o risco de se queimar e de perder aliados. E não deixo de pensar que há um certo deslumbramento com os acontecimentos recentes (o discurso desta semana no Parlamento Europeu, dramatizado e histriónico, é disso prova, e não terá caído bem entre os euro-deputados nacionais) que o levou a dar esta guinada para a cúpula laranja. É, por isso mesmo, é uma candidatura prematura, apressada e inoportuna, de quem se deveria constituir como reserva válida mas que resolveu meter a carne toda no assador. Passos Coelho tem assim o caminho mais aberto para a liderança do partido, e quem sabe, do país.
2 comentários:
Jp, tenho lido muito sobre este tema, da corrida ao poder no Psd, e face ás actuais circunstancias à corrida ao poder na acepção total da palavra.
Partilho na íntegra o teu post que considero magistral em termos de análise política.
Não gosto mt de publicar e partilhar a mha opiniao em termos politicos, mas mais tarde falaremos sobre o tema com mais privacidade. Um ab
Só não acredito que Passos Coelho chegue à liderança... quem sabe, do País.
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