Nova Yorke também pode ser pia
Tal como pensava, em Wathever Works, Larry David é um alter ego de Woody Allen, só que ainda mais neurótico que o realizador. Um misantropo desagradável, niilista e com complexos de toda a ordem (a começar pelos de superioridade), que só se amacia com uma mente simples.
No filme, uma família típica do Sul profundo, do Mississipi, chega em diferentes vagas e por razões diferentes (mas interligadas) a Nova York, e com o tempo e os contactos com os indígenas, esquece os seus hábitos conservadores, abandona a religião e adopta modos de vida pouco convencionais, que até aí lhe eram estranhos.
Tal metamorfose cria a impressão que a Big Apple é mesmo a "Babilónia" dos tempos modernos, a cidade "sem Deus", hedonista e niilista, segundo certos grupos evangélicos americanos. Isso e o dia de hoje recordaram-me a minha passagem pela cidade, há uns anos, também em Fevereiro. Era Quarta-Feira de Cinzas (felizmente passei o Carnaval sem sequer me lembrar da data), tal como agora. Visitando a St Patricks´s Cathedral, vi multidões de pessoas formando filas e mais filas para que os sacerdotes lhes colocassem na testa a marca das cinzas, em forma de cruz. Recebiam-nas e depois saíam, indo à sua vida. Havia de tudo, de todas as classes sociais, de todas as raças, de todas as idades. Havia executivos de gabardina e pasta, adolescentes vestidos à break-dancer, mulheres com ar de estar entre a escola dos filhos e o trabalho, velhos com todo o tempo do Mundo. No fundo, o que ali estava era uma pequena representação de Nova York: uma grande parte dos seus crentes, levados naquela manhã ao tempo pela sua Fé, tão multiplicadamente heterogénea e cosmopolita como a própria cidade.
2 comentários:
Muito bom o filme... Finalmente W.Allen voltou ao pré-Scarlett! :)
Ou muito me engano ou não vai tardar a fazer alguns tours na Europa (com a Scarlett ao lado).
Postar um comentário