sábado, agosto 11, 2012

Memórias da Guerra Fria na silly season 2012


Esta história sobre as técnicas de espionagem da FNAC que Zita Seabra trouxe a lume é das coisas mais divertidas (e mais dignas de uma perfeita silly season) que tenho visto nos últimos tempos. A alegação (puxada pelo entrevistador Mário Crespo) de que a antiga Fábrica Nacional de Ar Condicionado, que utilizava tecnologia alemã da antiga RDA, e que era próxima do PCP por via dos seus dirigentes, montava os seus aparelhos inseridos com microfones para escutas em tudo o que era gabinete de órgão público não pode deixar de fazer sorrir.


É verdade que a empresa de ar condicionado era presidida por Alexandre Alves, conhecido como o Barão Vermelho, por ser próximo do PCP e porque a FNAC patrocinava a camisola do Benfica (a cuja presidência se chegou a candidatar, perdendo para Jorge de Brito, que até era conotado com o Marcelismo). E que a tecnologia da RDA era mesmo usada nos aparelhos. Ninguém ignora também que a antiga Alemanha do outro lado de lá da Cortina de Ferro tinha como um dos principais desportos, a par da prática de atletismo coercivo para fazer boa figura, a espionagem obsessiva dos seus cidadãos através da famigerada STASI, que devia estar então muito avançada em técnicas de escuta. Assim, a ex-DDR financiaria a FNAC para que os funcionários do PC ouvissem o que se passava nos gabinetes ministeriais e o transmitissem ao exterior (ou seja, a Moscovo).

Mas a história parece ser demasiado rocambolesca para ser verdade. No vídeo, o próprio Alexandre Alves esclarece que tal seria impossível porque os aparelhos eram montados nos próprios locais. Não sei qual a longevidade dos exemplares montados pela FNAC, mas será que ao fim de vinte e tal anos ninguém retirou nenhum e reparou em eventuais microfones? E por último, não esquecer que Alexandre Alves voltou à baila precisamente na última semana, a propósito da sua anunciada fábrica de painéis solares em Abrantes, que recebeu por antecipação fundos do AICEP. É exactamente na altura em que o seu nome reaparece que Zita Seabra recorda esta história? Parece que se trata de alguma revanche para aborrecer o velho PCP, por interposta FNAC. Ou então, Seabra, que agora milita no PSD, terá dito isso algo inconscientemente, levada pela entrevista ou instigada por alguém que queria ajustar contas com Alves ou prejudicá-lo na intenção em levar o projecto de painéis solares avante.
Em qualquer das hipóteses, duvido muito que esta história digna de órfãos do "confronto de blocos" (dos dois lados) vá para a frente. Será uma entre muitas da silly season, ideal para conversas de café ou para inspirar romances de cordel da Guerra Fria.

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