segunda-feira, outubro 20, 2014

Brincadeiras perigosas



Aquelas cenas patéticas do jogo Sérvia-Albânia em Belgrado representam bem mais do que mero holiganismo. Podem vir daí sanções da UEFA, perda de pontos (para Portugal, no mesmo grupo, até era bom), mas o mal maior será o acirrar ódios entre os dois povos. Não é por acaso que os adeptos albaneses foram impedidos de ir ao jogo, tal como já tinha acontecido com os croatas no ano passado.


As marcas da secessão do Kosovo estão bem frescas. A Sérvia não aceita nem aceitará, por muito difícil que seja, que aquele pedaço de terra faça parte da "Grande Albânia". Que era exactamente o que estava no cartaz transportado por um drone sobre o recinto onde se disputava o jogo, enquadrado pela bandeira albanesa. A "Grande Albânia" comporta o território albanês propriamente dito, o Kosovo, e outras partes da Sérvia, da Macedónia e do Montenegro. Até agora é o único caso de irredentismo europeu do Século XXI que tem tido sucesso.


Claro que os sérvios nunca poderiam aceitar a afronta de ânimo leve. Por isso mesmo o ex-benfiquista Mitrovic tentou arrancar a tarja ao aparelho voador, para fúria dos adeptos albaneses, que por sua vez só aumentaram a ira de todos quanto estavam no estádio, polícia incluída, obrigando-os a correr para os balneários. Mas conseguiram escapar inteiros para serem recebidos em Tirana como heróis, de forma apoteótica.

O problema do Kosovo não terá desenvolvimentos durante pelo menos uma geração. Os autores da piada só ajudaram a piorá-lo. E a suspeita de que poderá ter sido o irmão do primeiro-ministro albanês é outra acha para a fogueira balcânica, que andou sempre bem acesa pela História fora. E quando a Sérvia fora jogar a Tirana? Quem pode prever a reacção dos albaneses ou as retaliações dos sérvios?




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