Eu sei que a tragédia que tem arrasado o Pinhal Interior gera revolta e vontade de culpar algo ou alguém. Mas nada justifica os milhares de moralistas de ocasião que aproveitam a oportunidade para vir com as teorias da conspiração, a sabedoria saloia, apontando os dedos aos "culpados" e aos "perito que nunca fazem nada" - embora me pareça que os peritos são os que mais fazem, ou seja, estudam as situações, divulgam os seus relatórios e esperam que quem de direito actue devidamente.
Mais do que apontar o dedo para toda a parte, cumpre antes de mais actuar no presente e pensar no futuro, que no caso dos incêndios é já amanhã. Diz-se sempre que "isto só muda quando houver uma tragédia". Pois já está a haver uma, ainda pior e mais mortífera do que a que vimos há menos de um ano. Não há mais margem para adiamentos. Os diagnósticos estão feitos, cumpre agir. E todo este pesadelo leva-nos a dois assuntos muito discutidos ultimamente: a prevenção e combate aos incêndios, pois claro, mas também o ordenamento do território. Sim, a coesão territorial não é só levar organismos de Lisboa para o Porto, como muitos julgam. Há que prestar atenção a territórios como Pedrógão Grande, Vimioso, Figueira de Castelo Rodrigo, Pampilhosa da Serra, Monforte ou Alcoutim, que perderam população, recursos e capacidade de se renovar ao longo das últimas décadas. Que me lembre, já não ouvia notícias da região do Pinhal Interior desde que fizeram a praia artificial de Castanheira de Pêra. Não são só os eucaliptos e o pinheiro bravo os responsáveis por este inferno. A falta de população, que abandonou estas terras em direcção às capitais de distrito e aos subúrbios do litoral, é dos casos mais graves do nosso país nas últimas décadas. Retiram-se das aldeias, dos lugares e dos campos e deixam-nos ao abandono, sob a anarquia do mato e de espécies arbóreas que crescem mais rapidamente. Perdem-se os corta-fogos e os vigilantes da terra. Qualquer relação entre isto e o aumento proporcional dos fogos ao longo dos anos não é mera coincidência.
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