quinta-feira, setembro 14, 2017

Restrição em dia de bola? Óptimo


Até há uns anos julguei que jogos de futebol em dia de eleições fossem proibidos por norma, até perceber que era uma mera boa vontade tácita dos organismos que controlam a bola. Via jogos de futebol noutros países em dia de voto, coisa que me parecia bizarra, e tinha um certo orgulho em que isso não acontecesse em Portugal. Até há 2 anos, quando o costume de jogos e eleições não colidirem acabou. Um mau princípio.

Agora, perante igual cenário, que inclui um Sporting-Porto ao fim da tarde do dia das autárquicas, surge a notícia de que o Governo vai proibir jogos em dias de eleições com força de lei (através de DL?). Levantou-se um coro contra a "ridícula proibição" ou o "infantilismo" com que o estado trata os eleitores. Como se estivéssemos perante uma restrição ditatorial ou um ataque prepotente à vida dos cidadãos.

Talvez não tenha grande acompanhamento, mas aqui aplaudo ruidosamente esta intenção do Governo. Sim, a bola é um factor de perturbação das eleições, muito mais do que a missa, os passeios em família, o cinema, etc. Basta ver o grau e a quantidade de discussão na TV. Que acham que se discutirá mais no próximo dia 2 de Outubro? O resultado do clássico da véspera ou dos executivos eleitos? Com sorte, talvez o último tenha mais uns minutos de atenção. Sim, acho que as autárquicas (e quaisquer outras eleições gerais) têm mais importância que qualquer jogo, que é um erro ignorar a enorme abstenção e os fenómenos sociais que a possam fomentar, que os eleitores são em grande parte infantis ou indiferentes. E já agora, tantas vezes o Estado ou outros entes públicos têm ajudado o futebol que este deve no mínimo corresponder. Não se trata de proibir o futebol, apenas impedir que calhe naquele dia. Se até há dois anos nunca tinha havido jogos em dia de votação, por alguma razão seria - o que mata à partida o argumento de que "os calendários das provas nacionais e europeias são apertados". A futebolização da sociedade, que tanto mal tem feito ao próprio jogo, não pode sobrepor-se aos instrumentos democráticos. Venha de lá essa restrição; já devia existir há muito.

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