quarta-feira, fevereiro 28, 2018

Os Arcade Fire regressam ao local onde muitos foram felizes


Em 2005, por culpa de uns amigos que à última não quiseram ir, cheguei depois da hora prevista a Paredes de Coura e perdi o já mítico concerto dos Arcade Fire na sua estreia em Portugal, embora tenha visto os Pixies, afinal o meu grande objectivo, e ainda os Queens of Stone Age. (vejam só o luxo do cartaz). Vinguei-me poucos anos depois, quando vi os canadianos no SuperBock SuperRock, num relvado ao lado da Ponte Vasco da Gama. Mas ficou-me sempre um amargo de boca pelo concerto ao pôr do sol perdido.
Este ano os Arcade Fire regressam ao local onde muitos foram felizes por causa deles, substituindo Bjork (claramente ganha-se com a troca). Valerá a pena tentar vê-los de novo?




terça-feira, fevereiro 27, 2018

O Inverno anunciado


Considera-se (isto é, eu considero) que o Inverno começa a moderar-se ou a ser "menos Inverno" a partir de vinte, vinte e tal de Fevereiro. Os dias são maiores, o frio glacial já passou, e a época das tempestades que caracteriza meados de Fevereiro começa também a dissipar-se.

Este ano, aparentemente, este fim do mês e o início do próximo prometem ser verdadeiramente invernosos, apesar de já termos tido uns dias de frio. A Senhora das Candeias e o Phil de Punsxsuatawney é que tinham razão: o Inverno estava mesmo para durar.

Já agora, quando é que os noticiários páram de falar no "mau tempo" que está a chegar? Com a seca gravíssima que o país atravessa, a chuva e a neve que caem por todo o país são tudo menos mau tempo.

terça-feira, fevereiro 20, 2018

Uma semana de algum gozo


Dá ideia que a semana que passou serviu para gozar com os adversários do Benfica: de um lado o Porto a sofrer cinco golos sem resposta nas Antas, na sua maior derrota caseira europeia de sempre, da parte do Liverpool, depois de alguns prognósticos optimistas e até desdenhosos ("os ingleses vão sangrar"); do outro, a liderança do Sporting a fazer uma triste figura - como se fosse pouco habitual - e a chegar ao cúmulo de ameaçar jornalistas e de "proibir" os sportinguistas de se informar noutros órgãos de comunicação social que não os oficiais do clube, ou os seus comentadores de irem a programas de debate; o responsável pela propaganda sportinguista, o ex-jornalista Nuno Saraiva, indicou mesmo uma espécie de index verde, para indicar o que é que os adeptos do clube devem ou não ver. Pergunto-me se algum jornal, canal televisivo ou rádio dará no futuro emprego a Saraiva depois de toda esta figura triste e inquisitorial.
Para completar, o Sporting consegue uma vitória em Tondela que muito animou as hostes mas que só surgiu aos 99 minutos, quando o árbitro tinha dado quatro e descontado dois pelo meio (ou seja, o jogo acabaria sempre pelos 96 minutos), e para cúmulo, o marcador do golo, o central Coates, tirou a camisola nos festejos e não levou o correspondente amarelo, que o impediria de jogar na próxima semana. Ainda não percebi porque é que as crises de vitimização sportinguistas são tão levadas a sério.

O Benfica tem tido uma época algo amarga. Venda de jogadores essenciais, má preparação do plantel e aquisições duvidosas, um desastre nas competições internacionais, ataques da aliança Porto-Sporting, casos judiciais sobre Vieira, etc. No entanto, e apesar das lesões de jogadores importantes, a equipa de futebol atravessa o seu melhor período este ano. Tem conseguido bons resultados, alguns até com goleada, boas exibições, e alguns jogadores até apresentam uma consistência que ainda não lhes tínhamos visto este ano, casos de André Almeida e Rafa. O "Penta" é um sonho algo distante, mas não custa experimentar lá chegar. Ao menos esta semana de alguma boa disposição já ninguém nos tira.

domingo, fevereiro 18, 2018

Congressos tensos e congressos ignorados


Fouçando de novo em seara alheia, não posso deixar de considerar simplesmente miserável esta "espera" que algumas figuras do aparelho laranja fizeram a Rui Rio no congresso do PSD, com a palma a ser ganha por Luís Montenegro e o seu discurso transbordante de rancor. Ganhou as eleições há menos de um mês e desde então não cessaram de se atirar a ele. Desde o Observador e os 758 artigos sobre o "caciquismo" de Salvador Malheiro (acho que o jornal online esgotou a palavra; louvável devia ser a actuação de Miguel Relvas), incluindo colunistas, como João Marques de Almeida, que depois de algumas crónicas laudatórias confessou fazer parte da equipa de Santana Lopes, até às conspirações de deputados em funções e às exigências desse grandíssimo vulto que é Miguel Pinto Luz (que na sua página de facebook se intitula de "figura pública"). 
O único caso que conheço com vagas semelhanças é o de Ribeiro e Castro à frente do CDS, e mesmo assim ficou aquém. A atitude mais decente seria deixar Rio trabalhar e depois se veria. Até lá, o PSD não passa de um saco de gatos, em que quem estica mais as garras são os derrotados que se acham com direito natural a mandar mesmo contra a opinião das urnas. 

Não posso deixar de reparar na diferença abissal entre a cobertura dos grandes e dos pequenos partidos e que ficou à vista nestes dias. O PSD teve direito a um fim de semana inteiro de directos, alteração da programação da TV, debates dirigidos para o próprio recinto, etc. Compreende-se. É o normal e todos queriam saber quais as propostas e as caras que o novo líder da oposição tinha para mostrar. Mas na semana passada houve o congresso do MPT (Partido da Terra, para os mais distraídos), que já tem 25 anos, que tem representação no Parlamento Europeu e que mudava de liderança, e não houve uma notícia nos principais jornais, nem uma reportagem da televisão, por minúscula que fosse, como acontecia antigamente, nem nada de nada. Quem soubesse do evento e o googlasse encontraria uma notícia da TSF e outra do DN da Madeira, e de resto, silêncio sepulcral. Não são só os meios e os militantes que distinguem o sucesso dos partidos: a cobertura jornalística tem também imenso peso. E quando há grupos que são não apenas ignorados mas condenados à inexistência, o discurso de "são sempre os mesmos partidos" tem aí muito por onde questionar.

segunda-feira, fevereiro 12, 2018

X Congresso do MPT



Estreia em congressos partidários. Gratificante, tanto pelas pessoas com quem estive como pelas ideias que ouvi. É também grato ouvir os discursos e os planos futuros de quem assume novas responsabilidades à frente de um partido (que neste caso tem a dupla natureza de movimento cívico e partido em simultâneo), e que assume o projecto político e social de uma das maiores personalidades portuguesas das últimas seis décadas: Gonçalo Ribeiro Telles. Luís Vicente sucedeu a José Inácio Faria à frente do Partido da Terra, que regressa à sua denominação original.



Único senão: a ausência de qualquer órgão de comunicação social no congresso. Nem um jornal, nem uma câmara de tv. Mesmo com convidados de peso, como Paulo Morais, Mário Frota ou Maria Luís Albuquerque. Antigamente ainda se faziam pequenas coberturas nestas reuniões magnas de partidos não representados (ainda me lembro das reportagens televisivas dos congressos do PPM, por exemplo). Agora nem isso. Não esquecer que o MPT tem lugar no Parlamento Europeu, com José Inácio Faria. Basta googlarem para perceber o que digo. Se os maiores partidos continuam de pedra e cal nas votações, também a isto se deve.



     



segunda-feira, fevereiro 05, 2018

A Morte de Estaline não passa em Moscovo


Se alguém tinha dúvidas quanto ao carácter da "democracia musculada" da Rússia pode perder qualquer ilusão. É demasiado músculo para tão pouca democracia. Depois do principal candidato da oposição, Alexei Navalny, ser afastado da corrida por ter recebido ordem de prisão (por duvidosos desvios de fundos, uma coisa que por coincidência acontece sempre aos opositores de Vladimir Putin quando se tornam mais mediáticos), as autoridades russas proibiram a distribuição do filme "A Morte de Estaline", uma comédia sobre o desaparecimento do Pai dos Povos" e os dias atribulados que se lhe seguiram. Parece que o filme "promove o ódio" e  é "extremista e ofensivo".

Ainda só tive acesso ao trailer do filme, que ainda não chegou a Portugal. Pelo que se vê e lê, a obra, com realização do escocês de nome improvável Armando Ianucci e elenco onde constam Steve Buscemi, Michel Palin e Olga Kurylenko, é uma sátira descabelada e truculenta ao regime soviético e muito particularmente ao estalinismo e à luta pela sucessão, que não ficou muito a dever ao que se passava  na Rússia dos boiardos. Como é óbvio neste tipo de filmes, há grande ridicularização de personagens e de situações reais e exageros constantes. Por isso é que é uma sátira.

Não o entenderam políticos, cineastas, historiadores e demais autoridades culturais russas, que consideraram que o filme era insultuoso e conseguiram impedir a sua exibição. O único cinema que se atreveu a fazê-lo, em Moscovo, viu-se invadido pela polícia que pôs logo ali termo à sessão.

Sempre me intrigou a ausência de cinematografia sobre o período soviético e o estalinismo, em contraponto aos que existem sobre o nazismo e o Holocausto. De certa forma percebe-se: o material necessário, incluindo fontes de arquivo, e mesmo alguns cenários estão na Rússia. A ideia de Estaline como vencedor da "Grande Guerra Patriótica" ainda está muito presente, e não é de bom tom passar filmes que o critiquem explicitamente, e menos ainda que o ridicularizem. Mas isso também mostra o desapego à liberdade de expressão que parece não afectar a maioria dos russos. Imagine-se que filmes que ridicularizassem Hitler e o nazismo eram censurados na Alemanha, ou mesmo aquela cena do Untergang, satirizada vezes sem conta no Youtube, com legendas diferentes consoante o objectivo. Ou que o Capitão Falcão, comédia recente sobre um super-herói do Estado Novo, em que até vemos um Salazar em habilidades culinárias, era considerado "insultuoso" e por isso proibido de ir às telas. Pergunto-me o que se diria nestes países. Ou o que pensariam os admiradores locais de Putin e das "democracias musculadas" (ou "iliberais") se tais coisas acontecessem.


Por mim, tenciono ir ver A Morte de Estaline quando chegar às salas portuguesas. Pela curiosidade que graças às autoridades russas me despertou. E porque tem Michael Palin no elenco (como Molotov), que é razão mais que válida para comprar o bilhete.