Nos dias que se seguiram ao horrível massacre do Sri Lanka, ou Ceilão - acho sempre que certas palavras ficam melhor em português - voltou à baila o assunto das perseguições de que os cristãos têm sido alvo. O Público, por exemplo, debruçou-se sobre o assunto, através de artigos próprios ou dos seus colunistas. Outros órgãos de informação também o fizeram. E de alguma forma está ligada à profanação ou vandalização de inúmeras igrejas na Europa (a que alguns abusivamente quiseram colar o incêndio em Notre Dame, sem quaisquer provas, ou ligá-lo de imediato a muçulmanos quando se sabe que boa parte destes actos tem mão em supremacistas brancos neopagãos). É uma discussão importante e até urgente, mas temo que com o correr dos dia e a sucessão de novos factos comece a ficar novamente para trás.
Uma das coisas que me impressionam quando se fala em vítimas e fobias é a quase completa ausência de termos que o definam quando se trata de cristãos. Sobre isso escrevi num dos meus primeiros artigos no Delito de Opinião, e constato que a palavra "cristofobia" - ou cristianofobia, como quiserem - continua a não ser usada (também não havia de ser por causa do post). Em compensação, usa-se e abusa-se dos termos "islamofobia" e "anti-semitismo", apenas dirigido a actos anti-judeus. Afinal de contas porque é que se fala tão pouco em cristofobia? Continuará a ser por aquela tonta e estafada complexo de culpa ocidental, ao qual o cristianismo é colado? Mas então porque são na sua grande maioria comunidades cristãs antiquíssimas do Próximo Oriente e África a apanhar com as bombas e os estilhaços? E aqueles pobres cristãos do Níger, mortos em retaliação às caricaturas do Charlie Hebdo, que ligação tinha uma coisa com a outra? Poderá a auto-censura que é o politicamente correcto estar a silenciar uma terrível tendência da actualidade?
Nem de propósito, voltei aqui também por causa de mais uma imbecilidade do politicamente correcto, por uma vez a proteger Donald Trump. O New York Times tinha publicado um cartoon do bem conhecido (entre nós) caricaturista António, do Expresso, onde retratava Trump, cego e de kipá na cabeça, guiado por um Bibi Netanyahu em corpo de cão e com a estrela de David na coleira, como identificação da personagem, sem pedir autorização nem informar o desenhador. A imagem é pouco subtil e tem o seu quê de patético e de insultuoso, como tantas outras deste autor, mas não é das piores que se tem visto. Pois perante uma coro indignado com o "antisemitismo" da caricatura o conhecido jornal novaiorquino decidiu suprimi-la, pedir desculpas e "lamentar a sua publicação". Ou seja, autocensurou-se com a "indignação" (outra das modas contemporâneas) não assumindo os seus actos. Não sei se o New York Times se juntou áquela encenação do "Je Suis Charlie"; se sim, bem podia voltar a pedir desculpas e "lamentar o acto", já que o sabe fazer tão bem. Mas pergunto-me, caso se tratasse de outro conhecido "trabalho" de António, os estapafúrdios desenhos dos Papas com preservativos, o New York Times cederia tão rapidamente como aqui? Ou defenderia aqui a liberdade do autor? Tenho as maiores dúvidas que fosse a segunda hipótese, como deveria ser, mesmo achando os desenhos em questão uma mistura de mau-gosto com hipocrisia.
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