segunda-feira, outubro 11, 2004

Mais uma pérola

O Arquitecto José António Saraiva, julgando-se como sempre um iluminado da imprensa, escreveu mais uma pérola na sua crónica do Expresso "Política à portuguesa" (link inacessível, desculpem). Segundo Saraiva, "numa sociedade de mercado em plena Europa, nenhum Governo tem a possibilidade de controlar a informação". Anda sem dúvida mal informado, o que é grave para um directo de um dos mais conhecidos semanários nacionais. É não reconhecer o poder que certos governos da UE têm sobre vastos orgãos da comunicação social, com especial (e escandalosa) incidência em Itália, ou de pressões feitas feitas em França, Reino Unido ou Espanha, como no caso da autoria dos massacres de 11 de Março, por exemplo.
A propósito, o colunista fala de "pressões e ameaças" como se isso constituísse uma situação minimamente normal num estado se direito; mas sim, para Saraiva "todos os comunicadores sofrem pressões", e "o problema não está nas pressões, mas no modo como se lhes reage". Edificante.
Para Saraiva, portanto, pode haver pressões , ameaças e o diabo a sete que fica tudo no melhor dos mundos. Mas o Arquitecto acha que "fazer disto um caso nacional só num país de opereta como Portugal se vai tornando. Um país que perdeu o sentido (...) do ridículo".
Fica-se pois a saber que o director do Expresso achou perfeitamente normal todo este caso, e que o facto de Marcelo saír da TVI é uma ligeira alteração no mercado da Comunicação Social. Não lhe ocorreu o grave que é vermos um Governo a ameaçar ferozmente uma opinião independente, com epítetos como "calúnias mentirosas" quando Marcelo criticou a ponte de 5 de Outubro, ou pressionar intoleravelmente a Alta Autoridade com a farsa do "dever de contraditório". Nem se lembrou da enorme audiência e ainda maiores efeitos que o Professor tinha num vasto número de cidadãos, cujo apagamento jamais seria sentido sem repercussões.Para ele tudo se resume a uma questão de mercado ou de oportunidade, e o caso deveria ter sido quase abafado. Mas é natural que "Portugal tenha perdido o sentido do ridículo", com fazedores de opinião deste calibre. Muitas vezes os colunistas revelam o que de pior há no país. Sobretudo os colunistas de opereta.
Será que Saraiva vai voltar a lançar o tema do Iberismo? É possível. De tal mente há que esperar tudo.

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