quarta-feira, abril 20, 2005

Bento XVI

Quando, depois de três quartos de hora de expectativa, me revelaram o nome do novo Sumo Pontífice, as primeiras coisas que me vieram à cabeça foram: "não se podia restaurar a utilidade primordial do palácio de Avignon?" ou "que teriam os cardeais em mente?", e ainda "D. José Policarpo já pode voltar para o seu Patriarcado".



Ratzinger não era, definitivamente, o nome que queria ou esperava para chefiar a Igreja Católica nos próximos anos. A sua ideia de centralismo, o seu horror aos alegres ritos que acompanham as celebrações litúrgicas em diversos países, como o Brasil, o seu dogmatismo, apesar da sua preparação intelectual e teológica, ou o seu cinzentismo levam-me a crer que não haverá um grande aumento de católicos nos próximos anos, salvo talvez na Alemanha. Não direi, como pensei no início, que a Igreja tenha recuado cinquenta anos, até porque as prerrogativas do Vaticano II não vão ser anuladas. Mas tudo indica que não avançará grandemente. Dir-me-ão que a Igreja é composta por dogmas e por uma doutrina fixa e imutável. Sem dúvida, mas nem tudo o que a compõe é dogmático e rígido. Aparte certas matérias a Igreja pode e deve avançar no plano das ideias e da moral, sem que isso implique uma ruptura. Se assim não fosse, nunca o Vaticano II se teria realizado, nem os Papas teriam saído dos seus palácios de Roma para ir ao encontro dos homens em todo o Mundo.
É também curioso ver como os mais satisfeitos com esta eleição foram os mais empedernidos ateus ou conservadores. Os opostos atraiem-se, mais uma vez. Tirem as vossas próprias conclusões.
Resta-me esperar que o Espírito Santo guie o novo Papa, e que, assim como a sua ascensão ao Trono de S. Pedro constituiu uma desilusão amarga, o seu pontificado se torne numa agradável surpresa.



PS: a este propósito aconselho vivamente as ultimas reflexões de Pedro Mexia no Fora do Mundo. Ainda que "pessoais", estão disponíveis publicamente.

4 comentários:

João Vasco disse...

É errado associar ao "Diário Ateísta" uma posição favorável à escolha do novo Papa.

Embora o Carlos Esperança, o André Esteves e o Ricardo Alves tenham ficado felizes com esta escolha, eu e a Palmira lamentámo-la profundamente.

E a este respeito não sei a posição dos restantes 5 autores, pois não se pronunciaram.

João Pedro disse...

O que eu critico mais, para além de certas posições mais ou menos polémicas, é sobretudo a recusa em continuar com o debate teológico, a única coisa da qual se esperam mudanças (se forem necessárias) internas, e como que um silenciar das vozes discordantes.

A menção que fiz aos ateus não pretendia tanto ser uma generalização dos mesmos ou do blogue "Diário Ateísta", mas antes um exemplo daquilo que me pareceu ser uma posição dominante entre os mesmos. Mas é verdade que não li exaustivamente todos os posts sobre o assunto, pelo que me devem ter escapado algumas opiniões diferentes, como a do João Vasco

mfc disse...

Sou dos empedernidos e fiquei contente.
Contente porque os factos me vieram dar razão. Pelo menos 75% dos eleitores votaram naquele homem, o que só demonstra o estado desta igreja que é irreformável!

João Pedro disse...

Caro MFC, julgava-te mais complacente, até pelos posts que dedicaste ao assunto no teu blog. Mas tenho a acerteza que, mais recuo menos recuo, a Igreja terá capacidade para reformar o que é reformável.