terça-feira, outubro 11, 2005

Rescaldo

Vitórias. Derrotas. Declarações mais ou menso grandiloquentes. Conquistas. Surpresas. Os ingredientes de umas quaisquer eleições autárquicas.

Leituras nacionais: o PSD é o principal vencedor, mantendo e reforçando a supremacia autárquica obtida em 2001, e engolindo o CDS. Marques Mendes sai também reforçado, apesar das perdas de algumas câmaras importantes e do igual reforço de alguns rivais, como Menezes.
O PS tem uma derrota em toda a linha, talvez a maior de que há memória a nível local, no mesmo ano em que obtém o seu maior triunfo de sempre. É pouco crível que o governo vá mudar o que quer que seja, dado o carácter local do evento (não se vota no excelso presidente da junta de freguesia de Mouçós para castigar as políticas socráticas). Mas de qualquer maneira, é uma derrota para o seu líder, Sócrates, e talvez marque o fim de uma era: a de Jorge Coelho como líder do aparelho PS.
CDU: outro grande vencedor. Inesperadamente, a coligação vermelha e verde (grande eufemismo) não só trava a contínua sangria de cãmaras que se verificava há já alguns anos como ganha novo fulgor, ao tomar o antigo feudo da marinha Grande, Peniche, alguns concelhos alentejanos e principalmente quase toda a margem sul do Tejo, o que lhes permitiu reconquistar a liderança da Junta Metropolitana de Lisboa. Se não fossem autárquicas, diria que é o efeito Jerónimo...
CDS-PP: as coligações com o PSD permitiram disfarçar o inabalável facto de que a nível local já não representam quase nada. Resiste o fiel e imutável bastião de Ponte de Lima, mas é tudo. O Marco caiu, o domínio que chegaram a ter em Aveiro desapareceu, e não lograram conquistar alguns concelhos que lhes dariam novo alento, como Mirandela. Ribeiro e Castro tem todo um trabalho de reorganização e aproximação local à sua espera.
BE: a estagnação. O Bloco mostra que é definitivamente um movimento urbano de protesto, não um partido para governar ou administrar o que quer que seja. E no Porto nem isso lhes valeu.
O resto dos partidos: irrelevantes, como sempre. Nem os irmãos Câmara Pereira conseguiram o que quer que fosse para aquilo a que eles chamam "PPM". curioso é verificar que um partido que julgava extinto, o PSN, ainda se apresentou a uma autarquia, já não sei qual.

Quanto às minhas escolhas pessoais para os resultados...bem...

O melhor: as derrotas de Ferreira Torres, Carrilho e José Raúl dos Santos (Ourique). As vitórias de Moita Flores, Manuel Moreira (Marco), Fernando Seara e Daniel Campelo, em Ponte de Lima.


O pior: derrotas de Alberto Souto em Aveiro (por causa de uma conjugação de votos entre PSD e CDS) e Maria José Azevedo em Valongo; as vitórias de Valentim, Fátima Felgueiras e Isaltino; a continuidade de Mário de Almeida (Vila do Conde), Mesquita Machado (Braga) , Manuel Martins (Vila Real) , Jaime Soares (Poiares) e Isabel Damasceno, em Leiria, a maioria absoluta de Rui Rio no Porto (preparem-se para a terraplanagem da Avenida dos Aliados), e, claro, o pleno de Alberto João nas onze câmaras da Madeira, com todas as inaugurações, intimidações e imensos fundos de campanha.

Pior discurso: ex aequo os de Fátima Felgueiras, Valentim (espanta como é que não lhe deu uma apoplexia), MM Carrilho (patético) e Rui Rio, num estilo demagógico e arrogante que não prenuncia nada de bom.
A maior alegria da noite: ver Ferreira Torres e as suas palavras ressabiadas contra "a comunicação social e a Mota-Engil", justificando "que tinha pena pelos amarantinos", enquanto Armindo Abreu festejava radiante entre um mar de gente aliviada.
Teria pena dos amarantinos, sim, se esse símbolo do pior que o poder local criou chegasse à presidência da "Princesa do Tâmega"; e ver o amigo dos empreiteiros atirar-se ás empresas de construção civil é grotesco e caricato, ao mesmo tempo. É provavelmente o fim da carreira do indivíduo, já que o ex-governador-civil do Porto, Manuel Moreira, conquistou o Marco de Canaveses e derrubou definitivamente o domínio avelinista.

A Manuel Moreira (até pela difícil herança) e sobretudo a Armindo Abreu envio aquele abraço e o desejo de felicidades nas respectivas autarquias.

Um comentário:

A. Narciso disse...

A vitoria da Fatima felgueira deu me a volta ao estomago. nem comento o discurso. A maior alegria foi o Moita Flores... sem dúvida.
Abraço