domingo, dezembro 18, 2005

Duas despedidas

Tal como estava anunciado, José António Saraiva escreveu hoje no Expresso o seu último "Política à Portuguesa", depois de vinte e um anos de crónicas. Um texto ao seu estilo e à sua medida, não só pelos infindáveis parágrafos mas principalmente pela aparente convicção de que é o supra sumo dos cronistas portugueses. As palavras não deixam dúvidas:"(a minha coluna tornou-se) uma das mais lidas, influentes e carismáticas de sempre da imprensa portuguesa. E a mais atacada(...) Nunca respondi. Sempre pensei que é o fraco quem ataca o forte". JAS é pois uma vítima de crueis ataques à sua pessoa por causa do seu carisma e influência. Atenção: de ataques, não de críticas.
Outra grande característica é a do visionário - ou áugure - Saraiva: "neste espaço houve sempre uma visão de futuro - e muitas vezes antecipou-se o futuro(...) A história confirmou grande parte do que aqui se escreveu e previu". A lista é longa: para JAS, tudo o que aconteceu em Portugal já ele o tinha previsto. A confirmar.
O "Mourinho dos cronistas" e "forte candidato a Nobel", segundo o próprio, "procurou ser claro, rigoroso, etc - no sentido de lhe dar (ao leitor) semanalmente a melhor opinião da imprensa portuguesa". Tudo com a modéstia e desprendimento a que nos habituou. Provavelmente acredita que só não atingiu o céu porque não quis.
Deixemos o arquitecto e os seus planos em paz. Houve outre despedida, este fim de semana, e sem anúncio prévio, de uma das crónicas de opinião mais dos jornais: a de Miguel Sousa Tavares, no Público. De repente, anunciou o fim de uma colaboração de quatorze anos no diário, com um breve enunciado das ideias e causas que defendeu. Isso é facilmente comprovável pelas suas colectâneas "Um Nómada no Oásis" e "Anos Perdidos". Pensei logo que estivesse a dedicar-se à fase mais crucial e trabalhosa de um novo romance, de resto já anunciado. Puro engano: é uma mera troca de periódicos. Sai o Arquitecto Saraiva, entre Sousa Tavares. Em Janeiro lá o teremos ao Sábado, no Expresso.

3 comentários:

Freddy disse...

Tá tudo a pendurar as botas...Ou a ir buscar cifrões a outros lados...

Abraço grande da Zona Franca

Anônimo disse...

Não me refiro à pessoa, como é óbvio, mas como cronista o arquitecto saraiva pode ser definido como um cometa de imbecilidade cuja longa permanência no céu mediático português, não se consegue bem perceber se é motivo de assombro ou reflexo fatal dos recursos humanos e intelectuais disponíveis.
quanto ao sousa tavares, pode ser que ao menos agora as crónicas dele comecem a ficar de novo disponíveis on line.
rui.david@gmail.com

João Pedro disse...

Bela definição. Eu diria que a demorada permanência do Arquitecto à frente do semanário lhe deu uma importância tal que era difícil removê-lo do lugar. Reflexo dos recursos humanos disponíveis, portanto.