Referência tardia a factos que a mereciam
A fraca produção blogoesférica e a concentração num número limitado de assuntos levou-me a esquecer de referir dois factos muito diferentes entre si (excepto talvez os culpados), mas que quase um mês passado merecem ser recordados.
Um deles é o assassinato a tiro de Martin Adler, jornalista sueco free-lancer, nesse desgraçado país que é a Somália, que ele tão bem conhecia e onde assinou inúmeros trabalhos. Muitas vezes o vi na Grande Reportagem, com as suas descrições nas latitudes mais perigosas do mundo, com ilustrações significativas da miséria humana que presenciou, como as ruínas de Grozny. No meu último ano da faculdade fiz um trabalho sobre as intervenções humanitárias e militares no Haiti e, exactamente, na Somália, em que tirei inúmeros apontamentos das suas reportagens na GR. Desapareceu agora, esse intrépido globetrotter do jornalismo, vítima de fanáticos islâmicos, ou de simples bandoleiros que enxameiam aquele território sem ordem nem lei.
O outro é o dos atentados em Bombaim (ou Mumbai, como dizem agora, mas eu prefiro a denominação já usada ao tempo de Dona Catarina de Bragança), há coisa de duas semanas, de novo em linhas férreas, o que já começa a ser hábito. Para um habitual frequentador de caminhos de ferro, como eu, não é muito reconfortante. Mas o mais espantoso é que as quase duzentas vítimas mortais e as centenas de feridos deram origem a não mais que um, dois dias de noticiários. As bombas em Londres no ano passado provocaram muito maior celeuma. Os autores não serão exactamente os mesmos, mas as motivações são certamente semelhantes.
Um deles é o assassinato a tiro de Martin Adler, jornalista sueco free-lancer, nesse desgraçado país que é a Somália, que ele tão bem conhecia e onde assinou inúmeros trabalhos. Muitas vezes o vi na Grande Reportagem, com as suas descrições nas latitudes mais perigosas do mundo, com ilustrações significativas da miséria humana que presenciou, como as ruínas de Grozny. No meu último ano da faculdade fiz um trabalho sobre as intervenções humanitárias e militares no Haiti e, exactamente, na Somália, em que tirei inúmeros apontamentos das suas reportagens na GR. Desapareceu agora, esse intrépido globetrotter do jornalismo, vítima de fanáticos islâmicos, ou de simples bandoleiros que enxameiam aquele território sem ordem nem lei.
O outro é o dos atentados em Bombaim (ou Mumbai, como dizem agora, mas eu prefiro a denominação já usada ao tempo de Dona Catarina de Bragança), há coisa de duas semanas, de novo em linhas férreas, o que já começa a ser hábito. Para um habitual frequentador de caminhos de ferro, como eu, não é muito reconfortante. Mas o mais espantoso é que as quase duzentas vítimas mortais e as centenas de feridos deram origem a não mais que um, dois dias de noticiários. As bombas em Londres no ano passado provocaram muito maior celeuma. Os autores não serão exactamente os mesmos, mas as motivações são certamente semelhantes.
Podemos sempre pensar que a situação em Israel desviou muito as atenções, ou que - hipótese bem mais sinistra - acontecimentos desta monta se estão a banalizar. Mas nada me tira da cabeça que em parte se deve ao famoso sentimento inversamente proporcional à distância bem exemplificado pelo velho Eça. O que, convenhamos, é muito injusto. Nem a Índia nem Bombaim são recantos obscuros. Eu tenho imensa admiração pelo estado indiano: com uma área enorme, à qual não faltam selvas fechadas, desertos, contrafortes dos Himalaias e rios imensos; uma história de passado violento entre povos autóctones e os colonizadores europeus; uma maioria hindu,com o seu indizível sistema de castas, e minorias muçulmanas, budistas e cristãs; ainda assim, consegue ser uma democracia sem grandes registos de golpes de estado e fraudes eleitorais, e economicamente prepara-se para ditar suas regras do jogo dos mercados mundiais. Portudo isso, merecia mais tenção. Uma atenção que futuramente não mais lhe será negada.
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