O hexágono vai a votos
A mais importante eleição em França desde 1981 (e sem contar com o referendo de Maastricht) está aí. A 22 de Abril, os eleitores decidirão qual o próximo presidente da III República Francesa.
A expectativa no combate Sarko-Sego dura há já mais de um ano. A emoção aumentou com a intrusão de Bayrou e com nova (e espero que modesta) ascensão do eterno Le Pen.
Uma coisa é certa: os dois principais candidatos são uma lufada de ar fresco entre a gasta política francesa, onde sobressaiem gaullistas anacrónicos e provincianos, saudosistas xenófobos, socialistas pré-1989 e bolcheviques orfãos de Georges Marchais. Representando as ideias do liberalismo, da abertura ao mundo sem tentações soberanistas ou neo-colonialistas (nesta última tenho menos certezas), de uma social-democracia acompanhando os novos tempos, da necessidade de modernizar a burocracia, o bolorento sistema administrativo francês e os vícios de toda uma classe que sem o saber, perdeu as suas referências, Sarkozy e Royal chegaram a esta corrida pela vontade esmagadora das bases dos seus partidos, o que mostra bem a vontade de mudança no Hexágono.
Convém no entanto que não se caia em exageros e falsas expectativas. Para dizer a verdade, desconfio muitíssimo de Sarkozy e da sua política "musculada". As tentativas de comparação feitas pelos iludidos neoliberais com Thatcher deixam antever o pior; as práticas do ministério que dirige também não prenunciam nada de bom; antes mostram um clima de intimidação, de alguém que "só pensa no seu bairro", como escreveu há tempos Leonor Baldaque no Público.
Segoléne parecia um vendaval, quando era candidata a candidata, derrubando todos os "elefantes" do PSF, com a sua imagem de sofisticação e elegância, e o seu programa "arejado". O problema é que as suas ideias centristas e a sua inspiração "blairista" tem caído desde que se reaproximou da esquerda, para evitar a fuga de votos naquela direcção.
Bayrou, o criador de cavalos que escreveu uma biografia de Henrique IV, não é nehum novato nestas lides. Representante da facção centrista da UDF, católico praticante e liberal moderado, tem tido números interessantes nas sondagens. A questão é a de saber se não transporta consigo os vícios da velha classe política francesa.
Le Pen é o que se sabe: o ex- oficial da guerra da Argélia e antigo membro do partido poujadista continua a apelar à imigração zero, ao restabelecimento da pena de morte e a imaginar-se o legítimo sucessor de Pétain. Conseguiu fazer crescer a sua FN em número de votos (mas não em lugares no parlamento), roubando eleitores ao outrora pujante PCF e a alguma direita desencnatada. E não dá mostras de parar. Há cinco anos conseguiu, para surpresa geral, ir à segunda volta.
Resta o cenário múltiplo do costume: o tradicionalista de Villiers, a candidata comunista, os dois ou três totsquistas da praxe, os ecologistas, o candidato do partido da pesca e da caça, José Bové, e o que mais vier. Em França há sempre candidatos para todos os gostos.
Sarkozy deve passar ao segundo turno. Segolène é a provável adversária, se Bayrou ou Le Pen (cruzes, credo) não surpreenderem. Achava uma certa piada ver a o centrista e a "mademoiselle Hollande" passarem à segunda volta, para calar algumas mentes menos pluralistas. E também para mostrar que a França necessita de reformas, sim, mas não é à bastonada (neste caso, de "cassetete"), expulsando tudo o que não fôr europeu ou adoptando uma política externa à inglesa, sem qualquer autonomia ou vontade perante os EUA.
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