sexta-feira, julho 20, 2007

Saramago e o Iberismo
De vez em quando, José Saramago vem com os habituais remoques ao país que o viu nascer e acena com comparações espanholas. Agora diz que Portugal se vai tornar numa província castelhana, mas conservar a mesma língua. Percebe-se. como comunista que é, e pertencendo a um dos mais ortodoxos PCs que há na Terra, Saramago é um internacionalista, como era a URSS que absorvia tudo quanto era Geórgia, Lituânia ou Besarábia, ou então criava satélites de estrela na bandeira. O nacionalismo é brnadido apenas como arma de arremesso contra os inimigos, em casos pontuais. Já a língua interessa conservar-se já que esta, como lembrou Manuel Alegre, é que permitiu que o autor ganhasse o seu Nobel.
Acontece que além de parecer ignorar que já há uma UE que inviabilizaria (ou inutilizaria) a perda da independência, Saramago também acha que as pessoas se esqueceram da História e dos seus exemplos. Ou ele é que não a conhece. Também se nos lembrarmos dos projectos de Olivarez para transformar Portugal numa mera província, gorado pelo 1 de Dezembro, pelo apoio às invasões francesas com o fito de nos deitar a mão, com as derivas iberistas do Sec. XIX, com o projecto de formar uma República Ibérica Soviética (provavelmente o escritor tirou a ideia daqui e quer recuperá-la), ou depois, de alguns meios franquistas, transformando a história para justificar uma Espanha peninsular; recordando tudo isso, veremos como passaríamos rapidamente a uma Galiza do Sul, e não a uma componente da Ibéria. É que um país e uma pátria não se forma por meras razões economicistas ou de circunstância, como parece depreender-se dos pobres argumentos dos iberistas, que acham que só com uma união a Espanha afastaríamos a "vil tristeza", revelando assim a sua própria fraqueza. Aliás, pergunto-me se todos esses defensores da absurda fusão têm ideia do que era Espanha até há vinte anos, se leram as comparações entre os dois países feitas por Hans Christian Anderssen e outros autores, se tomariam parte nos problemas políticos que subsistem desde a Guerra Civil. Se o soubessem aposto que os tais sentimentos iberistas iam às malvas.
Quanto a Saramago, é não ligar. Se o homem quiser mesmo muito, bem pode pedir a nacionalidade espanhola. Mas ele que tenha cuidado, porque independentistas também os há nas Canárias.

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