Rodrigo Moita de Deus propôs à CM de Lisboa, em nome do Movimento 31 da Armada, a troca da bandeira municipal pela azul e branca, "agradecendo que a devolvessem". Depois da operação nocturna, o humor corrosivo continua agora nas palavras dos seus autores (ou membros do blogue), enquanto que os neo-carbonários parecem andar à nora e não perceber nada de nada. Entretanto, a PJ aproveitou a sua ida à CML para os levar à esquadra, com recurso à manha.
Claro que o episódio do 31 não pretendia levar-se demasiado a sério, mas tão somente chamar a atenção para a historiografia oficial da república com uma acção simbólica. Há quem já clame pelas "necessárias medidas legais" e quem, mesmo não sendo republicano, invoque o primado da lei e da ordem. É claro e indiscutível que estas devem imperar em qualquer sociedade que se queira sã e livre. Que era precisamente o que os republicanos não queriam, ao instalar o seu regime pela calúnia, pelo agit-prop, pelas bombas e pelos tiros. Pergunto-me que espécie de legitimidade terão os defensores republicanos da ordem pública, que se preparam para comemorar os 100 anos do 5 de Outubro, quando defendem a obra da carbonária? Que respeito pela lei e pelos símbolos nacionais podem invocar, eles que rasgaram a Carta e colocaram as cores do partido na bandeira nacional, acabando com o branco e azul que sempre tinham sido as cores por trás das quinas (ou até antes, em tempos do 1º Rei)? A demagogia tende a confundir-se com a hipocrisia.
Já agora, desde quando é que o municipalismo é pertença exclusiva do "ideário republicano"? É ver as tradições desde a Idade Média e o que do municipalismo escreveram os autores Integralistas, por exemplo.
Temos depois a usual tentativa de colar o rótulo de "meninos bem" a todo aquele que se reclama monárquico. O truque é velho, mas tende a perder eficácia, com a passagem do tempo e o crescente esclarecimento das pessoas. Ontem, no Público, Rui Tavares tentava fazer crer que se tratava de um grupo de brincalhões que errava o alvo porque "desrespeitaram a equivalência hierárquica" (por causa da bandeira municipal) e que a acção em si foi uma cópia do que os republicanos tinham feito, tratando-se consequentemente de uma "aculturação pela república", em que os monárquicos teriam perdido cultura própria.
Como Rui Tavares não é ignorante nem simplório, acredito que o texto fosse mais uma imensa laracha ao gosto da época, a não ser que se tenha espalhado ao comprido. Porque a ideia era uma demonstração simbólica da reposição da ordem legítima pré 5 de Outubro; por isso se substitui a bandeira da edilidade, que era a que lá estava; por isso se procedeu a tal acção, sem desacatos ou bombas. A "vassalagem perante a república" não faz por isso o menor sentido. Em termos de "aculturação", as diferenças ficaram vincadas.
Já a ideia de "meninos-bem", como disse atrás, é chão que deu uvas. Há monárquicos de direita e de esquerda, dentro e fora dos partidos, em todos os estratos sociais, nas universidades, nas artes e letras, na diplomacia, na imprensa e nas forças armadas. Se durante uns tempos eram reduzidos à imagem dos bigodes enrolados e capotes alentejanos (por vezes por culpa própria, fechando-se um pouco à sociedade), hoje só os néscios - ou os demagogos, descendentes directos dos governantes de 1911- é que recorrem à caricatura.
Restam algumas tentativas de menorização do caso, como o do repórter da SIC que dizia que "daqui a dias o caso vai cair no total esquecimento". Pela mediatização que colheu, incluindo o destaque no Público, não parece. Se outras se seguirem, então, vai ser o bom e o bonito. Paciência. Sempre é melhor do que os "marqueses da Bacalhoa", as bombas e os tiros, não é?
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