domingo, agosto 09, 2009

Vingançazinhas e deputados paraquedistas


Ainda falando da questão das listas de deputados do PSD, parece-me que a questão da "liderança" de Manuela Ferreira Leite tal como é vista pelos seus defensores resulta numa avaliação apressada ou revanchista. Um verdadeiro líder não é aquele que se impõe sobre tudo e todos, esmagando oposições e afastando potenciais adversários. É sobretudo aquele que demonstra capacidade de magnanimidade, de aglutinação, de união, que consegue juntar as baterias todas do mesmo lado em épocas de combate mais importante. Tomar atitudes revanchistas e de exclusão, por mais que Passos Coelho e seus apaniguados não se tivessem portado bem, mina o funcionamento interno de um partido que se quer no poder e provoca a desconfiança nos eleitores. Ou seja, em tempos que deveriam ser de união, Ferreira Leite conseguiu a fractura, como se verificou pelas críticas internas.

Para mais, este processo ainda trouxe à superfície um dos hábitos mais patéticos da partidocracia portuguesa: a colocação dos candidatos em círculos com os quais nada têm a ver. Também por isso a exclusão de Passos Coelho de Vila Real é ridícula (Montalvão Machado sempre pode argumentar que o seu pai é de Chaves), mas há ainda casos mais gritantes, como Bacelar Gouveia por Faro, Miguel Frasquilho, que numas autárquicas se candidatou a uma câmara dos arredores de Lisboa, em segundo pelo Porto ou o ex-líder do PSD-Açores por Castelo Branco, depois de ter encabeçado em 2005 a lista de Portalegre. E ainda a novidade Maria José Nogueira Pinto por Lisboa, quando a ex-dirigente do CDS-PP até nem estará contra António Costa na próxima batalha por Lisboa.

Manobras e tricas já velhas, que parecem cada ano piores, que afastam os eleitores dos eleitos, e pior ainda: dão ideia que os partidos brincam com eles ao sabor das refregas internas. Muito longe da "política de verdade" que o PSD apregoa (muito embora os outros partidos não sejam muito diferentes). Se se pode colocar um cabeça de lista que nada tem a ver com o distrito, então não seria melhor adoptar um sistema proporcional puro, abrangendo a totalidade do território, em lugar da proporcionalidade por círculos? Então digam-no de vez, para se proceder a uma alteração do método eleitoral e acabar com a hipocrisia actual.
 
Razão tem o Blasfémias: só Daniel Campelo defendeu efectivamente os interesses dos eleitores do seu círculo distrital, mandando às malvas a invenção do "deputado nacional". Mas pagou por isso, pois pagou.

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