quarta-feira, setembro 30, 2009

O líder da direita


Não considero Paulo Portas um exemplo de sólido carácter nem merecedor de especial confiança. A sua carreira no Independente e no PP atestam-no. Os casos Moderna e da sua passagem pelo governo, os cumprimentos a Rumsfeld, as quezílias com Monteiro, e por fim a forma como voltou à liderança do partido, afastando Ribeiro e Castro, e depois disso o silêncio sobre a demissão de Nobre Guedes e outros problemas internos não contribuíram em nada para o tornar mais credível.

Mas há que lhe tirar o chapéu: o homem é um autêntico animal político, esteja onde estiver. Já no Independente o era, mesmo que fora da prática partidária. Consegue fazer pose de estado no Parlamento e nos ministérios, vai para os debates bem preparado e com os factos bem estudados (e o seu inseparável "oiça"), e anda por toda a parte, pelas ruas, pelas feiras, pelos mercados; cumprimenta, fala, toca pandeireta; tem experiência de campanha e de como se deve comportar perante a comunicação social; sabe, talvez por causa desses factores acumulados, que as campanhas mais eficazes são as do contacto directo, o "trabalho de formiga", e não as dos outdoors brilhantes ou carros de som, e por isso o CDS, dos cinco principais partidos, conseguiu ser de longe aquele que menos gastou; por fim, uma mensagem clara e fácil de perceber, populista na medida certa mas aquém da demagogia. O resultado está à vista.
Pensava que o partido iria crescer, mas nunca passar da casa dos 8%. Afinal, surpreendeu a maioria. Aproveitou o voto indeciso de direita do PSD, ultrapassou os dois dígitos, quase duplicou o grupo parlamentar e voltou a enganar as sondagens. Alcandorou-se assim no terceiro lugar, colocando sérios embaraços ao PS sem maioria, para previsível irritação de Francisco Louçã, cuja subida do Bloco, aquém dos 10% (por acaso achei que não ia chegar lá), tem um sabor agridoce. E voltou a ser o mais destacado líder da direita portuguesa, que ao contrário do que dizia o "coordenador" bloquista, não é assim tão estúpida.

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