domingo, novembro 03, 2013

No desaparecimento de Zé da Guiné, um bom testemunho


Morreu Zé da Guiné, um dos pioneiros da movida lisboeta dos anos oitenta. Morte pouco surpreendente, já que sofria de uma doença degenerativa neurológica, semelhante à que vitimou Zeca Afonso. Antes de vir para Portugal, chegou a ser guerrilheiro na Guiné-Bissau, na guerra colonial. Já em Lisboa, trabalhou como modelo - surpreendia os transeuntes do Chiado ao aparecer vestido à escocês com dois dobermans pela trela - dedicou-se à prática de Karaté a ao atletismo, e "atirou-se" à noite da capital, tendo contribuído para a abertura de vários bares inovadores no Bairro Alto, até ali pouso reservado de prostitutas, jornalistas e taberneiros e no Cais do Sodré, frequentado por fauna idêntica, só trocando os jornalistas pelos marinheiros. Mais tarde, transformou o palácio Almeida Carvalhais, que dividia com a sede do Casa Pia, na zona do Conde-Barão, entre o Cais do Sodré e Santos, num espaço de diversão conhecido como "noites longas", e que o eram, literalmente, antes deste se transformar no famoso B.leza. A vida boémia nocturna e cultural lisboeta mudou bastante depois disso, mas deve-lhe muito. Também por isso, um documentário sobre a sua vida, com inúmeros testemunhos, intitulado Zé da Guiné, Crónica de um africano em Lisboa, foi exibido há uns três anos, exclusivamente em salas de Lisboa. Fiquei bastante curioso, mas como na altura tinha regressado ao Porto, não o consegui apanhar. Até agora: passa amanhã, Segunda, dia 4, na RTP2, às 20:44. Quem quiser testemunhar esse período da história cultural lisboeta tem agora uma boa oportunidade.
 
 

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