sexta-feira, julho 24, 2015

Regresso à discussão sobre o aborto




As alterações a alguns aspectos à lei que regula o aborto legal em Portugal (ou "intervenção voluntária da gravidez", em linguagem politicamente correcta), proposta pelas assinaturas - entre as quais a minha - da iniciativa legislativa de cidadãos "Pelo Direito a Nascer", passou finalmente no Parlamento, com os votos da maioria. As novas regras implicam um maior acompanhamento da mulher que pretenda abortar, tal como observar e assinar uma ecografia, e sobretudo introduz taxas moderadoras, acabando com a gratuitidade total dos aborto e com a sua aberrante equiparação à gravidez que até agora se verificava.

Registe-se o tempo que ainda demorou até a discussão em plenário e à aprovação das alterações. O que não se fizeram esperar foram as habituais reacções da esquerda radical e "fracturante", com os habituais mimos de "reacionarismo", "retrocesso", "atentado à liberdade da mulher" e outros clássicos do género. Mas de da parte do PCP, da inaudível Heloísa Apolónia, do Bloco (em especial de Helena Pinto, uma espécie de Panzer na defesa do aborto, e membro do célebre colectivo UMAR) e de Isabel moreira, sempre histericamente desonesta, isso já seria de esperar, espanta mais que do resto da bancada do PS venham acusações semelhantes, e pior ainda, ameaças de que, se forem governo, revogam as alterações.
Lembro-me de na campanha de 2007, iminentes figuras do PS (que tem também, embora em franca minoria, gente que se opôs a liberalização do aborto que daí resultou) dizerem sempre que o se tratava ali era de acabar com penalização, que haveria um rigoroso acompanhamento das mulheres que quisessem abortar para que eventualmente fossem dissuadidas, que ninguém era a favor do aborto, etc. Afinal, vemos que tudo o que disseram na altura não só não tinha sido aplicado como é agora "um retrocesso". Parece que 2007 passou mais rápido do que pensávamos e que se tornou de repente totalmente obsoleto.
Ou então, tudo aquilo eram verbos de encher e o aborto tornou-se mesmo um contraceptivo sem o menor acompanhamento, nem custos. Banalizou-se, é tratado com uma intervenção cirúrgica qualquer. Mentiram-nos. Afinal, há mesmo quem seja a favor do aborto. Está concretizado o velho sonho da extrema-esquerda: aborto livre e gratuito. Direitos absolutos para uns, e ntotalmente negados a outros (o pai, o feto). O PS terá muito que explicar se quiser alterar o que quer que seja.
E a questão, ao contrário do que apregoam os gravadores de serviço, que se esforçaram até que houvesse novo referendo para levar a sua avante, não está nada resolvida. Absolutamente nada.


PS: de vez em quando, é bom ler os nossos irmãos protestantes. Sim, porque apesar de muitos acharem que "a questão está resolvida", não se esqueçam de que "depois de quase meio século depois de 68, há pessoas que ainda não estão convencidas dos méritos racionais do aborto". Eu não estou, com toda a certeza.

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